Capítulo 44
1541palavras
2023-12-16 06:55
A dor transbordava pelos olhos de Ashley. Ela foi o caminho inteiro chorando silenciosamente. O motorista do carro, olhava para ela com pena, mas não ousou perguntar o que lhe causava tanta dor.
Ela estava disposta e recomeçar a vida, mesmo que fosse na mesma cidade em que havia sofrido tanto. Quando aceitou voltar para Las Vegas, acreditou que seria melhor que da última vez, mas a vida não estava disposta a atender o seu pedido, colocando Oliver novamente em seu caminho. Qual era a probabilidade de conseguir um emprego onde seu ex marido seria o seu chefe? Ou Oliver havia armado tudo aquilo, ou era muito azar dela, reencontrá-lo assim.
Com um nó na garganta, ela desceu do carro. Enxugou as lagrimas e prometeu não mais chorar. Portanto, nada foi tão fácil como Ashley esperava. A baba que ela havia contratado precisaria ser dispensada, já que ela não aceitaria em hipótese nenhuma, o emprego que Oliver havia oferecido. A mulher a estranhou voltar tão cedo para casa, mas Ashley preferiu não lhe dar satisfação, apenas disse para a moça ir para casa que a chamaria quando precisasse. O que era uma grande mentira.
Ao longo daquele dia um peso enorme sufocava seu coração. Aquelas lembranças ainda eram dolorosas. Durante muito tempo ela acreditou ter superado Oliver e todo o mal que ele lhe causara. Grande engano e as cicatrizes sangraram assim que ela colocou os olhos nos dele novamente.
Tentou distrair a mente com outras coisas que envolviam Valentina, mas ela mal havia conseguido se concentrar em tarefas fáceis do dia, como dar banho ou pentear os cabelos da pequena menina. Enquanto as horas não passavam, ela procurou outras vagas de emprego. Estava ali para trabalhar e não desistiria na primeira tentativa. Revirava as páginas on-line de emprego, quando Marina entrou na casa. Ao vê-la se agitou de ansiedade, correndo em sua direção com os olhos brilhando.
— Como foi o seu primeiro dia de trabalho? – Indagou, com o sorriso se alargando em seu rosto.
Contudo, Ashley não sabia como contar aquilo a era. Seus olhos revelavam o fracasso. Havia uma tristeza enorme em suas feições. Ashley até forçou um sorriso, mas ao se lembrar do rosto de Oliver, as lagrimas voltaram a cair.
— O que aconteceu, Ashley? – O sorriso desapareceu do rosto de Marina, dando lugar a preocupação.
Ela demorou para responder, porque o choro impediu que qualquer palavra fosse pronunciada. Ainda com a voz embargada, ela contou.
— Não posso aceitar esse emprego – tinha uma tristeza profunda no tom da sua voz.
— Por que não? – Marina se esforçava para entender, enquanto um turbilhão de motivos rondava sua mente – não me diga que o seu patrão a assediou? É um velho babão tarado por funcionárias mais novas?
Ashley lembrou-se da verdadeira razão suspirando.
— Muito pior do que isso – engoliu o choro e mascarou a dor que rasgava o seu coração antes de dizer aquelas palavras difíceis – Oliver White é o patrão.
Marina estava literalmente boquiaberta e se não tivesse uma cadeira logo atrás dela para que ela se sentasse, certamente ela teria desabado no chão.
Um longo silêncio se prolongou entre às duas, a qual pareceu não ter fim. Marina tentava entender como aquilo era possível de acontecer em uma cidade tão grande como Las Vegas, enquanto Ashley, continuava reprimindo a dor para não chorar novamente.
— Isso parece impossível! – Marina disse o que parecia obvio - só se ele armou para atraí-la até lá.
— Eu também pensei nessa possibilidade – ergueu a cabeça olhando para ela – mas também seria impossível o Oliver saber onde eu estava. Ele ficou tão surpreso quanto eu.
— Então o destino quer unir vocês dois novamente – ela tentava confortar Ashley, mas não conseguia – o que planeja fazer agora?
— Eu não posso aceitar esse emprego, Marina – levantou-se impaciente – vou decepcionar o tal destino, mas eu não quero o Oliver de novo na minha vida.
O olhar intenso que Marina lançava a ela era um pouco desconcertante. Marina franziu a testa de leve, demonstrando não concordar muito com aquilo.
— Você tem toda a razão de não o querer mais em sua vida – mastigou as palavras cuidadosamente antes de dizer – mas precisa do emprego, Ashley. É uma grande oportunidade. Você mesmo disse que terá o cargo mais importante da empresa dele.
— E não existem outros empregos nessa cidade para eu poder arrumar? – o tom de voz de Ashley indicava que as palavras de Marina a machucaram profundamente.
