Austin
Estou sentado no sofá de Sanchez, encarando o vazio como um zumbi. Octavio e eu estamos na mesma equipe de natação, e eu matei a companheira dele, Rachel. A coisa certa a fazer seria contar a verdade para ele, mas meu beta, Sanchez, não concorda comigo nem um pouco.
Jackson está sentado em uma poltrona, me estudando com seus olhos brilhantes. Ele é um vampiro, escolhido pela deusa da lua como o companheiro de Sanchez. Mantive o relacionamento deles em segredo do resto do grupo, sabendo o quanto os dois precisavam um do outro.

Sanchez sempre lutou com o fato de ser um lobisomem gay, mas quando o vínculo de companheiros o atingiu, ele deixou de se ver como um pária. De alguma forma, conhecer Jackson mudou tudo.
Eu presenciei todo o encontro que aconteceu em um bar. Sanchez beijou Jackson e o resto é história. Os dois estão apaixonados. E embora eu nunca tenha sido próximo de Sanchez, exceto pela nossa relação de beta e alfa, ele não hesitou em me deixar entrar em sua casa nesta manhã.
A culpa que senti após descobrir que fui eu quem matou Rachel me deixou mal conseguindo caminhar, e assim que Sanchez me apresentou donuts, desabafei com ele.
Foi bom.
"Pelo que ouvi, Octavio e Rachel foram os que atacaram o lobisomem bípede primeiro," Sanchez coloca uma xícara de café na minha frente. Ele então se senta no mesmo sofá. "Então, se aquela coisa que os atacou realmente era você, então foi em legítima defesa."
"Ainda assim não o torna certo," passo os dedos pelos meus cabelos, inspirando enquanto cobro meu rosto. "Eu sou um maldito monstro."

Sanchez fica quieto enquanto seu companheiro busca contato visual no momento em que olho para cima. Jackson mal fala. Ele limpa as mãos após cada aperto de mão e é bastante formal. Ninguém jamais o viu sem um terno, e seu cabelo escuro está sempre perfeitamente estilizado.
"Não estou familiarizado com a política dos lobisomens, mas se você fosse um vampiro, ninguém o julgaria pelo que fez. Seguimos nossos líderes sem questionar."
"Eles podem ainda seguir me, mas eles me temerão."
Jackson assente, sorrindo. "Verdade, mas eles não escolheriam outro alfa. Você é o bem mais valioso deles e a única chance de sobrevivência, Austin. Eu vi você derrotar sozinho aquele crocodilo zumbi nesta manhã."

Eu quase me esqueci que isso aconteceu. Eu estava tão atordoado após meu encontro com Cecilia que mal estava consciente quando quebrei o pescoço do meio-dinossauro.
Sanchez e Jackson viram a coisa toda e ficaram boquiabertos com a cena. Eles pareciam impressionados até ouvir meus delírios. Eu resmungava tudo o que aconteceu e eles decidiram me levar para a casa de Sanchez para podermos conversar.
Os cavalheiros também me deram novas roupas. Sanchez é muito baixo para mim, então eu estou atualmente usando moletons muito curtos emprestados de Jackson. Infelizmente, eu tenho ombros largos demais para qualquer uma de suas camisetas, mas eu não me importo de ficar aqui sem camisa.
"Eu não me lembro de nada de quando me transformei naquela criatura terrível. Meu único ponto de referência foi encontrar o sangue de Rachel em minhas mãos e braços. Eu estava coberto com isso."
Sanchez coloca a mão em meu ombro e me oferece um sorriso simpático. Ele é um cara legal, com cabelo loiro cacheado e cílios longos que contornam seu rosto angelical. Acho interessante como sua pele alabastro contrasta com a cor de mel rica de seu companheiro. Jackson geralmente usa expressões mais intensas, e raramente sorri.
"Eu não acho que deveríamos contar a ninguém que foi você quem matou Rachel. Jackson está certo — a alcateia precisa da sua força, Austin. E se você só se transforma nessa criatura poderosa durante a lua cheia, então talvez possamos trancar você futuramente?"
Eu dou uma risada de desdém. "Como as pessoas fazem nos filmes?"
Sanchez sorri. "Exatamente!"
