Os primeiros raios de sol adentraram o quarto, quando Oliver acordou. Ainda com a visão embaçada, sentiu algo pressionando o seu peito, e quando desviou o olhar, viu Ashley deitada ao seu lado com a cabeça recostada sobre o seu peito. O braço dela envolvia o seu corpo. Deu um beijo nos cabelos dela, quando um sorriso repuxou os seus lábios. Ela se mexeu, mas não acordou.
Qual o momento naquela noite, Oliver não percebeu Ashley deitar-se ao seu lado? Queria aproveitar aquele momento, mas tinha planos melhores em mente. Retirou Ashley com cuidado do seu lado e se levantou. Observou Valentina dormir, antes de calçar as sandálias e sair.
Ashley acordou assustada e quando olhou para o lado, Oliver já não estava mais ali. Fechou os olhos, achando que deveria ter sido mais esperta e ter acordado primeiro que ele. Agora Oliver sabia que eles haviam dormido juntos e usaria isso como vantagem.

Levantou-se irritada e extremamente envergonhada com aquilo. Certamente ele acharia que ganhou esse jogo, mas ela não permitiria. Caminhou apressada pelo corredor na esperança de encontrá-lo e explicar as suas verdadeiras intenções. Oliver não estava na sala. Ouviu sons que vinham da cozinha. Poderia ser ele procurando algo para comer. Ora essa, ele mal havia chegado na casa e já se sentia confortável. Ashley girou os calcanhares indo na direção da cozinha pronta para confrontá-lo, quando um aroma irresistível invadiu as suas narinas. Ashley parou, ainda no meio do caminho, convencendo a si mesma que talvez estivesse enganada, talvez não fosse Oliver que estivesse naquela cozinha. Com passos lentos, ela foi se aproximando e quando os seus olhos o viram, ela mal pode acreditar.
Com os pés descalços e um avental amarrado na cintura, Oliver estava em frente ao fogão. Tinha uma frigideira nas mãos. A balançava de um lado ao outro e a ergueu, fazendo a comida girar no ar e cair novamente na frigideira. Foi quando ele se virou para colocar o alimento no prato, que os seus olhos se encontraram.
Ashley estava boquiaberta. A expressão de surpresa invadiu o rosto de ambos, mas logo o rosto de Oliver se iluminou e ele sorriu para ela.
— Bom dia, Ashley – colocou as panquecas no prato e voltou a ficar de costas para ela, se concentrando novamente no fogão – eu deveria perguntar se dormiu bem, mas quando eu acordei e vi você dormindo tão agradavelmente nos meus braços, tive certeza de que a sua noite foi incrível.
O espanto tornou-se irritação.
— Não se ache tanto, Oliver. Você ronca que nem um porco – ele largou a frigideira olhando para ela – além disso, não aconteceu nada entre nós dois.

— Disso eu tenho certeza – ele ofereceu um sorriso debochado para ela, enquanto recheava as panquecas – se tivesse acontecido alguma coisa, certamente eu me lembraria. Exceto se você me drogou e me obrigou…
— Não ouse terminar essa frase – ergueu o dedo, lançando-lhe um olhar fulminante – eu fui obrigada a dormir ao seu lado, mas se me irritar um pouco mais posso obrigá-lo a dormir com as vacas.
— Oliver olhou para ela e sorriu, quebrando todo o clima ruim que havia entre eles. Colocou uma das panquecas em um prato e caminhou em direção a Ashley.
Aquilo tinha um aroma incrível que fez o estômago de Ashley gemer de fome, mas o que realmente deixou Ashley com o corpo trêmulo, foi a aproximação repentina de Oliver. Ele segurava o prato e olhava para ela tão fixamente que poderia desnudar a sua alma.

