Capítulo 42
2037palavras
2023-08-29 09:24
Eu não me importava de morrer, não me importava com o que iria acontecer comigo, só conseguia me importar com Magie vendo todas aquelas atrocidades, ouvindo toda aquela merda, passando por todo esse estresse.
Quando o alicate cortou meu dedo fora eu gritei com a dor e o choque, meu corpo já estava pronto para apagar, me fazer esquecer tudo e deixar que me matassem de uma vez. Mas vê-la sangrando e chorando, me forçou a continuar acordado por ela.
Aquilo não podia estar acontecendo, não com a minha garota, não com a gente, era tudo o que passava na minha mente enquanto ela tentava colocar a mão no sangramento, mas só sangrava ainda mais enquanto se mexia.
— Parece que você é mais inútil do que pensei! E não vamos mais precisar de você. — o homem que nos mantinha ali afirmou, sem se importar com o sofrimento da própria filha e se aproximou de mim com a arma em punho.
Magie caiu deitada no chão e quando a porta do galpão explodiu ela fechou os olhos.
— Magie? — chamei em meio aos tiros e gritos que nos cercavam, porque tudo o que me importava era ela. — Magie amor, fala comigo?
— Viu o que você fez seu merda? Você os trouxe até aqui! — o homem a minha frente gritou irritado e eu vi o exato segundo que seu dedo desceu o gatilho então fechei meus olhos.
O tiro passou zunindo por minha cabeça, me deixando praticamente surdo do lado esquerdo, então eu abri meus olhos só para ver o desgraçado no chão sendo esmurrado por Cris.
— É bom te ver vivo seu safado! — ele exclamou sem parar de golpear o homem. E eu queria mais, muito mais, porém ele não era prioridade ali.
— A Magie! Ela estava sangrando e desmaiou! — avisei a ele que ergueu a cabeça rapidamente. John e outro homem já estavam lá dentro, cortando a corrente que a prendia no chão. — Me solta, me tira dessa cadeira porra!
— Calma cara, os médicos estão entrando aí. — ele respondeu tentando me tranquilizar enquanto começava a me desamarrar.
— Por mais que as notícias sejam boas eu só vou ficar tranquilo quando ela estiver em um hospital e fora de perigo. — falei me levantando, mas tudo a minha volta girou e se não fosse os braços do filho da mãe eu teria despencado no chão.
— Você também não parece nada bem, olha a porra do seu... Cadê seu dedo cara?
— Aqui! — John gritou acenando da cela com a merda do dedo nas mãos. Mas não me importei com aquilo, meus olhos focaram no médico que fazia todas as avaliações e o outro preparando uma injeção.
— Ela está grávida! — gritei os avisando e me olharam antes de falar algo no rádio. — Eles sabem que ela está grávida? Pelo amor de Deus, o que estão dando pra ela?
Então outros dois paramédicos surgiram do nada me cercando e fazendo com que Cris me empurrasse de volta para a cadeira. Mas eu não queria sentar, precisava que ele me levasse até ela, eu tinha que ficar do lado dela.
— Meu Deus. — ouvi o suspiro do paramédico. — Isso vai doer, melhor segurá-lo mais firme.
Nesse exato momento passaram por mim com Magie em uma maca, ela ainda estava desacordada e eles andaram apressados correndo para fora do galpão.
— Eu tenho que ir com ela. — murmurei tentando me levantar, mas Cris e um dos paramédicos intensificaram o aperto. — Porra, me solta! É a minha mulher naquela maca... Aaaai caralho! — gritei perdendo as forças quando o filho da puta cobriu a área cortada.
— Agora podemos ir. Consegue andar senhor? — acenei concordando em resposta, mas na verdade estava totalmente desnorteado com a dor.
— Não consegue porra nenhuma, os pés estão quase em carne viva! — Cris bradou. — Eu o levo no colo.