Eu olho para o rosto dele, e então mudo de posição na minha cadeira, girando até conseguir ver Jackson sorrindo discretamente em concordância. As pernas dele estão cruzadas, e o vampiro gracioso troca um olhar com seu companheiro, o que me diz mais do que suficiente — eles ambos concordam com este plano.
Eu suspiro. "Por que tenho o pressentimento de que manter isso em segredo vai dar errado?"
"Não vai dar errado", diz Jackson com seu sotaque marcante. "Durante a próxima lua cheia, Sanchez e eu vamos trancar você no nosso porão, e acredite em mim — você não sairá de lá."
Bato nos meus joelhos, prestes a levantar. "Tudo bem, mas eu vou precisar de um álibi para hoje à noite."
Jackson assente. "Claro — Sanchez dirá a todos que você passou a noite aqui, bêbado demais para responder a qualquer pessoa. Você está fazendo dezoito anos amanhã e dirá que ficou apavorado com a ideia de não poder mais ser um conquistador."
Franzo a testa. "Eu não sou um conquistador — eu sou virgem."
Um sorriso malicioso surge nos lábios sensuais do vampiro. "Sim, mas ninguém mais precisa saber disso."
Caramba, Jackson é astuto. Eu gosto muito disso.
***
Mais tarde, no mesmo dia, estou no supermercado comprando mantimentos junto com Sanchez. Nos aproximamos hoje e, se Jackson fosse um lobisomem, eu o recrutaria imediatamente.
Sanchez está olhando para a lista de compras. "Jackson está apaixonado por esse vinho que não vendem nesta loja", ele suspira. "Falando sério? Ele espera que a gente dirija até o outro lado da cidade por esse vinho?"
"Provavelmente,"
Sinto um desconforto quando percebo que todas as lobas estão me olhando. Meu aniversário é amanhã, e não quero parecer convencido, mas apostaria que algumas dessas lobas estão esperando que eu acabe sendo o companheiro delas.
"Bem, acho que podemos ir lá depois que eu comprar aquele queijo que Jackson ama nesta loja."
Eu suprimo uma risada ao ver o olhar irritado de Sanchez. Ele empurra seu carrinho para frente, indiferente às risadinhas ao nosso redor. Também tento ignorar os olhares de apreciação até que vejo duas mulheres conhecidas perto do freezer de sorvetes.
Cecilia, junto com aquela bruxa, Nancy — este deve ser o meu dia de sorte.
Um sorriso se forma em meus lábios no momento em que Cecilia ergue o queixo. Aceno para ela para irritá-la por diversão, mas a "rogue" não reage como eu esperava.
Suas bochechas coram de um vermelho tão vivo que aposto que poderia vê-la a uma milha de distância, e quando dou uma exclamação de surpresa, ela imediatamente desvia o olhar com uma expressão tímida. O que diabos está acontecendo?
Estou confuso com seu comportamento — eu podia jurar que ela me odiava mais cedo, e agora ela está esperançosa? Como uma menina indecisa se ama ou odeia um par de sapatos. Interessante. Eu lhe dou um sorriso radiante no segundo em que ela tenta roubar uma olhada, encantado com sua pele avermelhada.
Será que bati a cabeça esta manhã? Porque Cecilia está agindo como uma dessas outras garotas esperando que eu seja o companheiro delas.
Não estou reclamando, de jeito nenhum — Cecilia é linda e não é falsa como todas as outras. Eu achava que a odiava, mas minha opinião mudou rapidamente após nossa aventura de vida ou morte. Agora vejo que Cecilia é inteligente, de pavio curto, feroz e corajosa, e eu gosto dela, mas sou um monstro, então é melhor parar de olhar para ela com óculos em formato de coração.
"Austin?"
De repente, volto do mundo Cecil-Cecil e olho para Sanchez. Ele me dá um sorriso entendido, e eu dou um tapa na testa por dentro pela cara de idiota que devo estar fazendo.
Não que eu possa evitar a maneira como estou agindo — Cecilia infectou meu cérebro. Não foi amor à primeira vista, mas mais como se eu estivesse remando em mar aberto por anos e, quando percebi quão fundo eu estava, já era tarde demais para voltar atrás.
