Ashley concluiu que, apesar de o resultado não ter sido o esperado, Hendrix estava feliz em poder contar a verdade a Oliver. Ele saiu da mansão como se tivesse descarregado dos ombros um peso enorme e planeava de conhecer Valentina um dia.
Aquilo assustava um pouco Ashley. Precisava preparar Valentina para receber uma notícia tão importante assim. O que ela diria para a menina quando perguntasse da existência do pai?
Ainda que dissesse a Hendrix que faria aquilo, ela foi embora com o coração apertado ao ponto de sangrar. Não voltou para a empresa, porque já era tarde e avisou a Val que iria direto para casa. Ashley tinha os seus próprios assuntos para resolver. Precisava enviar o dinheiro para Ethan pagar as dívidas da fazenda e certamente não lhe sobraria nada para comprar roupas novas para ela ou para Valentina. Mas não era tão ruim assim. Lembrou-se que só havia voltado para Las Vegas para auxiliar o Ethan e que Marina não se importaria em manter a casa por um tempo até ela se estabilizar.

Ainda assim, existia um peso enorme no seu coração, de modo que ela não saberia explicar. Os problemas da fazenda estavam resolvidos, Valentina estava bem e segura e ela tinha um emprego bom, que pagava um ótimo salário. Então por que parecia que o mundo estava desmoronando na sua cabeça? Por que a angústia não a deixava em paz?
Só quando chegou em casa e contou para Marina sobre os acontecimentos daquele dia conseguiu entender por que às vezes tinha vontade de chorar. Estava envolvida demais nos assuntos pessoais do Oliver, de modo que, nem se quisesse escapar deles, conseguiria. Depois do que Hendrix o havia contado, ela entendia por que Oliver era tão frio e arrogante. Havia sido criado por uma mãe narcisistas e explorado por ela a vida inteira. De algum modo, Oliver usava a frieza para se proteger e não permitir que ninguém explorasse ele como a própria mãe vinha fazendo. Oliver certamente era só mais uma vítima, onde certamente não descobriu o amor.
Passou mais de uma hora ao telefone conversando com o Ethan. O homem estava radiante com o fato de tudo está resolvido. Mas sempre que ele perguntava sobre o lugar que Ashley trabalhava e sobre o seu novo patrão, ela mudava de assunto, gerando nele, enormes desconfianças.
Quando foi dormir, a angústia parecia ter aumentado gradualmente. Ela precisava ter coragem o suficiente para contar a verdade a Ethan, mas desejou que isso demorasse bastante para acontecer.
Faltava pouco para as, cinco quando Ashley se levantou para trabalhar. Ela entrava somente as oito, mas já não conseguia dormir. Se arrumou e preparou um café. Quando Marina se levantou, levou um susto ao vê-la sentada na cozinha como um fantasma deprimido com a própria morte.
— Meu deus! – Colocou a mão no peito como se fosse enfartar – por que está acordada a essa hora? São seis e meia da manhã.

— Não consegui dormir – Marina sentou-se à mesa ainda sonolenta – precisei dar todo o dinheiro ao Ethan. Não vou conseguir ajudá-la com as despesas da casa.
— Eu sei que não é por isso que você anda como um zumbi no meio da casa – ela bocejou – e também não deve se preocupar com isso. O meu salário é o suficiente para sustentar nós três.
— Ainda assim não é justo – bufou, colocando a mão no rosto, apoiada no balcão.
— Está assim porque tem medo da reação do Ethan quando souber da verdade ou, devido ao Oliver?

Ashley ficou ofendida por um instante. Tentou mudar a expressão do rosto só para provar a Marina que ela estava enganada.
— O Oliver não me interessa – disse, enquanto esticava o braço e pegava a garrafa, enchendo outra xícara de café – e eu sei como lidar com o Ethan.
Marina riu dela, quando a baba entrou na casa, fazendo o assunto entre elas duas ser encerrado imediatamente. Marina se levantou se espreguiçando e disse antes de sair.
