Capítulo 62
1403palavras
2024-01-12 08:35
Oliver nada disse por um tempo. Entraram no escritório e ela ficou observando-o pegar curativos guardados na gaveta da escrivaninha e caminhar em direção a ela. Com ele tão perto, no entanto, ela ficou agitada e perturbada, ainda mais com ele a tocando novamente.
Ashley soltou um grunhido de dor quando ele pressionou a ferida para estancar o sangramento.
— Desculpe – ela lançou um olhar duvidoso para ele, perguntando-se o que havia acontecido com Oliver – Stefany estava com bastante raiva quando segurou você.
Ele lançou um olhar até ela e depois sorriu, um sorriso duro como se lhe custasse.
— Não deveria ter vindo até aqui – ele chegou um pouco mais perto, como se quisesse se certificar haver realizado um bom trabalho e o curativo estava no lugar correto. Isso fez o corpo de Ashley estremecer.
— É uma forma de dizer que eu deveria estar fazendo coisa melhor do que trabalhando? – Ele lhe lançou um sorriso e Ashley não teve como não retribuir — você se esqueceu que hoje era um dia importante, então vim até aqui para lembrá-lo.
Se afastou dele e quando se virou, esticou os documentos na sua direção, esperando pacientemente que Oliver os pegasse.
— Certo, entendi o recado – disse ele, em voz baixa, enquanto pegava os documentos das mãos dela – mas algo me diz que não veio até aqui só para isso.
Eles se entreolharam, mas Ashley não conseguia manter o olhar fixo no dele por muito tempo. Ele olhou para ela como se fosse continuar a conversa. Depois pareceu mudar de ideia.
— Por que não foi trabalhar hoje?
A pergunta parecia invasiva e conhecendo o Oliver como Ashley conhecia, ela até achou que a resposta seria ríspida e afiada ao ponto de fazer sangrar o seu coração.
Oliver refletiu um instante.
— Tenho assuntos pessoais para resolver – ele pareceu um pouco ofegante. Abaixou a cabeça incapaz de olhar nos olhos dela – e eu realmente me esqueci dos contratos que precisava assinar.
Houve uma longa pausa. Oliver sentou-se e colocou os papeis sobre a mesa e logo em seguida começou a assinar.
Enquanto observava ele assinar os contratos, teve vontade de contar toda a verdade sobre Stefany. A ferida em seu braço ainda ardia, fazendo-a lembrar o quanto aquela mulher era extremamente perigosa. Perdida em seus pensamentos, ela não percebeu Oliver se aproximar e levou um susto ao olhar nos olhos dele.
— Há algo a mais que queira me dizer?
De repente um enorme nó se formou na sua garganta e ela não soube se conseguiria dizer mais alguma coisa.
Ele devolveu a pasta com os documentos para ela e ficou esperando que ela dissesse alguma coisa. De repente, ela se sentiu insuportavelmente incapaz de continuar aquela conversa. Realmente havia sido um erro ter ido até ali.
— O que você e Stefany conversavam antes de eu chegar?
Os seus olhos se arregalaram com aquela pergunta. Ashley conteve os impulsos de se levantar e sair correndo dali. O rosto dela parecia lívido, mas Ashley não encontrava uma maneira mais delicada de lhe contar a verdade.
— Stefany já sabia que Valentina era a sua filha, antes de você.
Parecia que ela o havia dado um tapa na cara. Oliver piscava forte, como se tentasse entender.
— Isso é impossível – ele a olhou como se Ashley fosse maluca. Ele suspirou, mas não terminou a frase.
— Ela foi até a minha casa – à medida que ela falava, podia ver, diante dela, a mente de Oliver trabalhando, calculando, avaliando cada palavras – ela seguiu a baba e disse ser uma colega de trabalho, apenas se certificando que Valentina havia chegado bem em casa. Ficou bisbilhotando e vigiando a minha casa durante horas. Ela sabia que Valentina era minha filha.
Ele demorou alguns segundos para responder, como se desfrutasse do prazer em irritar Ashley.
— Isso não prova nada – esquivou-se, ficando de costas para ela.
Aquilo fez o sangue de Ashley ferver. Ela caminhou até ele e pegou no seu ombro, o puxando para ele olhar para ela.
