Ashley mal conseguiu dormir naquela noite. Tentou ligar para o Ethan, mas ele havia desligado o celular. O seu pai já era um homem de idade por isso já tinha algumas limitações. Estava longe de casa e não tinha onde dormir. Ashley até considerou ir atrás dele, mas já era tarde da noite e ela não tinha ideia de onde o encontraria.
Era muito cedo quando ela ligou para a fazenda perguntado se Ethan já havia retornado, mas o funcionário que cuidava do local, disse que não sabia onde Ethan estava, o que aumentou a preocupação de Ashley.
Ela se arrumou para ir trabalhar, mas a vontade que tinha era correr pelas ruas e encontrar o seu pai. Quando chegou a cozinha, Marina já preparava o café e lançou a ela um olhar bem preocupado.

— O que aconteceu dessa vez? – Encheu uma xícara com café e ofereceu a ela.
— Eu não sei – balançou a cabeça, enquanto olhava para o líquido preto sem vontade de tomá-lo – e se aconteceu alguma coisa com o meu pai? Ele foi assaltado, dormiu nas ruas?
Sentiu uma imensa vontade de chorar ao imaginar o pior acontecendo.
— O Ethan sabe se cuidar – declarou, tentando reconfortá-la - não deve pensar no pior.
— Ele está sem dinheiro – sussurrou, como se desse vida aos próprios pensamentos – eu deveria ter ido atrás dele. Deveria tê-lo impedido.
— Não há nada que você pudesse fazer – continuou – vamos fazer assim, se ele não aparecer até a noite, daremos queixa por desaparecimento, tudo bem.

Mas aquela declaração deixou Ashley ainda mais angustiada. Ela deixou a xicara de lado e voltou para o quarto. Se despedia de Valentina, quando alguém bateu na porta. Ashley imediatamente correu até lá, na esperança de que fosse Ethan, mas quando abriu a porta teve outra grande surpresa.
— Oi, Ashley – Alfonso estava parado na porta dela com as mãos nos bolsos das calças. O cabelo molhado e o terno acinzentado tão bem-apessoado.
— Oi – ela gaguejou, olhando nos olhos dele, lembrando-se do que Oliver a havia contado no dia anterior – eu estava saindo para trabalhar...
Oh, céus! O que ela estava dizendo. Sentiu-se patética por agir daquela forma, ainda mais na presença de um homem como Alfonso.

