Capítulo 45
1731palavras
2023-12-17 06:55
O rosto de Oliver estava pálido quando a secretaria entrou no escritório com a intenção de entender o que estava acontecendo. Val, vendo o estado horrível de Oliver, encurtou a distância entre eles a passos rápidos e o tocou sem nenhum constrangimento.
— O que aconteceu, senhor Oliver?
Oliver virou-se rapidamente, se afastando, para esconder sua própria angústia e olhou para o relógio de pulso, como se tivesse urgência em fugir dali.

— Onde encontrou essa moça, Val? – Perguntou com o coração saltando sobre o peito.
— A senhorita Ashley? – Indagou, mas não esperou a resposta – ela que nos encontrou, senhor. Porque, algum problema? Não foi uma boa escolha?
— Foi uma ótima escolha – respondeu prontamente, com uma pontada de tristeza na voz – mas ela recusou o emprego.
Engoliu a seco, sentindo a saliva raspando-lhe a garganta.
— Ela parecia tão empolgada, eu não entendo.
Um longo silêncio se prolongou no escritório. Oliver também tentava entender como Ashley havia parado ali e, porque ele se sentia tão frustrado com a recusa dela.

— Temos outras moças interessadas no emprego – Val parecia decepcionada dizendo isso – vou marcar umas entrevistas e arrumamos outra para o lugar dela.
— Não! – As palavras saíram rápidas e convincentes – duvido que você consiga alguém tão capaz como a Ashley.
Val encarou o patrão, confusa. Ele moveu a cabeça em um pequeno ângulo e olhou diretamente para ela, certificando-se que ela entenderia o seu recado.
— Convença-a a aceitar o emprego – seus olhos estreitaram e irradiavam força feroz – eu a quero trabalhando para mim.

