Capítulo 14
1451palavras
2023-10-09 18:13
Ponto de vista da Madrina
Já faz uma semana que estou morando neste buraco infernal, e nada parece estar indo como quero, nem mesmo o plano de fuga que eu estava bolando. Veja, para que meu plano dê certo, Derek tem que pelo menos reconhecer a minha existência, mas em vez disso, ele parece me detestar.
No entanto, tive um avanço, acredito que tenha feito progresso na minha relação com os vampiros. Não que eu tenha tido uma conversa real com algum deles, porém não os ignorei nem tive um colapso quando os vi, o que já acho um grande passo para mim.
Acredito que eles devem estar pensando que eu "finalmente" estou me acostumando com a nova casa, e provavelmente por isso ainda não se alimentaram de mim.
Vasculhei a minha mala e sorri quando encontrei a pequena caixa de madeira que procurava guardada embaixo de algumas roupas, então a peguei com cuidado e coloquei sobre a penteadeira antes de abri-la.
Era nela que estava o medalhão que o meu pai havia me dado. Fitei a única foto que tinha dos meus pais, ambos sorrindo genuinamente, com as bochechas levemente pressionadas uma contra a outra, depois fechei o medalhão rápido, piscando para afastar as lágrimas enquanto endireitava a postura. 'Calma Madrina, não é como se você nunca mais fosse vê-los.'
"É melhor eu me arrumar." Murmurei para mim mesma, olhando para o enorme relógio pendurado na parede. Eram 19h30, quase hora do jantar e não podia me atrasar. Afinal, essa era a minha rotina: comer o mais rápido possível e sair da sala.
Corri para escolher uma roupa enquanto me despia e, após um tempo, suspirei e peguei um enorme suéter cinza e um short preto. Porém, ao colocá-los, percebi que o suéter chegava até o meio das coxas, cobrindo o short que eu usava por baixo.
"Não, melhor ir com uma calça." Eu me virei para pegar uma legging preta quando a porta se abriu, e Alice entrou, usando um vestido que mal cobria, bem... qualquer coisa. 'M*rda, esqueci de trancar a porta.'
"Tenha mais cuidado, e se fosse um dos caras?!" A minha voz interior me alertou, e suspirei antes de encarar Alice, que agora caminhava até a minha penteadeira.
"Hoje haverá um banho de sangue." Estreitei os olhos ao vê-la murmurar baixinho. "Como assim?" Perguntei, observando-a pegar o meu colar e zombar da foto ao abrir o medalhão. "Se não tem nada a dizer, vá embora." Falei baixinho, e ela se virou para me encarar, seus cabelos castanhos e grossos caindo perfeitamente para o lado.
"Estou só te avisando, para caso você queira ficar no quarto..." A garota zombou, franzindo as sobrancelhas em aborrecimento. "De novo." E acrescentou, encostando-se na mesa e olhando para mim.
"Por favor, coloque o colar no lugar." Eu disse, fechando o guarda-roupa e exalando profundamente. 'Acho que terei que me trocar quando ela for embora.'
"Só estou te avisando, Madrina. Hoje a comida dos meninos será diferente e..." Ela fez uma pausa, colocado o colar entre os dedos. "A bebida também."
Eu a encarei, incrédula. "O que você quer dizer com isso? Achei que eles se alimentavam à meia-noite ou lá fora, onde..." "Aqui é a casa deles. O que você esperava? Que eles ficariam bonzinhos pra sempre só porque somos novatas?" Ela me interrompeu, e eu engoli em seco, balançando a cabeça.
"Eu não vou então. Não posso vê-los bebendo..." Parei, colapsando com o pensamento de que eles tomariam sangue humano como bebida, em vez de vinho. "É por isso que estou aqui, querida, para te avisar antes que desça." Alice disse com uma risadinha, enquanto agarrava o meu medalhão com força e caminhava até a porta.
"Espere, esse colar é meu..." "Você o quer? Então, venha pegá-lo." Ela provocou, como se tivesse tirado doce de uma criança, e eu franzi as sobrancelhas. "Isso não tem graça, foi o meu pai que deu..."
Antes que eu terminasse de falar, Alice saiu correndo do quarto e, com um grunhido baixo, corri atrás dela. "Vou jogar fora essa m*rda inútil!" Eu a ouvi gritar do outro lado do corredor e comecei a entrar em pânico. "Não, isso é meu..." Saí correndo atrás dela, temendo perder a única coisa que me lembrava dos meus pais, para não mencionar minha vida passada.
