Oliver saiu do escritório já se preparando para ir para casa, quando conduziu a sua atenção para Val e lhe fez um pedido inusitado.
— Consiga para mim o telefone do Hendrix.
A secretaria olhou para ele completamente confusa. Como Oliver não tinha o telefone do próprio pai?

— Claro, senhor! – Era impossível para Val disfarçar a sua expressão de surpresa.
— Por favor, Val, não olha para mim desse jeito – tentou disfarçar que ele também estava constrangido, enquanto a mulher anotava o telefone em um pequeno pedaço de papel.
— Eu acho bastante estranho o senhor não ter o telefone do seu pai – comentou, sabendo que não deveria – o senhor se incomodaria de me contar para quê?
Oliver olhou para Val e riu. Nunca se importou com o fato da sua secretaria ser tão próxima dele, daquela maneira.
— Eu vou conhecer a Valentina hoje a noite – observou a secretaria ficar boquiaberta – e quero que o Hendrix participe desse momento comigo.
Por muito pouco Val ficou sem palavras. Ela realmente conseguia distinguir o que ocorria na vida de Oliver.

— Devo confessar, senhor, que a Ashley tem feito muito bem a você – o comentário o pegou desprevenido - está se reconciliando até mesmo com o seu pai.
— Um pouco de exagero da sua parte – pigarreou, demonstrando o quando estava constrangido com aquele conversa – vou te pedir outro favor. Descubra se a Ashley aceitou o pedido de namoro do Alfonso.
Val riu dele, o que deixou Oliver ainda mais constrangido.
— Por que o senhor mesmo não pergunta isso a ela? – Indagou, completamente desatenta com o peso daquela pergunta.

