Capítulo 79
1156palavras
2024-01-26 08:35
Stefany
Stefany saiu da mansão, arrastando a sua mala, sem saber ao certo para onde ir. Olhar para as ruas de Las Vegas, que não fosse em um carro luxuoso, a deixava transtornada. Ela não queria ter que passar a noite nas ruas, sem uma casa ou uma cama para se deitar. Essa ideia aterrorizar de tal modo que ela quase entrou em desespero.
Após andar por quase uma hora e sentir os seus pés queimarem, cheio de bolhas, Stefany parou em frente a casa que ela conhecia bem. Ali ela viveu muitos anos da sua vida, ao lado de um bom marido, que a amava verdadeiramente. Era difícil confessar isso naquele momento, quando já era tarde demais.

Stefany não tinha ideia de quantas horas eram aquela. Resistiu muito até enfim, apertar a companhia da casa e esperar pacientemente alguém lhe atender. Ouviu passos apressados vindo na sua direção e quando a porta se abriu, ali estava Filipe, o seu ex-marido, com a expressão sombria por vê-la novamente depois de tantos anos.
Stefany estava com o cabelo desgrenhado e a maquiagem borrada. Vestia uma camisola e os seus pés estavam descalços e feridos. Em outra época, Filipe sentiria pena dela, mas quando a olhava não conseguia sentir nada em relação a sua ex-mulher.
— O que você está fazendo aqui? – A voz seca dava a impressão de que ele ainda a detestava.
— O Oliver me expulsou de casa – disse, engolindo o choro de desespero, enquanto um sorriso se formava no rosto de Filipe – eu não tenho para onde ir.
Ele continuou rindo. Abaixou o olhar para o chão, enquanto fechava os olhos e calculava minuciosamente as palavras que diria a ela.
— O traiu também como fez comigo? – A sua voz ressentida ecoou forte, porém baixa.

— Eu não o trair – gaguejou – eu não quero falar sobre isso, eu só preciso de um lugar para ficar.
— Deveria ter procurado um hotel, Stefany – foi arrogante, fazendo uma lagrima descer do rosto dela.
— Eu não tenho dinheiro – a sua confissão não o surpreendeu – me perdoe por tudo o que eu fiz você passar. Você era um bom marido. Seria capaz de me dar uma segunda chance?
Filipe mal pode acreditar que Stefany chegaria a tal ponto. Ela pulava de galho em galho, procurando em quem pudesse se encostar. Mas ele já não era mais o mesmo homem de antes, dedicado e apaixonado a ela e sendo assim, não cairia nas suas chantagens emocionais.

— Você se lembra que me traiu com o meu melhor amigo? – Disse saindo da casa e olhando bem nos olhos dela – ou também se esqueceu das coisas que me disse naquele dia? Devo refrescar a sua memória, Stefany?
Outra lagrima rolou pelo seu rosto.
— Não há mais espaço para você na minha vida – continuou ele – e eu não me importo se você não tem onde ficar essa noite, ou pelo resto dos seus dias. Precisa arcar com as consequências dos seus atos.
O desespero tomou conta dela novamente. Se ajoelhou aos pés do Filipe e implorou para que ele a salvasse.
— Eu não tenho família em Las Vegas, não tenho amigos – choramingou.
— Você humilhava a sua mãe por ser uma empregada doméstica – jogou a verdade sobre ela – dizia que não queria ver a sua família nunca mais por que eles eram pobres. Eu me pergunto até hoje como eu conseguir permanecer ao lado de alguém como você.
Ela enxugou as lagrimas e levantou-se lentamente. Certamente percebeu que o seu show melodramático não estava surgindo efeito. Mas a dor no seu peito era real. Stefany sentia que não suportaria sobreviver naquelas condições.
Um longo silêncio se formou entre eles, de modo que Stefany já não sabia o que fazer. Passos apressados foram ouvidos na casa, o que surpreendeu Stefany. Filipe não estava sozinho. Logo atrás dele a porta se abriu e uma mulher, loira vestindo um pijama, apareceu com uma criança no colo. Aquilo fez Stefany se encolher e sentir o seu peito rasgar com tanta dor.
— Está tudo bem, querido? – A mulher indagou, quando Filipe se virou para ela e sorriu – quem é essa mulher?
Stefany olhava para a mulher, assustada. Filipe havia se casado novamente?
— Eu poderia dizer que não é ninguém importante e não estaria mentindo – as palavras rasgaram ainda mais o coração de Stefany – mas ela é minha ex-mulher.
A mulher olhou para Stefany com um olhar piedoso, revelando a ela que conhecia toda a verdade. Ficou em silêncio como se confiasse na decisão de Filipe.
— Mas ela já está indo embora – disse – não temos mais nada o que conversar.
— Você se casou novamente? – As palavras saíram apressadas.
— Eu me casei – olhou para ela, orgulhoso – e temos um filho juntos, provando que no final você estava errada sobre mim.
Stefany sentiu os lábios tremerem. Aquilo era certamente a maior humilhação da sua vida. Filipe havia reconstruído a sua vida e estava feliz, enquanto ela passou três longos anos sendo rejeitada pelo homem que ela dizia amar. Sempre se achou tão esperta, mas não foi capaz de se prevenir para o pior.
— Tenha uma ótima noite, Stefany – disse, enquanto voltava a entrar da casa – eu preciso colocar o meu filho para dormir.
Essas foram as últimas palavras dele, direcionada a ela. A porta fechando foi como outro tapa dado na sua face. Ela quase desabou novamente. Sentia fome, frio e sozinha. Olhou para os lados sem saber mais para onde ir. Tinha medo das ruas, medo da imensa escuridão que a cercava. Caminhou mais alguns metros e se refugiu debaixo de uma loja comercial e adormeceu.
Se alguém a violasse, Stefany nem perceberia. Acordou com um jato de água suja sendo jogado em cima dela. O dono do estabelecimento estava furioso com a presença de Stefany ali. Expulsou ela a vassouradas, dizendo palavras ofensivas, fazendo-a se sentir um lixo humano. Ela nunca imaginou que as ruas fossem tão insensíveis e perigosas daquela maneira. Decidiu então voltar para frente da casa de Oliver e fazer uma última tentativa.
Passou a tarde inteira sentada debaixo da sombra da árvore, esperando qualquer sinal dele. Quando a noite já chegava, viu Madelyn sair da mansão. Ela correu na direção da mulher, esperançosa, mas Madelyn também não parecia bem.
— Porque está nesse estado, Stefany? – Indagou a mulher, tampando o nariz com o odor que sair dela.
— Por favor, Madelyn, me ajude – implorou já com o corpo desfalecendo – Oliver me expulsou de casa.
Madelyn olhou para ela com desdém, e disse cheia de tristeza.
— Sinto muito, minha querida, mas não poderei ajudá-la – abaixou o olhar envergonhada – mas o Oliver decidiu que não vai mais me ajudar financeiramente. Eu também perdi tudo.