Capítulo 59
1612palavras
2024-03-10 16:12
Capítulo 59
Patrícia
Minha visão está embaçada, estou sentindo um gosto amargo na boca, minha cabeça está doendo, está tudo girando parece que um caminhão de carga passou por cima de mim. O meu corpo dói, a dificuldade de locomoção é nítida, eu não lembro exatamente o que aconteceu, eu só me lembro de ter saído do trabalho, e de ter discutido com o Gabriel, as minhas lembranças estão um pouco confusa, já é bom demais saber quem sou eu.
Mas agora eu não sei onde estou, e muito menos por que as minhas mãos estão amarradas. Eu comecei a sacudir os braços em uma tentativa falha de fuga,mas os meu braços … ai..eles estão bem presos, sinto a circulação dos meus pulsos falhando.
E depois de alguns minutos balançando vagarosamente os braços graças a falta de força, consegui abrir os olhos e a minha visão que estava muito embaçada , e graças a isso tudo se transformou em uma grande cena de filme de terror, eu estava sentada em uma cadeira e amarrada, pés e mão, fiquei concentrada em me soltar da cadeira nesse lugar desconhecido, mas quando não consegui eu comecei olhar em volta, primeiro notei que na minha frente tinha um espelho que só dava para enxergar dos meus ombros pra cima. Era como estar em uma delegacia de polícia, me senti olhando para aqueles espelhos falsos da sala de interrogação, estilo aquela série Criminal.
E olhando para os lados, observando um pouco mais, com um pouco mais de clareza eu percebi que havia várias fotos minhas, espalhadas pelas paredes, mas como eu ainda não estava cem por cento bem, eu não consegui ver com mais precisão o que estava acontecendo.
O medo me tomou por completo, então eu fiz o que qualquer pessoa em meu lugar faria, eu comecei a gritar por socorro, gritei desesperadamente na esperança de alguem pudesse me ouvir, ou pelo menos me fizesse entender que porra esta acontecendo, e me explicar como eu vim parar nesse buraco, eu precisava saber o que estava acontecendo comigo, eu gritei , e continuei gritando por socorro mas sem nenhuma resposta.
O som nem parecia sair da sala, a conclusão que eu cheguei é de estar em uma sala à prova de som, e gritar só desperdiçaria minha garganta,e ferraria ainda mais comigo, eu já estava amarrada em um lugar desconhecido,fraca e sem forças, mas o que mais eu poderia fazer nessa situação em um lugar tão bizarro?
Eu continuei gritando, estava completamente desesperada, onde estava o meu marido? Onde eu estava? Como eu vim parar aqui? E porque eu vim parar aqui? A minha cabeça doía ainda mais com essas dúvidas.
Eu ainda estava tonta, a minha garganta começou a doer de tanto gritar em desespero, no início quando acordei com a visão embaçada e um pouco desnorteada eu pensei que poderia ser um sonho, afinal faria mais sentido já que não me recordo de absolutamente nada.
Mas eu percebi que não é um pesadelo, se fosse o medo que estou sentindo,já teria me feito acordar em pânico.
Eu estou desesperada, o meu coração está tão acelerado que posso vê-lo pulsar através do meu peito.
Eu nunca senti tamanha agonia, eu não sei onde estou, nem que horas são , não posso me guiar pelo sol porque não tem janela aqui, pelo menos eu não pude ver, eu não sei se eu fiquei inconsciente por muito tempo, eu não sei que dia é hoje, se eu apaguei ontem,ou apenas algumas horas.
Tentei respirar um pouco para tirar um pouco do medo e do total desespero que eu me encontro agora, eu preciso me acalmar e quem sabe bolar um plano de fuga, seja lá Deus sabe onde eu esteja.
Mas antes que isso pudesse acontecer, eu senti uma ardência, um tipo de queimação na minha pele. Olhei para baixo e pude ver uma mancha de sangue na minha coxa.
Não é muito grande, mas tem tamanho suficiente para que eu possa ver e sentir, acho que eu me machuquei.
Mas eu estou um pouco lenta, mesmo desesperada por conta da situação bizarra e completamente sem nexo que eu me encontro , eu não consigo sentir a dor que deveria sentir.
Deve ser adrenalina, ou eu fui drogada, isso explicaria o gosto amargo que eu senti quando acordei.
Eu me recobrei um pouco , depois de analisar um pouco mais a situação, normalmente eu sou boa em lidar com situações de desespero, então depois de pensar um pouco e analisar todo o cenário em questão, o que na verdade por incrível que pareça ,não demorou mais do que poucos minutos, então eu respirei fundo e olhei para frente.
