Capítulo 59
1668palavras
2024-01-11 08:33
Oliver estava transtornado.
Ele dirigia de volta a empresa em uma velocidade abaixo do que de costume. Buzinas ecoavam todas às vezes que um carro passava por ele. Portanto, Oliver sabia estar no automático. O seu corpo estava ali, mas sua mente estava em Ashley e na história que ela havia inventado.
Ele nunca quis ter filhos. E os motivos que o levavam a essa decisão eram cicatrizes de uma infancia completamente perturbada. O coração de Oliver começou a bater mais forte quando ele se recordou do passado. As suas mãos tremiam, enquanto segurava o volante com as recordações de quando era criança e presenciou o seu pai abandoná-lo sem nenhuma explicação. Hendrix o deixou sozinho para viver com uma mãe totalmente descontrolada, que abusou psicologicamente dele de todas as formas, durante toda a sua vida.

Ele não esperava se sentir tão fraco e impotente diante das recordações, muito menos conseguia explicar por que sempre odiou o seu pai, mas ajudou a sua mãe a vida inteira. Quando se tornou adulto, prometeu que nuca teria filhos. Ele não se sentia capaz de ser um bom pai, não queria carregar tanta responsabilidade, mas agora Ashley dizia que a gravidez não foi uma farsa e que ele era o pai de uma menina de três anos.
Quando estacionou o carro em frente a empresa e abriu a porta para sair, o vento frio do lado de fora fez ele se sentir melhor. Ainda assim os pensamentos o atormentavam. Caminhou até o seu escritório pelas escadas de emergência. O seu rosto pálido, com olheiras profundas, denunciava o quanto o homem estava perdido na própria dor.
Quando Val o avistou, correu na direção dele, mas Oliver a ignorou. Ele mal conseguia ouvir o que ela dizia. Quando avistou Stefany dentro da sua sala, a olhou com desgosto.
— Sinto muito, senhor. Eu tentei avisar.
Ela se desculpou, percebendo o quanto Oliver estava diferente. Contudo, Oliver não conseguia dizer nada. Stefany imediatamente se levantou, observando o homem a sua frente, achando a atitude dele bastante suspeita. Ele não gritava e nem dizia o quanto detestava quando ela invadia o seu escritório sem ser anunciada. Oliver apenas passou por ela e se sentou, em completo silêncio.
Então Val observou o rosto de Oliver cuidadosamente e sentiu-se despreparada para ler os seus pensamentos. Se aproximava devagar, quando Stefany a impediu.

— Você pode por favor se retirar – disse com um sorriso cínico no rosto – eu preciso conversar com o meu marido.
Val se sentiu impotente por causa daquele pedido. Oliver certamente não estava no seu juízo perfeito e a presença de Stefany só pioraria a situação. Contudo, a secretaria foi incapaz fazer algo, a não ser obedecer. Diante do olhar perdido e silencioso de Oliver, ela saiu da sala, pressentindo que algo ruim estava prestes a acontecer.
— Eu não vi a Ashley quando cheguei aqui – se aproximou dele com um olhar ameaçador – posso presumir estarem juntos.
O coração de Oliver encheu-se de raiva rapidamente.

