Capítulo 65
1370palavras
2024-01-15 08:42
Oliver parou no meio do corredor, que dava para o escritório e sentiu que já não aguentava mais. Se trancar naquela sala e beber até perder a consciência parecia a melhor solução, mas os seus problemas continuariam batendo na porta, insistentemente, até que ele os encarasse e os resolvesse de uma vez por todas.
Ele precisou de alguns segundos para entender o que estava acontecendo e antes que pudesse decidir o que fazer, ouviu passos apressados vindo na sua direção.
Hendrix e Madelyn brigavam pela atenção de Oliver e ele sabia que se não tomasse um único gole de uísque enlouqueceria ao ponto de ir parar na prisão.

Entrou no escritório a passos apressados, sabendo que os dois o perseguiria até a morte. Não ousou impedi-los. Abriu a garrafa, encheu um copo e bebeu em um gole só.
— Precisamos conversar, Oliver – falou Hendrix, no meio da murmuração de Madelyn.
— O que você teria para conversar com ele? – Madelyn zombou – vai contar os anos em que ficou ausente para ver se ele o perdoa?
— Eu certamente preciso de perdão – a voz ofegante de Hendrix demonstrava o quanto a presença de Madelyn o incomodava – agora você, não sei se o encontrará.
— Eu cuidei do Oliver sozinha durante todos esses anos – ela parecia uma bomba relógio, pronta para explodir – acha que preciso pedir perdão pelo quê? Por cumprir o seu papel de pai?
— Por explorar ele, assim como fez comigo – gritou, agindo como se o Oliver não estivesse ali – por tê-lo afastado de mim. Por mentir. Por ser uma velha doente, incapaz de andar com as próprias pernas.

A discussão parecia não ter fim. Após beber o terceiro copo de uísque e sentir o líquido rasgar a sua garganta, Oliver olhou para os dois completamente impaciente. Aquilo parecia ser uma fonte constante e exaustiva de inquietação e ele estava cansado de ter que ouvir os pais discutindo como se ele não estivesse ali. Ele sentia estar na hora de dar um fim naquilo e deixar pesar as consequências e aceitá-las de uma vez por todas.
— Por favor, mãe – as vozes cessaram e a atenção voltou-se para ele – saia para eu poder conversar com o Hendrix.
Ela respirou fundo, e quando falou a sua voz soou cansada.
— Eu não posso deixá-lo sozinho com esse homem.

