Capítulo 33
1140palavras
2023-12-09 06:48
Na sala escura, Ashley estava sentada em frente à TV desligada, esperando Ethan voltar, sabe-se lá de onde. Seu choro havia cessado, mas a angústia permanecia ali dentro dela, como um intruso, destruindo toda a esperança que ainda restava.
Quando, enfim, ele chegou em casa, e acendeu as luzes, se deparou com uma garota destruída. Podia-se notar isso facilmente no semblante de Ashley. Olheiras profundas, narinas vermelhas e um olhar perdido e opaco.
— Aconteceu alguma coisa? – Ele a observou ainda parado na entrada da casa.

Ashley não olhou para ele. Sentia-se incapaz de olhar nos olhos do pai e contar a verdade.
— Oliver esteve aqui – sentiu vontade de chorar novamente, mas resistiu – ele quer o divórcio.
Ashley sabia que estava indo rápido demais e que Ethan ficaria perdido na sua revelação. Mas ela não sabia como começar aquela conversa.
— O quê? – Uma ruga de preocupação se formou em sua testa – do que está falando, Ashley?
Ficou impaciente com a pergunta. Passou a mão sobre o rosto, fechando os olhos com força.
— A Anny o expulsou da sociedade e o Oliver acha que a culpa é minha – estava atropelando as palavras novamente – Ele acha que eu sou a culpada por ela descobrir que ele é um filho da mãe traidor.

Uma lagrima escorreu pelo seu rosto e quando Ashley percebeu estava tremula.
Ethan caminhou em direção a ela quando percebeu o desespero da filha fluir como uma enchente. Precisava acalmá-la, pelo bem dela e da criança que esperava.
— Isso iria acontecer cedo ou tarde, Ashley – sussurrou, mas as palavras não melhoraram a ansiedade de Ashley – O Oliver é péssimo para esconder os segredos dele.
— O senhor não está entendendo, pai – ela se levantou agitada, e começou a caminhar em ciclo no meio da sala – Eu não ligo para o divórcio. Oliver nos expulsou dessa casa e nos arrancou o resto de dignidade que tínhamos.

Ethan arregalou os olhos assustados. Estava sem reação.
— Juro que eu sou inocente, pai – não se importou que ele constatasse o seu desespero – eu não contei a ninguém sobre a traição do Oliver, por mais que ele merecesse.
Ele pressionou a mandíbula enquanto a fitava.
— Eu sei disso, querida Ashley – levantou o olhar tristonho e a olhou cheio de desespero – a culpa de tudo o que está acontecendo é minha. Jamais permitirei que se sinta culpada, entendeu?
Mas ela não conseguiu responder, caiu de joelhos diante de Ethan, repousando a cabeça no colo dele e deixando os soluços romperem o silêncio da casa. Ethan sabia que ela era só uma menina, forçada a se casar com um homem a qual não a amava, e a fez passar por momentos difíceis e constrangedores. Agora sentia-se culpada por ver seu sacrifício sendo jogado na lata do lixo. No final das contas, Oliver havia cumprido a sua promessa diabólica de tirar tudo o que eles tinham, mesmo depois de Ashley o ter ajudado tanto. Mas Oliver era um homem sem palavras. Nunca cumpria o que prometia, era inútil esperar algo de bom dele.
Mas Ethan sabia que o momento de consertar as coisas havia chegado. Ele não permitiria que a filha ficasse na rua esperando um filho.
— Olhe para mim, Ashley – segurou no queixo dela o levantando. Seus olhos encharcados se encontraram com os dela – eu prometo que vou consertar as coisas. Eu não permitirei que você more na rua enquanto espera a chegada do meu neto.
Ethan estava disposto a desistir da sua dignidade e se humilhar, se fosse preciso para não decepcionar Ashley mais uma vez.
— Não há mais nada o que possamos fazer pai – ela enxugou as lagrimas cerrando os dentes antes de abaixar o olhar novamente.
— Sempre há uma saída, querida Ashley.
Deu um beijo na cabeça inclinada de Ashley e se levantou. Apanhou novamente as chaves da casa e caminhou para a saída.
— Para onde o senhor vai? – Por um momento ela pensou que Ethan iria se aventurar nos cassinos, como fez da última vez. Mas Ethan não tinha mais nada a perder.
— Apenas confie em mim – disse, enquanto abria a porta – volto em uma hora ou mais.
Ashley olhou para Ethan pela última vez, enquanto ele desaparecia pela porta afora.
Ethan caminhava pelas ruas atordoado por não conseguir tirar o olhar desesperado de Ashley da mente. Ele só havia se sentido assim apenas uma vez na vida, quando a mãe de Ashley os abandonou quando ela ainda era uma criança. Mas ele jamais a culpou por aquilo, Amanda foi uma esposa paciente, que suportou os vícios de Ethan durante muitos anos. Ela acreditou que ele mudaria, que as coisas ficariam melhores e que voltariam a ser uma família feliz. Mas não foi isso o que aconteceu. Ethan se afundou cada vez mais nos jogos de azar e quando percebeu já era tarde demais para recuperar seu casamento e sua dignidade. Os anos seguintes foram os mais difíceis de sua vida. Cuidar de uma criança sozinho, foi um fardo quase insuportável. Ver Ashley perguntar frequentemente pelo paradeiro de Amanda, sem saber o que dizer a ela, só o fez se afundar ainda mais nas dívidas e no desespero. Ele podia sentir o calor se espalhando por todo o seu corpo a medida que mergulhava nas lembranças. Seu corpo tremendo conforme se aproximava do seu destino. A dor no corpo por caminhar por vários quarteirões. Mas Ethan estava disposto a não deixar seus erros arruinarem a vida de Ashley novamente, nem que ele oferecesse a própria vida por isso.
Caminhou até a entrada da mansão e tocou a campainha. Enquanto esperava, percebeu o quanto estava cansado, mas cheio de esperança de consertar as coisas. Um homem de meia-idade, vestido em um terno, abriu a porta.
— Boa noite, gostaria de algo? – Perguntou o homem, se assustando com o estado deplorável de Ethan.
O empregado até achou ser um mendigo ou um arruaceiro que veio ali apenas para roubar.
— Vim para falar com a senhora Anny Vasconcelos – o empregado retraiu o corpo, deixando a entender que fecharia a porta logo em seguida – por favor, senhor, diga a ela que Ethan, o pai da Ashley, precisa urgentemente vê-la.
Após vários minutos parado em frente a porta, pensando se deveria ou não confiar no homem, o empregado lhe disse.
— Aguarde só um minuto – empurrou a porta lentamente para fechá-la – vou comunicar a senhora sobre sua urgência.
Ethan apenas fitou a madeira envernizada da luxuosa porta se fechar, enquanto o silêncio reinava na noite fria de Las Vegas. Não importava o que acontecesse dali em diante, Ethan prometeu a si que só voltaria para casa com as esperanças renovadas.