Capítulo 32
1439palavras
2023-12-08 06:47
Oliver quase causou um acidente no percurso entre a sociedade e a casa de Ashley. Certamente aquele não era um bom dia. Oliver tentava, com muito esforço, entender os motivos que levaram Ashley a entregá-lo. Ela havia o ajudado a entrar para sociedade. Ela mentiu por ele, o apoiou até o fim, por que o trairia agora?
Parou em frente à casa e caminhou até a entrada principal. Os dois seguranças estavam ali, do lado de fora e se assustaram com a presença de Oliver àquela hora. Ele estava ali, com os olhos arregalados e cheios de confusão, frustrações e outros milhares de sentimentos que ele nem saberia descrever.
— Patrão – o homem ajeitou a postura, olhando nos olhos dele – algo de errado?
— Me responda uma coisa, Carlos – se aproximou dele o suficiente para intimidá-lo – alguma vez Ashley saiu dessa casa desde que vocês vieram cuidar dela?
O homem engoliu a seco. Então se lembrou do que Ashley havia pedido a ele.
— Não, senhor – mentiu descaradamente.
— Alguma visita inesperada?
— Não senhor.
— Ótimo! – Concluiu com frustração. Ashley era culpada – sendo assim presumo que ela esteja em casa.
O homem apenas balançou a cabeça.
Oliver se afastou e parou em frente a porta.
— Vocês estão dispensados – disse – a Ashley não vai mais precisar da segurança de vocês.
Oliver entrou na casa sem cerimônias. Ashley estava parada em frente ao balcão da cozinha. Após ver o rosto da mulher, ele sentiu o sangue sair do seu rosto, enquanto seus olhos encontravam-se com os dela.
— Oliver… – por algum motivo desconhecido, ela sentiu-se nervosa. Ela sabia que tinha algo de errado – não deveria estar na sociedade?
— Fui demitido – Oliver não sabia como começar aquela conversa – mas certamente você já sabe.
Ashley arregalou os olhos incrédula e chocada.
— Como eu saberia? – O seu rosto cheio de confusão certamente denunciaria a sua inocência – por qual motivo você foi demitido?
Oliver soltou um sorriso amargo. Ele olhou para ela com raiva, como se ela fosse louca ou dissimulada por fingir não saber de nada.
— Você enviou uma mensagem para o Filipe hoje pela manhã dizendo a ele que Stefany estava na mansão.
Ashley estava em total choque.
— Não! Eu não fiz isso…
Ele caminhou apressadamente em direção a ela e segurou suas bochechas com força, ao ponto de ficarem vermelhas. Oliver apertava com tanta força o rosto dela, que Ashley podia sentir seus dentes estalarem.
— Filipe confessou que você o chamou até a mansão – gritou descontrolado – vamos lá Ashley, ao menos uma vez em sua vida, conte a verdade e confesse que você me entregou e arruinou todos os meus planos.
— Isso não é verdade – disse com bastante dificuldade entre a dor da acusação e as mãos de Oliver que a apertava sem piedade.
Ele a soltou, mas se conteve para não a empurrar violentamente no chão.
— A mensagem foi enviada do seu celular – ele virou-se para olhá-la, a decepção estampada no seu rosto – até quando vai continuar a negar?
— Isso é impossível – disse, sentindo a garganta se fechar devido ao choro que ela engoliu – fui assaltada ontem pela manhã e levaram o meu celular.
— Você está mentindo – o som penetrante da sua voz ecoou por toda a casa – os seguranças me garantiram que você não saiu dessa casa.
Era obvio que eles iriam garantir. Ela mesmo se garantiu que eles não contariam a verdade para Oliver.
— Imagina o que aconteceria quando você descobrisse que eles são incompetentes, e que eu saio de casa às escondidas? – O desafiou – acha mesmo que eles contariam a verdade?
— Não me interessa o que eles contariam – travou o maxilar – Anny já sabe da traição e agora eu estou fora da sociedade.
— Vai me acusar de contar isso a ela também?
Ele a olhou profundamente e se silenciou por longos segundos. Mesmo que ela seja a culpada por Filipe descobrir a traição, havia sido Romero que o entregou a Anny. Nos pensamentos de Oliver, isso aconteceria cedo ou tarde, mesmo não tornando Ashley inocente.
— Eu o ajudei quando mais precisou. Não teria motivos para traí-lo agora.
