Capítulo 11
1772palavras
2024-01-29 05:02
Patricia
Fui até o canto escondido no jardim, depois da trilha de pedras no chão, para me sentar e tentar encontrar sossego e paz interior, a minha mente está a mil. Um turbilhão de emoções, eu estou começando a ter certeza de que o vilão dessa história é o Gabriel, o meu marido é o vilão!
Durante a minha infância sempre me perguntei como seria a família que eu formaria, se eu me casaria muito nova, ou muito tarde, se eu me casaria com alguém jovem ou velho, rico ou pobre, na verdade a única hipótese que eu não cogitei foi não me casar por amor. Eu sempre pensei que o amor seria o meu laço mais forte com o meu parceiro de vida, o amor e a confiança.
É exatamente o que me falta com o Gabriel são amor e confiança. Meu pai sempre foi um amor comigo, sempre me deu tudo o que eu quis, sempre me deu amor e afeto, ele não tinha tanto tempo para mim, mas quando tinha estava sempre comigo, sempre me apoiando,sempre fez tudo o que pode, ir nas festinhas do dia dos pais e até no dia das mães, ele nunca se casou depois da morte da minha mãe, eu não me lembro muito dela na verdade, lembro somente alguns detalhes nada muito concreto, mas as vezes não sei se é lembrança ou apenas imaginação minha.
Como sempre fui bem amparada pelo apoio do meu pai, sempre confiei cem por cento nele, até porque eu acreditei que sempre tinha sido sincero comigo, pelo menos até o dia que eu voltei de Milão,e dei com a língua nos dentes , pois vivia a me gabar da relação incrível que tinha com meu pai.
Após pensar muito, cheguei a conclusão mais óbvia de todas; estou fudida! Estou presa em um casamento por interesse, para livrar minha família da lama, mas o pior problema de fato é que meu marido além de com certeza mexer com muita coisa fora da lei, ele é um maldito controlador viciado em violência, que por um acaso ainda ama a ex-namorada, a unica pessoa que consegue mante-lo fora de problemas. Ou seja, eu estou sobrando por aqui. Acredito que a primeira coisa que preciso fazer é sair daqui, mas eu não tenho ideia de como, não tenho nem para onde ir.
Hoje é domingo, e pretendo passar o resto do dia boiando na piscina para esquecer os problemas que tenho, já que não posso resolvê-los sozinha. Conversei um pouco com dona Marta, não toquei no assunto sobre o problema do meu marido com violência, eu sei que se qualquer pergunta sobre isso ,se quer escapar da minha boca, a dona Marta conta para o meu marido, e a última coisa que eu quero é ser mais uma da interminável lista de suas vítimas de violência.
Sol resolveu se juntar a mim na piscina, sinceramente acho até legal, não estou mais tão solitária nessa casa. Nós conversamos, falamos sobre moda, arte, cultura, e até fofocamos sobre os famosos, O Gabriel passou o dia todo dormindo, como hoje é domingo e ele nem foi trabalhar, e nem jogar futebol como de costume , ele só dormiu o dia todo, ainda me pergunto o porque ele chegou só pela amanhã, e ainda por cima, todo sujo de lama, terra e o que parecia ser sangue. Ou ele estava numa plantação de beterraba ou aquilo era realmente sangue e ele enterrou um corpo.
Juro que estou torcendo para que ele tenha uma paixão estranha pela agricultura e seja um fã maluco da beterraba. A Sol é uma pessoa bem interessante de se conversar, ela é engraçada e divertida, em outras circunstância a gente teria virado melhores amigas fácil! Faz sentido o Gabriel ser tão apegado a ela.
Quando a noite caiu e eu decidi dormir no sofá, eu apenas fingi que estava super interessada no filme que estava vendo com a Sol, ela foi para cama e eu apenas continuei lá,fiquei com medo do Gabriel aparecer e tentar me levar para o quarto, mas nada aconteceu, aparentemente estava bom para ele se eu dormisse longe dele.
***
Segunda-feira de manhã e a rotina de Gabriel se repetiu, ele foi trabalhar e novamente eu estava no meu lugar de sossego e a Sol apareceu e se sentou do meu lado, ela estava com dois drinks super fofinhos e coloridos, e me entregou um deles.
Você está bem, Pati?-A Sol perguntou para mim.
Na verdade não muito.-respondi com o olhar baixo.
Não fica triste, Pati. Quem sabe com o tempo você não aprende a lidar com ele? -ela disse tentando me animar.
Eu não escolhi estar aqui Sol.-eu comecei a desabafar.
Como assim você não escolheu?-ela perguntou confusa
Eu nunca quis estar aqui, nunca foi escolha minha vir para cá, nunca escolhi me casar com o Gabriel!- continuei em meio a lágrimas.
Do que está falando Pati? O que está acontecendo?- ela me perguntou preocupadamente.
Eu não escolhi me casar com o Gabriel, eu fui obrigada a me casar com ele para salvar a minha família das dívidas , da miséria e principalmente da vergonha. Eu disse me levantando do banco de pedra.
Patricia, mas isso é muito grave! Me explica essa história direito.- Sol disse, mostrando preocupação e um pouco de confusão.