Antes que pudesse protestar o puto me pegou no colo me levando para fora, o sol ardeu em meus olhos me cegando por alguns segundos, o calor me recebendo e expulsando todo o frio do meu corpo, enquanto o cheiro de maresia invadia meus pulmões. Quando finalmente consegui enxergar com meu olho bom vi uma multidão de pessoas correndo para lá e para cá.
Policiais, paramédicos e alguns homens que pareciam muito com os seguranças de Cris, eu já não sabia distinguir mais nada, só que estávamos no porto, cercado por containers e que o lugar estava um verdadeiro pandemônio.
Eu queria gritar para que os vermes fossem pegos, especialmente o homem que se dizia pai de Magie, pois eu ia colocar as minhas mãos naquele filho da puta e fazê-lo pagar. Mas fiquei ocupado de mais procurando por Magie no meio de toda gente.
— O que aconteceu aqui? Onde está Magie? — questionei com medo de perdê-la novamente. — Prometi que ela não ficaria sozinha nunca mais, preciso estar do lado dela.
— E você vai estar cara, não se preocupe. Você vai estar lá quando ela acordar, mas agora precisa ficar bem, já basta o que ela vai descobrir quando acordar. — Cris falou em meio a todo o caos me levando para dentro de uma ambulância próxima.
— Do que está falando? — perguntei, mas fomos interrompidos por uma versão igual idêntica a ele, até mesmo as tatuagens eram iguais, ou eu estava delirando completamente.
— Tudo certo, vamos levá-los e conseguir todas as respostas que precisamos. — o homem falou em um tom grave e com a expressão fechada.
— Certo. Só guarde um pouco do velho pra esse aqui, ele vai gostar de ter sua vingança. — Chris disse e o homem virou o olhar pra mim, me encarando de cima a baixo e então acenou concordando. — Obrigado.
— Não me agradeça, vai ter que aparecer na reunião da Famiglia e nós dois vamos estar em julgamento pelo que fizemos. — então ele de virou e saiu deixando que Chris batesse a porta da ambulância.
— Eu vi direito? Vocês são...
— Iguais, é você viu direito. Somos idênticos em tudo, até nossas tatuagens são iguais para que ninguém desconfiasse quem estava no poder.
— No poder de que? E que Famiglia é essa? — franzi a testa em confusão. — Isso é coisa de italiano e que eu saiba você não é da Itália coisa nenhuma.
— Eu sou italiano, mais precisamente eu sou um Rossi. — ele disse o próprio sobrenome a contragosto. — Vendo de uma família grande e tradicional da Itália e que comanda a Cosa Nostra.
— A máfia? Acho que bateram na minha cabeça com muita força, isso é... Impossível.
— Infelizmente não é! A história não é bonita, mas para resumir eu sempre detestei tudo o que eles representam, por isso troquei de lugar com meu irmão e sai do país escondido, meu pai descobriu e me baniu de lá, disse a todos que eu tinha morrido, toda a Famiglia sofreu o luto enquanto eu refazia minha vida aqui. — ele encarou a própria mão e deslizou os dedos por uma tatuagem nos dedos. — Mas agora eles sabem e eu vou ter que voltar e enfrentaremos as consequências.
Eu estava calado sem saber o que dizer a ele, Chris parecia mesmo triste que isso fosse acontecer, ele não parecia nenhum pouco feliz com a ideia de voltar para casa e julgando o que essa família dele seria capaz de fazer, eu também não estaria feliz.
— Você fez isso por mim cara, por mim e por Magie. Obrigado de verdade! Não sei como vou poder agradecer a você algum dia, mas... — eu sacudi a cabeça sem conseguir imaginar o que aquilo ia significar para ele. — Você arriscou sua liberdade por nós e isso nunca vamos esquecer.
Então ele endireitou a coluna, estufou o peito respirando fundo e abriu um sorriso típico dele.
