Caminharam juntos até a sala onde Ethan estava, como se a companhia um do outro desse coragem de fazer o que era preciso. Quando Ethan os avistou juntos, levantou-se, com as mãos soando, observando Oliver se aproximar, apreensível.
— Então a missão impossível foi dada ao Oliver – brincou para talvez, assim, jogar fora a tensão sobre os ombros.
— Sente-se, Ethan, por favor – Oliver pediu, enquanto Ashley sentia o corpo totalmente energizado.

— O que está acontecendo? – Ele se agitou ainda mais – é algum problema com a Valentina?
— A Valentina está ótima! – Oliver puxou uma cadeira que havia no canto da sala e sentou-se em frente a Ethan.
Virou o rosto para trás, olhando para Ashley, ela se aproximou e começou a dizer.
— A Anny foi me fazer uma visita há alguns dias – precisou limpara a garganta, fechando os olhos com força, como se procurasse em algum lugar a coragem para prosseguir.
Quando Oliver percebeu a tensão de Ashley, segurou na sua mão. O toque dele fez ela encará-lo e quase se esquecer o real motivo daquela conversa.
— O que a Anny foi fazer em Las Vegas? – A pergunta de Ethan fez Ashley emergir para a realidade.

Olhou para o pai com, respirando fundo antes de prosseguir. Mas aquele momento era difícil demais para Ashley. Apertou com força a mão de Oliver como se quisesse sugar a sua energia, antes de continuar.
— A Anny estava investigando o paradeiro da minha mãe – mas foi como se as palavras morressem na sua garganta e Ashley sentia que já não podia continuar.
Oliver se levantou e olhou fixamente para Ashley. Ele sabia que ela estava prestes a chorar, mas podia prosseguir dali. Ainda que não soubesse de toda a história, obtinha informações suficientes para dar a péssima notícia a Ethan.
— Por que a Anny investigaria sobre o paradeiro da sua mãe? – Ethan suava frio já prevendo o pior.