Mas pela expressão contrariada no rosto de Oliver, Ashley sabia que não o convenceria tão facilmente. Do outro lado, Oliver estava dominado pela raiva e isso bloqueava sua capacidade de raciocinar. Ele perdera tudo o que importava e a dor de ter sido expulso da sociedade dilacerava o seu coração.
— Eu não devo nada a você Ashley – embora ele soubesse que sim, afirmou aquilo novamente – mas certamente você me deve tudo.
— E o que sería? – Ela sorriu, insatisfeita com o comentário dele – ser obrigada a me casar com você aos dezoito anos e viver uma vida de ameaças? Eu agradeceria, se fosse o caso, mas dispenso os seus favores.
— Sendo assim, não há mais motivos para ficarmos casados.
Respondeu com uma expressão distorcida. Não havia satisfação no rosto de Oliver ao afirmar aquilo. Casou-se com Ashley apenas para entrar para a sociedade, sem sentimentalismos ou obrigações. Apenas favores deveriam ser feitos um para com o outro, mas agora estava tudo arruinado. Não havia mais motivos para continuar com aquela farsa.
— Vamos nos divorciar – ele mordeu com força os lábios quando as palavras foram ditas.
Houve um silêncio prolongado por toda a casa. Foi estranho a reação que Ashley teve ao ouvi-lo dizer aquilo. Desde o dia em que se viu forçada a se casar com ele, desejou que o divórcio chegasse, mas ouvir Oliver dizer aquilo, depois de poucos meses casados, causou nela uma tristeza que não deveria acontecer.
— Nosso acordo está desfeito, Ashley. A partir de amanhã você será uma mulher livre, e voltará a vida insignificante que sempre teve.
Ela engoliu a seco. Oliver observou suas feições procurando qualquer traço de felicidade no rosto dela, mas não encontrou. Ashley tinha o olhar perdido e confuso.
— Ótimo! – Disse ela, sem olhar nos olhos dele – ainda que eu seja inocente de suas acusações, o divórcio é melhor para nós dois.
Ele ficou atordoado, mas disfarçou o seu descontentamento. Oliver não entendia por que se sentia tão mal em fazer aquilo.
— Eu esperaria no mínimo um pedido de desculpas, após você ter arruinado os meus planos – lançou a ela um olhar gélido – mas me certificarei que você, o seu pai, pagará por isso.
— Está me ameaçando?
— Vocês têm vinte e quatro horas para sair dessa casa – afirmou ele – sem levar nada a não ser a roupa do corpo.
— Eu não tenho para onde ir – uma lagrima riscou o rosto dela.
— Isso não é da minha conta – elevou o tom de voz, irritado – amanhã meu advogado entregará a você os papeis do divórcio e você estará livre para viver a sua vida miserável.
— Oliver, por favor – ela implorou, dando a Oliver o que ele queria, sua humilhação – o meu pai já é um idoso, não posso permitir que ele viva nas ruas.
— Já disse que isso não me interessa – Oliver sabia como machucá-la – a única coisa que espero de você, é que desapareça.
A lagrima escorreu pelo rosto dela. Como sobreviveria nas ruas com um idoso e esperando um filho? A casa antiga em que moravam antes de Oliver a obrigar se casar com ele, já não os pertencia. Oliver havia tomado isso também, mas Ashley acreditou que conseguiria construir uma vida financeira boa pelos dois anos em que estivesse casada com Oliver. Ela pretendia voltar para faculdade sem que Oliver soubesse, arrumar um emprego e ser independente dos favores dele. Mas com o fim repentino dos casamentos os seus planos estavam arruinados.
Por uma fração de segundos, quando o desespero a dominou, ela considerou contar a ele que estava gravida.
Mas ele a mataria.
Desistiu, recebendo um último olhar ameaçador e decepcionado de Oliver. Observou em silêncio ele sair da casa pela última vez, sem olhar para tras. Nunca imaginou que o fim daquele casamento causaria nela tanta dor.
Enquanto o silêncio voltava a reinar na casa, o desespero tomou o seu lugar. Lagrimas escorreram pelo seu rosto. A mente de Ashley estava completamente bagunçada. Após entrar em pânico e se afundar nele por um tempo, ela recuperou a calma. Enquanto arrumava seus pertences para partir, se preparou para contar a Ethan o futuro doloroso que os esperava.