Capítulo 48
1797palavras
2024-01-03 13:01
A mulher bem-vestida, de cabelos longos, saiu do elevador desnorteada. A maquiagem borrada dava a ela aparência de desespero. Stefany caminhou rápido até a saída, quando o seu salto quebrou e o seu corpo foi projetado ao chão.
Que desastre!
Nesse momento, Stefany lentamente abriu os olhos e observou aquelas pessoas estranhas com expressões de piedade nos seus rostos. Ela era a esposa de Oliver, todos a conhecia. Ela seria o assunto principal de todos a partir dali.

— Estão olhando o quê? – Com lágrimas nos olhos, ela gritou com os curiosos.
Um dos seguranças de Oliver tentou ajudá-la, mas Stefany jogou sobre ele toda a sua fúria. Empurrou o empregado para o lado e saiu da empresa com os pés descalças, arrastando a própria dignidade.
De fato, não havia ninguém naquela empresa que não conhecesse a esposa de Oliver, porém ninguém a suportava. Stefany constantemente tratava mal todos os empregados. Era arrogante e mesquinha.
Ela tinha uma expressão de aborrecimento no rosto, quando se aproximou do carro estacionado em frente a empresa. Os seus pés ardiam no solo quente cheio de pedregulhos. Já estava pronta para partir, quando algo chamou a sua atenção.
Havia uma mulher segurando na mão de uma criança, parada em frente ao prédio, quando cinco minutos depois Ashley apareceu desesperada. Pegou a criança no colo, segurou na mão da mulher e as levou para longe dali. Stefany lançou um olhar malicioso para cena, já concluindo do que se tratava. Congelou ao constatar que aquela criança era a filha de Oliver. Ashley parecia agitada, olhava de um lado para o outro com medo de ser descoberta. Depois de uma conversa rápida, a mulher pegou a criança do colo de Ashley, entrou em um carro e partiu.
Stefany não tinha tempo a perder. Entrou no carro rapidamente e decidiu seguir a moça com a criança. Consumida pela curiosidade e incertezas, Stefany as seguiu até o destino. A casa ficava do outro lado da cidade, em um bairro pobre e isolado, onde certamente Oliver jamais frequentaria. Era um bom lugar para esconder o filho secreto. O olhar de Stefany escureceu ao ver as duas entrando na casa. Pensamentos obscuros passavam por sua mente. Aquele era um problema que ela precisava eliminar.

Meia hora depois ela desceu do carro. Com a maquiagem refeita, ela caminhou até a casa. Precisava saber mais sobre aquela menina e os riscos que ela trazia sobre o seu relacionamento com Oliver. Projetou um sorriso falso no rosto quando bateu à porta e a mulher a atendeu.
Com as sobrancelhas arqueadas, a baba estranhou uma mulher desconhecida na porta da casa aquela manhã.
— Bom dia – Stefany disse com um sorriso falso – você deve estar estranhando a minha presença, porque certamente não nos conhecemos.
Estreitou os olhos para além da mulher e viu a criança correndo na direção delas.

