Na manhã seguinte, depois de rolar na cama por horas porque os seus pensamentos não a deixavam dormir, Ashley seguiu para o andar de baixo, segurando uma mala, já pronta para ir à casa do seu pai. Ela sentia-se aliviada, por saber que ficaria longe do Oliver pelos próximos meses. Quando desceu o último andar, correu os olhos pela mansão e viu Oliver falando ao celular. Havia algo estranho e perturbador no semblante dele assim que encerrou a ligação e olhou para Ashley.
— O que está fazendo? – ele deu um passo em direção a ela.
— Vou para casa do Ethan – anunciou. Quando notou sua expressão intrigada explicou – você não esqueceu do nosso acordo, não é mesmo?

— Eu nunca disse nada sobre você ir tão depressa – comentou ele, abaixando o olhar logo em seguida – Preciso fazer uma viagem e você virá comigo.
Aquilo era uma fonte constante e exaustiva de inquietação, que Ashley estava cansada de ter que viver. Ela sabia que aquele casamento falso estava a esgotando.
— Uma viagem? – Perguntou com urgência, porque precisava acalmar seu coração – Quantos favores eu terei que fazer para você, Oliver, até enfim ser livre?
— Sabe quantas mulheres gostariam de estar no seu lugar, Ashley? – Ele ainda vociferava perguntas quando se aproximou ainda mais dela – Olhe para essa mansão e para vida boa que eu te ofereço.
— Se há tantas mulheres assim, por que não se casou com uma delas? – falou ela lentamente – e o seu dinheiro não pode comprar a minha liberdade.
— É claro que não! – as palavras dele ampliaram o nervosismo que invadia Ashley – eu não tenho tempo para esse tipo de conversa. Partimos em uma hora.

As palavras se repetiam na cabeça de Ashley, deixando-a cada vez mais agitada. Oliver estava estragando todos os seus planos naquele exato momento.
— E se eu não quiser ir? – os nos dos seus dedos estavam brancos de tanto apertar a alça da mala. Oliver parou no meio da escada e olhou mais uma vez.
— Você não tem escolha Ashley – A sombra de um sorriso de formou em seu rosto – casou-se comigo para me obedecer.
Ashley chegou a acreditar que conseguiria convencê-lo, mas falhou miseravelmente. Até pensou em tentar mais uma vez, mas antes de concluir o raciocínio, Oliver desapareceu, deixando Ashley frustrada.

Depois de alguns minutos parada no mesmo lugar, ela enfim, largou a mala no chão e caminhou em direção a mesa de jantar. Se esforçou ao máximo para se alimentar, já que os últimos acontecimentos a enjoava ao ponto de querer colocar tudo para fora. Vinte minutos depois, Oliver desceu as escadas, segurando uma mala.
— Posso saber ao menos para onde vamos? – deu uma última mordida na maça.
— Washigton – Oliver achava que não devia nenhuma satisfação a ela, mas sabia que Ashley poderia ajudar muito mais com a sua presença - a sociedade vai fazer uma conferência e escolher os novos membros.
Um sorriso no canto do rosto se formou. Ashley entendia tudo.
— Precisa da minha ajuda – sentiu-se satisfeita em saber que de algum modo, Oliver dependia dela.
— Não necessariamente – Ele a olhou pela última vez, pegou a mala de Ashley que estava no chão e andou de volta a saída da casa – você precisa mais de mim, acredite.
Ashley riu. Ela havia finalmente se levantado e saído da mansão em direção ao carro estacionado na entrada. Oliver jogou as malas no banco do carona e sem nenhuma cerimônia entrou no carro esperando por ela. Quando entrou, observou ele girar a chave, manobrando o carro até o caminho de cascalho. Cinco minutos depois estavam na estrada principal e Ashley estranhou o fato de estar sentindo-se confortável ao lado de Oliver. Meia hora mais tarde pararam o carro no estacionamento do aeroporto. O trajeto foi silencioso, mas só em estar ao lado de Oliver trazia sobre ela a atenção que Ashley não estava acostumada.
O aeroporto fervilhava. Eles foram para a fila de embarque e os olhares, muitos deles ambiciosos, incomodavam Ashley. O Oliver chamava a atenção. Era um homem bonito, barba por fazer, terno tão bem passado. Tinha uma postura segura e ela se sentia pequena perto dele. Não era ruim. Ela não pretendia fazer parte daquele mundo e sabia que logo estariam separados e que Oliver seria apenas uma péssima lembrança do seu passado.
Só foi perceber o quanto estava cansada, quando se sentou ao lado dele no avião. Ashley nunca tinha andado de avião. Sentiu medo da sensação que teria, e dos enjoos que certamente apareceriam entre uma turbulência e outra. Oliver não poderia descobrir sobre aquela gravidez e Ashley até se arrependeu por não o ter enfrentado mais e impedido aquela viagem.
Seria uma viagem rápida, tipo bate e volta? Ela não tinha a menor ideia. Mas Ashley logo pegou no sono. Quando acordou, percebeu que sua cabeça estava recostada sobre os ombros de Oliver, que aparentemente não se incomodou. Se afastou imediatamente, enquanto ele ajeitava o paletó de forma fria e sem olhá-la.
— Por muito pouco não sujou o meu paletó babando nele – ele se inclinou um pouco para trás e fechou os olhos.
— Eu não faço essas coisas – sentiu que suas bochechas coraram ao mesmo tempo que Oliver ria.
Ela achou o sorriso dele lindo. Mas quando percebeu as intenções dos seus pensamentos, tratou de afastá-los e no lugar colocou as certezas de que ele era rude e mal caráter.
Antes do avião aterrizar, Ashley se questionou por que Oliver não tinha um jatinho particular, ou porque não alugara um. Havia muitas coisas sobre ele as quais Ashley não tinha o menor conhecimento. Em que ele trabalhava? De onde vinha todo aquele dinheiro? Por que era tão importante para ele fazer parte daquela sociedade? Era estranho imaginar que estava casada com um completo desconhecido. Talvez, conhecer os segredos dele a protegeria de futuros danos ou a faria o odiar mais.
Quando desceram do avião e se dirigiram ao portão de desembarque, Oliver fitou os olhos de Ashley.
— Um amigo estará nos esperando – pigarreou – aja como uma boa esposa e não deixe ninguém desconfiar que isso é uma farsa.
— E quando foi que eu permitir que isso acontecesse?
Oliver parou e continuou a olhando. O rosto de Ashley estava parcialmente mais bonito do que a última vez que ele realmente havia reparado nela. Sua voz era um chamado doce e sedutor. Pelo menos ele tinha essa impressão.
— O que eu estou querendo dizer – engoliu a seco, afastando o olhar do dela - é que você terá a chance de conquista a sua liberdade parcialmente caso eu consiga entrar para a sociedade.
— Estou amarrada a você por dois anos.
— Dois anos passam rápido Ashley – voltou a caminhar – eu também odeio estar casado com você, mas pensa no Ethan e na vida boa que ele está levando as minhas custas.
Oliver conseguiu atingi-la em cheio. Ela não sabia se havia ficado frustrada pelo comentário ou por saber que ele odiava estar casada com ela. Esse pensamento deveria tê-la assustado, mas não foi o que aconteceu. Enquanto ela passava as mãos sobre o cabelo desgrenhado soube que teria uma longa jornada para enfrentar ao lado daquele homem. Uma difícil jornada.