— Então me faça ser o padrinho do seu bebê! É o mínimo! — ele afirmou sério quase como uma ordem, mas essa ia ter que esperar para o meu próximo filho com Magie, já que Luke era o padrinho do que já estava no forno. — E também, não ia precisar deles para salvar vocês, não se culpe tanto. A verdade é que vocês ajudaram a desfazer uma quadrilha de tráfico humano.
— É nem me fale, aquele verme confessou o que fazia e era o que pretendia fazer com Magie e o bebê.
— Ele também assumiu que tinha quinze mulheres presas em containers aqui no porto esperando a viagem para lugares diferentes onde seriam escravizadas em algum lugar? — minha boca caiu aberta e não sei se era a morfina ou a conversa que estava me fazendo esquecer de toda a dor. — Pois é, aparentemente eram dezessete, mas duas já estavam mortas quando encontramos, sabe se lá como as outras iram chegar ao destino final, em que estado estariam.
— Meu Deus eu... Não consigo nem imaginar.
— Duas delas tinham apenas dezesseis anos, um verdadeiro inferno e eu sabia que não poderia acionar ninguém mais sem chamar a atenção indesejada, por isso chamei meu irmão, ele tinha os contatos certos para resolver tudo isso.
A ambulância começou a parar e ele olhou para fora me dando um sorriso tranquilizador, logo eu poderia vê-la de novo.
— Então seu irmão vai manter ele vivo pra mim? — perguntei quando abriram as portas e me puxaram para fora.
— Não se preocupe com isso, ele não vai morrer enquanto você não sair do hospital. — ele deu uma batidinha no meu ombro que me fez encolher um pouco. — Mas é bom manter isso longe dos ouvidos do seu ex cunhado, o marido da Carla sabe, da polícia. Ele também ajudou com tudo, mas não precisa saber de todos os detalhes.
— Claro, John apareceu e ela veio também. — murmurei juntando as peças enquanto me levavam as pressas para alguma sala.
— Sua família toda está aí, todos querendo ver você e Magie. — então ele parou um segundo segurando a maçã na porta. — A mãe de Magie foi quem nos contou do galpão, o rastreador só nos levou até um dos containers, mas ela nos entregou todos os outros com as meninas e o galpão onde vocês estavam.
— Ela não é mãe da Magie, mas é bom saber disso, a Barbiezinha vai ficar feliz de saber que ela se importou e quis ajudá-la.
Chris acenou com a cabeça e então saiu do meio dando espaço para que os médicos passassem me levando para ser anestesiado, enquanto rasgavam minhas roupas e começavam a me avaliar.
Não sei quanto tempo a minha anestesia durou, mas quando finalmente abri meus olhos novamente vasculhei o quarto tentando me situar, já pronto para chamar um médico que me levasse até Magie, mas então meus olhos pousaram nela ao meu lado em uma cama, dormindo profundamente, ligada a uma porrada de aparelhos.
Vê-la ali tão indefesa e parecendo tão pequena com todos aqueles fios, doía dentro de mim, mas ao menos dessa vez eu sabia que ela estava segura, estava sendo cuidada e vigiada, haviam mais pessoas ali para protegê-la se eu fosse fraco novamente.
— Filho! — minha mãe gritou quando entrou no quarto e me viu acordado. — Graças a Deus você acordou! Aí meu menino, meus pobres meninos lindos, tão machucados e quebrados!
Os braços dela me envolveram com força, não me deixando respirar e fazendo todas as partes do meu corpo doer.
— Mãe, se afasta dele, vai matar o garoto. — ouvi Carla resmungar e quando abri meus olhos vi todos ali.
Sophie e Patrick, John, Carla, Elisa, Luke em uma cadeira de rodas, e havia uma mulher desconhecida no canto, se mantendo perto de todos, mas não tão próxima, os olhos dela estavam focados em Magie, o que me fez deduzir que seria a mulher que a criou.
— Quanto tempo eu dormi? Como ela está? — questionei me voltando para minha mãe antes de fazer a pergunta que mais me perturbava. — E o bebê?