Capítulo 52
1634palavras
2024-01-06 13:04
Stefany
Stefany havia voltado a mansão quando o sol já se escondia por detrás da montanha. Depois que saiu da casa de Ashley, passou o resto do dia refugiado na cafeteria da cidade, planejando o próximo passo do seu plano diabólico.
Quando chegou na mansão, Oliver já estava na sala de jantar, sendo servido por um dos empregados. Estranhou ele não está trancado no escritório como costumava sempre fazer. Contudo, não esperava encontrá-lo tão cedo e ter que enfrentar a sua fúria novamente.

— Onde você estava? – Levou a xícara até os lábios, tomando um longo gole de chá.
— Estava perambulando por aí – sentou-se ao lado dele. Com uma voz calma, continuou dizendo – quero pedir desculpas pelo que aconteceu na empresa hoje.
Oliver largou a xícara sobre a mesa e lançou até ela um olhar desconfiado. Stefany não era o tipo de mulher que pedia desculpas facilmente. Às vezes Oliver acreditava que o orgulho dela era maior que qualquer outra coisa que ela pudesse sentir. Ele sabia também que por detrás daquele pedido, havia alguma intenção.
— Agir impulsivamente – continuou lançando um olhar arrependido até ele. Se Oliver não a conhecesse bem, até acreditaria naquela cena – eu jamais concordarei que Ashley trabalhe para você, ainda mais depois de tudo que ela fez você passar, porém, prometo não me meter nos seus assuntos.
Oliver continuou observando-a. Alguns segundos passaram-se enquanto ele parecia estar pensando sobre o que ela havia dito. Stefany parecia estar planejando algo, Oliver tinha quase certeza disso.
— O que você quer em troca? – Compreensivelmente, Stefany estava com a expressão confusa, mas não perplexa – um pedido de desculpas dessa proporção carrega consigo alguma vantagem.

— Eu lamento que você tenha esse tipo de conclusão sobre mim, Oliver – a sua voz era doce e calma. Stefany sabia como persuadir alguém – eu só quero viver em paz com você, e recuperar o amor que um dia sentimos um pelo outro.
Oliver tinha uma expressão de completa indiferença no rosto.
— Sempre tem algo em troca – ele desviou o olhar para frente, olhando para o nada – ainda assim não tira sobre você a responsabilidade do que fez hoje. Eu a desculpo, desde que nunca mais volte a minha empresa.
— Eu só quero fazer parte da sua vida – precisou se conter para não deixar as emoções tomarem o controle novamente.

