Capítulo 16
1689palavras
2024-01-31 07:38
Capítulo 16
Patricia
Voltei do banheiro e encontrei o Gabriel com a Sol, eles estavam conversando, quando cheguei, ela inventou uma desculpa, me puxou para ela e deixamos o meu marido conversando com um homem de meia idade, que aparentemente ambos conheciam.
Pati, como está?-Ela me perguntou me levando para mais longe do meu marido.
Estou um pouco nervosa,você sabe onde está o Luiz?-eu perguntei me sentindo um pouco ansiosa.
Não se preocupa Pati, fique tranquila, já liguei para o luiz, e em uma hora ele vai passar na sua casa para pegar a sua mala, e depois vem para te buscar, eu deixei o dinheiro com ele, o Luiz vai te entregar junto com a sua passagem e te deixar na rodoviária assim como combinamos.
Obrigada Sol, eu não tenho palavras para expressar tudo o que estou sentindo, estou fortemente agradecida por toda a sua ajuda.-eu disse com os olhos lacrimejando.
Não se preocupe Pati, amiga é para isso.-ela respondeu parecendo sincera.
Voltamos até o meu marido, que já estava conversando com outros dois homens,a Sol saiu e nos deixou a sós, bom, não exatamente, nós estamos cercados por muita gente para dizer que estamos a sós.
Estou com fome-eu disse apontando para a mesa de salgadinhos.
Então vamos comer alguma coisa.-o meu marido me respondeu e em seguida me direcionou as mesas do buffet.
Enquanto tudo estava indo bem, e o Luiz não aparecia eu comecei a comer, comi e bebi de tudo um pouco. O Gabriel também comeu e bebeu de tudo um pouco, nós sentamos em um dos milhares de sofás espalhados pela festa, a luz estava baixa, mas tinha tantas luzes de leds que o lugar continuou muito claro, sentamos e comemos, conversamos com alguns dos amigos, ou conhecidos do Gabriel e consequentemente amigos da Sol. A maioria das pessoas eu não tinha ideia de quem eu era, mas algumas pessoas eu já havia visto.
A Sol chegou, e disse que precisava da ajuda do Gabriel, sobre algum investimento, o meu marido disse que poderiam resolver isso amanhã, mas a Sol disse que era porque o consultor financeiro dela estava aqui, e ele era de fora do país. Então eles foram, ela me deu uma piscadela e levou o meu futuro ex-marido com ela. Alguns minutos depois eu recebo uma mensagem de um número desconhecido, percebi que era uma mensagem do Luiz, ele disse que estava me esperando em um ponto específico do salão,uma das saídas laterais.
Foi ai que tudo o que vivi com o Gabriel se passou pela minha mente, tudo veio de vez, o casamento forçado, o nosso primeiro encontro, o nosso primeiro beijo, a nossa lua de mel, o jantar do outro dia. A minha ficha caiu , eu estava me apaixonando por ele, porque eu deveria ir embora assim? Eu não sou hipócrita de achar que o início da nossa história foi normal, mas acho que estavas sendo muito pessimista, muito incrédula, eu nem dei uma chance de verdade para nós dois. Decidi ir atrás do Gabriel e acabar com essa fuga sem noção. Só não esperava que eu me arrependeria tão rápido dessa decisão.
Fui encontrar o Gabriel e a Sol, mas o que encontrei me deixou extremamente decepcionada. Encontrei os dois em um canto,um pouco mais afastados da multidão e da música, em uma das áreas vips da festa. Me aproximei um pouco de modo que pudesse ouvir a conversa mas não desse para ser vista.
Porque fez isso comigo?-A Sol perguntou.
Eu pensei que você me amasse,nós prometemos ficar juntos para sempre.-ela continuou.
Eu te amo de verdade e você mais do que ninguém sabe disso.- ela se declarou colocando as mãos em seu rosto. O Gabriel continuou apenas olhando para ela.
Eu sempre fui apaixonada por você!- ela disse a ele com a maior sinceridade do mundo. Meu coração acelerou e uma grande tristeza começou a tomar conta de mim.
Eu também gosto de você, mas a situação é outra agora.-ele disse.
Mas você gosta mais dela. -a Sol disse.
Não é sobre isso.-O meu marido respondeu.
Então porque você se casou?-a Sol o questionou em prantos
Você foi forçado?Ela está grávida? É por isso?- A sol perguntou.
- Sol, não é sobre isso…- ele foi interrompido por um beijo da Sol.
Eles ainda se amam… E não há nada que eu possa fazer além de ir embora daqui. Me virei de costas para eles e caminhei para o lugar onde encontraria o Luiz e entreguei meu celular a um garçom e disse que era do Gabriel, o que não é completamente mentira, já que foi ele quem pagou pelo aparelho de última geração. Eu nunca imaginei que estaria passando por uma situação dolorosa como essa, parece que um pedaço do meu coração foi arrancado do peito de modo frio e cruel,é uma dor tão intensa que parece que estou no modo automático, apenas engolindo o choro e caminhando em direção ao Luiz, que no início achei que seria difícil de me encontrar num lugar tão grande como esse.