— Dispenso as suas insinuações, Stefany – ela engoliu em seco, assustada com o olhar frio dele – se veio aqui para me provocar, aviso que não é uma boa ideia.
— Está tendo um caso com ela? – Continuou ignorando o alerta de perigo – por que não confessa logo de uma vez?
— Chega! – Aquela explosão repentina a assustou. O grito de fúria de Oliver foi ouvido em todo o andar principal do predio – quer que eu diga o quê? Que eu estava com a Ashley? É, eu estava, e você não gostará nada de ouvir o que eu estava fazendo com ela.
Stefany arregalou os olhos para ele, não porque estava assustada, mas, porque temia de ouvir a verdade dos lábios de Oliver.
— Qual foi a mentira que ela te contou dessa vez? – Respirou fundo, precisava se acalmar e fingir que o estado atual de Oliver não a assustava.
Entretanto, Oliver não a respondeu. Voltou a se sentar, porque sentia as suas pernas fracas demais. Abaixou a cabeça, passando a mão por detrás da nuca. Ele só queria ter um dia de paz, onde nem Stefany, nem Ashley aparecesse para atormentá-lo.
— Não gosto de ser contrariado, Stefany – ele inspirou o ar com força, tentando se acalmar – eu pedi para que não viesse mais a empresa. O que afinal você faz aqui?
Os olhos dela se estreitaram com decepção, percebendo que ele escondia algo muito sério dela. Mas Stefany precisava arrumar uma desculpa que justificasse a sua ida até ali. Levantou-se devagar e deu a volta, parando bem atrás dele. As mãos dela repousando nos seus ombros, fez os músculos de Oliver ficarem rígidos.
— Eu só quero passar um tempo maior com você – encostou a boca no ouvido dele e sussurrou – Eu sinto a sua falta. Há muito tempo não ficamos juntos.
— E me acusar de traição foi o melhor jeito que você encontrou para dizer isso? – Levantou-se impaciente, empurrando a mulher e se afastando dela – era melhor não ter vindo.
— O que você queria que eu fizesse? – Ela realmente parecia ter optado por seguir o provocando – eu não suporto ver aquela mulher perto de você, prestes a te arruinar a qualquer momento.
— Não deveria se preocupar tanto, já que você está empenhada em cumprir esse papel.
— Está sendo injusto, Oliver.
— E você inconveniente – outro grito, revelando que já não havia paciência na sua voz – não percebe que eu quero ficar sozinho? Que eu preciso de um pouco de paz?
Stefany queria discutir, rebater as suas argumentações. Tentou manter um contato visual com ele, para ao menos tentar descobrir o que ele escondia, mas era em vão. Oliver estava presente fisicamente, mas sua alma não estava no seu corpo.
— Desde quando ela voltou, você não é mais o mesmo – a sua voz transpareceu decepção – o que ela te contou dessa vez, Oliver, para você mudar tanto?
Stefany sentiu um frio na barriga quando o olhar dele se encontrou com o seu e a revelação, enfim, saiu dos seus labios.
— Ashley tem uma filha – ele travou o maxilar e apertou os punhos – e disse que a menina é minha filha.
O corpo de Stefany estremeceu e ela sentiu os seus olhos enchendo-se de lágrimas. Como ela foi tão idiota em permitir que ele descobrisse aquele segredo? Era possível ver a raiva e a decepção nos olhos dela. Mas ela conseguiu abordar as lágrimas e recompor a postura de mulher derrotada.
Uma gargalhada rompeu o silêncio. Oliver olhava para ela, assustado. O que estava acontecendo com essa mulher?
— Não me diga que você acreditou nessa história? – Questionou, com um sorriso irônico no rosto.
— Eu vi a menina Stefany – confessou, passando a mão nos cabelos desgrenhados.
— E daí? – Protestou, usando as suas palavras para convencê-lo que aquilo era uma loucura – essa criança pode ser filha de qualquer um.
Oliver desviou o olhar. O seu nervosismo em ouvir aquelas palavras eram tanto, que ele não soube o que dizer.
— Já parou para pensar que talvez ela esteja empurrando um filho que não é seu, para roubar a sua herança? – Oliver fechou os olhos tentando reorganizar os pensamentos – ela só quer vingar-se de você Oliver. Exatamente como fez quando revelou toda a verdade ao Filipe.
A cabeça de Oliver foi dominada por uma dor quase instantânea. Ele não queria mais ter que ouvir sobre aquele assunto. Foi então que Oliver finalmente percebeu que a calma de Stefany era bastante suspeita. Desviou o olhar para ela novamente, a analisando com cuidado. Qual era a possibilidade de ela já saber sobre a existência de Valentina?
Stefany tinha todos os motivos para estar em choque com aquela revelação, mas ela agia como se já soubesse, e só estava blefando para confundi-lo ainda mais.
— Por que eu tenho a impressão de que você já sabia da verdade?
Imediatamente Stefany olhou para baixo, os seus cílios tremendo. Virou as costas para Oliver, aumentando as suas suspeitas.
— Acho que essa revelação está te impedindo de raciocinar, Oliver – ela mordeu o lábio e continuou – como eu saberia de algo assim?
Mas Oliver não parecia convencido. O olhar dele se tornou frio. Ele sentia-se tão cansado que não teria forças para continuar com aquela conversa. As palavras de Stefany só confundiam ainda mais a sua mente. Ele, então, voltou a se sentar em sua cadeira, limpou a garganta antes de continuar.
— Eu descobrirei a verdade, sozinho. Por favor, não quero que se meta nesse assunto.
Stefany arregalou os olhos e resmungou.
— Essa mulher conseguiu colocar você até mesmo contra mim – os olhos de Stefany tornaram-se vermelhos. Ela estava em ponto de ebulição – como eu vou permitir que ela o engane novamente?
— Não quero que interfira agindo como se eu fosse incapaz de resolver os meus próprios problemas.
— E o que pretende fazer? – Havia deboche na voz dela.
— Um exame de “DNA” – Stefany foi atingida por um misto de emoções – vou descobrir se essa menina é realmente a minha filha.
As pernas de Ashley fraquejaram com o choque que ela levou. Ela não permitirá que Oliver fizesse aquilo. Ele não podia descobrir que Valentina era sua filha. Esse seria o seu fim. Portanto havia outras questões a ser levantadas, que Stefany não teve a chance em dizer. Oliver estava irredutível, e ela sabia que não o convenceria a escutar suas argumentações.
— Volte para a mansão imediatamente – caminhou até a porta, abrindo-a para ela sair – e não volte aqui sem que eu ordene.
Ela olhou para ele pela última vez, com um bolo de palavras presas em sua garganta e saiu da sala com o sentimento de derrota. Mas Stefany tinha um plano de impedir que aquilo acontecesse. Ela não seria abandonada mais uma vez.