Os meus olhos encontraram meu reflexo no espelho, eu não estava olhando muito para o espelho, apenas estava olhando ao redor, na medida do possível, já que estava me sentido muito mais lenta do que eu deveria estar,ao meu olhar naquele espelho , por incrível que pareça eu não estava tão ruim quanto imaginei. Pelo o que indicava a situação eu deveria estar toda descabelada, com a maquiagem borrada e com o suor de pânico escorrendo pelo meu rosto.
Eu tentei puxar a minha mão para solta-la só que dessa vez , eu já não tinha muita força para fazê-lo,então depois de mais alguma tentativas falas, e de sentir o nó ficar mais apertado a medida que eu usava o restos das minhas forças para tentar desprender as minhas mãos daquelas cordas, e talvez ter uma esperança de sair disso viva.
Eu resolvi parar de tentar agir com a brutalidade e tentar pensar e agir de forma mais racional, porque apesar de estar em uma situação completamente desesperadora, eu sei que estou sendo muito corajosa ao parar um pouco e tentar pensar em alguma solução plausível para conseguir finalmente acabar com essa sensação de agonia que sinto agora transbordar do meu peito.
Continuei olhando para frente, e então em meio aquele sofrimento terrível, a transpiração excessiva,a agonia, a dor, o desespero, eu percebi que talvez esse fosse o meu fim, e então os meus olhos ficaram marejados e a primeira lágrima desceu ,e escorreu pelo o meu rosto, e com ela várias outras, comecei a chorar desoladamente ,e a soluçar sem controle algum de mim mesma.
A ficha finalmente caiu e eu percebi que estar ali presa sem saber como fui para lá me deixou imensamente desolada,destruída, despedaçada, eu senti que a morte estava me cercando eu pude sentir de perto que a minha hora estava próxima, e o pior de tudo é que eu não me despedi das pessoas que eu amo, eu não me despedi do meu marido.
A última coisa de que me lembro é de brigar com o meu marido, eu não sei se vou poder falar com ele de novo… Todas as expectativas e sonhos que eu tinha foram jogadas no lixo, todos os meus planos… Eu chorei por saber que talvez , nunca poderei ser mãe, eu senti a dor de não poder dar um filho ao Gabriel, eu senti aquela dor de novo. Eu fiquei soluçando e pondo tudo para fora por alguns minutos, eu não tenho certeza… Na verdade naquele momento eu não podia ter certeza de mais nada.
Depois de um tempo chorando, quando eu senti que toda a dor que eu estava sentindo foi amenizada e jogada para fora escorrendo pelos olhos através de lágrimas, o meu pranto cessou.
Porém quando levantei a minha cabeça um pouco , que por sinal já estava explodindo de dor, eu foquei a minha visão no espelho, eu foquei no meu reflexo, e foi ai que tudo ficou mais bizarro… Eu… Eu estava sorrindo,tinha a porra de um sorriso no meu reflexo no espelho, um sorriso bizarro… Eu estava com um sorriso bizarro de satisfação, então to medo e desespero que eu sentia antes de chorar pra caralho, voltou, e voltou dez mil vezes pior, e se transformou em pânico.
Eu fiquei confusa, como isso não era possível? Como era possível eu estar sorrindo daquele jeito? O meu primeiro pensamento foi : PUTA QUE PARIU!!! QUE MERDA É ESSA??? SE ESSA PORRA FOR UM PESADELO , ESSA É A HORA DE ACORDAR!
Eu comecei a chorar ainda mais desesperada, eu não sabia que existia níveis diferentes de desespero,até eu estar aqui, porque a cada segundo que se passa o desespero que eu sinto vai aumentando.
Eu estava em prantos só que agora ainda mais do que antes,por sentir tamanha angústia e aflição eu comecei a gritar por socorro , só que dessa vez eu gritava ainda mais alto que antes. Eu gritei até sentir que o meu fôlego estava saindo de mim, eu não sabia se aquilo era a porra de um pesadelo bizarro.
Eu sinceramente comecei a torcer para isso ser a merda de um jogo de realidade virtual, porque eu sinceramente ficaria eternamente grata a qualquer coisa do universo que me tirasse dessa situação grotesca e minimamente medonha.
Eu gritei e gritei,só que agora eu estava encarando a droga do espelho fixamente, e “eu” estava rindo histericamente, enquanto eu chorava, a porra do meu reflexo amaldiçoado ria histericamente não sei que espécie de pesadelo é esse, que porra de ambiente fantasma é esse.
Eu parei de chorar , e apenas a voz saída do outro lado do espelho podia ser ouvida, só o som bizarro da minha voz, no caso da voz da outra “eu” podia ser ouvida, nessa vida alternativa que eu fui parar.
QUEM É VOCÊ???O QUE QUER DE MIM?- Eu perguntei para o espelho.
A figura se mexeu, ela se levantou da cadeira e foi em direção a mim.