— O Oliver precisa da sua ajuda – disse num tom zombeteiro – talvez por isso esteja tão preocupada. Não dá para fugir do amor, Ashley.
Ashley manifestou uma fúria silenciosa. Cerrou os dentes, impedindo de dizer palavras ofensivas a própria amiga. Do outro lado, na sala, a baba as observava discretamente, mas Ashley não perdeu tempo tentando se explicar. Foi até o quarto de Valentina e se despediu da menina que ainda dormia e saiu da casa meia hora mais cedo.
Quando chegou na empresa, Val já estava lá. Ashley observou a sala do Oliver que permanecia vazia e como se a secretaria lesse os seus pensamentos, começou a dizer.
— O Oliver não virá hoje – o comunicado fez o coração de Ashley doer – e ele deu ordens especificas que você não apareça na mansão novamente. Ele fará as reuniões na casa dele. Inclusive o Alfonso irá lá hoje.
Ashley ficou boquiaberta e a sua reação demonstrou o quanto ela ficou ofendida com aquele comentário.
— Ele não quer que eu vá à mansão porque a minha presença incomoda, ou por que o Alfonso estará lá?
Houve uma pausa, em que Val analisou as expressões de Ashley.
— Não é nenhuma novidade que o Oliver está com ciúmes de você com o Alfonso – o comentário chamou a atenção de Ashley, que arregalou os olhos para ela – mas eu realmente não sei o motivo. Estou esperando você me contar tudo o que aconteceu ontem.
— Nesse caso vai ficar decepcionada se eu te contar o quanto seu chefe me odeia – agora havia na sua voz uma espécie de raiva – eu fui entregar os documentos a ele e brigamos pela Valentina.
Val ficou confusa por um instante.
— Quem é Valentina?
Ashley logo percebeu estar contado mais do que deveria. Parou por um longo momento, analisando se deveria ou não contar aquilo a ela.
— Valentina é a minha filha – observou a secretaria levar uma das mãos até a boca com espanto – minha filha com o Oliver.
A expressão dela era de puro espanto. Val precisou se sentar e respirar fundo antes de continuar a dizer.
— Oliver nunca me contou ter uma filha.
— Porque ele não sabia ter – Ashley fez uma pausa – ele descobriu há dois dias. Eu não pretendia contar isso a ele.
— Agora eu entendo a ausência dele – Val olhou para Ashley como se estivesse tendo uma grande ideia – certamente foi uma grande surpresa para ele saber da existência de um filho. Como ele reagiu?
— Da pior maneira possível – uma sombra pairou no rosto de Ashley. Ainda doía nela falar sobre aquilo – o Oliver não quer ter filhos e acha que Valentina não é filha dele.
A voz dela havia mudado e a secretaria percebeu o quanto Ashley estava triste em contar aquilo. Levantou-se novamente, se aproximando de Ashley para tentar consolá-la.
— Talvez você não concorde com o que eu vou dizer agora – fez uma pausa, como se calculasse cada palavra que sairia da sua boca – mas eu nunca vi o Oliver agir da maneira como ele age com você.
— Está dizendo bobagens, Val – riu para ela, enquanto sentia as suas bochechas queimarem.
— Eu nunca vi o Oliver tão transtornado quando soube que você havia saído para almoçar com o Alfonso – ela continuou – ele estava disposto a encontrá-la, como se precisasse salvá-la de um grande perigo.
— Ou talvez porque ele ache que eu vou me aproximar do Alfonso para concluir um plano vingativo.
— Não! – Estendeu a mão para pegar a dela e a olhou bem, no fundo dos olhos – ele estava com ciúmes. Ele não suportou a ideia de vê-la ao lado de outro homem.
Ashley recolheu a mão, como se estivesse escutado uma grande ofensa.
— Está dizendo isso para me consolar e perdoá-lo por não assumir a própria filha? – Ashley se afastou dela – se a sua intenção é essa, não está funcionando.
