Capítulo 53
1522palavras
2024-01-07 13:04
Marina tremia atrás do volante. Se ela não tivesse chegado a tempo, talvez Valentina não estivesse mais entre elas. Só Deus saberia o que aconteceria com aquela pobre criança.
— Você precisa ficar mais atenta – continuava repreendendo a baba, que chorava descontroladamente – aquela mulher estava pronta para colocar as mãos na Valentina.
— Me desculpe, senhora Marina – mas os soluços impediam que ela continuasse.

— Imagina a Ashley sabendo disso – não olhou para a mulher – eu confiei em você quando, indiquei seus serviços a ela.
— Não conte a ela, senhora Marina – implorou a babá – não acha que a Ashley já tem problemas demais para se preocupar?
Marina lançou um olhar rápido a ela, percebendo o desespero da mulher, resolveu não a torturar mais. De algum modo, a babá tinha razão em não querer contar o ocorrido a Ashley.
— Não vamos contar nada a Ashley – estacionou o carro em frente à casa – mesmo porque a responsabilidade também é minha.
Virou o rosto para observar Valentina, que dormia no banco detrás. Depois olhou para a mulher novamente, que enxugava as lágrimas tentando se acalmar.
— Quem iria querer fazer mal a uma criança? – Ela indagou, com a voz ainda embargada.

— Alguém que você provavelmente já conhece – foi quase como um sussurro.
— Está me dizendo que foi a mesma mulher que veio ontem aqui?
Marina afirmou com a cabeça.
— Por isso estou implorando para ficar mais atenta, e que não deixe nenhum estranho se aproximar da Valentina – as suas palavras carregavam o sentimento de urgência – Algumas pessoas querem fazer mal a Ashley e usaram a Valentina para isso.

