A reunião entre Oliver e Alfonso foi rápida. Ashley observou os homens saírem do escritório, juntos e Oliver ficar ausente pelo resto da tarde. Ela não tinha ideia do que eles haviam conversado, mas sabia pela expressão no rosto de Oliver, o quanto ele ficou furioso em vê-la conversando com Alfonso.
Quando terminou o expediente, Oliver não havia voltado. Isso deveria deixá-la confortável, mas Ashley parecia preocupada com o estado de Oliver, ainda mais tendo uma louca como mulher, morando debaixo do mesmo teto que ele. Stefany era um perigo para todos que conviviam com ela.
O seu coração descontrolou-se no peito.

O que está acontecendo com você, Ashley? Perguntou para si mesma. Oliver sabia se defender e conhecia Stefany o suficiente para saber que ela era capaz. Mas às vezes ela duvidava disso.
Já no carro, os seus pensamentos se voltaram para Valentina. Ela havia ligado para casa umas três vezes ao longo do dia e achou a voz de Marina tensa e preocupada. Aquilo a deixou alarmada, mesmo que Marina dissesse estar tudo bem, Ashley sentia ter algo de errado nas suas declarações.
O ambiente na casa parecia normal e Valentina estava bem. Assim que viu a mãe chegar, correu na direção dela e lhe mostrou o desenho que havia feito.
— Que lindo! – Os olhos de Ashley enchiam-se de brilho ao olhar os rabiscos da filha – quem são essas pessoas?
— A mamãe, eu e o papai.
Aquilo fez o coração de Ashley quase parar. Ela olhou para filha com os olhos cheios de lágrimas e a pegou no colo. Ashley nunca falava da existência de Oliver, por achar que Valentina era nova demais para aqueles assuntos. Mas a menina parecia sentir falta do pai, mesmo que jamais tivesse o conhecido. Aquilo fazia Ashley se sentir cada vez mais culpada.

Quando soltou a menina, viu ela correr de volta para a sala e se sentar em frente a TV. Olhou para Marina, que aguardava ansiosa por aquela conversa.
— Aconteceu algo importante hoje a qual eu deva saber? – Ashley a pressionou.
— Claro que não! – Ela tentou disfarçar o quanto aquela pergunta havia pegando-a de surpresa – o dia foi perfeitamente normal.
Ashley analisou Marina tentando decifrar as feições no rosto dela, quando ela mudava de assunto.

