Ashley não esperava ver Oliver até o fim do expediente e decerto, Oliver estava atarefado por conta dos dias em que ficou longe da empresa. Ele também preferiu que fosse assim, trabalhar até a noite chegar para esquecer por um momento que Ashley fugira da sua declaração de amor.
Aquele sentimento que pulsava no peito dele diferia de tudo a qual ele já havia sentido em toda a sua vida. Um homem acostumado com as mulheres aos seus pés, agora se via rendido a uma mulher, que certamente era a única que ele amou em toda a sua vida.
Foi assim durante todo aquele dia, como se eles fugissem um do outro. Quando Val entrava no escritório, o coração de Oliver pulsava descontroladamente do seu peito, acreditando ser Ashley. A sua mente criava cenas improváveis e às vezes Oliver tinha que parar tudo o que estava fazendo e beber alguma coisa bastante forte para que, assim, voltasse a realidade.

Mas ele não saiu dali até que o dia terminasse. Quando saiu do escritório, Ashley já havia ido embora. A sua mente dizia que seria melhor assim, seu coração, por outro lado, discordava. E Oliver foi para casa como se carregasse uma corrente com uma enorme bola de ferro pendurada no seu pescoço.
Quando chegou em casa, Ashley se refugiou no quarto, o que fez Marina achar aquilo bastante estranho. No dia seguinte, quando se levantou, ela já estava de pé, com o café pronto e preparada para ir trabalhar. Marina não precisaria perguntar nada a ela, pois a conhecia tão bem que sabia que algo de grave estava acontecendo.
— Você está bem, Ashley? – Puxou o assunto, assumindo toda a responsabilidade.
Ashley não conseguiu olhar nos olhos dela. Certamente as olheiras indicariam que ela mal havia dormido na noite anterior.
— Eu estou bem, – disse com um sorriso, tentando disfarçar o turbilhão de sentimentos que habitavam no seu coração.
Marina a observou com atenção, percebendo que Ashley não parecia disposta a lhe contar nada.

— Você chegou ontem e se trancou no quarto – continuou despertando certo desconforto em Ashley - é uma coisa rara. Você está sempre tão bem-disposta.
— Desculpa, Marina – disse, agitando-se e pegando a sua bolsa para partir – depois conversamos. Eu preciso ir trabalhar.
Havia uma tristeza no olhar de Ashley quando ela olhou para Marina pela primeira vez naquela manhã. Realmente havia algo acontecendo. Algo tão profundo que era perceptível no semblante de Ashley. Mas Marina saberia respeitar a vontade de Ashley, ainda que a curiosidade pulsasse pelas suas veias.
Ashley se apressou para chegar ao trabalho, com a possibilidade de se encontrar com Alfonso na entrada. Não sabia o que dizer a ele, nem que resposta dar ao homem. A sua mente estava confusa e os seus sentimentos embaraçados. Várias vezes, durante o seu trajeto até o trabalho, ela ponderou desaparecer, pedir demissão e voltar ao Texas, para não ter que olhar para Oliver, muito menos para Alfonso.

