Capítulo 21
1526palavras
2023-11-23 13:27
Oliver
Antes
Oliver mal havia conseguido dormir direito na noite anterior. Estava ansioso pelo primeiro encontro oficial que teria com a sociedade. Lembrava que, desde quando descobriu o mundo dos negócios e as possibilidades que ela poderia lhe proporcionar, criou dentro dele uma obsessão quase sem fim pela sociedade. Era um grupo de milionários dos Estados Unidos que se uniram para consolidar uma grande empresa farmacêutica. A sociedade havia sido fundada há dez anos e faturava bilhões de dólares todos os anos. A cada quinze meses eles abriam vagas para pequenos sócios poderem ter a chance de aprender e crescer na empresa deles. O problema era, eles não aceitavam nenhuma pessoa, de qualquer jeito. A sociedade tinha regras, muitas delas idiotas ao constatar do próprio Oliver, mas eles a seguia a firme como uma religião e só era possível ingressar nesse grupo se fizesse tudo o que eles pediam.

Primeira regra idiota: ser casado.
A sociedade não aceitava homens solteiros. Os motivos, Oliver nunca entendeu, mas precisou arrumar uma esposa quase imediatamente. Na época ele não tinha nenhuma opção, além de Stefany. Oliver nunca cogitou se casar com Stefany, mesmo que tivesse dito isso a ela centenas de vezes. Se a sociedade soubesse que ele havia casado com a mulher do melhor amigo, jamais o recrutaria.
Segunda regra idiota: ser leal.
Uma traição não cairia bem, a sociedade era muito conservadora, ao menos na teoria. Uma sociedade que faturava bilhões vendendo vacinas, muitas as quais não funcionava, em meio ao caos humano, nada tinha de conservador. Mas se tinha algo que Oliver havia entendido era que uma boa imagem vendia qualquer coisa.
Então ele resolveu aceitar todas as regras e se moldar aos padrões do grupo. Quando se casou com Ashley, acreditou que demoraria muito tempo para conseguir realizar aquele sonho. Arrumou uma esposa apenas para cumprir um papel de figurante, ao menos foi o que Oliver acreditou. Mas Ashley, apesar da idade, o surpreendeu com a mente brilhante que tinha e o fez ser aceito em menos de três meses.
Enquanto pensava nessas coisas a caminho da sua primeira reunião com a sociedade, seu celular vibrava no banco do carona. Oliver sabia quem era, mas estava tão concentrado na sua missão, que nem mesmo Stefany estragaria o seu dia.

O sol já cruzava o firmamento quando Oliver chegou no andar onde o escritório de Anny ficava. Enquanto esperava ficou observando a secretaria, que por vezes lançava um olhar para ele. Um olhar a qual ele conhecia. Considerou pedir a ela o seu telefone e saírem para transar, mas não teve tempo. Anny apareceu na porta sorridente, convidando Oliver a entrar.
— Onde está a Ashley? – Oliver fez uma careta, enquanto se sentava na cadeira.
— A Ashley está na casa do pai dela – a expressão no rosto de Oliver era tão impassível e artificial quanto a de um manequim – ela pediu para ficar uns dias por lá.
— E você como um bom marido, deixou – sorriu