Ele riu do outro lado da porta e lançou a ela o olhar mais sedutor que Ashley já havia visto em um homem.
— Eu sei – disse – vim oferecer uma carona até o seu trabalho. Desculpe não ter avisado.
As suas bochechas ardiam conforme a sua vergonha aumentava. Ashley riu sem jeito e disse.
— Eu aceito – abaixou o olhar, virando-se novamente para dentro da casa – você quer esperar aqui dentro, enquanto eu busco a minha bolsa no quarto?
— Tenho certeza de que será uma coisa rápida – negou, educadamente.
Ashley passou as mãos suadas na saia que vestia, antes de virar as costas para ele e sair em direção ao quarto. Despediu-se novamente de Valentina e caminhou apressada para fora, onde Alfonso a esperava. Encontrou a babá de Valentina no caminho, a cumprimentou brevemente e seguiu em direção ao carro de Alfonso.
Quando o homem, enfim, se acomodou atrás do volante, um clima estranho de formou entre eles. Ashley não era tão inocente ao ponto de achar que Alfonso não indagaria o fato dela ter uma filha. Ainda que não existisse um relacionamento sério entre eles, Alfonso parecia estar bem interessado em Ashley e conhecendo as suas verdadeiras intenções, ela sentia a obrigação de ser sincera com ele.
— Você parece preocupada – ele começou a dirigir – algum problema com a Valentina.
Ashley lançou um olhar aflito para ele, como se ele pudesse ler os seus pensamentos.
— A Valentina está ótima – fez uma pausa, pensando se deveria contar a ele o que havia acontecido no dia anterior – o meu pai veio nos fazer uma visita, e eu não tenho notícias dele desde a noite anterior.
Alfonso olhou confuso para ela. Ashley falava rápido como se tivesse pressa de esclarecer as coisas.
— Ele não chegou na sua casa? – Indagou.
— Eu cheguei a recebê-lo – a angústia ao ponto de explodir no peito – mas o Oliver apareceu e contou a ele algumas coisas que o Ethan não gostou, então ele foi embora e eu não tenho ideia de onde ele esteja agora.
— O que o Oliver foi fazer na sua casa? – A pergunta saiu naturalmente, sem pressão ou mágoa.
Ashley olhou para ele, apreensiva e ressentida se deveria ou não responder aquela pergunta.
— Ele foi ver a Valentina.
Alfonso não olhou nos olhos dela. Engoliu a seco, pensando em como começaria aquela conversa. Apesar de ele saber toda a verdade, ele esperava pacientemente Ashley lhe contar por conta própria. Mas a mulher parecia ter outras preocupações.
Do seu lado, Ashley mordia os lábios, sentindo-se pressionada. Sentiu que Alfonso esperava, pacientemente, ela contar o resto da história.
— Tem algumas coisas que eu não te contei – ela sabia que Oliver já havia contado a ele toda a verdade, mas sabia também que Alfonso merecia ouvir a versão dela – o Oliver é o pai da Valentina, mas eu escondi isso dele, até o dia do acidente.
Com um olhar confuso, Alfonso olhou para ela como se não soubesse de nada.
— Por que escondeu isso dele?
Ashley ficou confusa. Alfonso deveria questionar o fato dela ter escondido isso dele.
— O Oliver nunca quis ser pai – engoliu a vontade de contar o resto – e depois que a gente se separou eu preferir que ele não soubesse.
— Porque eu tenho a impressão de que essa história parece ser pior que eu imagino.
Ashley arregalou os olhos para ele. Alfonso parecia ter um alto instinto que denunciava os segredos dos outros.
— Eu sei que o Oliver contou ser o pai de Valentina – disse, enquanto Alfonso estacionava o carro em frente ao prédio – mas ele não tem nenhum orgulho disso. Ele não acreditou em mim, quando eu disse que Valentina era filha dele.
Alfonso travou o maxilar, pensativo, quando girou o corpo na direção dela, para olhá-la melhor.
— Não quero que se sinta pressionada a me contar a verdade – disse, enquanto segurava em uma das suas mãos – quando estiver pronta eu estarei aqui para ouvi-la, mas se não quiser me contar, também não tem problema.
Ashley sabia que se contasse a verdade sobre Oliver certamente arruinaria os negócios que havia entre eles dois, e a intenção dela não era essa. Tentou abordar a lágrima que estava prestes a cair e olhou para o homem a sua frente.
— Eu preciso encontrar o meu pai – disse, enfim – e quando eu tiver certeza de que ele está em segurança, terminaremos essa conversa.
Alfonso riu para ela, em sinal de que concordava com a sua decisão. Desceu do carro, em passos apressados, dando a volta e abrindo a porta para que Ashley saísse. Aquilo parecia tão romântico. A verdade era que Ashley estava encantada com o modo cavalheiro como Alfonso sempre a tratava. Aquele era o tipo de tratamento que ela merecia ter. Debaixo dos primeiros raios de sol daquela manhã de céu azul, os seus olhos brilhavam na direção dele, que lhe oferecia o braço para conduzi-la até a entrada do prédio.
Quando chegaram na porta, Ashley girou os calcanhares para ficar em frente ao homem.
— Você não está zangado porque eu não lhe contei a verdade, não é?
— A sua filha havia acabado de ser atropelada – disse, enquanto passava os dedos sobre a pele macia do seu rosto – eu entendo perfeitamente a situação.
Mas as palavras foram rompidas pelo momento. Alfonso inclinou o corpo na direção dela e encostou os seus lábios nos de Ashley. Ela fechou os olhos sentindo o beijo quente e rápido. Seus dedos estão enrolados em volta dos seus braços, e sua respiração está tocando sua bochecha. Ele estava pronto para beijá-la novamente. Ainda de olhos fechados, ouviu uma voz que vinha logo atrás dela. Percebeu Alfonso se afastar, já não olhava para ela e não havia ternura em seu olhar.
Era o Oliver.
Quando se virou para olhá-lo, o homem parecia furioso. Oliver havia presenciado o beijo e o que ele sentiu na hora era quase inexplicável para ele. Tudo o que ele sentiu vontade de fazer foi bater em Alfonso e arrastar Ashley para dentro. Mas ele não fez nada disso, apesar de não conseguir disfarçar toda a sua decepção com aquela cena.
— Não me recordo de nenhuma reunião marcada com você hoje, Alfonso – disse com a voz carregada de raiva.
— Porque não temos nenhuma reunião – Alfonso segurou na mão de Ashley, percebendo o olhar de Oliver se direcionando para baixo, atento a cada movimento – eu só vim trazer a Ashley. Já estou indo embora.
Ofereceu a Oliver um sorriso provocador e se virou para olhar para Ashley novamente. Dessa vez beijou o seu rosto, percebendo que ela havia ficado mais vermelha do que da última vez. Virou-se para Oliver novamente e disse, antes de partir.
— Nos vemos em breve Oliver – estendeu a mão para cumprimentá-lo, o que fez Oliver pensar em até recusar. Quando as mãos foram apertadas, Alfonso finalizou – tenha um ótimo dia.
Aquilo fez o sangue de Oliver ferver. Estava aí o seu grande erro, ter dado a Ashley a missão de ajudá-lo a fechar negócios com um dos homens mais galanteadores de Las Vegas. Ele não imaginou que Ashley também se interessaria por Alfonso.
Quando, enfim, olhou para Ashley, os seus pensamentos quase se perderam, mas ele não conseguiu dizer nada a ela. Ver Alfonso beijar ela quebrou o seu coração. Havia uma regra sendo quebrada naquele momento, que ele não se apaixonaria por sua ex-mulher.
Oliver se afasta sem olhar para trás, deixando Ashley confusa.