Capítulo 21
2294palavras
2024-11-12 05:14
Não parecia, mas tinha se passado uma semana e tudo o que tinha conseguido foi trocar algumas mensagens com Maria, poderia ter passado no restaurante na hora do almoço ou antes, mas como minha mãe com os movimentos limitados e Will sendo uma criança saudável, correndo e pulando o dia todo, ela precisava de ajuda.
Durante a noite a mãe de Brutos vinha para ficar com ela, mas durante o dia era uma verdadeira loucura. Entre fazer almoço, dar banho em Will, dar comida pra ele, brincar com o garoto para mantê-lo ocupado, ajudar minha mãe a tomar banho e ainda cuidar do bar, não tive tempo o suficiente nem de dar a atenção que queria ter dado a ela.
O domingo já tinha chegado e meu filho já tinha me acordado para o almoço, a casa estava lotada como sempre, mas meu animo tinha desaparecido. Não tinha tanta necessidade de me sentir assim, só que de certa forma eu havia pensado que seria diferente.
Com Luna tinha sido fácil, ela estava comigo a todo momento no Devil's já que trabalhávamos lá, então não teve nenhum esforço de fazer os horários baterem. Até convidei Maria para ir ao bar na noite passada, mas ela me disse que teria que acompanhar a irmã em um ensaio. Não me disse mais nada e eu não insisti, ela estava tão ocupada quanto eu.
E foi assim que a semana acabou, ela lá, eu aqui e esse gosto ruim na boca, como se tivesse perdendo algo.
— O que aconteceu pra estar com essa cara? A donzela em perigo te deu um pé na sua bunda? — Brutos chegou por trás me pegando de surpresa.
As mãos apertaram meus ombros e antes que eu tivesse a chance de entender o que ele pretendia o infeliz puxou meus ombros me fazendo cair de costas no chão.
— Não acredito! Já conseguiu levar um pé na bunda? Qual é Tigrão, não acredito que não aprendeu direito. — Denis se juntou, sempre os dois putos. — Pensei que depois de velho estaria mais treinado em como ganhar o coração de uma mulher.
Eu continuei lá, deitado no chão olhando o céu de um tom cinza, as nuvens pesadas para ser apenas duas da tarde de um dia que prometia ser ensolarado na previsão, mas nada de novo em São Paulo com o clima instável.
Kai surgiu em meu campo de visão e estendeu a mão sem falar nada, o semblante era o mesmo de sempre, aparentando estar entediado com tudo a sua volta. Assim que vi que ele não faria nenhuma piadinha aceitei a mão e me levantei.
— Se quiser uma ajudinha com a garota pode deixar comigo. — o filho da puta falou com um sorriso preguiçoso no rosto e os outros dois começaram a gargalhar atrás de mim.
— Vamos logo jogar, porque se eu ouvir mais um pio sobre esse assunto a porrada vai rolar solta. — murmurei irritado e cansado daquela conversa, mesmo que soubesse que eles não passariam muito tempo com eles calados.
Graças ao meu pai o quintal era grande o suficiente para comportar a família comendo perto da casa enquanto nós jogávamos bola a uma pequena distância. Dividimos os times e começamos, o céu ainda estava pesado prometendo uma chuva para dali em alguns minutos.
Denis jogou a bola, corri para pegar e Brutos me deu um carrinho, me fazendo cair na grama com força e longe do gol. Uma coisa sobre jogar nessa família, não existia esse negócio de falta, tudo era válido, o que acabava tornando a coisa toda bem selvagem.
Respirei fundo me erguendo e marcando, o próximo a cair seria ele. Kai arrumou a jogada e a bola veio para o meu lado, era hora de fazer o gol. Mas Denis surgiu no meu caminho e viramos quatro pernas brigando pela bola, antes que eu notasse já eram seis.
— O que aconteceu cara? Ela não quis transar com você? — o filho da puta sabia como me distrair e tirar minha cabeça do jogo. Foi só ele falar isso para conseguir roubar a bola dos meus pés e correr para o outro lado.
— A gente veio jogar ou conversar Jhonatan? — provoquei usando seu nome de batismo e tive que rir quando ele ergueu o dedo em minha direção.
— Qual é tigre, é só dizer a verdade. Todo mundo sempre achou que você tinha problemas lá em baixo mesmo. — Denis entrou na provocação me empurrando com o corpo todo me fazendo sair do caminho.