— Você já faz parte. Mora na minha casa. Come da minha comida. Os seus caprichos são sustentados por mim – a voz de Oliver se alterou – o que mais você quer?
— Que você me ame – as suas bochechas ficaram vermelhas na mesma proporção que os seus olhos se enchiam de lágrimas – de que adianta eu ter tudo isso e não ter você?
Oliver encheu a boca com uma colher cheia de comida, demonstrando o seu enorme desdém por ela. Percebendo que ele não se importava com as suas declarações, ela enxugou as lágrimas e ajeitou a postura. Não permitiria que Oliver a visse derrotada.
— Diga-me que você não tem um caso com essa mulher – ela falou com uma voz contida e suave, diferente da voz histérica do dia anterior.
— Não começa com as suas loucuras, Stefany – ele se levantou impaciente, ainda com o prato de comida pela metade – Ashley voltou para Las Vegas há poucos dias e eu nem tinha conhecimento disso.
— Não sabe onde ela mora? – Indagou, um pouco impaciente – com quem ela está ou se já se casou novamente?
Aquela pergunta deu um nó na cabeça de Oliver. Ele não imaginava ver Ashley casada com outro nome.
— Que tipo de pergunta é essa? – Olhou diretamente para ela, mas Stefany desviou o olhar como se escondesse uma informação importante dela – O meu compromisso com a Ashley é apenas profissional. A vida pessoal dela não me interessa.
Mas Stefany percebeu que não havia verdade nas palavras dele. Porém, o seu coração se acalmou ao perceber que Oliver não sabia nada sobre a vida de Ashley, muito menos sobre a filha que ela tivera com ele.
— Talvez eu esteja falando um monte de besteiras – um sorriso sem graça brotou dos seus lábios, deixando Oliver ainda mais confuso – eu vou tomar um banho. Estou muito cansada.
— Espere – o coração de Stefany saltou descontroladamente – você sabe de algo que queira me contar?
Ela virou-se lentamente para olhá-lo. Estava aí a pergunta que Stefany fazia questão de não responder.
— Eu não sei de nada – respondeu, certificando que as suas palavras o convenceriam – eu quero que Ashley desapareça com as lembranças ruins que ela trouxe com ela.
Era óbvio que a declaração dela não parecia ser sincera. Oliver apenas observou a mulher virar as costas para ele e sair caminhando apressada em direção ao andar de cima. Quando se refugiou no quarto, Stefany quase teve um colapso de nervoso. Se ao menos conseguisse ficar de boca fechada, seria um plano quase perfeito. Contudo, agora que ela tinha certeza de que Oliver não sabia da existência da menina, ela poderia eliminá-la sem que ele jamais desconfiasse.
***
Ainda estava escuro quando Stefany se levantou para se arrumar e sair de casa. Precisava ser o mais rápido possível, para que Oliver não a visse saindo da mansão tão cedo. Ele nem desconfiaria que ela não estaria ali, pelo fato dele nunca se importar em passar no seu quarto para se despedir. Mesmo que Stefany afirmasse a todos que os dois estavam casados, Oliver e ela dormiam em quartos separados e raramente tinham encontros amorosos.
Dessa vez ela não contaria com a ajuda de ninguém. Queria executar o plano, sozinha. A ansiedade em colocar as mãos na filha de Ashley a deixava ansiosa. Dirigiu o carro com a pista quase sem nenhum carro. O sol ainda nascia quando ela, enfim, chegou na casa onde Ashley morava.
Estacionou a uma distância segura, certificando-se que ninguém a veria. Meia hora depois viu Ashley saindo de casa na companhia de outra mulher. O seu sangue ferveu quando imaginou ela se encontrando com Oliver naquela manhã. Sentiu vontade de ligar o carro e cometer outra grande loucura, mas Ashley entrou de um veículo e saiu com a outra mulher dirigindo.
Para preservar a sua dignidade, resolveu seguir com o plano. Quase uma hora depois a mulher voltou e entrou na casa novamente. Stefany não tinha ideia de quanto tempo precisaria ficar no veículo esperando qualquer oportunidade. Uma hora ou outra, aquelas mulheres sairiam de casa para levar a criança para brincar em algum lugar. Pelo menos era o que ela faria caso fosse babá.
Quem olhasse do lado de fora do veículo não a reconheceria, a não ser se reconhecesse a placa do carro. Ela usava óculos escuros, e tinha o cabelo preso em um coque coberto por um boné preto. Não usava maquiagem, o que era algo raro. A sua boca pálida e sem vida tirava quase toda a identidade de Stefany.
Quando o primeiro raio de sol entrou no veículo, ela observou as mulheres saindo da casa, levando a menina em direção ao veículo estacionado. No segundo seguinte ela arrumou a postura e ligou o motor. Estava pronta para persegui-las onde quer que elas fossem.
Cinco quilômetros depois, o carro parou em frente a uma praça pública. Havia um parque infantil no meio da praça. Stefany revirou os olhos. A criança parecia animada. Saiu do carro correndo em direção aos brinquedos, enquanto as duas mulheres tentavam a todo custo alcançá-la.
Stefany estudava de longe o comportamento das mulheres. A babá parecia ser mais atenta, contudo, a sua atenção era sempre tirada pelo aparelho celular que ela segurava e quando devia estar atenta a criança, perdia-se no celular. Já a outra mulher saiu caminhando para longe em busca de alguma coisa importante. Quando Ashley a perdeu de vista, desceu do carro e aproximou-se discretamente de onde a criança brincava.
Segurava um pacote de balinhas nas mãos. Stefany respirava pesadamente e a tensão quase esmagava o seu coração. Era necessário ser rápida e fatal, sem dar nenhuma chance para o erro. Retirou algumas balas do saco plástico enquanto observava a baba, sempre distraída com o celular. Parecia ser mais fácil do que ela pensava. Chamou a menina, enquanto abria a mão e mostrava-lhe os doces. Os olhos de Valentina brilhavam na direção da mão de Stefany.
— Você que um? – Perguntou com um sorriso quase angelical no rosto – podemos comer juntas, o que acha?
Valentina sorria para ela. Balançou a cabeça em afirmação e quando já estava pronta para ir ao encontro de Stefany, a mulher recuou, recolhendo a mão e se afastando de cabeça baixa.
Do outro lado da rua, Marina se aproximava e vinha em direção a Valentina. De longe, ela percebeu haver alguém estranho rondando Valentina. Olhou para a babá, que estava distraída e correu em direção à menina. Foi nessa hora que Stefany percebeu ela se aproximar e fugiu como um animal encurralado.
Já no carro, ela batia no volante com força, por perceber que o seu plano havia falhado e que a mulher percebeu as suas verdadeiras intenções. Ela estava tão perto de conseguir pegar Valentina e levá-la para longe dali. Um minuto a mais ela teria conseguido.
Quando perceberam que as mulheres saíram apressadas do parque e foram embora rapidamente, Stefany não teve outra escolha a não ser fazer o mesmo. Ligou o carro e dirigiu de volta a mansão. Com os pensamentos atordoados, ela dirigia em alta velocidade, sem saber o que fazer. Precisava agir rapidamente e dessa vez sem errar. O seu tempo estava se esgotando e ela não podia permitir que Oliver descobrisse ter uma filha com Ashley.