Capítulo 69
1393palavras
2024-01-19 09:12
Ashley não conseguia raciocinar direito com Oliver tão perto dela. Quando o choro cessou e o desespero diminuiu, ela afastou-se dele lentamente como se estivesse pisando em um campo minado, ao ponto de explodir. Era como se as palavras do Ethan, relembrando o passado, ecoasse na sua cabeça, fazendo-a se sentir uma idiota por permitir que ele ficasse tão próximo.
— Você deveria ter avisado que viria – ela enxugou as lágrimas, agora já de costas para ele – talvez assim, eu teria evitado tanta confusão.
— Ou me impedido de vir – disse, decepcionado, recolhendo a dignidade e se afastando dela também – eu queria ver a Valentina.

Ashley virou-se olhando para ele e tentando encontrar qualquer vestígio de sinceridade no rosto de Oliver.
— Você acha que ela não é sua filha – foi quase como um sussurro – por que quer vê-la?
— Os meus motivos não interessam Ashley.
— Estamos falando da nossa filha, Oliver – outra lágrima ameaçou cair dos seus olhos. A sua voz estava visivelmente alterada – ela é só uma criança, e eu não quero que você a faça sofrer.
— Já disse que essa não é a minha intenção – ele suspirou, e então concluiu haver sido um erro ter ido até ali – eu fiz uma promessa a ela e estou disposto a cumprir.
Ashley olhou para ele e sorriu. Ela não conseguia acreditar em quase nada do que Oliver dizia.

— Ser amigo dela, enquanto nega ser o pai.
Oliver olhou para ela realmente irritado com aquele comentário. O modo como Ashley o enxergava não deveria de modo algum incomodá-lo, mas não era assim que ele se sentia.
— Você acha que essa situação está sendo fácil para mim? – Caminhou na direção dela, a obrigando a olhar nos seus olhos – você voltou para Las Vegas e jogou uma bomba no meu colo, esperando que quando ela explodisse eu não saísse ferido? Olha, Ashley, eu sei que nunca fui um bom homem com você, mas eu não consigo enfrentar essa situação sem nenhum arranhão.
Um longo silêncio se prolongou entre eles. Os acontecimentos das últimas vinte e quatro horas havia deixado Oliver altamente irritado e confuso. Quando ele achava que as coisas iriam se acalmar, vinha outras situações que o faziam imergir nos próprios problemas. Ashley o observou, que se agitava de um lado a outro e sentiu compaixão dele, mas não ousou se aproximar.

