Capítulo 20
1082palavras
2023-11-23 00:26
Ashley
Ethan havia chegado tarde da noite e Ashley teve a sensação de que desfaleceria na porta da casa dele, com a fome e o cansaço que sentia.
— Porque não me avisou que viria, Ashley? – Aparentemente preocupado, ele a segurava levando-a para dentro da casa, como se levasse um vaso valioso.

— Estou ligando para o senhor desde muito cedo – ela sentia-se fraca demais para brigar, mas havia uma coisa que Ashley não poderia deixar de fazer – o senhor estava no cassino?
Ashley viu a expressão no rosto dele se fechar.
— Você não entenderia – falou Ethan engolindo o nó em sua garganta - não, é algo que eu possa controlar Ashley.
— Isso eu já entendi há muito tempo – ela inspirou tremula – nada do que o senhor tem parece o bastante. Nem mesmo me apostar e me perder deixando-me casar-se com um homem igual ao Oliver, faz o senhor parar com os jogos de azar.
Ethan sentou-se ao lado dela no sofá. Estendeu a mão, pousando em seu joelho.
— Eu sempre dei a você o melhor de mim, apesar das minhas falhas – ele hesitou, buscando as palavras certas – mas porque você está aqui?

Ele forçou um sorriso e Ashley quase perdeu a calma por vê-lo fugir dos assuntos tão facilmente.
— O Oliver me deixou vir passar aquela temporada com o senhor – disse ela suspirando, enquanto sentia a barriga corroer de fome.
— Achei que isso demoraria mais alguns meses.
— Mudanças de planos, papai – Ashley começou a acelerar a conversa – conversamos sobre isso depois.

Ela se levantou e caminhou até a cozinha, deixando Ethan sentado, com uma ruga de preocupação bem no meio da testa. Era claro que ele tinha muitas perguntas para fazer, mas Ashley precisava acordar cedo no outro dia e sua cota de paciência com o Ethan já havia se esgotado.
Deixou o pai cochilando na sala com a TV ligada e se direcionou ao quarto de hóspedes. Rapidamente pegou no sono e acordou assustada com o som visceral que o despertador do seu celular fazia. A gravidez estava fazendo Ashley sentir sono a mais do que deveria e aquilo trazia sobre ela uma carga enorme de estresse e ansiedade.
Se levantou com dificuldades e se arrumou para sair. Procurou Ethan pela casa inteira e encontrou apenas um pequeno bilhete pregado na porta da geladeira.
“Sai para caminhar”
Ashley achou estranho e engraçado ao mesmo tempo. Estava aí algo que ela não conhecia sobre o próprio pai. Ethan agora estava cuidando da própria saúde, ou tinha um motivo a mais escondido por detrás das suas intenções? Ashley ficou pensando sobre isso enquanto tomava o seu café. Ele ainda era um homem jovem e desde que sua mãe havia ido embora, Ethan nunca mais se relacionou com nenhuma outra mulher. Talvez uma figura feminina na vida dele o fizesse repensar sobre os seus princípios ou pioraria tudo de vez.
Enquanto chamava um Uber, deixou outro recado também na porta da geladeira.
“Fui ao posto de saúde. Consulta marcada”.
Eles sempre tiveram aquela mania de avisar reciprocamente com recados pregados na porta da geladeira. Nem com a chegada da tecnologia, esse hábito mudou. Ethan parecia odiar a modernidade. Tinha um celular, mas não usava. Achá-lo naquela cidade era quase impossível.
Quando se certificou que o Uber já estava próximo da residência, ela saiu. Assim que pisou na rua teve a sensação de que alguém a observava e ficou com esse sentimento durante toda aquela manhã.
Quando, enfim, concluiu a consulta e saiu do prédio, seu celular tocou. Por um instante ela se esqueceu que atravessava a rua e quando estava preste a atender, ouviu o barulho do carro vindo na sua direção em alta velocidade. Por instinto, talvez, ou por sorte, Ashley projetou o corpo para trás, rapidamente, e por muito pouco não foi atropelada. Com a queda, veio também o medo, ela sentiu a dor explodir em sua barriga, desencadeando ondas de enjoos. Estar perto do posto a ajudou. Logo ela foi levada de volta para dentro do prédio e examinada novamente. Suspirou aliviada por saber, que mesmo diante do susto e da queda, nada afetou a gravidez.
No caminho de volta a casa, Ashley pensava no acidente e quem seria a pessoa atrás do volante. Talvez fosse paranoia, mas ela sentia que aquilo não havia sido um acidente. Alguém queria atropelá-la. Tentou buscar na memória a imagem de quem dirigia, porque Ashley tinha certeza de que havia olhado para o motorista. Mas tudo o que se lembrava era um borrão.
Quando chegou em casa, contou a Ethan o que havia acontecido.
— Você deveria ter me falado – ele fitou os olhos de Ashley, apreensivos – eu podia ter acompanhado você, Ashley.
— Então a culpa é minha por alguém querer me atropelar?
— Você acha que foi intencional?
— Eu não sei pai – mas Ethan não se convenceu da resposta dela – eu não consigo me lembrar do rosto de quem estava dirigindo.
Já entendi. Ethan teve vontade de dizer. Você deve estar enganada ou confusa. Em vez de falar com ela, ele caminhou para o escritório da casa e ligou para o Oliver. Ele tinha consciência que Ashley reprovaria sua decisão, mas Ethan sentia que aquilo era o melhor a ser feito.
Quando encerrou a ligação, voltou para a sala e Ashley estava na cozinha, bebericando o seu café. Ethan ouviu o pão saltar da torradeira. Ashley abriu a gaveta e pegou uma faca, fechando em seguida. Passou a manteiga no pão e deu uma mordida. Estava aparentemente despreocupada, mas Ethan não estava. A ideia de que o atropelamento podia ter sido provocado, o incomodava. Ele precisava descobrir a verdade e sentia que Ashley escondia informações importantes dele.
Meia hora depois alguém bateu na porta. Ashley estranhou, perguntado se o Ethan teria visitas naquele dia. O homem não a respondeu, apenas caminhou em direção à entrada, já sabendo de quem se tratava.
Dez segundo depois, Ashley arregalou os olhos sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Oliver parou na sua frente, ofegante, aparentemente preocupado. Ashlley olhou para o Ethan em silêncio, mas ele sabia o que aquilo significava.
— Vou deixá-los a sós – saiu, subindo as escadas, deixando Ashley sem entender nada do que acontecia.
Ainda em silêncio ela observava o homem a sua frente. Era como se o Oliver não soubesse o que dizer.
Como ele justificaria aquela atitude?