Capítulo 12
1782palavras
2024-01-30 06:21
Patricia
A segunda-feira foi caótica, só não foi tão solitário porque agora eu tenho uma amiga para contar e conversar, eu gosto muito de conversar, as pessoas vivem me dizendo que esse é o meu talento oculto. Sol se mostrou ser uma pessoa maravilhosa, no início eu não consegui acreditar muito nela , então eu fico muito mas muito triste mesmo e me arrependo de verdade por ter tratado ela tão mal, ela é realmente uma boa pessoa, e eu cega de ciúmes não conseguir enxergar isso.
Ontem, Gabriel chegou e eu apenas me fiz de inocente, fingi que não sabia de nada e que estava tudo bem, assim como a Sol me orientou, ela disse para eu continuar sendo a esposa de sempre, nem tão boa porque nunca fui tão boa, e nem tão distante para não causar desconfiança a ele, ainda não sei como a Sol pretende me ajudar , mas espero que seja o mais rápido possível,eu realmente não tenho psicológico para aguentar tudo isso, já passei por muita coisa na vida, mas não chega nem aos pés disso.
Estou ficando cada segundo mais apavorada com o meu marido, e com a possibilidade dele me machucar , ou de machucar outras pessoas. Vou ter que aguentar esse casamento absurdo por um tempo até poder sumir daqui,ir embora e nunca mais voltar, não tenho certeza de quanto tempo vou ter que ficar,mas com a ajuda da Sol , eu sei que logo vou poder me ver livre dessa situação absurda, e desse marido violento que o meu pai me arranjou.
As vezes eu me pego pensando na minha mãe, sinto muito a falta dela , e ultimamente sempre me vem a dúvida, se ela tivesse viva hoje o meu pai teria ido à falência? Me pergunto o que teria acontecido com a gente se ela estivesse aqui,as respostas são incertas porém, se tem algo que eu tenho certeza, é que ela jamais me deixaria casar por dinheiro,e muito menos assim, ser vendida para um estranho em troca de um perdão para as dívidas do meu pai. Dívidas que eu pretendo saber exatamente como surgiram.
Eu não converso a um tempo com o meu pai, antigamente quando eu estava estudando na Itália, ligava para ele todos os dias, como o fuso horário são apenas de 4 horas a frente do Brasil, eu fazia videochamada para ele a tarde , ou pela manhã, ele sempre me atendia com um sorriso de orelha a orelha, sempre muito carinhoso.
Mas agora, depois de tudo o que ele me fez passar e o que eu ainda estou passando,não consigo sequer mandar uma mensagem para ele . Eu amo o meu pai, mas não sei se um dia vou conseguir perdoá-lo por ter me entregado dessa maneira.
Hoje pela manhã conversei com a Sol, tomamos café juntas e até experimentamos alguns bolos que a dona Joana trouxe , bolos deliciosos que me impressionaram, eu nunca fui muito de comer doces, mas os bolos da dona Joana, são impossíveis de serem deixados de lados, o meu favorito é o bolo de chocolate. Ela sempre faz com brigadeiro de panela, os bolos delas são os típicos bolo de vó! Nunca comi bolos assim antes, e olha que já experimentei diversas sobremesas na Europa.
Depois do delicioso café da manhã, o que me deixou muito feliz, fomos até a sala e conversamos um pouco, aproveitei que estávamos sozinhas e perguntei a ela se já tinha um plano para me tirar daqui, a Sol me disse que está preparando tudo, e que eu não devia me preocupar, e antes mesmo que eu pudesse imaginar eu estaria livre de todo esse inferno que está a minha vida agora. Não vejo a hora de estar fora daqui, fora de toda essa pressão, longe de tudo, longe dessa vida que não me pertence, e principalmente, longe do Gabriel e da vida aqui no morro.
A Sol me convidou para ajudar a planejar o aniversário dela, ela falou que quer algo simples, porém, ela faz questão de não economizar dinheiro. Ela é o tipo de pessoa que gosta de luxo, gosta de esbanjar, ela me contou que sempre está na fila das grandes lojas de luxo para conseguir as melhores bolsas e acessórios. Eu também fazia muito esse tipo de coisa,claro antes de descobrir a falência da minha família.
Falamos a tarde inteira sobre buffet, comida, bebida, salão de festas,doces, horário, tema, apesar de eu achar bem brega, ajudei , não curto muito festa com tema, ninguém deveria quando se tem mais de 14 anos.
Nós optamos por um salão de festas perto do centro, não tão próximo daqui, mas também não é tão longe, escolhemos as bebidas e até o tipo de música, só apenas anotamos tudo no ipad da Sol, ela pretende passar todas as informações para uma organizadora de eventos profissional que ela conhece, alguém de sua confiança, eu soube pela Sol que eles , no caso Gabriel e ela tem muitos amigos em comum, um grupo bem grande de amigos que os viram crescer juntos, namorar e quase casar pelo o que eu ouvi.E a cada vez que conheço mais sobre o passado de Gabriel eu percebo que realmente eu sou uma intrusa no meio de todos eles.
Passamos a tarde por ali, conversando e se exibindo uma para outra,coisas como quem já foi onde, que já comeu o que. O Gabriel chegou e disse que queria conversar comigo, subi as escadas e o acompanhei até o nosso quarto, ele me deixou passar primeiro e fechou a porta atrás dele.