— Eu não tive a intenção de ofendê-la – sussurrou, se aproximando dela lentamente e abraçando – foi um dia difícil para você, querida. Deve descansar. Não pode decidir tão importante como essa de cabeça quente.
Ao ouvir isso, os olhos de Ashley encheram-se de raiva. Ficou claro para Ashley que Marina não se importava com a dor que a presença do Oliver causava em seu coração, Marina parecia se preocupar só com a grande oportunidade que Ashley estava prestes a perder. Tentou disfarçar o incomodo e esquecer o que ela havia dito para não brigar com a sua melhor amiga, foi quase impossível.
— Esse é o conselho mais absurdo que eu já recebi em toda a minha vida – havia recriminação na sua voz – mas em uma coisa você está certa, eu preciso descansar para que amanhã eu me levante bastante disposta a arrumar outro emprego.
As bochechas de Marina ficaram vermelhas e ela se encheu de vergonha. Ela até tentou se justificar, mas Ashley passou por ela e foi direto para o quarto em silêncio.
No dia seguinte, quando Ashley se levantou, Marina já havia saído para trabalhar. Encontrou um bilhete pregado na porta da geladeira com um pedido de desculpas pela noite anterior. Diante daquele apelo, ela enviou uma mensagem para amiga, acabando de vez com qualquer mal-entendido que pudesse haver entre às duas.
Ashley aproveitou a chance de que tinha uma baba a sua disposição e ligou para a moça para ela ir trabalhar naquele dia. Enquanto esperava ela chegar, se arrumou, imprimiu alguns currículos e se preparou para ir atrás de um emprego. Se despediu da pequena Valentina e saiu. Com uma agenda na mão, onde havia anotado os endereços das empresas que contratavam, ela caminhou incansavelmente pelas ruas de Las Vegas. Ainda havia esperança em seu coração de que ela conseguiria algo, mas suas expectativas foram se esvaziando quando percebeu que nenhuma delas aceitaria alguém tão inexperiente quanto ela.
Chagou em casa já tarde da noite, sentindo as pernas fraquejarem. Como se estivesse prestes a desabar, ouviu Marina dizer que Ethan havia ligado várias vezes, e que o assunto parecia ser bastante urgente. Pegou seu celular que estava no fundo da bolsa e percebeu diversas ligações não atendidas. Suspirou desesperada. Quando finalmente se sentou no sofá, retornou à ligação para Ethan, que tinha um tom profundo de preocupação na voz ao falar com ela.
— O que aconteceu, pai? – ela usava suas últimas forças para tentar ajudar Ethan no que ele precisasse.
— Como você está? – ele fugiu do assunto, como se não tivesse coragem para continuar – como foi a entrevista de emprego?
— Está tudo bem, pai – um suspiro longo foi ouvido por ela do outro lado da linha.
— Ótimo! – Ethan disse com a voz pesada – porque eu não tenho boas notícias.
Ashley podia sentir um aperto doloroso no peito, enquanto ouvia o que ele tinha a dizer.
— Chegou uma ordem de despejo – revelou, fazendo o rosto de Ashley ficar pálido – se não pagarmos a dívida da fazenda até o final do mês, seremos jogados na rua.
Um longo silêncio se prolongou entre eles. Depois de algum tempo, Ethan chamou pelo nome da filha, mas não houve resposta do outro lado da linha. Quando Marina percebeu o estado desesperador que Ashley se encontrava, pegou o celular de suas mãos e terminou a conversa com Ethan.
Foi transportada para o passado, quando pela segunda vez, Oliver a ameaçou de jogá-la na rua. Pela terceira vez eles podiam perder tudo o que tinha. Um desespero tomou conta de Ashley ao ponto de impedi-la de raciocinar. Ela não podia permitir que aquilo acontecesse, não após lutarem tanto pela sua liberdade. Assim que terminou de falar com Ethan ao telefone, Marina voltou toda a sua atenção para Ashley. A garota nem havia percebido que ela a havia preparado uma água com açúcar para acalmá-la.
— Nós daremos um jeito Ashley – incapaz de responder, Ashley apenas abaixou o olhar e cerrou os lábios – eu não os deixarei desamparados. Sabe bem disso, não?
Era claro que ela sabia, contudo, Ashley estava cansada de ser amparada pelos outros. Estava na hora de resolver seus problemas, sozinha. Como em uma queda livre, dessa vez ela não esperaria uma rede de proteção que a salvasse. Ela precisava abrir o paraquedas e voar sozinha.
— Não se preocupe Marina – enxugou as lagrimas que descia – dessa vez eu serei minha própria heroína.
Levantou-se e foi para o seu quarto. Preparou a roupa do dia seguinte. Ashley sabia exatamente o que fazer e quem procurar.