— Você certamente se esqueceu que a Ashley pediu para que não me contasse nada – Val colocou a mão sobre a boca quando percebeu a sua gafe – eu posso perguntar, mas as consequências irão cair sobre você. Está preparada para isso, Val?
— Claro que não senhor! – Disse apressada - amanhã mesmo darei um jeito de descobrir essa informação.
Oliver sorriu para ela, satisfeito e só então saiu do prédio indo direto para mansão.
A casa estava silenciosa e o vazio da mansão era aterrorizante. Era um alívio ele poder chegar em casa e não ter mais Stefany gritando e dando ordens nos empregados como se realmente fosse a dona da casa. Por outro lado, a mansão havia ficado grande demais para ele viver sozinho. Todos os dias, quando chegava ali, a solidão o consumia.
Sentou-se na sua poltrona e ligou para Hendrix. O homem se assustou quando ouviu a voz do filho.
— O senhor pode vir agora até a mansão? – Indagou, um pouco resignado com aquela situação – tenho um lugar para ir, e gostaria que você me acompanhasse.
Um silêncio quase constrangedor pairou do outro lado da linha. Oliver não tinha ideia de como Hendrix reagiria aquele pedido.
— Claro, meu filho! – A voz parecia embargada, carregada de emoção – em meia hora estarei aí.
A ligação logo foi encerrada. Oliver foi para o andar de cima e tomou um longo banho. A meia hora que Hendrix havia prometido se tornaram quase uma hora de atraso. Oliver estava ansioso. Já vestido no seu terno preferido, ele caminhava de um lado ao outro em frente à entrada principal da mansão, segurando um pequeno presente embrulhado. Quando viu Hendrix se aproximar, soltou um suspiro de alívio.
— Desculpe o atraso meu filho – ele suava que encharcava a camisa que vestia – o trânsito está um caos lá fora.
— Eu imagino – ele entrou do seu carro e esperou que Hendrix entrasse também – e isso vai nos atrasar ainda mais.
— Para onde vamos Oliver? – Indagou curioso, observando o presente que ele colocava no banco do passageiro.
Oliver olhou para ele, enquanto ligava o carro.
— Vamos ver a Valentina.
Hendrix vibrou no carro como se tivesse ganho um grande prêmio na loteria. Desde que soube que tinha uma neta, ele desejava conhecê-la. Imaginou todas as possibilidades, mas nenhuma delas envolvia estar ao lado de Oliver fazendo isso.
— Ela saberá que eu sou o pai dela – disse Oliver – e não queria fazer isso sozinho.
Hendrix olhou para ele, emocionado. Durante anos foi obrigado a viver separado do filho. A vida estava oferecendo a ele uma nova chance de fazer diferente.
— Por que escolheu a mim? – ele queria que Oliver confessasse que também estava lhe dando uma nova chance.
— Porque você é o meu pai – respondeu, sem olhar nos olhos dele – porque o senhor também queria conhecê-la.
Um sorriso surgiu no rosto de Hendrix.
— Obrigado, Oliver, por me permitir passar por esse momento ao seu lado – Oliver olhou por um segundo para ele, depois voltou a sua atenção para a estrada.
— Eu não sei como fazer isso – confessou com a voz carregada – eu não sei como ser um pai para aquela menina. Talvez o senhor me ajude a entender isso melhor.
— Ninguém nasce sabendo ser pai, Oliver – achou graça do modo como ele havia se expressado – quem nos ensina são os nossos filhos. A Valentina vai te mostrar como você deve ser. Reconhecê-la como filha já é um grande passo.
Ainda assim, o coração de Oliver estava tomado pelo medo. Ele não sabia como agir, o que falar para aquela menina. Como explicaria para ela a sua ausência.
— Eu cansei de dizer para Ashley que eu não queria ter filhos – a voz estava carregada de arrependimento – mas eu me apaixonei por aqueles olhinhos pequenos desde o primeiro momento que o vi.
— Que bom que você retrocedeu na sua decisão - Hendrix queria o encorajar – diga-me como ela é.
Oliver olhou para ele e os seus olhos brilhavam.
— O senhor se lembra como eu era quando criança? – Hendrix balançou a cabeça – a Valentina é o mesmo, só que com cabelos compridos. Eu não podia dizer que eu não reconhecia aquele rostinho. Ela se parece muito comigo, pai.
Mas foi a palavra pai, proferida com tanto carinho que deixou Hendrix realmente emocionado. A vida toda, Oliver o tratou como uma pessoa distante a qual ele não queria manter qualquer relacionamento. Agora eles estavam ali, compartilhando um momento único na vida dos dois.
— Mas eu fiz coisas horríveis com a Ashley – mas de repente o clima ficou ruim no veículo – acho que ela nunca vai me perdoar por isso.
Mas Hendrix não conseguiu dizer nada em relação àquilo. Ele tinha as suas desconfianças, mas acreditava que não era o momento para aquela conversa. Se envolvesse Oliver no passado, acabaria de vez com a magia em encontrar a filha.
— Eu nunca conheci uma mulher com o coração tão bondoso como a Ashley – afirmou – seja lá o que você tenha feito, ela perdoará.
Contudo, Oliver não tinha tanta certeza disso. Pensou sobre isso o caminho inteiro até a casa de Marina. Quando o carro, enfim, estacionou, Oliver achou que o seu coração fugiria do seu peito. Ele nunca havia se sentido tão vulnerável em toda a sua vida.
Caminhou ao lado de Hendrix até a entrada principal, enquanto apertava com força o presente que segurava nas mãos. Percebendo o nervosismo do filho, Hendrix o abraçou dizendo.
— Não há o que temer, meu filho – olhou nos olhos dele, apertando levemente o seu ombro – você vai ganhar um novo sentido para viver.
Se afastou de Oliver e tocou a campainha. Quando a porta se abriu, Oliver apenas deslumbrou aquela garotinha com os cabelos soltos, correndo na direção dele e o abraçando. Os olhos de Hendrix encheram-se de lagrimas. Quando Valentina olhou nos olhos de Oliver, disse:
— Que bom que você chegou, papai.