O Luiz me comprimentou, e fomos em direção a saída. Comprimentei algumas pessoas para não levantar suspeitas. Saímos e fomos direto para o carro dele, um carro popular simples preto, nada chamativo. Entrei no banco de trás,e junto comigo já estava a pequena mala que eu fiz, O luiz me olhou de forma estranha pelo retrovisor,pensei que fosse medo, nervosismo ou até mesmo arrependimento de estar me ajudando, o que eu não poderia esperar é que eu estava completamente enganada.
Já estamos a uns 30 minutos no carro, em um total silêncio, eu estava apenas olhando para fora do carro com o vidro da janela fechado sem prestar muito atenção nas coisas que eu estava vendo, a dor e o arrependimento de ter chegado a gostar do Gabriel, e da maneira com que estou fugindo, me deixam muito pensativa.
Está tudo bem senhora Patrícia?- Luiz me perguntou um pouco sério.
Sim, só estou com um pouco de sede.- eu respondi, tentando não parecer nervosa com a situação que está acontecendo.
Não se preocupe Pati, digo, não se preocupe senhora, já estamos chegando , e lá você pode beber água.-disse o Luiz.
Espero que goste da estadia.-ele disse sorrindo.
Mas pera, que estadia? O plano original era me levar até a rodoviária, não era?-perguntei confusa e ansiosa.
Sim dona Patrícia, mas não consegui achar uma passagem para hoje a noite, apenas para amanhã bem cedo.Por essa razão aluguei dois quartos, um para cada um de nós, assim eu posso te levar amanhã de manhã para a rodoviária.- ele disse calmamente palavra por palavra.
Ah, eu não sabia que o plano havia mudado. - eu o respondi , e agora eu reparei que as portas do carro estão travadas.
Minha pele gelou, um frio estranho na barriga começou e minhas mãos começaram a suar, foi aí que eu percebi que era um alerta vermelho.Isso está começando a soar muito estranho,eu deveria ir direto para a rodoviária, porque não me colocaram num táxi? Num uber? Eu iria até de moto. To começando a achar que isso vai dar merda.
Depois de bastante tempo de viagem o carro parou e a porta do meu lado se abriu, o Luiz me tirou do carro a força. Obviamente fiquei assustada e perguntei o que ele estava fazendo, mas antes mesmo que eu fizesse um escândalo ele me mostrou a arma em sua cintura. Me fazendo calar a boca e caminhar ao seu lado, usando a sua força me puxando pelo braço.
A fachada da pensão era muito simples, parecia uma casa muito antiga, as paredes eram da cor azul claro, e estavam manchadas e descascando, todas com buracos de pregos ou com manchas de cimento. Entramos e a recepção é muito parecida com a fachada, manchas de canetas e buracos em todas as paredes, a tinta fraca não conseguia cobrir o tom de rosa por baixo dela. Haviam algumas pessoas sentadas em um sofá antigo. E outras jogando cartas numa mesa de plástico, o ambiente não é dos melhores, tem muita fumaça de cigarro e cheiro de bebida.
O Luiz pegou as chaves dos quartos com o cara da recepção, que por um acaso também estava bebendo e fumando, ele apontou para o lance de escadas mal feita que ficava no fim de um corredor escuro. Luiz continuou segurando o meu braço e me guiou para cima. Eu realmente não sei o que está acontecendo. Estava tudo indo de acordo com o plano,mas e se o plano da Sol na verdade só foi para se livrar de mim ,e me matar para poder ficar com o meu marido?Não, ela não seria capaz de tamanha perversidade, seria? Luiz me arrastou para o minúsculo quarto da pensão, trancou a porta e me soltou. A face dele estava completamente transtornada,nunca havia visto ele daquela forma.
Não fique com medo, Pati!- ele disse depois de acender a luz revelando a pequena cama de solteiro.
Como não ficar com medo?-eu perguntei assustada.
Você já deve ter percebido Pati.-ele continuou.
Percebido o que exatamente?- perguntei me sentindo um pouco receosa.
Sente-se e vamos conversar.-ele apontou para a cama e puxou a única cadeira de plástico que havia no recinto.
Ok.-respondi me sentando na cama, na esperança de me acalmar e entender toda a essa situação confusa e minimamente bizarra.
Pode me explicar o que está acontecendo?-eu perguntei, tentei ser um pouco rígida mas a minha voz falou de nervosismo.
Primeiramente tome essa água.-ele me entregou uma garrafa de água mineral lacrada.Olhei com receio,mas aceitei, afinal ele tinha acabado de pegar a água do frigobar no corredor.
Abri a garrafa e tomei alguns goles de água, fechei a garrafa e fiz um sinal para que ele continuasse a falar.
Como eu estava dizendo, acredito que você já deve ter percebido Pati.-ele disse, só que agora mais calmo.
Eu já devo ter percebido exatamente o que?-Perguntei mais calma,porém fiquei muito desconfiada com toda essa situação. E me sinto extremamente burra, por ter feito uma idiotice desse tamanho.
Percebi o quanto eu te amo, Pati.-disse o Luiz olhando sério para mim.