Oliver
“O que eu estou fazendo?”
Ele parou ainda no meio do corredor que dava acesso ao quarto onde Ashley estava. Ofegante, sentindo a preocupação consumi-lo, Oliver realmente não entendia o porquê se importava tanto com Ashley naquele exato momento.

Esfregou as têmporas enquanto recobrava a razão. Ashley havia arrumado um grande problema para ele quando convidou o Filipe para ir até lá, depois de confessar que Stefany vinha visitando a mansão. Abriu os olhos olhando fixamente para o quarto, que a muito tempo ele não entrava. Tentou buscar na memória os meses exatos em estava casado com aquela menina. Era exatamente isso que Ashley era para Oliver, uma pobre menina, oferecida como sacrifício pelo próprio pai, para que o diabo o tirasse da miséria a qual ele mesmo havia se enfiado. Mas ele não se lembrava, porque a sensação que Oliver tinha é que aquele casamento já havia acontecido há muito tempo. Fechou os olhos novamente já disposto a virar as costas e voltar, mas o barulho que vinha do quarto de Ashley o chamou a atenção.
Quando Oliver percebeu já estava dentro do quarto dela, caminhando apressado em direção ao banheiro. Ashley estava sentada no chão frio, com a cabeça baixa ao lado do sanitário. Oliver se perguntou como um vomito podia fazer tanto barulho assim.
— O que está fazendo aqui? – Com uma postura que mulheres da idade dela jamais teria, Ashley manteve a calma, mesmo sabendo dos riscos que o seu segredo corria de ser descoberto.
— O que está acontecendo com você, Ashley? – A voz saiu fria, sem nenhum vestígio de sentimentalismo. O que fez Ashley levantar o rosto cansado e olhar bem nos olhos dele.
— Não vejo ninguém por perto para que finja tal preocupação – com a mão apoiada na borda do vaso, Ashley se levantou, ficando frente a frente com o seu marido.
Oliver engoliu a seco. Sentiu-se fraco por abaixar a guarda e ter ido até ali, ver como ela estava.

— Só vi me certificar que você não está fingindo um mal-estar, para no fim das contas, colocar toda a culpa em Stefany.
— Pobre Stefany! – Foi ironicamente provocante – afligida pela esposa do próprio amante. Eu realmente sou um monstro.
Segurou o longo vestido que vestia, levantando-se até o meio da canela e saiu do banheiro, esbarrando-se em Oliver.
— Não seja imatura, Ashley! – Disse ainda de costas, sua voz repreensivamente alta – este casamento não é real, então não existe razões para termos esse tipo de conversa.

— Está aí uma coisa que eu concordo com você – tirou os sapatos que calçava e logo em seguida lançou um olhar afiado em direção a ele – sendo assim, retire-se do meu quarto, porque não tenho nada a falar com você.
Essas palavras fizeram Oliver travar o maxilar e controla-se para não demonstrar o seu lado mais cruel. Mas ele sabia que estava sendo fraco demais com ela, coisa a qual ele jamais foi com outra mulher. Oliver era o tipo de homem que precisava ter certeza do domínio que obtinha sobre os outros. Ele precisava ter esse domínio. Mas essas coisas pareciam não funcionar com Ashley. A pobre menina não tinha medo dele.
— Escuta bem o que eu vou te dizer, Ashley – não percebeu o momento em que se aproximou dela e a agarrou pelo braço – vai desfazer a confusão que causou com o Filipe e de brinde vai dispersar essa soberba e não me provocar mais.
— Não me parece um bom negócio – sentia a pele queimar conforme ele apertava o seu braço, mas Ashley continuava o encarando sem nenhum temor – já o ajudei bastante quando pedir para que Stefany não viesse mais a essa casa.
Ele a soltou violentamente, a jogando sobre a cama.
— Você se acha esperta demais e esquece que eu posso arruinar a sua vida e a do Ethan também.
— Vai em frente - ela tinha vontade de chorar, mas se conteve – não vejo como algo ser pior do que está casada com você.
Oliver estava sendo provocado por uma garota de dezoito anos. Ele mal podia acreditar.
— Me deixe passar um tempo na casa do meu pai – com o coração socando o peito, Ashley começou a colocar o plano em prática – já que esse casamento é de mentira, não há por que me manter aqui.
— Não posso! – Foi enfático – eu ainda não consegui entrar para a sociedade e preciso de você ao meu lado pelos próximos meses.
— Meses? – Foi nessa hora, que o medo a qual ela escondia, se revelou, fazendo Ashley estremecer.
— Reuniões importantes, jantares, viagens – explicou sem empolgação – para que eu consiga firmar um negócio dessa proporção, meses serão necessários.
Ashley já não conseguia dizer mais nada e Oliver percebeu que essa notícia havia a deixado perturbada.
— Tem algo mais importante para fazer nesses próximos meses? – Foi irônico e ao mesmo tempo investigativo. – Por que estava vomitando? A comida estava tão ruim assim?
— Certamente! – Agora ele estava diante de uma menina frágil e medrosa, que encolhia o corpo a cada questionamento – É indigesto ficar ao lado da Stefany.
Oliver sentiu vontade de rir da inocência de Ashley. Analisou a garota por alguns minutos e decidiu não falar sobre o que estava pensando.
— Arrume-se e desça para se despedir do Filipe – mudou o rumo da conversa – caso você decida arrumar a bagunça que causou, eu pensarei com cuidado em deixá-la ficar alguns meses com o seu pai.
Olhou para ela pela última vez, que ainda parecia frágil, diferentemente da menina que o confrontou minutos atras, e caminhou em direção a porta.
— Faça a sua parte, Ashley – disse – que a recompensa certamente virá.
Oliver saiu do quarto e enquanto voltava para o andar de baixo se convenceu que aquele era o melhor caminho para lidar com Ashley. Agora ele só precisaria aprender a lidar com todo o resto.