Capítulo 73
1359palavras
2024-01-22 08:30
— Por que estamos nessa casa? – Ashley sentiu o seu coração apertar com a proximidade da resposta.
— Antes de responder essa pergunta, você precisa entender por que eu estou aqui – no entanto, Ethan não sabia por onde começar. A dor no seu peito parecia se intensificar conforme ele pensava nas consequências daquela revelação.
Um silêncio ensurdecedor consumiu o ambiente, de modo que Ethan não sabia por onde começar a falar. Ashley não o perdoaria por ir novamente ao casino e pior, ter apostado a fazenda, coisa a qual Ashley tanto lutava para manter. Ela também não o entenderia por que mentiu esse tempo todo sobre Oliver, fazendo-a acreditar que ele era um monstro. Mas Ashley continuava esperando ele dizer qualquer coisa e essa espera quase a enlouqueceu.
Onde o senhor estava, pai? – Indagou impaciente – eu fiquei preocupada quando liguei para a fazenda e me disseram que o senhor não estava lá.
— A fazenda – começou a dizer, sentindo um nó sufocando a sua garganta – eu estava no casino.
Parou imediatamente quando percebeu o semblante decepcionado no rosto de Ashley. Ela balançou a cabeça em negação, indignada, mas foi incapaz de dizer qualquer coisa.
— Eu estava no casino ontem à noite – continuou – eu estava tão decepcionado com você por mentir para mim, que perdi a razão e comecei a jogar.
— No casino? – O rosto de Ashley ficou vermelho de raiva.
— E eu apostei a fazenda – o rosto de Ashley escureceu por um instante – e pedir.
Um grito de desespero ficou preso na garganta de Ashley. Uma expressão de insatisfação surgiu no seu rosto. Por um momento ela se perguntou se havia escutado direito o que ele disse. Olhou para o pai se perguntando se um homem como ele já não teria idade o suficiente para aprender com os próprios erros. Mas Ethan parecia uma criança birrenta, que não aguentava ser contrariado que logo ia correndo cometer o pior erro.
— Eu achei que o senhor tinha aprendido a lição quando me perdeu naquele maldito casino – o choro que estava entalado foi colocado para fora – apostou a única coisa que tínhamos. E agora pai?
Nesse momento Ashley achou que iria desabar. Sentia-se tonta e com falta de ar.
— Quando o Romero percebeu que eu não podia pagar a dívida, me prendeu – a voz tremula em desespero – por isso estou com o rosto assim. Mas o Oliver por algum motivo apareceu lá e pagou toda a dívida.
— Do que você está falando pai? – Entre soluços, ela quase se engasgou na própria confusão.
— Estou dizendo que o Oliver pagou a dívida e salvou a fazenda – Ethan sentia precisar se sentar. As suas pernas tremiam ao ponto de ele achar que ele não conseguiria prosseguir – depois ele me trouxe para cá e me devolveu as chaves da casa, dizendo ser o certo a se fazer.
Ashley mal podia acreditar no que ouvia. Ela encarou o homem diante dela com lagrimas escorrendo pelas bochechas feridas e procurou qualquer vestígio de que Ethan podia estar inventado aquela história toda. O Oliver que ele descrevia diferia do Oliver a qual ela se casou um dia. Não eram as mesmas pessoas. Sentiu que os seus pensamentos davam, nós sem fim.
— Como isso é possível? – Sussurrou, perdida na própria confusão – o Oliver pagou ao senhor para me dizer isso.
— Não, Ashley! – Saiu quase como um grito. Os olhos de Ethan estavam dilatados e a sua expressão denunciava que ele tinha muito mais para contar – o problema é que eu sempre descrevi o Oliver como um homem desonesto e que me roubou tudo o que eu tinha.
Ashley franziu a testa. Ethan se virou e lançou a ela um olhar mortal, enquanto inspirava com força como se sugasse a coragem para continuar.