Porém, assim que cheguei à metade do corredor, meu rosto bateu num peito sólido e duro, e tropecei para trás antes de recuperar o equilíbrio. "Desculpe..." Parei quando notei Derek com a testa franzida, examinando-me da cabeça aos pés antes de inclinar a cabeça para o lado, bem devagar, devo acrescentar, deixando-me muito desconfortável.
"Qual é o motivo da pressa, cara de boneca?" Ele perguntou, com a máscara inexpressiva de sempre, e eu estremeci ao ouvir sua voz. "Eu... o meu colar..." Bufei, ficando na ponta dos pés para procurar Alice por cima dos seus ombros, mas para minha decepção, ela não estava em lugar nenhum.
"A Alice pegou o meu colar, e ele é muito precioso para mim. Preciso recuperá-lo." Expliquei já me afastando para correr atrás da ladra, quando ele agarrou o meu pulso. "Pra que ficar tão nervosa por causa de um colar estúpido?"
Eu o encarei, um pouco frustrada por ele estar me impedindo de ir atrás da Alice sem um motivo específico. "Foi o meu pai quem me deu esse colar, e ele é a única lembrança que tenho dos meus pais." Respondi, com lágrimas brotando dos olhos, e Derek "fez uma careta" após me encarar por alguns segundos.
"Chorar por coisas inúteis é a sua especialidade, né?" Ele murmurou exasperado, e eu fiquei em silêncio diante das palavras rudes. "Espere aqui."
O vampiro desapareceu do corredor e, em cerca de 10 segundos, reapareceu, assustando-me. Eu já deveria estar acostumada com os poderes deles, mas vamos lá, qualquer um teria um miniataque cardíaco se alguém aparecesse do nada na sua frente!
Derek ergueu o colar com o dedo indicador, e um sorriso se espalhou pelo meu rosto quando estendi a mão para agarrá-lo, porém desapareceu quando o homem não me deixou pegá-lo.
Ele puxou a mão, e eu o encarei. "O-Q-E-G-C-I", ele disse algumas letras, dolorosamente devagar, e eu fiquei confusa. "O que eu ganho com isso?" Ele esclareceu, e eu o mirei, incrédula. "E-eu não sei? Não achei que tivesse que pagar um preço." Murmurei, e balançou a cabeça enquanto se encostava na parede atrás dele, murmurando algo para si mesmo. "Tudo na vida tem um preço, cara de boneca."
Dei de ombros, puxando a ponta do meu suéter, quase esquecendo que estava só de short, então olhei para cima e afastei o desconforto ao ver os olhos de Derek mudando rapidamente das minhas coxas para o meu rosto.
"Venha jantar esta noite se o quiser de volta. Eu sei que você está planejando não ir." Ele falou, levantando a voz, e eu neguei com a cabeça. "Não, esta noite não." Meu cabelo dançava em volta do rosto enquanto eu balançava a cabeça.
"Estou tentando ser legal aqui." Sua voz ficou baixa e fria, e ele deu um passo à frente, com os olhos ficando um pouco mais escuros enquanto eu engolia em seco. "Então sugiro que você tente fazer o mesmo, Madrina."
O vampiro me lançou um olhar provocativo, e eu fiquei em silêncio, perdida nos seus olhos azuis por um segundo antes de voltar à realidade. "Tudo bem..." Cedi, e um sorriso vitorioso apareceu no rosto dele antes que se virasse e começasse a andar.
"Espere!" Eu o chamei e o alcancei, até que começamos a andar lado a lado. "O meu colar." Eu o lembrei, mas ele me ignorou, deixando-me irritada. "Só vou devolvê-lo se você conseguir se comportar esta noite." O meu coração disparou com as suas palavras.
"Estou me comportando bem agora, mas não posso prometer nada esta noite, porque todo mundo vai se alimentar na mesa de jantar e..." Parei de divagar quando Derek assobiou antes de se virar para me encarar, fazendo-me parar no lugar. "F*da-se!"
Meu queixo caiu com tamanha amargura, uma pessoa só pode ser rude até certo ponto. Fiquei em silêncio, e o segui, vendo-o marchar até a sala de jantar.
Rick, Santiago e Felipe já estavam na mesa, e em pouco tempo todos se juntaram a nós. "Venha sentar ao meu lado, querida, você está linda pra c*ralho." Morin me elogiou, e eu fiquei parada no mesmo lugar enquanto todos me encaravam. As meninas fizeram cara feia e zombaram da minha estranheza, mas não pude evitar.
Após um tempo, sentei-me, e meu estômago enjoou quando mirei as taças de vinho cheias com um líquido vermelho-escuro, e não precisava perguntar a ninguém para saber o que era.