— Claro, senhor – ainda havia dúvida no rosto de Val e ela não sairia daquela sala sem entender os verdadeiros motivos de Oliver ao fazer aquele pedido – me perdoe, senhor, mas me parece que o senhor já conhecia essa moça.
Oliver acenou com a cabeça firmemente. Tinha um sorriso no rosto quando disse:
— Sim, eu a conheço – pegou o celular sobre a mesa e as chaves do carro, passando por Val e indo em direção à porta – A Ashley é minha ex mulher.
Isso foi realmente surpreendente para Val. Aquela revelação fez a secretaria ficar alguns minutos no escritório, paralisada e sozinha. Ela pensava na reação do Oliver, e no modo como ele parecia abalado com a recusa da ex mulher em trabalhar com ele. Val era funcionária do Oliver desde quando ele era dono do cassino. Ele sempre a viu como uma mulher competente e confiável. Val sabia que Oliver havia casado, sabia também que ele não amava a esposa e que a separação havia sido rápida e sem grandes problemas, pelo menos era o que as pessoas comentavam. Oliver pareceu viver muito bem com aquele fato, até Ashley reaparecer e o deixar naquela situação. Val não se lembrava de ter visto o patrão tão abalado como naquele dia. Não era só a competência de Ashley que ele queria de volta, parecia ser muito mais do que aquilo, e Oliver faria de tudo para conquistá-la. Val não tinha a menor dúvida disso.
Já do lado de fora do escritório, Oliver caminhou até o carro estacionado nos fundos da empresa. Sentou-se em frente ao volante, mas não ligou o motor. Sua mente o condenava pelo fracasso. Ele podia ter sido mais persuasivo. Deveria ter ido atrás da Ashley e a chantageado a ficar. Ele acreditava que poderia ter feito mais. Ponderou voltar ao escritório e pedir a Val a localização de Ashley, mas descartou a ideia quase que imediatamente.
Isso é ridículo!
Oliver bravejou no veículo. Ele era o único que tinha motivos o suficiente para querer Ashley longe, depois dela o trair. Não havia motivos para ele confiar nela novamente. Por um momento ele ficou aparentemente zangado quando se lembrou disso. Ele precisou respirar fundo para, enfim, ligar o motor do carro e dirigir em direção à mansão. No entanto, ele não desistiria sem lutar, mesmo que ela fosse uma mentirosa traidora, Oliver a queria ao seu lado.
Quando ele entrou na mansão, ouviu os gritos histéricos de Stefany direcionados aos funcionários. Se direcionou até a cozinha, altamente irritado. Com um olhar intimidador, observou Stefany se justificar, mas Oliver não estava com paciência para lidar com a arrogância de Stefany.
— No dia em que você pagar o salário deles, terá o direito de cobrar alguma coisa – era a primeira vez em três anos que ele defendia os funcionários dos maus tratos de Stefany - até lá, quem manda nessa casa sou eu.
— Eu sou sua esposa – gritou descontroladamente, fazendo Oliver franzir a testa – não pode me desautorizar na frente dos subalternos.
— Você não é a minha esposa – ele também gritou, fazendo a discussão torna-se um espetáculo diante dos empregados – você é uma mulher qualquer que eu aceitei ao meu lado por pena.
— Pena? – Era como uma faca cravada em seu coração.
— A única esposa que eu tive foi a Ashley.
Oliver não entendia por que estava dizendo aquilo, mas essas palavras lhe trariam uma grande confusão.
O rosto de Stefany se transformou em algo vazio e sombrio. Ela não havia sacrificado tudo para no final ouvir Oliver dizer orgulhosamente que Ashley era a única mulher a qual ele considerava. Durante três anos ela se dedicou aquele relacionamento dando o melhor para Oliver. Ela realmente acreditou que ele a amava e se dedicaria a ela na mesma proporção. Mas Stefany não estava preparada para conhecer o lado mais sombrio de Oliver, aquele a qual ele escondeu por tanto tempo. Ele a desprezava e a tratava como uma mulher qualquer e aquilo a destruí por dentro, fazendo-a perder o controle.
Ela jogou o copo de vidro que segurava na direção dele. Depois pegou outro e o jogou também. Stefany mal percebia os gritos que ecoavam pela mansão. Mal percebeu também Oliver se aproximando e a agarrando com força, a impedindo de continuar. Sendo presa pelo peso, Stefany balançou os braços rapidamente, enfurecida, tentando empurrá-lo para longe, em vão. Incapaz de mover as mãos, ela tentou mordê-lo, mas ele a dominou, deixando a imóvel e a jogando no chão.
Stefany negou-se a chorar, e ainda que não tivesse força para continuar lutando, ela ainda conseguiu soltar um grito de dor e angústia. Do outro lado, Oliver observou a mulher que ele acabara de empurrar, com um olhar frio e apático. Stefany estava tornando o seu dia mais difícil do que já estava sendo.
— O que está acontecendo com você, Oliver? – A pergunta veio carregada de emoção, mas aquilo não afetou Oliver.
Um longo silêncio se prolongou entre eles, mas não havia expressão de arrependimento no rosto de Oliver. Ele não se importava com o que havia acabado de fazer, nem dava sinais de que responderia aquela pergunta.
— Como você ousa me enfrentar assim, dentro da minha casa? – o seu tom era de desdém e indiferença - Não torne a minha vida mais difícil. Eu posso fazer com você muito pior do que o Filipe pôde fazer.
Stefany ergueu o corpo e o arrastou até os pés de Oliver.
— Desculpe. Eu sinto muito – ela chorava, agarrando as pernas dele – por favor, fique comigo.
— Eu iria ficar – abaixou o olhar até ela, percebendo o quanto Stefany se humilhava – mas está quase impossível permanecer debaixo do mesmo teto que você.
Ele se afastou, enquanto as lagrimas brotavam dos seus olhos. Antes de se refugiar no seu escritório, Oliver deu instruções aos seus funcionários que ninguém o incomodasse durante todo o dia. Aquele era um recado claro que Oliver não toleraria mais as atitudes de Stefany.
Após se trancar no escritório, Stefany saiu da mansão completamente desorientada. Mesmo sem saber para aonde ir, ela dirigiu pela cidade e parou em um restaurante distante, quase desconhecido. Pensava em uma forma de reverter a situação ao seu favor. Oliver não gostava de ser pressionado. Ele gostava de estar no controle e não o perder. Considerou pedir a ele uma vaga de emprego na empresa, assim ficariam mais próximos e ela poderia reconquistá-lo. Stefany sabia que Oliver estava à procura de uma nova funcionaria. Aquela seria sua grande chance de mostrar a ele o seu valor.
Quando voltou para casa já era tarde da noite e Oliver dormia no quarto de hóspedes. Se aproximou para beijá-lo, quando sentiu o forte odor de álcool. Oliver não costumava beber em dias de trabalho, o que pareceu bem estranho para Stefany. Um turbilhão de coisas passou em sua mente. Será que Oliver tinha uma amante? Outra mulher ocuparia o seu lugar? Aquilo causou arrepios nela. Correu para a suíte da casa em prantos e mal conseguiu dormir aquela noite. Passou a madrugada em claro planejando como convenceria Oliver a aceitá-la na empresa. No dia seguinte sentiu-se ainda pior quando se levantou e Oliver já não estava mais lá. Correu de volta para o quarto e se arrumou, partindo uma hora depois em direção à empresa.
Oliver saiu uma hora mais cedo naquele dia. Sua cabeça doía, denunciando haver exagerado na bebida no dia anterior. Não queria ter que se encontrar com Stefany logo cedo, isso afetaria o seu humor e tornaria o seu dia insuportável. Sentiu a dor aumentar, enquanto ficava parado no enorme congestionamento a sua frente.
Quase uma hora depois estacionou o carro nos fundos da empresa. Os primeiros raios de sol fizeram os olhos de Oliver arderem com a claridade. Ele apressou o passo em direção à entrada do prédio, mas algo chamou a sua atenção. Ele observou a mulher vindo em sua direção, com passos apressados. As pernas de Oliver travaram, quando os olhos dela se encontraram com os seus. Sua expressão se fechou como se ela odiasse estar ali. Ashley se aproximou de Oliver com passos lentos, como se pensasse se deveria prosseguir ou retroceder. Oliver sentiu sua garganta secar quando ela parou em frente a ele. Algo nos olhos de Ashley denunciou que não seria fácil aquela conversa.
Por que ela havia voltado?
— O que está fazendo aqui? – Os olhos de Oliver se estreitaram, enquanto ele tentava decifrar as expressões faciais de Ashley.
— Eu vim falar com você – ela disse com convicção, mesmo que houvesse desapontamento no seu olhar – se ainda quiser me contratar, eu aceito o emprego.