— Como está sendo a experiência de trabalhar com o Oliver?
— Ele continua o mesmo arrogante de sempre – disse, cheia de ressentimentos – mas hoje ele saiu mais cedo com o Alfonso, e eu não o vi mais.
— Parece decepcionada – havia zombaria na voz dela.
— Não deveria brincar com algo tão sério – a irritação era clara no tom de voz dela – o Alfonso me convidou para almoçar com ele amanhã.
Marina tinha o semblante surpreso.
— Ele é o homem que vocês foram assinar um contrato ontem?
— Sim, – mais havia preocupação no rosto dela – ele é um homem encantador. Mas eu não sei se estou preparada para esse tipo de encontro.
— Não acha que está exagerando? – Indagou, achando graça do medo estampado nos olhos dela - é só um almoço, Ashley. Há quanto tempo você não sai para almoçar com um homem?
— Eu nunca sair para almoçar com um homem, além do Oliver – sentiu as suas mãos suarem ao dizer isso - além disso, Oliver ordenou que eu ficasse longe do Alfonso. Pelos motivos as quais eu desconheço.
— Agora está sendo ingênua – havia malícia no olhar de Marina – o Oliver está com ciúmes de você.
De repente, o rosto de Ashley transformou-se completamente. Ela achou muita graça do que Marina estava dizendo. Não era possível que ela estivesse falando sério.
— Você só pode estar louca – ela sacudia a cabeça, mas aquelas palavras se fixaram na sua mente quase não deixando raciocinar.
— Diga-me que você passou por cima das ordens do Oliver, e vai almoçar com o Alfonso?
— Ah, é claro! – O único prazer que Ashley sentia era em provocar a fúria do ex-marido – mas ele não sabe ainda.
— Eu daria tudo para ver a expressão no rosto dele, quando ver você e o Alfonso juntos.
Marina se divertia com a situação, mas Ashley, ainda que fingisse achar graça, estava preocupada com aquele almoço.
— Ou pode ver ele me demitindo – disse, cortando a diversão da amiga.
— Ele não fará isso, Ashley – franziu a testa, contrariada – Oliver precisa mais de você, do que você dele.
Era claro que ela queria argumentar com Marina sobre aquilo, mas o celular vibrando chamou a sua atenção. Olhou para a tela e o seu coração revisitou outras preocupações. Era o Ethan e Ashley se culpou por esquecer de ligar para ele no dia anterior.
— Oi, pai – disse, com os olhos fechados – desculpa não ter ligado antes.
— Como estão as coisas? – A sua voz parecia cansada – conseguiu o emprego que procurava?
— Conseguir – apertou os olhos com mais força quando se lembrou de Oliver e do quanto Ethan ficaria chateado quando soubesse da verdade – Vou conseguir um adiantamento para pagar as dívidas da fazenda.
— Eu não queria te preocupar, Ashley – havia tristeza na voz dele – mas não quero ter que perder essa casa também.
— Não deve se preocupar com isso, pai – ela engoliu a seco, tentando não transparecer estar mais preocupada do que ele - até o final dessa semana enviarei o dinheiro para você.
Houve um longo silêncio do outro lado da linha, que fez Ashley desejar estar ao lado de Ethan para ajudá-lo a passar por aquela situação. Quando achou que a dor da distância não teria fim, ele voltou a dizer.
— E como está a Valentina? – Indagou, já com a voz embargada – quando virá me visitar?
— Ela está bem, pai – engoliu o choro – e assim que eu resolver tudo por aqui, pedirei alguns dias de folga para ir vê-lo. Eu prometo.
Mas aquelas palavras certamente não aliviariam a dor e a saudade que o Ethan estava sentindo.
— Me fale mais sobre esse novo emprego – parecia animado, mas esse pedido quase causou um enfarto em Ashley – como é o seu patrão? Que função você exerce na empresa?
Ashley fez uma careta, como se sentisse muita dor. Ela não podia contar a verdade a Ethan, não naquele momento.
— Conversamos sobre isso depois, pai – olhou para Marina, com os olhos arregalados, indicando que aquela conversa estava ficando perigosa demais. Depois caminhou até a sala, onde estava Valentina – Converse um pouco com a Valentina. Ela também está com muitas saudades.
Enquanto Valentina se esforçava para dizer algumas palavras, Ashley tentava se acalmar. Cinco minutos depois a ligação foi encerrada e ela percebeu o quanto estava com sérios problemas. Ethan não iria gostar nada de saber que Ashley agora trabalhava para Oliver.
No dia seguinte, ela foi mais cedo para a empresa e esperou Oliver chegar, do lado de fora do prédio. Pedir um adiantamento com dois dias de trabalho parecia um absurdo, mas ela precisava tentar. Quando o viu se aproximar, seu corpo estremeceu ao ponto de ela achar que perderia as forças nas pernas e cairia ali mesmo. Que sensação estranha! Nem mesmo quando estava casada com Oliver sentiu-se tão vulnerável aquele ponto.
Oliver ficou surpreso com a recepção de Ashley. Se aproximou dela com o rosto sombrio que a fez estremecer ainda mais.
— Eu preciso te fazer um pedido – respirava com dificuldade e a voz quase não saia.
— Podia ao menos esperar eu chegar ao escritório – Oliver estava de mau-humor.
Ele passou por ela, ignorando a urgência do pedido e caminhou em direção ao elevador. Ashley teve que se apressar para acompanhá-lo. Quando se viu sozinha com ele no elevador, disse:
— Preciso de um adiantamento – declarou, enfim, mas foi incapaz de olhar nos olhos de Oliver.
Ele levantou as sobrancelhas, surpreso com o pedido dela.
— O que estava conversando com Alfonso, ontem de manhã?
— O quê? – ela levantou o olhar até ele, confusa – o que isso tem a ver com o meu pedido?
— Só responda a minha pergunta.
Ela soltou o ar com força, demonstrando o quanto estava com raiva daquela pergunta. Oliver olhava para ela de modo quase fulminante.
— Não havia nenhuma cláusula no contrato de trabalho que me impedisse de conversar com outras pessoas.
Foi quando o elevador se abriu, mas nenhum dos dois se moveu, além da mão de Oliver esticando para impedir que a porta se fechasse novamente.
— Eu dei uma ordem e você me desobedeceu.
Ashley estava visivelmente em choque ao ouvi-lo dizer aquilo.
— Não somos mais casados – ela estava cansada de repetir aquilo para ele – você não pode dizer com quem eu devo conversar ou não.
Dominada pela indignação, Ashley começou a sair de dentro do elevador, quando Oliver a segurou pelo braço e a puxou de volta. Ele a segurava com tanta força que era quase impossível dela escapar. Mas não houve nenhuma tentativa de fuga. Era como se Ashley estivesse hipnotizada pelo olhar de Oliver. Os corpos unidos, o rosto perto demais um do outro que ela conseguia sentir o seu hálito tocando a sua pele. Foi quando Val apareceu, os interrompendo. Imediatamente Ashley se afastou, sentindo-se ligeiramente tonta.
— Desculpe, senhor – Val parecia arrependida por estragar aquele momento – eu vi a porta do elevador aberta e vim ver o que havia acontecido.
Contudo, Oliver passou por ela em silêncio, seguido pelos passos apressados de Ashley que vinham logo atrás. Ela não desistiria de conseguir o que precisava.
— Eu preciso de um adiantamento – ela viu a porta do escritório se fechar logo atrás dela, ficando sozinha com ele mais uma vez.
— Por que eu deveria fazer isso? – O seu rosto inexpressível demonstrava o quanto ele estava disposto a castigá-la pela sua desobediência.
— Porque eu preciso – ela quase implorou.
— Eu não vou te dar adiantamento nenhum – havia ressentimento na voz dele – não depois de você me desobedecer.
— Está sendo injusto – ao ouvir o tom monótono, um traço de desprezo brilhou nos olhos dela – onde eu estava com a cabeça ao acreditar que você me ajudaria um dia.
Depois desse comentário, Oliver permaneceu em silêncio, apenas observando ela sair do escritório, deixando um rastro de fúria para trás. Era claro que o relacionamento dos dois era muito mais do que um empregado e patrão, e Oliver já não conseguia separar as coisas. Ashley estava entrelaçada nele e parecia ser tarde demais para desfazer aquela profunda ligação entre eles.