— Tenho certeza de que esse sentimento é confuso para ele também – mas Val não parecia ofendida com a reação de Ashley – tão confuso que a primeira atitude dele foi negar a paternidade, mesmo sabendo que não deveria. O Oliver ama você, Ashley. Eu consigo ver isso.
Ashley sorriu para ela. Um sorriso incrédulo e zombeteiro como se dissesse que não acreditava em nada do que Val estava falando. Ficou por alguns segundos caladas, evitando pensar sobre o que ela havia dito e após balançar incansavelmente a cabeça, disse:
— Olha, Val, não quero ofendê-la, mas está romantizando uma coisa que não deveria – sacudiu as mãos para cima demonstrando o seu nervosismo – não comente com o Oliver que eu contei isso a você e muito menos diga essas coisas a ele.
Pegou a sua bolsa sobre a cadeira e caminhou até o escritório de Oliver.
— Eu preciso trabalhar.
A porta fechando foi um recado claro que Ashley não gostava de conversar sobre aquilo. Mas Val não insistiu no assunto durante todo o dia, ainda que tivesse certa de que tinha razão.
Ashley só saiu do escritório quando o expediente encerrou. Ainda que não dessa nenhuma credibilidade para as declarações da secretaria, ela jamais admitiria o quanto aquele lugar ficava vazio sem Oliver.
Foi o caminho inteiro de volta para casa, pensando sobre aquilo e quando chegou em casa, teve uma grande surpresa, que Ashley não considerou agradável.
— Pai? – Ela observou Ethan se aproximar, assim que ela abriu a porta, e caminhar com Valentina nos braços na sua direção – por que não me avisou que viria?
— E estragar a surpresa? – Ethan a abraçou, mas Ashley estava assustada com a presença dele – estava ansioso para ver Valentina e eu precisava vir até Las Vegas, porque os documentos da fazenda são daqui.
— Achei que nunca mais iria querer colocar os pés nesse lugar – se desviou dele, colocando a bolsa no sofá. Observou a casa constatando que Marina ainda não havia chegado.
— Se for por vocês duas, eu vou até o inferno – Ethan parecia satisfeito em dizer aquilo – espero que a Marina não se importe com a minha presença, porque vou precisar dormir aqui.
— Ela não vai se importar, pai – sorriu para ele pela primeira vez – eu também estava com saudades do senhor.
Fez-se um silêncio tumular, quando ela pegou Valentina nos braços e caminhou até a cozinha.
— O senhor quer alguma coisa para comer? – Ela disse, abrindo a geladeira e não observou o homem se aproximar.
— Não estou com fome – ele se apoiou no balcão e esperou pacientemente ela olhar para ele antes de prosseguir – estou ansioso para conhecer o seu novo emprego. Como é o nome do seu novo chefe?
Ashley analisou Ethan desconfiando que a pergunta era proposital. Nesse instante sentiu que o seu coração estava pronto para parar de bater. Engoliu a seco disfarçando o quanto aquela pergunta havia deixando-a nervosa. Mas Ashley sabia precisar contar a verdade ao Ethan e que o melhor momento seria naquela hora.
Quando ela se preparava para abrir a boca e lhe contar toda a verdade, alguém bateu na porta. Ashley achou estranho, já que Marina tinha as chaves e ela não esperava visitas àquela hora. Caminhou até lá com os passos apressados de Ethan vindo logo atrás dela e quando abriu levou o maior susto da sua vida.
Oliver estava parado ali, olhando para ela com um olhar estranho. Quando os seus olhos se desviaram na direção de Ethan, Ashley sentiu como se a Terceira Guerra Mundial tivesse sido declarada.
— O que esse homem está fazendo aqui? – Podia sentir a fúria escapulindo entre os dentes de Ethan.
— É um prazer revê-lo novamente, Ethan.
Disse Oliver com um sorriso cínico no rosto.