"Você ainda está aí, certo?"
Forço um sorriso. "Sim, vamos para o caixa."
Sanchez vai na frente, e eu o sigo, mas não sem dar outra espiada em Cecília e quase tropeçar nos meus próprios pés.
Merda!
Estou muito envolvido, muito preso a essa bela e decidida mulher para pensar direito perto dela. Ela atravessou um rio, e mesmo eu sendo pesado, ela não desistiu apesar de odiar meu jeito. Cecília, como sempre, superou tudo como a incrível mulher que é, mas eu estive tão cego e idiota que perdi as qualidades dela.
Nosso jogo de ódio durou tanto tempo que negligenciei ver suas boas qualidades. Em vez disso, me concentrei nas nossas brigas, e porque eu estava miserável, a puxei para o meu nível. Tratei ela mal, e o que recebi em troca?
Cecília salvou minha vida triste!
Certamente não a mereço - sou um assassino que precisa ser trancado na lua cheia, mas estou tão perdido nela. E o mais triste é que acho que o desprezo que eu senti foi amor disfarçado. Porque quando olho para Cecília, quero abraçá-la, agradecer por ter salvado minha vida, e não brigar ou atirar comentários maldosos nela.
"Você pode embalar os itens?" Sanchez pergunta.
"Certo."
Sem reclamar, organizo os sacos de supermercado de Sanchez. Cecília e Nancy estão atrás dele na fila. Elas estão segurando um pacote de sorvete cada uma e, quando me veem, Nancy dá uma cotovelada no lado de Cecília. Finjo não perceber o rubor aparecendo novamente em seu rosto, mas sorrio para mim mesmo quando Cecília me observa.
"Cara, essa bolsa está pesada," Sanchez se esforça com a primeira bolsa que embalei, fazendo uma careta para o peso. "Jackson vai ter que arrumar um desses malditos anéis de luz solar."
Pego a outra bolsa e sigo em frente. "Eu teria que explicar ao resto dos membros da nossa alcateia que o velho vampiro é amigável."
Sanchez ofega ao meu lado. "Você está considerando fazer isso?"
Um sorriso pleno toma conta dos meus lábios. "Vocês são os únicos amigos que tenho - mal os conhecia vinte e quatro horas atrás, mas já estão me deixando ficar."
"Uh, você é o alfa..."
Olho em volta para ter certeza de que estamos sozinhos antes de sussurrar. "Eu matei alguém, e você escolheu ficar ao meu lado."
"É verdade", Sanchez olha para mim sorrindo. "Para te dizer a verdade, eu sempre gostei de você - você é um cara legal, Austin. Claro, às vezes você age como um idiota, mas aceitou Jackson assim que descobriu que ele era meu companheiro."
"Claro!" Meus olhos se estreitam irritados. Quase me sinto insultado por ter que me explicar. "O vínculo do companheiro é sagrado. Você e Jackson se pertencem, e eu nunca questionaria isso, mesmo que ele seja um vampiro."
"E, como ele é um vampiro, eu estou acostumado a ouvir histórias sobre o comportamento deles, e no mundo dos vampiros, líderes matam membros de sua tribo. Então não, eu não te culpo pelo que aconteceu, mesmo que isso possa soar sombrio."
"Realmente soa sombrio."
"Sim, mas tente pensar assim - nós não somos humanos, e nunca seremos como eles, o que significa que as regras do nosso mundo não são as mesmas que as deles. Às vezes, precisamos matar para sobreviver, o que você fez."
"Ainda assim, não parece certo."
"Eu entendo, mas não se martirize por isso", Sanchez aperta o botão do controle e seu carro pisca no estacionamento. Um pequenino veículo vermelho. "No futuro, vamos trancar você no porão, e quem sabe? Talvez você aprenda a controlar-se."
Franzo a testa. "Eu duvido."
Cecilia e Nancy passam pelo estacionamento, rindo de algo, e eu derreto um pouco por dentro. Cecilia fica linda quando sorri. Meu coração se acende como uma árvore de Natal.
Sanchez me observa, sussurrando. "Eu não sei--algumas coisas valem a pena lutar, você não concorda?"