Brutos correu para o gol, mas Kai segurou a bola de forma perfeita, ele chutou a bola para Bob que matou no peito, driblando Douglas que parecia mais estar no meio de campo só ocupando espaço. Assim que passou a bola pra mim eu corri, Denis surgiu no meu campo de visão, pronto para dar um encontrão comigo, mas eu segurei firme sua camisa e nos dois rolamos no chão.
Kai pegou a oportunidade e correu com a bola nos pés até o gol.
— Isso é pra vocês aprenderem! — gritou comemorando. — Não mexam com o tigrão só porque ele é ruim de cama.
Meu dedo do meio foi a primeira coisa a se erguer, antes que meu corpo fosse puxado para cima.
— Mas sério mesmo cara vocês transaram? — sorri do desespero deles, pareciam Marias fofoqueiras e então apenas com esse nome passando na minha cabeça eu me lembrei dela gemendo em baixo de mim. Tudo o que fiz foi acenar com a cabeça respondendo eles. — E porque você tá com essa cara de quem comeu e não gostou? Não existe essa porra cara, é boceta, não tem o que não gostar.
— A não ser que você tenha mudado de time. — Brutos passou o braço em meus ombros alisando minha pele de forma ridícula e eu lhe dei um tapa, mandando sua mão pra longe.
— A gente transou e foi maravilhoso, ela é perfeita. — murmurei pegando a bola das mãos do Bob. — Vamos embora jogar, quero terminar esse jogo antes que comece a chover!
— Não foge não porra! Que merda aconteceu então se ela é perfeita? — Brutos insistiu.
Ele melhor do que ninguém sabia a hora de me deixar quieto e a hora de me botar contra parede para me fazer falar.
— Sei lá, a gente conversou sobre... sentimentos. — comecei tentando buscar o motivo da minha irritação. — Mas quanto a isso estamos na mesma página! — emendei antes que as matracas começassem a falar besteira sobre essa parte.
Tínhamos concordado que havia algo a mais entre nós do que só atração. e eu não tenho dúvidas que estava me apaixonado, estava adorando cada minuto com ela e queria mais.
— E qual foi a merda da vez?
— Nossas rotinas. Nossos horários são totalmente opostos, faz uma semana que não nos vemos, tudo o que conseguimos foi trocar algumas mensagens. — resmunguei já sentindo os pingos grossos, anunciando que a chuva não ia ser leve. — Quando estou indo dormir ela está começando o dia, quando eu acordo ela está trabalhando e o horário que Maria finalmente fecha é a minha hora de ir para o bar. É caótico e mesmo os dois dizendo que queremos nos ver não funciona, nossos horários não batem!
— E é por isso que você está com essa cara a semana inteira? Só porque o horário não bate com o dela? — Denis questionou soltando um palavrão e me dando um empurrão.
— Se o problema é horário é fácil de resolver. Você vai lá agora! — Kai afirmou me fazendo acenar com a cabeça.
— Você tem estado rodeado de mulheres que seguem seus horários, várias clientes que frequentam seu bar ou o clube, a maioria inclusive que você levou pra cama, mas que em nenhum momento te fizeram querer mudar seu rodízio infinito de sexo e isso já faz quatro anos! — Brutos voltou a conversa dando o golpe final, ele sabia ler as pessoas como ninguém. — Então vai deixar a mulher que finalmente te fez sentir alguma coisa novamente, vai jogar isso pela janela só porque você tá com medo?
Respirei fundo recebendo aquilo como um soco no estômago. Eu estava com medo? Não fazia ideia da resposta. Era horrível me sentir assim, a barriga parecia querer se revirar, se apertando em ansiedade e eu nem sabia o maldito motivo.
Só de pensar nela a sensação agoniante de não saber o que ia acontecer, não ter a mínima noção do próximo passo a tomar, meu coração explodia no peito quase a ponto de sufocar, o estômago parecia um pássaro prestes a voar e as mãos soavam.
Parecia um maldito dia de prova oral em que você tem que ficar de frente a sala toda e responder algo que você não foi preparado antes.