Nesse momento ela surpreendeu-se ao observar o rosto de Valentina. Os seus olhos eram tão lindos como os de Oliver. Aliás, a menina tinha os mesmos traços marcantes dele.
Ela rangeu os dentes de ódio, mas tentou disfarçar o quanto estava incomodada com aquele encontro. Stefany já não conseguia dizer mais nada. Eram surpresas demais para um dia só.
— O que a senhora deseja? – A baba perguntou, desconfiada da atitude da mulher.
O rosto de Stefany ficou paralisado por alguns segundos, fixados no rosto da menina. Quando se deu conta do que estava acontecendo, tentou justificar sua presença.
— Eu sou colega de trabalho da Ashley – Stefany desviou o olhar da menina e o direcionou a baba, a analisando – ela pediu para eu vir ver se vocês chegaram bem em casa.
Era claro que a baba achou a conversa suspeita. Aquele era o primeiro dia de trabalho de Ashley e já havia arrumado colegas confiáveis ao ponto de enviá-lo até a sua casa?
— Estamos bem – a baba tentou esconder Valentina atrás dela, quando percebeu que Stefany olhou demais para a criança – e qual é o seu nome?
Stefany arregalou os olhos para a mulher. Ela nem precisaria dizer o seu nome para Ashley saber que ela esteve ali. Pigarreou, limpando a garganta antes de continuar.
— Essa menina linda deve ser a filha da Ashley – tentou se aproximar da menina, quando a mulher a pegou no colo, se afastando, projetando o corpo para atrás da porta, como se quisesse se proteger de Stefany.
— Eu peço para a senhora ir embora – segurou na maçaneta da porta, pronta para fechá-la – Ashley deixou ordens claras sobre visitas estranhas. Por favor, volte quando Ashley estiver em casa.
Stefany ficou boquiaberta. Logo depois o seu rosto de transformou em ódio. Ainda assim, ela sorriu disfarçando o incomodo que a mulher lhe causava.
— Ah, claro! Você tem toda a razão – deu dois passos para trás, pronta para partir – eu sinto muito ter vindo assim sem avisar. Direi a Ashley que vocês estão bem.
A mulher continuava em silêncio a observando desconfiada. Em um piscar de olhos, Stefany virou as costas e caminhou rápido de volta para o carro. Quando se virou novamente, a porta da casa estava trancada e a mulher a observava pela janela da casa. Stefany entrou no veículo com o coração descontrolado. As suas mãos tremiam ao segurar o volante. Ela precisou esperar os sentimentos se acalmarem dentro dela, antes de ligar o motor e sair daquele lugar. No caminho de volta a mansão, a sua mente borbulhava. A imagem do rosto daquela criança não saia da sua mente. De uma coisa Stefany tinha certeza, Oliver jamais saberia da existência daquela menina, nem que Stefany precisasse matá-la.
***
Na recepção, Ashley olhava para a porta do escritório a cada dez minutos, esperando que Oliver saísse de lá e explicasse-lhe o que havia acontecido aquela manhã. Era esperar demais dele, e ela sabia disso, porém depois do que Val lhe contou, ela tinha esperança de que algo dentro dele tivesse mudado.
Ela analisava alguns documentos, mas não conseguia se concentrar no trabalho. O fato da baba ter aparecido na empresa, trazendo Valentina, a deixou alarmada. A última coisa que ela queria era que Oliver descobrisse sobre a existência da sua filha.
Se arrependeu da maneira grotesca que havia agido com a mulher horas antes, afinal ela não sabia que não poderia ir até lá, ainda assim, o temor do seu segredo ser descoberto continuava atormentando-a.
Enquanto se afundava nos próprios problemas, ouviu a voz do Oliver chamando-a. Ashley saltou da cadeira com os olhos arregalados, demonstrando claramente que havia sido pega de surpresa.
— Venha até aqui, por favor.
Disse ele, desaparecendo logo em seguida. Seria difícil para Ashley se acostumar com aquela situação em receber ordens de Oliver onde ele estava na posição de patrão e não de marido arrogante. O mais estranho era que não havia arrogância na voz dele, quando falava com ela.
Ela se levantou, ajeitou a sua roupa sob o olhar admirado de Val e caminhou até a sala dele.
— Sente-se, por favor, Ashley.
Ele estava de costas para ela, de pé em frente a janela e quando se virou, Ashley percebeu o quanto Oliver ainda estava aborrecido.
— Espero que não queira desistir do emprego depois do que aconteceu hoje – disse, sentando-se em frente a ela – eu peço desculpas pelo ocorrido.
Ashley arregalou os olhos surpresa com aquelas palavras. Ela nunca imaginou que Oliver lhe pediria desculpas por qualquer coisa. Considerando a sua natureza orgulhosa, reconhecer um erro era uma decisão custosa a Oliver.
— Eu aprendi a lidar com a Stefany, no tempo em que você me obrigou a conviver com ela – engoliu a seco. Seria melhor aceitar a desculpas e seguir em frente, mas Ashley parecia querer estragar tudo – eu imaginei que você ficaria com ela depois da nossa separação.
Oliver sorriu da conclusão dela. Recostou-se na cadeira e continuou a encará-la. Ele nunca deixaria as pessoas tirarem tal conclusão sobre a péssima escolha que ele fizera ao se juntar a Stefany. Ele estava acostumado a ter as pessoas aos seus pés, implorando por misericórdia e favores e não ao contrário. Mas com Ashley tudo começou a ser diferente. Com ela, ele começou a ser menos prepotente.
— Vamos ao que interessa – ele mudou o assunto – você vai sair para almoçar comigo hoje.
— O quê? – A sua sobrancelha arqueou em confusão – se eu recusar, você vai me demitir?
— Não pode recusar – ele estava sendo grosseiro e indiferente com ela novamente - é um almoço de negócios. E você vai me auxiliar a realizá-lo.
Ashley se levantou da cadeira sentindo o corpo inteiro estremecer. As lembranças do tempo em que Oliver a levava a jantares com a sociedade a invadiu. Oliver sempre a usou para conseguir o que queria, era claro que ele usaria novamente.
— Então foi por isso que você me contratou – havia frustração no seu olhar – vai me usar novamente para conseguir o que quer.
— Você está errada, Ashley – ele já esperava que ela concluísse aquilo, então não houve reação negativa - não estou a obrigando a fazer nada como da última vez. Eu estou te pagando para me ajudar.
— Ah, claro! Agora eu estou sendo subordinada – ela enfrentava-o, esquecendo-se de que agora ele era o seu patrão.
Oliver respirou fundo, fechando os olhos e tentando não deixar as suas emoções o dominarem novamente.
— Nós dois já tivemos um dia bem difícil hoje, Ashley – abriu os olhos e a encarou novamente - não vamos tornar isso uma guerra. Você trabalha para mim agora, e eu não conheço ninguém tão capaz quanto você para me ajudar a realizar isso.
Ao perceber a reação de Oliver, Ashley suspirou pesadamente. Era como se as palavras dele a acalmasse.
— E qual é a condição?
Então ele percebeu o quanto ela ainda estava traumatizada. Ashley estava o tempo todo na defensiva, como se Oliver fosse atacá-la a qualquer momento.
— Não estamos mais casados – disse, com tristeza – sem chantagens dessa vez.
— Por que eu?
— Porque confio em você – disse com sinceridade – eu preciso de você.
Foi como se a respiração travasse na sua garganta. Com essas palavras martelando na sua consciência, ela tentou raciocinar com calma. Estava deixando as emoções tomarem as decisões e os traumas ressurgirem, fazendo-a agir como uma maluca. Talvez fosse apenas o instinto protetor, mas ela chegou a se sentir feliz ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Ela observou Oliver em silêncio por alguns segundo. Ele esperando pacientemente por ela. Então disse:
— Vamos almoçar então – estufou o peito, enquanto Oliver sorria para ela – só me diga o que eu tenho que fazer.