Ashley nunca foi amada em toda a vida. Viu a mãe ir embora, fugindo de um marido afundado no vício dos jugos de azar. Ethan passava mais tempo em um casino, do que na própria casa. Quando estava pronta para viver a própria vida e realizar os seus sonhos, foi obrigada a se casar com um homem que ela mal conhecia. Um homem a qual nunca a amou. Quando chegava a essa conclusão, as palavras de Oliver dizendo que a amava, via como uma desilusão. Ashley não conseguia parar de pensar nisso e tentava achar os motivos do porquê não conseguia acreditar em Oliver.
Aprendeu a olhar para ele como um homem frio e arrogante. Um homem sem coração.
Pensava sobre isso quando chegou no andar principal. Ela andava no automático que nem havia reparado, que entrou no elevador e que já havia chegado ao seu destino. A secretaria de Oliver já estava lá. Val era sempre a primeira a chegar.
Foi para o banheiro quando percebeu Oliver se aproximar. Ele não a viu quando chegou ao escritório, mas sabia que ela estava ali. Ashley não esperava ver Oliver até que chegasse a hora em que sentisse estar preparada para aquilo. Ela sabia desde o início que o relacionamento deles foi puramente por conveniência. Oliver a usou para conseguir o que queria, e ela estava ali, mesmo depois do divórcio, para auxiliar o seu pai financeiramente. Embora naquele momento ela achasse estar certa sobre ele, era doloroso não saber o que dizer a ele depois da sua declaração.
Naquele dia saiu mais cedo para não ter que se encontrar com ele novamente e assim aconteceu durante quase uma semana. Ashley não contava os seus segredos para Marina, evitava se encontrar com Alfonso, e quando via o Oliver o contato era mínimo, já não se falavam e ela agia como se ele não existisse. Isso funcionou bem por um tempo. Certamente Oliver respeitou o seu espaço e o tempo que acreditava que ela merecia ter, mas ele sofria com a distância e o desprezo de Ashley.
Oliver decidiu que naquela manhã aquilo acabaria. Chegou mais cedo ao trabalho e pediu para que Val viesse uma hora mais tarde. Sentou-se na mesa que ela costumava trabalhar e esperou pacientemente que ela chegasse. Quando Ashley chegou ao escritório e viu Oliver sentado no seu lugar, levou um susto. O seu corpo paralisou, como se ela tivesse levado uma anestesia.
Ashley imediatamente conteve as suas emoções quando os olhos de ambos se encontraram. Deu de ombros, como sempre costumava fazer e caminhou em direção oposto onde ele estava, indo para a cafeteria. Percebendo isso, Oliver caminhou atrás dela e a segurou pelo braço a puxando para perto dele. Ele quase se esqueceu o que precisava dizer, com a força com que o seu coração bateu naquele momento.
— Vai ficar fugindo de mim até quando? – O rosto dele perto demais do seu não a permitia se defender.
Ashley não tinha forças para fugir.
— Impressão sua – disse, olhando para a mão dele que a segurava, mas ele não apertava, ela podia escapar quando quisesse, mas não o fez – eu preciso trabalhar, Oliver.
— Não lembro de ter dado nenhuma ordem a você - não estava sendo arrogante, mas Ashley entendeu que sim – precisamos conversar.
Ele soltou o braço dela.
— Não temos nada para conversar além do trabalho – abaixou o olhar, sentindo-se incapaz de olhar nos olhos dele.
Oliver sorriu para ela e ela não conseguiu não reparar. Era o sorriso mais lindo que ela havia visto em alguém. Tentou afastar os pensamentos, quando girou os calcanhares para fugir dele novamente.
— Eu quero contar a Valentina que eu sou o pai dela.
A declaração de Oliver fez Ashley parar. O seu rosto pálido, ela se virou novamente para olhá-lo com desconfiança.
— Que tipo de jogo é esse Oliver? – Indagou com os olhos cheios de lagrimas.
Ele se aproximou dela novamente, sem tirar os olhos dos seus.
— Você tem todo o direito de me desprezar e não me querer por perto, e eu consigo lidar com isso – travou o maxilar, enquanto mentia, tentado disfarçar o quanto seu coração estava destruído – mas não pode tirar de mim o direito de reconhecer a minha filha.
Oliver conseguia ver a expressão confusa no rosto de Ashley. Ela não acreditava nele e seria difícil reverter essa situação. Mas ele conseguia também ver as suas feições delicadas, a sua pele que parecia ser feita de porcelana e seus lindos cabelos escuros, que dava um contraste perfeito com os seus olhos claros. E os seus olhos brilhavam quando olhavam para ele.
— Você disse que não acreditava que ela era sua filha – sussurrou, cheia de tristeza.
— Eu disse isso e tantas outras coisas a qual me arrependo profundamente – ele não ousou se aproximar mais – precisa se libertar do passado. O que importa é o que eu estou dizendo agora.
Um longo silêncio se formou entre ambos. Ashley se lembrou da vontade que Valentina tinha de conhecer o pai e aquilo encheu o seu coração de tristeza. Ainda que ela e Oliver jamais se dessem bem, ela não podia negar a ele esse direito.
— Tudo bem, – disse enfim, e o rosto de Oliver se iluminou – mas eu preciso de um tempo para prepará-la para esse momento.
Oliver sorriu para ela novamente, e então ele percebeu que Ashley também sorria. A rápida mudança na expressão de Ashley aliviou a tensão de Oliver.
— Obrigada – se aproximou novamente, quando acrescentou antes de partir - já disseram que você fica linda quando está sorrindo? Deveria fazer isso mais vezes, Ashley.
Então ele saiu, deixando-a sozinha com um turbilhão de sentimentos. O que estava acontecendo com o Oliver afinal?