Capítulo 60
1628palavras
2024-03-11 16:21
Capítulo 60
Gael
Já faz um tempo que minha função do trabalho mudou, não sou mais segurança particular da Patrícia, ela e o meu melhor amigo Gaba conversaram e agora ela perambula por aí sozinha e às vezes me chama quando quer a minha companhia, mas isso não acontece com muita frequência, ela gosta da liberdade de poder sair sozinha, tanto para trabalhar quando para se divertir, ela sempre saindo com a Geovana, eu sei disso porque ainda passo boa parte do tempo trabalhando na casa do Gaba e da Pati, eu sou o chefe da segurança e o braço direito do Gabriel para tudo.
Como não passo mas tanto tempo acompanhando a Pati, tenho muito mais tempo livre então faço o que me der mais vontade, e algo estranho aconteceu recentemente, eu estava na casa do meu chefe como sempre fazendo meu trabalho, eu tinha acabado de sair da cozinha, cumprimentei a dona Marta e peguei o meu segundo cafezinho do dia, estava bem no horário que a patroa costuma sair para o trabalho nós nos cumprimentamos e ela saiu, até então tudo normal, o estranho mesmo aconteceu horas depois.
Dez horas da manhã, eu decidi sair e comprar algumas coisas que precisava para minha casa, decide ir em um armazém antigo que um amigo recomendou, segundo ele tem os melhores preços, dirigi até lá, só foram alguns minutos, não é muito perto e nem muito longe do trabalho então valeu a pena passar lá para checar se tem algo de interessante.
Quando entrei percebi que era maior do que eu esperava, então comecei a andar pelos corredores, entre um amontoado de comida enlatada e materiais de construção e várias coisas aleatórias, esse armazém estava uma zona e antigo não era bem a palavra que definia aquele lugar, e sim caindo aos pedaços para ser mais exato, os preços eram realmente baixo, mas nada parecia ter muita qualidade, era tipo aquelas lojas de um e noventa e nove, que tem espalhadas na vinte e cinco de março, muita coisa bonita só que tudo pirata. Mais falso do que nota de três reais.
Então depois de olhar por alguns minutos decidi ir embora, quando estava prestes a sair eu vi a Patrícia entre os corredores, achei estranho já que ainda estava no horário do trabalho dela , o que ela estava fazendo lá naquele lugar no meio do dia?
E o armazém não é muito perto da Casa da Esperança, o que ela queria comprar tão longe? E aquelas roupas? Ela não estava vestida assim quando saiu.
Eu fiquei muito confuso porque nada daquilo fazia o menor sentido, porque ela estaria tão longe de casa, como ela teria vindo parar aqui tão longe de casa e tão longe da Casa da Esperança?E como ela veio tão rápido e sem carro?Decidi me aproximar para tirar minhas dúvidas.
-Oi chefinha, o que está fazendo aqui?-eu perguntei muito curioso , por vê-la aqui.Ela me olhou com uma cara de espanto e ficou calada de boca aberta por alguns segundos. Como se não tivesse respostas ou como se não soubesse como me explicar.
-Não deveria estar na escola, aconteceu alguma coisa?-eu perguntei ainda mais curioso, esse rolê estava me deixando com uma pulga imensa atrás da orelha.
E você, não deveria estar trabalhando?-ela respondeu de uma forma meio séria, mas continuou com cara de surpresa.
O movimento lá está bem tranquilo, então resolvi sair por alguns minutos para comprar umas coisas para a minha casa, mas não tem nada de bom por aqui, então eu já estava indo embora.- eu respondi tentando ignorar o fato dela ter me tratado de uma forma fria, já que a Pati não é assim normalmente.
Mas e você, foi liberada mais cedo ou coisa parecida?- eu continuei perguntando por que na moral, aquela porra tava me deixando confuso demais.
Não…Eu… Eu, vim comprar algumas coisas para os meus alunos, mas não encontrei nada de bom aqui também!-ela respondeu gaguejando um pouco.
E porque está com essa roupa? Quero dizer, você não estava com ela quando saiu.-eu perguntei tentando esclarecer essas nóias da minha cabeça, e ela me olhou com cara de nervosismo puro, ela estava realmente muito tensa, ou pelo menos parecia estar muito tensa.
Um garoto derrubou tinta na minha roupa, foi um incidente infeliz mas eu consegui essa roupa para vestir.-ela pensou um pouco antes de me responder.
AH entendi, mas nossa que chato né? Mas, porque veio até esse armazém especificamente? Tem várias lojas e mercados mais próximos da Casa da Esperança do que aqui.-eu perguntei aproveitando para sanar as dúvidas que ainda me restam.
Eu…Eu também disse isso para a professora que me mandou buscar esses materiais para as crianças aqui, falei que era longe, mas ela não ligou e disse que tinha que ser aqui então eu vim para não receber reclamações.-ela falou bem devagar e pausadamente como se estivesse pensando muito antes de falar.