— O Oliver nunca me roubou nada – confessou enfim – eu perdi tudo o que eu tinha nos jogos. Inclusive dei um prejuízo enorme ao Oliver. Eu iria perder essa casa, porque não tinha dinheiro para pagar a hipoteca. Mas o Oliver me ajudou. Ele pagou todas as minhas dívidas e não permitiu que eu fosse jogado na rua.
No mesmo instante o rosto de Ashley se iluminou. Mas foi inevitável ela cair no choro. Apesar de Ethan ter dito a ela no dia anterior que jamais a perdoaria por mentir a ela, o amor e a compaixão que sentia pela filha eram evidentes no seu olhar. Ele sabia que agora quem precisava do seu perdão era ele. Ethan envolveu Ashley em seus braços e a abraçou com força. Ele sentia pena da sua própria filha.
— Me perdoa Ashley – disse choramingando – eu sempre coloquei a culpa dos meus erros nos outros e o Oliver só foi a vítima daquela vez. Eu já havia perdido a sua mãe, se eu contasse a verdade, eu perderia você também e isso eu jamais poderia suportar.
— Isso é um absurdo – Ashley disse, enfim – parece que eu vivi a vida inteira em uma mentira.
— O amor que eu sinto por você não é uma mentira, Ashley – disse, se afastando dela – eu fiz para protegê-la.
— Me proteger de quem, pai? – Havia muita revolta dentro do seu coração – do monstro do Oliver a qual o senhor mesmo criou?
Ethan sentia uma mistura de desespero e descrença em simultâneo. O seu coração lhe dizia que Ashley jamais o perdoaria por aquele erro abismal. Abaixou a cabeça e se lamentou em silêncio. Era hora de encarar as consequências dos seus erros.
— Talvez por isso a mamãe tenha ido embora – disse – ela descobriu que o senhor havia perdido tudo e não suportaria ter que viver debaixo de uma ponte.
— A sua mãe te abandonou, Ashley – disse, ajeitando a postura – Essa é a verdade. Você era muito pequena e naquela época eu desconhecia totalmente os jogos de azar.
— Está me dizendo que a minha mãe foi embora porque quis?
— Estou dizendo exatamente isso – a sua voz se elevou – e foi só depois da partida dela que eu afundei de vez. Para esquecê-la, superá-la. Então não me culpe por ela ter partido, porque essa culpa não é minha.
Portanto, Ashley já não sabia mais no que pensar. Tudo parecia um quadro branco que não fornecia a ela qualquer resposta de como escapar daquela confusão. Sentia o mundo desmoronar. Ficou remoendo aquela dor durante vários minutos ao ponto de achar que iria enlouquecer.
Lá fora o sol já se escondia deixando espaço para a escuridão. Ashley já não conseguia encarar os olhos do pai. Ficou em silêncio porque não poderia magoá-lo com as palavras horríveis que entalou na própria garganta. Embora Oliver não fosse tão inocente assim, Ethan foi o responsável por fazê-la odiá-lo sem nem ao menos conhecer ele.
Aquilo era horrível. Ela se sentia horrível.
Depois de tantos minutos sem dizer nada um ao outro, Ethan finalmente criou coragem para dizer.
— Estarei voltando para a fazenda amanhã - disse com a voz tristonha, enquanto olhava com carinho cada canto da sua antiga casa – e deixarei essa casa para sempre. Ela é sua, Ashley. Sempre foi por direito.
Ethan falava aquilo diretamente do coração. Ainda assim, ele não conseguia saber se Ashley o perdoaria algum dia. No fundo, Ashley sentia-se destruída, era incapaz de concluir aquela conversa com a palavra perdão.
— Eu preciso de um tempo para pensar sobre tudo isso, pai – se levantou, erguendo o rosto e olhando para o rosto abatido do pai.
— Para onde você vai? – Observou Ashley caminhando em direção a saída – deixe que eu leve até em casa.
— Não, pai! – Disse com brutalidade – eu sei me cuidar sozinha. Por favor, eu preciso ficar sozinha por um momento.
Ethan tentou impedi-la, mas a porta batendo foi tudo o que ele obteve de Ashley. Desesperado, ele não encontrou outra saída a não ser ligar para Oliver e pedir que ele ajudasse Ashley também.