— Não me obrigue a ser rude com você – a interrompeu, lançando um olhar ameaçador para ela.
Madelyn olhou para ele, percebendo que Oliver estava prestes a desabar em fúria e então engoliu toda a sua raiva e frustração e saiu do escritório contra a sua vontade. Quando a porta se fechou, ele ficou de costas para Hendrix, inspecionou o imenso jardim da mansão tão bem cuidado. Um desavisado poderia achar que ele estava louco por sentir que a sua vida era tão vazia quanto aquele jardim.
— Obrigado… – a voz de Hendrix rompeu o silêncio – por me escutar.
Oliver virou e olhou para Hendrix parado ali, tomado pela emoção. Mas Oliver não sabia o que dizer e, no fundo, não estava disposto a dizer nada. Era estranho para ele aquela situação. Se dissesse alguma coisa, teria que mentir. Contar para Hendrix que não havia sentido a sua falta, que sobreviveu muito bem sem ele e que já era tarde demais para recomeçar. Abaixou o olhar e sentou-se, ajeitando a postura na cadeira.
— Por que nunca me contou a verdade? – Indagou Oliver, enfim.
— Quantas vezes você quis me ouvir? – Sentou-se em frente a ele.
— Estou te ouvindo agora – a resposta fez com que Hendrix se calasse e remoesse as dores do passado.
— Está me ouvindo porque, foi a Ashley quem pediu.
Esse comentário causou um desconforto tão grande em Oliver que ele se levantou e começou a rir, como se debochasse do que Hendrix havia acabado de dizer.
— Ashley não tem nenhuma influência na minha decisão – o sorriso desapareceu e ele travou o maxilar como se ficasse incomodado com a própria mentira – não acha que é um pouco tarde demais para tentar consertar as coisas?
— Na verdade, não acho.
— Olha quem eu me tornei, pai – os seus olhos encheram-se de lágrimas – um homem arrogante, frio. Talvez até pior do que Madelyn é.
— Isso não é verdade, Oliver – disse, encostando a mão no seu ombro.
Oliver sentiu o toque como uma ofensa e logo se afastou.
— Se você fosse tão ruim como ela, não estaria a ajudando até hoje – continuou – mesmo ela lhe causando danos, continuou ao lado dela.
— Certamente esse é o meu pior defeito – olhou para Hendrix, inexpressivamente – ser bom com quem não merece.
Ficaram ali, em silêncio por longos segundos, que pareceram uma eternidade. Eles absorviam as últimas palavras proferidas como se digerissem uma comida amarga, que doía o estômago.
— Quero fazer parte da sua vida, Oliver.
Hendrix quase implorou e tinha outras dezenas de coisas para falar a ele, mas o nó que se formou na sua garganta o impediu de continuar.
— Eu não sou mais uma criança – respondeu com frustração - eu já não preciso mais dos seus cuidados.
Outro silêncio pesado em que Hendrix acreditou que não aguentaria. Engoliu a seco, examinando a cena e lentamente, levantou os olhos para os dele. Foi os segundos mais longos que já teve.
— Ashley me disse que vocês dois tiveram uma filha juntos.
Oliver arregalou os olhos. Por um instante Hendrix pensou haver estragado tudo.
— Quero conhecê-la – um lampejo de sorriso passou pelo rosto dele.
— Ninguém pode me garantir que aquela menina seja minha filha – aquele assunto ainda doía nele.
— Não seja injusto consigo mesmo, Oliver – acrescentou, quando ele franziu o cenho - não pode negar a vida inteira que aquela moça foi a melhor coisa que aconteceu na sua vida e que ela jamais mentiria para você.
Oliver riu. Um sorriso alto e zombeteiro.
— Você não conhece a Ashley assim tão bem – ele virou as costas, se afastado com a voz sarcásticas – ela mentiu para mim desde o início, sobre essa gravidez.
— Certamente tinha os seus motivos – Oliver voltou a olhar para ele, com o coração batendo acelerado – talvez estivesse com medo de lhe contar a verdade.
— Ashley não tinha o direito de contar essas coisas a você – presumiu que ele já sabia de tudo.
— No fundo, sabe que a Valentina é a sua filha – Hendrix o encarou firmemente – mas quer fugir da verdade, como está fazendo agora.
Oliver arregalou os olhos. Passou-se um instante até ele falar de novo.
— O que pretende com isso, Hendrix? – Encarou-o impaciente – me convencer a te dar uma segunda chance?
— Você pode até não me dar uma segunda chance ou não me perdoar pela minha ausência – Hendrix baixou a voz, enquanto inspirava o ar com pungência – mas não pode cometer os mesmos erros que sua mãe, e negar a essa menina o direito de ter um pai.
Oliver o olhava surpreso, mas era incapaz de se defender. Era possível ver em seu rosto, o quanto aquelas palavras haviam o atingido dolorosamente. Ele apenas abaixou a cabeça e pensou sobre o assunto.
— Estou me mudando para Las Vegas, e acredito que não preciso da sua permissão para isso – disse enquanto caminhava para a porta – eu ainda posso consertar as coisas, Oliver. Ainda que eu não consiga com você, eu conseguirei com a Valentina.
Não houve despedidas entre eles. Hendrix saiu do escritório com a alma tranquila por cumprir o seu papel e contado toda a verdade a Oliver. Saiu da mansão ao lado de Ashley, planeando de quando conheceria Valentina.
Ainda na mansão, Oliver desabou na cadeira, como se as suas pernas já não mais o obedecessem. Estava tão perdido nos seus pensamentos que mal percebeu o tempo passar. Trancou a porta do escritório e não permitiu ser mais incomodado naquele dia. Oliver precisava de paz para resolver de uma vez por todas os problemas da sua vida.