***
Ashley chegou no escritório vinte minutos mais cedo. Se surpreendeu por ver que Val já havia chegado. Foi até a cafeteria e encheu uma xícara com café. Não havia quase nenhum funcionário na empresa de Oliver. Apenas cinco pessoas trabalhavam no prédio, que era grande e espaçoso. Tentou imaginar há quanto tempo Oliver havia fundado a empresa, que, aliás, se parecia muito com as ideias da sociedade. Ashley tinha quase certeza de que Oliver não havia superado essa fase da sua vida. Ser expulso da sociedade certamente foi uma das grandes tragédias da sua vida.
Enquanto se perdia nos pensamentos, não percebeu Val se aproximar e o som da sua voz rompeu o silêncio da sala.
— Chegou tão cedo hoje – disse a mulher com um enorme interesse em descobrir mais sobre ela – não me diga que foram ordens do Oliver.
— Não – disse, sorrindo para ela – ele me liberou mais cedo ontem para eu resolver alguns problemas pessoais. Eu devia essa a ele.
— Oliver nunca libera ninguém mais cedo – ela tinha a testa franzida e a expressão surpresa no rosto – ele deve gostar muito de você para fazer isso.
Ashley sentiu um nó sufocando a sua garganta com aquele comentário e o seu semblante se fechou.
— O Oliver é incapaz de gostar de alguém – havia ressentimento na sua voz – ele me liberou porque eu fiz o que ele queria. É só um jogo de interesses.
— Está sendo injusta com ele – ela a observou por detrás dos óculos – o tempo em que ficaram casados não foi o suficiente para se conhecer melhor.
— Se você soubesse as coisas pelas quais passei ao lado do Oliver, mudaria de opinião – sentiu-se desconfortável por estar tendo aquela conversa com ela – o divórcio me salvou de uma tragédia maior.
Após ouvi-la dizer essas coisas, Val não conseguiu esboçar nenhuma reação capaz de defender o chefe. As acusações eram serias e havia mágoa nas palavras de Ashley todas às vezes que ela falava sobre Oliver.
— Se odeia tanto ele, por que está aqui?
Ashley sorriu amargamente para a secretaria e pensou em não responder aquela pergunta. Mas Val era uma mulher tão admirável, que não merecia ser tratada com indiferença.
— Eu não odeio o Oliver – os seus olhos estavam cheios de sinceridade – mas eu preciso desse emprego e ninguém daria uma oportunidade para alguém que está começando agora.
Val conseguiu entender tudo. Ashley já não precisaria se justificar. Sem dizer mais nada, a mulher apenas sorriu demonstrando compreendê-la, quando Oliver saiu do escritório e os seus olhos encontram-se com os de Ashley.
Ele caminhou lentamente na direção das mulheres. Tinhas as mãos enfiadas nos bolsos das calças. A camisa por debaixo do paletó estava aberta, mostrando o quanto ele ainda continuava forte e sedutor. Ashley precisou desviar o olhar para não denunciar mais do que sentia.
— O senhor Alfonso está vindo até a empresa – Oliver continuava olhando-a, mesmo que as suas palavras fossem direcionadas a Val – quando ele chegar, peça para que ele entre imediatamente no meu escritório.
Val apenas balançou a cabeça e intencionalmente se retirou, deixando os dois a sós.
— Espero que tenha resolvido os seus problemas em casa, Ashley – ela levantou o olhar para ele, assustada.
As palavras ficaram presas na sua garganta, quando ela se lembrou de Stefany rondando a sua casa, atrás de Valentina. Ela podia contar a ele a visita inesperada da sua mulher, mas se fizesse isso entregaria também o seu segredo. Era certo que Stefany merecia um castigo por aquela ousadia e que só o Oliver era capaz disso, porém, Ashley não podia arriscar tanto assim. Só depois que descartou esses pensamentos, ela conseguiu, enfim, falar.
— Está tudo resolvido – ela levantou-se, ficando de frente e perto demais dele – e eu agradeço por ter me liberado mais cedo ontem.
— Só porque você realizou um bom trabalho – ele deu um passo atrás. Ficou em silêncio por alguns segundos, quando voltou a se aproximar com um olhar frio e arrogante – Quando o senhor Alfonso chegar, não fique conversando com ele. Lembre-se que a sua função já foi concluída.
Ela se enfureceu. Rapidamente inclinou o corpo na direção dele, encurtando a distância. Não era o fato de Oliver ser o seu patrão que ela permitiria que ele a ofendesse.
— O que está querendo dizer com isso, Oliver? – Ele sorriu. Ashley não havia mudado tanto assim, continuava corajosa, sem medo de enfrentá-lo.
— Você é inteligente, Ashley – ele tocou no queijo dela – vai saber cumprir bem as minhas ordens.
Um sorriso provocador surgiu dos seus lábios, antes que ele se virasse e entrasse novamente no escritório sem dar a ela chance de resposta. Desde quando Ashley havia chegado na empresa, ele parecia esquecer que agora ele era apenas o patrão dela, mas agia como se fossem ainda casados.
De repente, Ashley sentiu uma onda de calor invadir o seu coração. Ficou em silêncio pensando no que ele havia dito, mesmo que a sua vontade fosse invadir o seu escritório e ofendê-lo. Mas Ashley precisava se lembrar que agora Oliver era o seu patrão e que ela precisava daquele emprego. Engoliu toda a sua frustração, enquanto fechava os olhos com força na intenção de reorganizar os pensamentos. Quando sentiu uma mão a tocar.
Ashley deu um pulo e a sua expressão assustada fez Alfonso rir.
— Perdoe-me, senhorita Ashley – a sua mão ainda estava pousada sobre a dela - não tive a intenção de assustá-la.
Então ela se lembrou do que Oliver havia dito minutos antes e resolveu contrariá-lo.
— Oi, Alfonso – ela soltou um longo suspiro e ofereceu a ele o seu melhor sorriso – O Oliver já está o esperando.
— Eu gostaria muito que você participasse dessa reunião - ele levantou a mão dela e a levou até os lábios. O beijo causou arrepios em Ashley.
— Eu não posso – recolheu a mão, enquanto as suas bochechas ficavam levemente vermelhas – o Oliver não permitiria.
— Nem se eu pedisse a ele? – o aroma doce do perfume dele invadiu as suas narinas.
— Melhor não o contrariar – disse, tentando convencê-lo.
— Tudo bem – ele concordou, mas parecia pensar em outra coisa – não vou mais insistir desde que você aceite almoçar comigo amanhã.
O pedido pegou Ashley de surpresa. Ela abriu a boca para responder, mas não saia nenhum som dos seus lábios. Tinha dúvidas se deveria aceitar ou não, quando Oliver apareceu com a expressão contrariada no rosto.
Ela estava infringindo suas regras, podia-se ver o quanto ele estava irritado em ver ela conversando com Alfonso. Sem pensar muito, ela sorriu, olhando nos olhos do homem e respondeu.
— Eu aceito – a resposta deixou Alfonso satisfeito na mesma proporção que deixou Oliver confuso e furioso.
Alfonso apenas sorriu para ela, pegando novamente na sua mão e a beijando.
Oliver mal podia acreditar na cena que via. O seu sangue ferveu quando Alfonso o cumprimentou e entrou no escritório. Ainda com os olhos voltados para Ashley, ele tentava adivinhar o que os dois estavam conversando. A observava com mais intensidade do que de costume. Ashley sorriu para ele, erguendo a sobrancelha. Ela estava o desafiando e a ousadia dela deixava Oliver louco.
Ashley pagaria por aquela afronta.