Primeiro senta aqui e me diga o que está acontecendo.- ela disse me levando de volta ao banco e dessa vez sentando ao meu lado.
Há um mês e meio atrás, eu estava em Milão no último ano da minha graduação em artes plásticas. E o meu pai me ligou dizendo que tinha passado mal, que ele ficou um tempo no hospital, e que precisava que eu voltasse para casa urgentemente, ele já havia comprado a passagem de volta, eu achei estranho, porque a alguns dias antes meus cartões já não estavam funcionando bem.- eu comecei a contar.
Sim, continue.-a Sol disse prestando a devida atenção na minha história.
Embarquei no avião de volta para casa, quando cheguei em casa, as coisas estavam reviradas, a casa estava uma bagunça total, cheguei ao escritório do meu pai, minha única família, e lá ele me contou que estávamos falidos e endividados que estamos na ruína total, eu obviamente me desesperei, e tentei achar uma solução, mas o meu pai já tinha uma solução, me casar com o Gabriel… Eu fui vendida, a única opção que eu tive, foi me casar com ele. Me casei com o Gabriel por interesse.-eu contei tudo para a Sol que ouvia tudo com muita atenção, enquanto limpava as lágrimas que escorriam no meu rosto.
Também contei a ela que tentei fugir, e até que o ameacei com uma caneta em sua jugular. Por fim a Sol me disse que sentia muito, e que não fazia ideia de que era por isso que tínhamos nos casados tão depressa.
Ela me amparou no seu abraço enquanto eu chorava desesperadamente, e eu pude perceber o quão injusta eu fui com ela, e que ela realmente é uma boa pessoa, ela ficou ali comigo até eu me acalmar e no fim de tudo ela disse:
Fica calma Pati! Vai dar tudo certo, eu vou te ajudar.
***
Sol
Finalmente descobri o motivo para que o Gabriel tenha se casado tão rápido com essa loira aguada. Eu o conheço muito bem, nós namoramos por muito tempo, ele não é um cara precipitado, não faz as coisas sem pensar muito bem antes. Eu voltei disposta a acabar com esse casamento ridículo! Eu sei que o Gaba me ama, ele sempre me amou, e não é agora que vai deixar de amar. Eu estava cansada da minha vida lá fora, eu fugi sim do Gaba, mas não porque ele era agressivo, na verdade porque ele sempre foi muito humilde, sempre teve muito dinheiro mas nunca quis sair da periferia.
Ainda estou chocada que isso está saindo melhor que a encomenda, eu inventei uma história maluca para a Patrícia, sobre o Gabriel ser agressivo, e ter pico de raiva, sobre ter afastados os meus amigos e tudo mais, na verdade eu achei que ela não ia cair nesse papo, a questão é que eu não sabia que eles só se conheciam a tão pouco tempo.
Eu passei os últimos 2 anos morando na Flórida, eu não fui estudar, na verdade fui com um peguete meu da época, inventei que ia estudar, minha intenção não era terminar o namoro, mas Gabriel veio com esse papo de querer casar e que podíamos fazer dar certo. Eu meti um migué e terminei com ele.
Para falar completamente a verdade eu já estava querendo voltar, daí soube que o Gaba tinha se casado, eu fiquei louca de ciúmes, ele deveria ter me esperado.No início o meu plano era causar e me fazer de sonsa, a inocente, mas isso não funcionou muito bem, só me deu um nariz quase quebrado, chamei a atenção do Gaba de todas as formas que pude, tentei beijar ele algumas vezes mas ele sempre desviava,ou desconversa, tentei outras aproximações, mas não funcionou.
Por isso, tive a brilhante ideia de apenas me livrar dela e só depois conquistar o Gaba, até porque com ela longe , tudo vai funcionar do jeito que eu quero. E aí eu fiz a cabeça dele de que estava arrependida de ter brigado com a Loira aguada, que eu queria fazer as pazes com ela.
Fomos ao shopping naquele dia, e depois daquela conversa e a minha atuação de milhões, eu percebi que iria funcionar, mas eu precisava de um cúmplice, e ninguém melhor que o meu antigo peguete. Ele mesmo, o Luiz.
Não foi difícil convencer Luiz a me ajudar, Só precisei mencionar o caso que tivemos quando eu ainda era a namorada do Gabriel, e ele logo aceitou, com certeza com medo de tudo que poderia acontecer com ele, nós sabemos que o Gaba nunca iria deixar passar uma traição como essa. Convenci Luiz de confirmar minha história e aumentar mais um pouco contando casos e tal, para que assim a Patricia se convencesse de que era real.
Claro, caiu como uma luva, o Gabriel bater em alguém, eu não tive nada a ver com isso, apenas assisti o show acontecer, eu vi quando a Patrícia estava espiando, e amei saber os detalhes sórdidos que o Luiz contou pra ela, e quando o Gabriel chegou todo sujo no dia seguinte foi a cereja do bolo.
Eu estou disposta a tudo, vou acabar com esse casamento ridículo, e me livrar dessa loira mimada, mas nem que precise matar ela com as minhas próprias mãos!