— A Anny a encontrou – segurou nos dois ombros do homem, olhando fixamente em seus olhos – e infelizmente já era tarde demais.
Foi quando as lagrimas nos olhos de Ashley desceram, indicando a Ethan que era exatamente aquilo que ele estava pensando.
— Não pode ser – o homem estava pálido igual a um papel. Sentou-se novamente, enquanto o seu cérebro tentava absorver as informações obtidas.
— Ela contraiu tuberculose – disse Oliver – e quando procurou um tratamento já era tarde demais.
Ethan estava em choque. Um filme de uma vida inteira passava diante dos seus olhos. A culpa quase o consumiu. Pensava constantemente no dia em que a viu partir, em silêncio, incapaz de impedi-la. Ethan se culpava por isso. Talvez se ela tivesse ficado, ainda estaria viva.
— Eu sinto muito, pai – Ashley se aproximou, sentando-se ao lado dele e o abraçando - eu também tinha esperança de encontrá-la viva.
— Quando isso aconteceu? – Era como um sussurro. Ethan tinha o olhar perdido, mas não chorava.
— A Anny disse que foi poucos anos depois que ela foi embora de casa – enxugou as lagrimas – aconteceu tudo muito rápido. Não teve como ela nos avisar.
— Ou talvez ela não quisesse nos avisar – ele falou e Ashley mal acreditou que ele estava dizendo aquilo – eu não deveria ter deixado ela ir embora.
— A culpa não é seu pai – uma lagrima escorreu pelo rosto dela.
Quando Ashley abraçou Ethan, foi como se finalmente ele se desse conta do que de fato havia acontecido. Ele chorou em silêncio e logo depois seu choro foi criando formas e sons. Oliver sabia que já não podia fazer nada, levantou-se e voltou para o quarto. Por mais que quisesse ajudar Ashley a resolver aquilo, era algo que só eles dois poderiam reviver.
Após longos minutos, Ethan sentiu o coração mais aliviado. Limpou o rosto encharcado e disse.
— Quero visitar o seu tumulo.
Ashley olhou para ele e um aperto sufocou o seu coração.
— Não será possível, pai – disse, com um nó formando-se na sua garganta – ela foi enterrada como indigente. Ninguém sabe onde está o seu corpo.
Foi como outra facada dada no seu coração.
— A sua mãe não merecia esse fim – agarrou as mãos de Ashley com força, fechando os olhos – ainda que ela tenha feito as suas próprias escolhas em nos abandonar, ela não merecia morrer assim.
— Eu sei pai – passou os dedos pelo rosto enrugado de Ethan, enxugando as suas lagrimas.
Ainda que a vida parecesse injusta, Ethan e Ashley se conformaram com a morte repentina de Amanda. Ainda que a saudade prevalecesse e eles imaginassem momentos que jamais pudessem viver ao lado dela, entenderam que foi melhor assim. Por longos minutos permaneceram abraçados, em silêncio, cada um vivenciando a sua própria experiência, e quando Ethan quebrou o silêncio, o assunto já não era o mesmo.
— O que o Oliver está fazendo aqui? – Olhou nos olhos da filha, que desviou o olhar tentando disfarçar a vergonha - não me diga que ele veio até aqui apenas para me contar sobre a morte da Amanda?
Ashley engoliu a seco e fechou os olhos com força.
— Nós fizemos um acordo – olhou para Ethan fazendo uma careta – ele aceitaria a minha demissão, desde que viajasse conosco, para poder passar um tempo a mais com a Valentina.
— Você se demitiu? – Ethan colocou as mãos no rosto, demonstrando claramente que discordava da decisão de Ashley – por que Ashley?
— Não posso mais continuar trabalhando com ele, pai – sussurrou, enquanto se levantava e olhava pelo corredor, certificando-se que Oliver não a ouviria – além disso, só aceitei esse trabalho para auxiliar o senhor a recuperar a fazenda.
— Não pode passar o resto da sua vida vivendo em prol de mim, Ashley – levantou-se também, completamente decepcionado com a decisão de Ashley – esse emprego abriria a você um leque de oportunidade. Foi um erro ter se demitido.
Ashley olhou para ele, incrédula. Ergueu uma das sobrancelhas, em dúvida se Ethan estava no seu juízo perfeito.
— E onde está aquele discurso de que eu deveria ficar longe do Oliver? – Se aproximou do pai – mudou de ideia, pai?
— Mudei, Ashley – se desviou do olhar dela – e você também deveria mudar e reconhecer que o Oliver já não é mais o mesmo homem a qual você se casou.
Ashley riu. Um riso debochado.
— Será que está todo mundo ficando louco? – Arregalou os olhos abrindo os braços - por que todos agora acham que ele virou um santo?
— Ninguém acha isso, querida – segurou no rosto da filha – talvez você que não consiga entender que as pessoas mudam.
Mas Ashley discordava totalmente daquilo. Ao menos ela acreditava que era impossível Oliver se tornar alguém melhor, ainda que os seus olhos estivessem vendo essa mudança. Sacudiu a cabeça em negação, decidindo não prolongar ainda mais aquela conversa.
— Tudo bem, pai. O dia foi longo demais e preciso ir descansar – disse, já pronta para se retirar – o Oliver vai dormir no quarto com o senhor.
— Lamento, mas isso não será possível – disse Ethan – estou dormindo em uma cama de solteiro, quando deia a minha para você, lembra?
— Então ele dorme na sala?
— Não seja cruel, Ashley – recriminou a filha – esse sofá já está velho. Oliver não aguentará nem meia hora dormindo nesse lugar.
Apontava para o sofá de dois lugares. Realmente, um homem grande como Oliver acordaria com fortes dores lombares se deitasse naquele sofá pequeno.
— E o que eu farei então?
— Ele dormirá com você na cama de casal – sugeriu – ou pretende colocá-lo na pequena cama de Valentina?
Ashley quase entrou em desespero quando imaginou aquilo. Tentou achar outra solução, mas não havia. Eles não tinham colchões extras na casa e não havia outra opção para Oliver a não ser aquela.
— Eu deveria colocá-lo para dormir com as vacas lá fora – o comentário de Ashley fez Ethan rir – mas se não há outro jeito.
Se despediu de Ethan, caminhando de volta para o quarto, extremamente irritada com aquela ideia. Ashley precisava de muita coragem para dizer a Oliver que os dois dormiriam juntos naquela noite. Quando entrou no quarto, ele estava deitado na cama, dormindo profundamente. Ashley o observou por vários minutos e mal percebeu o quanto estava fascinada com a cena diante dos seus olhos. Revirou os olhos, tentando afastar os pensamentos e demorou mais do que deveria para, enfim, deitar-se ao lado dele.
Oliver foi o único homem da sua vida. O único a qual ela beijou e dormiu ao lado, ainda que tivesse sido por uma única vez. Quando recostou a cabeça no travesseiro, não pode evitar sentir-se atraída por ele. Precisou virar de costas para esquecer o que estava acontecendo.
O que está acontecendo com você, Ashley? indagou para si, quando fechou os olhos e tentou, enfim, dormir.