— Não sei porra. É tudo diferente, não é a mesma coisa que foi com a Luna, tudo era mais fácil com ela, mais simples. — coloquei pra fora a angústia que me consumia. — Por mais irônico que possa ser, com Luna era calmaria comparado ao vendaval que sinto prestes a me atingir toda vez que estou com Maria. Nós tínhamos a mesma vida, a mesma rotina, trabalhávamos no mesmo lugar, passávamos vinte e quatro horas no clube. Eu não precisava me esforçar para caber na rotina dela, não precisava perguntar como foi seu dia ou contar do meu porque era o mesmo maldito dia! Luna sabia tudo de mim, da coisa mais idiota a coisa mais perigosa.
— Porra. — Kai sussurrou, mas eu ainda não tinha acabado.
— Nunca senti isso, sei que parece com estar apaixonado, mas ao mesmo tempo é assustadoramente novo! Me sinto a merda de um adolescente com a primeira garota. Luna me dava uma segurança que Maria não passa, ela não quer um relacionamento, nunca esteve apaixonada por ninguém! Que pessoa com vinte e cinco anos nunca esteve apaixonada uma vez na vida? — gritei exasperado jogando a bola no chão. Já não me importava com a chuva que continuava a cair, eu tinha aberto minha própria comporta interna e não ia fechar até colocar tudo para fora. — Até nossas idades são fodidamente diferentes. Dez anos! Eu sou dez anos mais velho que ela! Ela vai para o pagode e eu para um bar de motoqueiros! A gente nem combina, não temos nada incomum, nós dois não faz o menor sentido! É a coisa mais estúpida que já fiz.
— E mesmo assim você está louco pra vê-la de novo. — Brutos foi o primeiro a falar assim que cessei meu momento de loucura.
— Cara, se você for entrar nessa comparado ela a Luna ou com seu relacionamento, isso nunca vai funcionar. — Denis me aconselhou.
Ele sempre foi o coração da turma, como costumávamos chamar, nunca foi de pegar todas ele sempre preferia arrumar uma garota e namorar sério. Mesmo antes de conhecer sua mulher sempre foi assim.
— Ela não é a Luna, nem nunca vai ser. Ninguém nunca vai ser. — Brutos emendou. — E se é novo e assustador talvez seja disso mesmo que você precise, alguém pra colocar essa sua bunda nos trilhos.
Encarei os três brutamontes ao meu redor, homens altos, fortes e cabeludos, tirando Kai que era magro e raspava a cabeça. Três homens barbados cobertos de tatuagens, com cara de poucos amigos estavam me dando uma aula de relacionamento.
Me virei para casa avistando minha moto parada de lado, todos os outros já tinham entrado em casa para se abrigar da chuva. E aqui estávamos nós tentando decifrar o que eu estava sentindo.
— Tá esperando o que? Vai atrás dela de uma vez! — Kai bradou ao meu lado me empurrando com força em direção a moto.
Era estupidez, eu sei! Subir na moto com aquela chuva, chegar na casa dela sem saber se era bem-vindo, sem saber se ela ao menos estava em casa. Mesmo assim eu o fiz. Buzinei quase em desespero quando cheguei na sua porta, então puxei a moto até a parte coberta e bati na porta mais alguma vezes. Estava pronto para sentar ali e esperar até que ela chegasse ou que o frio e a chuva me fizessem congelar.
— Já estou indo, cassete! — foi o resmungo segundos antes que a porta se abrisse e ela preenchesse meu campo de visão.
Os olhos castanhos se ergueram levemente em surpresa, a boca ficou parada entre aberta e a mão no ar, prestes a brigar. Mas não demorei mais tempo em minha analise, segurei seu rosto e a puxei para um beijo.
Os lábios pareciam se moldar com perfeição aos seus, minha língua se enroscando na sua com promessas do que viria a seguir. Maria gemeu sem se importar de estarmos na porta da sua casa e puxou minha blusa, até sentir o tecido frio e molhado contra sua mão.
— Botas fora! — foi a primeira coisa que falou quando me soltou e não era um pedido.
Sorri enquanto assisti ela se afastar, usando... Era minha camisa? Tirei as botas deixando do lado de fora e assim que coloquei um pé para dentro vi o caminho de tapetes que ela tinha feito até o banheiro.
— Minha blusa, hã? — sorri diante da cara dela de inocente, mas vê-la assim, usando apenas a blusa que eu tinha esquecido ali, atiçou uma parte dentro de mim que eu não me lembrava há muito tempo.
— Banheiro. Agora! — ordenou já apontando para o lugar.
Fui sem questionar, agradecendo pela água quente levando embora o frio que a chuva deixou.