Oliver assentiu, esperando por algo a mais, mas Anny ficou calada.
— Algum problema ela não está aqui? – Engoliu a seco, esperando a resposta.
— Não há problemas – foi enfática, mas sua atenção não estava nele – só achei que ela iria querer participar desse momento.
A impressão que Oliver teve era que Anny conhecia Ashley melhor do que ele. Mas ele não se importava. Não se importava com Ashley, nem com o que Anny pensava sobre ele.
— E como ela está? – Perguntou Anny, desta vez, analisando Oliver.
— De quem está falando? – Perguntou ele, perdido nas indagações dela.
— De quem mais eu poderia estar falando? – Ela riu – da Ashley.
Oliver sentiu Anny o observando, enquanto ele se controlava para não demonstrar sua impaciência com aquela conversa.
— Ashley está ótima! – Pigarreou, agitando o corpo na cadeira – quando começo com os trabalhos?
— Posso ver a ansiedade transbordar pelos seus poros, Oliver – ela se levantou – Vamos tomar alguma coisa. Tenho certeza de que um café bem forte será ótimo para você começar o seu primeiro dia.
Oliver se levantou ainda mais impaciente. Odiava tratar de negócios com mulheres, mesmo que essa mulher fosse a Anny. Sentou-se na poltrona ao lado dela, enquanto Anny o servia café. Travou o maxilar, irritado. Não havia ido ali tomar café. Oliver odiava café.
Seu celular vibrou. Uma chamada de Filipe.
Se conteve antes de atender. Milhões de coisas passavam por sua cabeça. Será que Filipe havia descoberto tudo? Aquela pergunta congelou seus instintos.
— Preciso atender – se levantou e saiu da sala.
Quando apertou o botão e levou o celular até o ouvido, sentiu como se tivesse ativado uma bomba atômica.
“Bom dia, Oliver”, disse Filipe do outro lado da linha. O seu tom de voz demonstrava tranquilidade.
“Me ligando a essa hora. Aconteceu alguma coisa?”, colocou uma das mãos no bolso da calça, torcendo para que a resposta dele fosse a melhor possível.
“Stefany disse que iria sair com a Ashley hoje de manhã”, uma ruga se formou no rosto de Oliver, “liguei para saber se elas se encontraram.”
“Do que você está falando?”, ele ergueu uma sobrancelha.
“Ashley não comentou nada com você?”, Oliver fez uma pausa, pensando sobre aquilo e nos motivos que Stefany teria para inventar uma história como aquela.
“Não estou sabendo de nada”, as palavras saíram quase como um sussurro.
“Estranho”, o sentimento de Filipe parecia o mesmo que o de Oliver.
“Não deve se preocupar”, quis encerrar a ligação rapidamente, “vou conversar com a Ashley depois sobre isso.”
Filipe concordou, encerrando a ligação, mas Oliver sabia que o melhor amigo estava preocupado, por conhecer bem a esposa que tinha. Não sabia o que pensar sobre essa mentira de Stefany, mas não houve nenhum indício de preocupação da parte de Oliver.
Lá fora o sol se erguia por detrás das árvores. Oliver olhou as horas no relógio e percebeu que metade da manhã já havia se passado. No momento seguinte, já estava na sala de Anny novamente.
O celular voltou a vibrar. Oliver soltou um suspiro longo e pesado. Olhou para a tela já disposto a desligar o aparelho. Ethan estava te ligando. Oliver hesitou, dividido entre a urgência em se concentrar naquele momento e a possibilidade de Stefany ter efetuado algo contra Ashley.
Oliver sabia que Stefany conseguiria efetuar algo contra Ashley.
Se algo acontecesse contra a Ashley, seus planos de continuar na sociedade poderiam ruir.
Atendeu o telefone quase que imediato, ali mesmo na presença de Anny.
“Oliver”, a voz do outro lado estava pesada e Ethan tinha dificuldade em concluir a frase, “Ashley foi atropelada.”
Seu rosto deve ter entregado seus sentimentos, porque Oliver falou em seguida:
“Ela está bem? Não esperou a resposta, “Como isso aconteceu”?
“Ashley está bem, mas ela acredita que alguém tentou atropelá-la”.
Por um momento Oliver quis correr até lá e protegê-la, mas quando percebeu seus sentimentos os bloqueou imediatamente.
“Obrigado por avisar”
Encerrou a ligação sem dar ao Ethan qualquer chance de resposta.
Quando se virou, viu Anny olhando para ele, assustada. Oliver mal havia percebido que ainda estava na sala dela, quando atendeu ao telefonema.
— Me parece que algo muito grave aconteceu – ela disse, com os olhos fincados nos dele – e que foi com a Ashley.
Oliver engoliu a seco. Olhou para ela por algum tempo, depois levou a mãos ao peito como se tivesse levado um tiro. Era tudo uma grande encenação.
— Ashley quase foi atropelada – tentou transparecer preocupação – o pai dela disse que ela está bem. Então não há por que se preocupar.
— Como não há? – Pareceu espantada com as palavras dele – vá imediatamente vê-la. Ashley está gravida. Precisa se certificar que o seu filho está bem.
Mas para Oliver não havia nenhum filho. Tudo aquilo passava de uma grande mentira contada por Ashley. Logo em seguida, Oliver mostrou os dentes brancos em um sorriso familiar até demais.
— Você está certa – se frustrou ao dizer isso. O que ele queria mesmo era ficar ali, e começar a realizar o seu sonho de trabalhar para a sociedade – vou ver com a Ashley está e no turno da tarde estarei de volta.
— Eu não precisarei mais de você por hoje, Oliver – sorriu para ele – admiro o seu empenho e dedicação, mas sua esposa precisa mais disso do que eu.
Era claro que ele não concordava com essa decisão. Saiu do prédio com o sentimento de fracasso cravado no peito. O ódio fluindo sobre as veias. Dirigiu em alta velocidade até a casa do Ethan, sentindo-se capaz de cometer uma grande besteira.
Stefany pagaria por aquela tentativa de homicídio.
Estacionou o carro e caminhou apressado. Não houve nenhum constrangimento quando entrou na casa, mas foi como se o resto evaporasse no ar, quando ele a encontrou na sala. Oliver passou um bom tempo somente olhando para Ashley. Analisando-a. Vendo todo o medo nos olhos que fitavam os seus. Tinha algo realmente diferente nela. Algo que Oliver não sabia explicar, mas que despertava coisas estranhas dentro dele.