Nossa, isso é péssimo, porque ela mesmo não veio, ou mandou outra pessoa?Já isso não faz parte das suas funções? Ou será que faz?- Eu continuei perguntando a Pati, porque mesmo ela me explicando eu não estava conseguindo engolir muito essa história.
Todos estavam ocupados hoje, e eu estou lá para trabalhar, seja lá o que peçam para fazer, eu faço, afinal eu gosto de trabalhar.-Ela respondeu muito seria, o seu semblante era outro, mesmo sendo a Patrícia, parecia que sua alma era a de outra pessoa.
Ok,tá bom,você quer uma carona?-eu me dei por vencido.
O que?! Carona? Não…não precisa se incomodar, pode ir, assim você não se atrasa seguindo outro caminho.-ela me deu essa resposta estranha.
Não é atraso se você está com a chefe! Relaxa Pati, não tem problema algum.- eu respondi sendo óbvio, mas a pulga que eu tinha atrás da orelha continua lá.
Depois de tanto relutar saímos do armazém, quando ela entrou no carro parecia muito preocupada, e no caminho todo de volta para a Casa da Esperança a Pati estava estranha, meio nervosa, ela parecia que ia abrir a porta do carro e pular movimento.
Esse rolê tava me deixando mais confuso do que o normal,e na cara dela era estava estampado uma mistura de medo e tensão ,como se eu fosse um policial e ela alguém que carregava uma mochila cheia de drogas, não consegui entender o porque de todo esse alvoroço, ela parecia querer esconder alguma coisa, parecia que sua vida dependia disso, é óbvio que essa situação mais do que fora do comum me deixou ainda mais confuso, ela passou o caminho todo do armazém até a Casa da Esperança em silêncio absoluto olhando para a janela. O que também não é normal a Pati costuma ser muito tagarela, vive perguntado sobre a Geovana, e se rola alguma coisa entre a gente, pensa numa mulher intrometida.
Pronto chegamos, quer que eu te acompanhe até lá dentro?-eu perguntei já que ela parecia nervosa.
NÃO! É melhor não, eu já estou atrasada e é melhor você voltar para o trabalho.-ela gritou “não” tão rápido que até eu me assustei.
Como quiser chefe.-eu respondi
Só mais uma coisa, eu não quero voltar a falar de hoje, então eu te peço que não volte a mencionar comigo ou com ninguém que me viu hoje, e que me trouxe de volta para a Casa da Esperança, esse dia não está sendo um dos melhores para mim então por favor, vamos esquecer de hoje, tá certo?!
Ah, tá, claro, não vou falar nada.-eu respondi, me sentindo mais confuso.
Me promete… Me promete que não vai falar nada?-ela perguntou
Tá eu prometo.-eu não conseguia entender porque ela iria querer manter isso em segredo, não foi nada demais. Ela desceu do carro e foi em direção a casa da esperança, eu só saí de lá quando tive certeza que ela entrou, liguei o carro e voltei para a estrada.
Depois de algumas horas, a tarde chegou, passei um tempo conversando com a dona Marta na sala, o horário da patroa voltar já tinha partido, alguns minutos se passaram e ela chegou.
Ela entrou com uma cara emburrada, diferente de mais cedo, não parecia estar com medo e nem preocupada.
Oi gente.-ela falou num tom calmo e cansado, mas não parecia contente, a dona Marta também notou o descontentamento na voz e na cara dela então se levantou do sofá e andou em direção a ela, eu fiz o mesmo.
O que foi menina? por que essa carinha?-A dona Marta perguntou preocupada.
A sei lá, talvez pelo dia péssimo que eu tive.-ela respondeu e parecia que a alma dela já tinha voltado para o corpo.
Mas o que aconteceu?-eu só observava as duas falando, já que prometi não falar nada, fiquei só ouvindo.
Muito trabalho, eu tô morta, e eu tenho certeza que um garoto na Casa da Esperança não gosta de mim,ele jogou tinta nas minhas roupas de propósito,ele foi na minha direção e jogou a tinta sujou tudo e quando interrogaram o menino ele só disse que não podia contar o motivo de ter feito isso.-ela parecia bem decepcionada.
Que bom que alguém tinha uma roupa do meu tamanho por lá, nem deu para agradecer só deixaram a roupa perto das minhas coisas e eu achei, foi bem estranho.-Ela continuou falando.
Não consigo entender, por que ela me fez guardar segredo se ela iria falar sobre isso, foi tudo estranho, pensei em falar com ela o porque de tanto mistério, mas desisti, ela queria tanto manter segredo que parecia mesmo que nada daquilo tinha acontecido, ela me tratou normalmente, e fingiu que não tinha me visto o dia todo, até perguntou como foi o meu dia aqui. Eu fiquei abismado com o talento dela, por favor alguém dê um oscar para essa mulher.