E então?- Gabriel me perguntou
E então o que?- eu perguntei tentando descobrir a sua intenção.
Você disse que queria falar comigo há alguns dias, e nada foi dito.- ele continuou.
Eu não sei do que está falando.-eu tentei disfarçar.
Você está estranha Patricia. Sempre se afastando de mim,não me deixa tocá-la. Sinto que alguma coisa está acontecendo, mas você não quer me contar.- ele disse pausadamente.
Olha Gabriel, eu não tenho ideia do que você está falando, eu só não quero ficar brigando com você está bem?! Só quero um pouco de paz, um pouco de tranquilidade nesse inferno que chamo de vida!- Admito que me estressei um pouco.
Tudo bem Patricia! Tenha o seu momento de paz, mas eu vou ficar de olho em você! Vou deixar o Luiz na sua cola.-o meu marido disse um pouco frustrado e talvez até bravo.
Ouvir aquilo me deixou aflita demais,eu tenho ficado com muito medo do Gabriel, depois do que eu soube e do que eu pude ver com os meus próprios olhos do que ele é capaz, não quero estar perto dele.
É muito ruim ter que dividir a cama com um estranho, mesmo sendo meu marido. Eu tenho medo de que algo ruim possa acontecer, eu não tenho como me defender dele, o meu marido é gigantesco,muito alto e tem o dobro do meu peso, eu não tenho chance alguma de me defender dele, caso haja necessidade.
Eu não posso ficar com alguém que eu não confie, e muito menos alguém que eu tenha medo, não é normal e muito menos saudável, viver com medo , da pessoa que deveria ser sua companheira.
Você pode, por favor me deixar passar?- eu pedi ao meu marido que ainda estava parado em frente a porta.
Claro, Patricia. -ele respondeu me dando passagem, mas com uma cara completamente indecifrável.
Eu fugi daquele quarto como se não houvesse amanhã! Eu vou fazer de tudo para evitar qualquer contato íntimo com o Gabriel, não posso me apaixonar por alguém tão violento assim.
Vou fazer questão de me afastar , não me importo se ele pensar que estou apenas chateada ou brava, eu não quero estar com alguém assim, e não vou ficar aqui esperando que algo aconteça comigo, eu reconheço que estava começando a sentir algo por ele, talvez tenha sido apenas atração física, ou talvez eu realmente tenha começado a gostar dele, ele sempre foi carinhoso comigo,e por esse motivo me custou acreditar que era verdade tudo o que a Sol me contou.
***
Oi dona Marta! -eu encontrei a doce senhorinha entrando na cozinha enquanto eu me servia água.
Olá menina! Precisa de alguma coisa?-A dona Marta me perguntou.
Preciso uma dose da bebida mais forte que tiver nesta casa.Uma dose não, me dê uma garrafa. Talvez cinco.- eu respondi me sentindo frustrada.
Esses dias estamos sem nada, o Gaba não gosta muito de beber, então acabei me passando não perguntei se a senhora gostava, acabei não comprando,a coisa mais forte que temos aqui é café Melita.- a governanta me explicou.
Sério? Não tem nada para me tirar da deprê não?-perguntei com cara de decepção.
Álcool não temos,se a senhora quiser eu posso mandar comprar.-ela me disse procurando a solução.
Não, não precisa dona Marta. Muito Obrigada tá?!- eu disse agradecendo a ela.
Olha menina, eu tenho algo que vai te ajudar.- ela disse.
Tem? O que?-perguntei um pouco esperançosa.
A dona Marta retirou dos armários, um prato, um garfo, e logo em seguida foi até a geladeira e retirou um tupperware de vidro com tampa de silicone, no momento em que eu vi ela retirar a tampa e revelar a maravilhosa fatia de bolo de chocolate meus olhos se encheram de desejo. Ela colocou no microondas por 30 segundos, e montou o prato na minha frente, ela pôs em seguida uma bola de sorvete de creme, derramou calda de chocolate e por cima de tudo ela salpicou uma mistura de nozes e amendoim. É nessas horas que agradeço a Deus por não ter alergias. Ela me entregou e eu me apaixonei por aquele bolo. Cada garfada naquele bolo foi como uma pontinha de esperança para mim.
Conversei um pouco com dona Marta e a convidei para comer comigo, eu agradeci por me tirar daquela onda de tristeza, nós nos conhecemos melhor, ela não comeu muito porque tinha que terminar de preparar o jantar. Eu sai revigorada daquela cozinha, e com a certeza de que nada melhor do que comer açúcar para mudar de humor.
Fui até a biblioteca da casa que ficava no andar de cima,para pegar um livro para ler, eu sempre fui uma leitora assídua de romances literários , e até mesmo alguns livros de ação, entretanto no caminho ouvi a voz da Sol saindo de um cômodo, ela cochichava e como eu estava andando em silêncio pude ouvir , resolvi parar e prestar atenção, então me escondi.
Eu sei, só preciso que me ajude.
Não, não é isso.
Eu já entendi, só precisa provocar um pouco.
Eu quero que se livre dela o mais rápido possível, entendeu?