— Agora sente-se para comer – entregou-lhe o prato e quando ela levou as mãos para pegar, tocou as suas mãos nas dele.
O toque foi rápido, porque Ashley se afastou rapidamente e se sentando.
— Diga-me, desde que você sabe cozinhar? – Ela olhava com desconfiança para a comida, achando estranho parecer tão saboroso.
— A minha mãe me ensinou – sentou-se ao lado Ashley quando disse isso, mas não foi capa de ver o quanto ela ficou surpresa com aquela revelação.
— Madelyn não me parece uma mulher que já entrou em uma cozinha, ainda mais para cozinhar.
O comentário de Ashley era compreensível, uma vez que ela sempre teve conhecimento daquilo que Oliver permitia.
— Eu nem Sempre fui o homem rico – desviou o olhar para o prato – quando Madelyn me levou para longe, passamos por grandes dificuldades. Ela me ensinou tudo o que sabia, e depois me obrigou a trabalhar para ela.
Que mulher ordinária, pensou Ashley. Era compreensível o modo rude como Oliver tratava as mulheres, quando foi maltratada por uma, a vida inteira.
— Eu tive que aprender a cozinhar e a trabalhar desde muito cedo – disse com tristeza, como se o passado voltasse para atormentá-lo – ao menos algo de bom Madelyn deixou na minha vida.
Observou a tristeza dele se intensificar e sentiu-se culpada por aquilo. Colocou a sua mão sobre a dele, quando os olhos de Oliver se levantaram para encará-la.
— Uma vez você me disse que o passado já não importa – foi quase como um sussurro – e que você já não vive mais lá. Então não permita que ele volte para atormentá-lo.
Oliver apertou levemente a mão dela. Era a primeira vez, depois de muito tempo que eles dois estavam tendo uma conversa, como duas pessoas normais e aquilo parecia ser um bom sinal. Hipnotizada com o olhar dele, Ashley mal percebia haver permitido que Oliver se aproximasse. Então ele afastou a mão da dela e pegou o garfo, pegando um pedaço da panqueca e levando até a boca de Ashley.
— Experimente – disse, enquanto ela resistiu por alguns segundos. Só depois abriu a boca, observando-o levar a comida até ela.
A cada mastigada, Ashley surpreendia-se com o sabor. Aquilo realmente era fascinante. Fechou os olhos lentamente, enquanto Oliver a observava preso em cada traço do rosto dela.
— O que achou? – Perguntou, quando viu ela abrir os olhos e olhar para ele – aprendi bem com o passado?
— Isso está delicioso – disse, enquanto limpava a boca com o guardanapo – é a melhor panqueca que eu já experimentei em toda a vida.
Ashley estava o elogiando? Oliver demorou muito para acreditar nisso.
— Isso é um elogio? Ou você está zombando de mim?
O comentário fez Ashley rir. Era o sorriso mais contagiante que ele já havia visto em alguém. Quando perceberam estavam rindo juntos. Ashley sentiu-se obrigada a desviar o olhar. Estar ao lado de Oliver e sentir-se confortável com isso, ainda era estranho para ela.
— Sabe que eu não te elogiaria, se de fato não fosse verdade – disse, pigarreando. Sentia a garganta seca - além de panquecas, o que você mais sabe fazer?
— Quase tudo que se sabe fazer em uma cozinha – respondeu, sem conseguir tirar os olhos dela – claro, acho que ainda sei fazer. Passei tanto tempo sem cozinhar que talvez tenha me esquecido de algumas coisas.
— Essa panqueca prova que não – olhou para ele sorrindo, mas o sorriso desapareceu quando percebeu o olhar admirado que Oliver olhava para ela.
— Há muitas coisas sobre mim que você não sabe, Ashley.
Era quase como um ímã, sendo atraído cada vez para mais perto dela. Levantou a mão para tocar o seu rosto e quando Ashley sentiu o toque dele, nas suas bochechas, fechou os olhos. Ela queria resistir, mas era quase impossível.
— O que eu não sei sobre você? – Indagou, sentindo o toque de Oliver causar arrepios involuntários no seu corpo.
— O quanto eu quero estar com você – aproximou o rosto do dela, pronto para beijá-la – o quanto eu amo você.
Mas como um veneno invadindo sua corrente sanguínea, os pensamentos invadiram a mente de Ashley. As palavras duras, o quanto ele a magoou, fizeram abrir os olhos e se afastar. Levantou-se apressada, derrubando a cadeira. O medo estampado no rosto, a obrigou desviar o olhar.
— Oliver, eu… – ela queria dizer algo, aliás ela tinha milhões de coisas para dizer a ele, mas Ethan invadiu a cozinha com Valentina no colo, rompendo qualquer tentativa de continuar aquela conversa.
— Papai – gritou Valentina, abrindo os braços para que ele a pegasse.
Foi só nesse momento que Oliver conseguiu voltar a sorrir novamente. Agarrou a menina, beijando-lhe o rosto. Ashley olhou para eles dois e o seu coração se apertou, enchendo-se de dor. Naquele momento ela se sentiu culpada por separá-los em breve.
— Essas panquecas parecem deliciosas – Ethan disse, pegando algumas e colocando em um prato – não me diga que foi você quem fez, Ashley.
— Não fui eu pai – abaixou a cabeça, envolvendo os braços ao redor do corpo – foi o Oliver quem fez.
Ethan levantou o olhar até o homem boquiaberto.
— Você sabe fazer panquecas? – A pergunta o fez tirar os olhos de Ashley e olhar para o homem.
— Experimente e me diga o que acha – quando desviou o olhar, Ashley já não estava mais ali.
Enquanto Ethan elogiava as panquecas de Oliver, ele se afundava novamente na tristeza em ver Ashley o desprezar novamente. O seu pensamento vagou para longe dali, para algum lugar por aí, procurando uma resposta para fazer Ashley o perdoar pelo passado e dar a ele uma nova chance.