— O que você quer que eu faça então? – Ela indagou, já com a expressão calma dessa vez.
— Que me dê um tempo para entender e digerir tudo isso que está acontecendo – outro suspiro. Ele parecia estar cansado – sem pressão, cobranças ou culpas. Acho que nós dois já não precisamos mais disso.
— Está me propondo um acordo de paz?
— Exatamente – ele olhou nos olhos dela – senão por nós, ao menos pela Valentina.
Ouvir aquilo foi como se alguém enfiasse a mão dentro do seu peito e retirasse de lá todo o medo que ela sentia do futuro. Ashley suspirou de alívio, ainda que sentisse bastante receio em dar a Oliver uma segunda chance.
— Como soube onde eu morava? – Indagou, enquanto mudava de assunto.
— Eu sou o seu chefe – respondeu, com um tom seco – a Val me passou a sua localização.
Aquela velha astuta, Ashley pensou, enquanto um sorriso de incredulidade brotava nos seus lábios. Era claro que ela diria até mesmo a roupa que Ashley havia vestido naquele dia, se fosse para agradar o Oliver, ela elaboraria qualquer coisa. Ainda assim, ela sabia que as intenções de Val iam além de agradar ou obedecer ao patrão. Val desejava ver Ashley e Oliver juntos, como um casal novamente, e ela faria qualquer coisa para conseguir isso.
— Eu peço, por favor, que não venha mais sem avisar – sentiu as suas bochechas queimarem ao dizer isso.
— Não foi possível eu avisar – pigarreou, se justificando – eu estava tendo uma reunião com o Alfonso e acabei me esquecendo.
Aquela certamente era uma resposta fraca para um homem tão esperto quanto o Oliver. Ashley riu, mostrando-lhe os dentes, o que fez Oliver ficar bastante incomodado com aquilo.
— O que foi? Não acredita? – Indagou – você mesmo pode perguntar a ele, já que agora parece ser tão íntimo.
O comentário fez o sorriso desaparecer. Agora Ashley sentia-se ofendida.
— Não sou íntima dele, Oliver – se justificou, enquanto cruzava os braços em frente ao corpo - só aceitei um convite para almoçar.
— O que demonstra claramente que ele está interessado em você – a sua expressão se fechou, como se dissesse aquilo fosse custoso demais para Oliver – ele mesmo me confessou na reunião de hoje.
Era claro que aquilo era uma grande mentira, mas Oliver queria ter certeza de que entre eles não aconteciam nenhum caso amoroso.
— O que está dizendo? – Agora ela estava zangada – que passaram a reunião falando sobre mim?
— Ele levantou questões sobre você que eu não pude ignorar – deu um passo à frente, se aproximando dela – me acusou de ter marcado a reunião na mansão para que ele não se encontrasse com você.
— O que não é nenhuma mentira – ela também se aproximou – você me proibiu de falar com ele, lembra? Como se você pudesse controlar a minha vida.
— E essa ordem continua valendo – se aproximou ainda mais, e quando percebeu estavam um de frente ao outro.
Era como um imã, que os puxava sem que percebessem. Um silêncio seguiu, enquanto eles se olhavam a poucos centímetros de distância.
— Mas duvido que ele a procure novamente depois do que eu disse a ele.
A boca de Ashley abriu involuntariamente. Ela mal pode acreditar que Oliver fosse capaz daquilo.
— O que você disse a ele? – O desafiou com a fúria estampada no rosto.
— A verdade – respondeu – que tivemos uma filha juntos.
O rosto de Ashley ficou vermelho como se ela tivesse acabado de levar um, tapa. Sentiu o corpo queimar com a raiva que sentiu de Oliver.
— Você não tinha o direito – a sua voz saiu quase como um grito – deveria ter contado a ele também, a outra versão da história. Que me obrigou a se casar com você e que me ameaçou de morte se descobrisse que eu estava gravida.
— Nós combinamos de dar uma trégua, Ashley.
— Eu não combinei nada com você – ela gritou – você não tem o direito de se meter assim na minha vida Oliver.
— Se Valentina realmente for a minha filha, não permitirei que qualquer homem se aproxime de vocês.
Ashley de repente achou graça e começou a rir.
— Você consegue fazer melhor, Oliver – ele a encarou sem entender o que ela dizia – não banque o pai protetor, porque eu não acredito nisso. Você só quer se vingar de mim, destruir a minha vida porque foi expulso da sociedade.
Oliver ficou espantado em saber o que Ashley pensava sobre ele. Mas ela não presenciou a frustração estampada no seu rosto. Escondia o rosto como se sentisse vergonha do que acabara de falar.
— Então é isso que você acha que eu estou fazendo – disse em um sussurro, enquanto enfiava as mãos nos bolsos.
Mas as palavras seguintes morreram na sua garganta, quando Valentina entrou na sala e caminhou na direção dele, sorrindo.
— Obrigada pelo presente – disse, com a voz doce que Oliver já se sentia encantado.
— Que bom que gostou – inclinou o corpo para poder olhar nos olhos da menina, quando foi surpreendido por um abraço.
— Vamos nos ver de novo? – Ela perguntou.
Oliver lançou o olhar até Ashley, que tinha uma expressão triste no rosto. Ela achava que Oliver era um monstro, devorador de corações de crianças inocentes. Ele tinha certeza de que ela o odiava, e que pensava as coisas mais absurdas sobre ele. Voltou a atenção para Valentina e disse.
— Claro que nos veremos – sorriu para ela – agora somos amigos, não somos?
A menina sorriu para ele. Oliver arrumou a postura e olhou para Ashley pela última vez.
Saiu pela porta sem dizer mais nada, deixando para trás um rastro de decepção.