— Quando vai levar as coisas que eu digo a sério, Oliver? – Podia constatar a decepção no seu olhar.
— Quando começar a me contar a verdade – ele não desviou o olhar do seu. Os segundos anteriores a resposta pareceram durar uma eternidade.
— Quer saber? – Olhou-o firme – ainda que eu te conte a verdade, não vai acreditar em mim. É uma enorme perda de tempo. Você nunca mudará.
Oliver fechou os olhos ao ouvir as palavras. No fundo, ele sabia existir uma grande possibilidade de Stefany saber da existência de Valentina antes mesmo dele, mas ele não queria confessar que Ashley estava certa. Era como uma barreira que impedia que a verdade penetrasse no seu coração.
— Sério Ashley? – Ele caminhou até ela percebendo que Ashley estava prestes a sair – desde quando nos casamos que você me envolve nas suas mentiras. Não há como acreditar em você.
— Não estou lhe dando bastantes motivos para acreditar em mim agora? – Ashley prendeu a respiração na convicção que isso a acalmaria, mas só a deixou com falta de ar – Vá você mesmo atrás da verdade.
— Não é tão simples assim.
— Não vejo por que não – hesitou por um momento longo demais – não deveria confiara tanto assim na Stefany.
Ele ficou a olhando como se não soubesse se deveria dar a ela aquele voto de confiança. Ashley estudou o rosto dele com ansiedade, como se quisesse encontrar um traço de esperança. Ela sabia que Oliver não acreditava nela, mas ela precisava tentar.
— Você pode fingir que nada disso aconteceu, que nunca conheceu a Valentina e seguir a sua vida em paz – segurou na maçaneta da porta e a girou para abri-la – para ela não fará nenhuma diferença, já que nunca conheceu o pai.
Puxou a porta para sair, mas Oliver a impediu, empurrando-a novamente. O seu corpo perto demais do dela. Ashley podia sentir a respiração ofegante dele perto do seu ouvido. Respirou fundo, antes de se virar para olhá-lo.
— Está me pedindo algo impossível – Ashley sentiu o rosto ficar vermelho – você joga uma bomba em cima de mim e quer que eu permaneça o mesmo?
— Ah! Não sei – sussurrou, incapaz de fugir dele – você nunca quis ter filhos.
Ele balançou a cabeça incrédulo.
— Não acho que seja uma atitude irracional da minha parte – ele engoliu a seco, balançou novamente a cabeça, como se estivesse tendo dificuldade em concluir o raciocínio – mas essa escolha já não é só a minha.
Logo em seguida ele fechou os olhos, apenas por um instante e então se virou, se afastando dela, como se precisasse fugir do que estava sentido. Embora nenhum dos dois confessasse isso, algo estranho estava acontecendo ali.
— E como a Valentina está? – Ele se sentiu incapaz de olhar nos olhos dela novamente.
A pergunta surpreendeu Ashley de uma forma que ela não soube explicar.
— Ela está bem – o seu coração estava acelerado, que ela mal conseguia falar – foram só alguns arranhões, ela se recuperará rápido.
— Ótimo! – Ele deu de ombros fingindo não se importar, mas falhou miseravelmente – acho que agora pode voltar para a empresa. Amanhã eu estarei lá.
Ashley concordou com a cabeça, decepcionada. Mas ela já esperava por isso. O silêncio no escritório foi súbito e intenso. A única coisa que pôde ser ouvido foi o ranger da porta se abrindo, antes de Ashley se preparar para sair.
— Resolva tudo o que precisa ser resolvido na empresa, por mim – A respiração de Ashley ficou presa na garganta – eu confio em você.
Um sorriso irônico surgiu dos lábios dela ao ouvir isso. Logo em seguida ela sentiu-se deprimida.
— Confia tanto em mim, mas não acredita nas minhas palavras. Contraditório.
A sua voz pairou no escritório, quando ele virou a cabeça e a olhou pela última vez. Oliver pareceu constrangido e sem dizer nada, viu a porta ser fechada e Ashley desaparecer, deixando um rastro de dor e dúvidas no seu coração.
Ashley saiu da mansão sob o olhar furioso de Stefany. Apressou o passo para sair dali o mais rápido possível. O dia havia sido difícil demais para se envolver em mais uma briga.