Capítulo 43
2011palavras
2023-08-29 09:25
Eu ouvia um bip insistente, como um despertador irritante, mas eu não queria acordar. Sentia uma dor por meu corpo todo, minha cabeça estava pesada e minhas pálpebras pareciam pesar uma tonelada. Nada me ajudava a acordar, mas senti uma mão apertar a minha e eu me forcei a abrir os olhos.
Demorei a conseguir enxergar alguma coisa, a luz forte e as paredes brancas me cegaram por um minuto e então eu finalmente o vi. Alejandro estava ali deitado na cama ao meu lado com a mão sobre a minha, apertando firme.
Meu coração deu um salto no peito por ver os olhos dele abertos me encarando, como se tivesse passado tempo de mais me observando dormir e agora não conseguisse acreditar que eu estava acordada.
— Oi irritante. — foi a primeira coisa que falei com a voz rouca de mais, saindo aos tropeços.
— Oi Barbiezinha. — ele se virou jogando os pés para fora da cama e se apoiou nos braços antes de levantar, parecendo fraco. — Como você está se sentindo amor? — ele perguntou se curvando sobre mim e plantando um beijo na minha testa.
Então tudo o que aconteceu com nós dois voltou com força total, o sequestro, Luke, a tortura, o sangue...
— O bebê! Como está o bebê? Eu estava sangrando e ele ia atirar em você...
— Calminha, calminha meu amor. O bebe está bem, os dois estão. — ele falou me tranquilizando finalmente e me deixando respirar aliviada. — Você teve o começo de uma infecção, por isso o sangramento, mas eles conseguiram conter e estão te tratando. Nunca mais vai acontecer nada com vocês, prometo! — então ele plantou outro beijo na minha testa e ergueu as mãos segurando meu rosto.
Mas meus olhos voaram para a mão toda enfaixada e eu me lembrei da merda que tinha acontecido logo antes de eu desmaiar.
— Aí meu Deus, seu dedo! Como... Como você está? Eu sinto tanto, sinto tanto que isso O que aconteceu depois que eu apaguei?
Ale se sentou na beirada da cama e olhou para a própria mão enfaixada, virando de um lado para o outro antes de começar a contar tudo o que tinha acontecido. Quanto mais ele falava sobre o que tinha acontecido mais chocada eu ficava, a quantidade de pessoas que se moveu para nos salvar, para salvar aquelas outras garotas.
Eu estava inconformada com a monstruosidade que era o meu pai, na verdade pai não, o homem que me comprou de outro monstro.
Como eu convivi com uma pessoa assim por dezoito anos e não percebi o quão horrível ele podia ser?
— É bom que esses mafiosos o mantenham vivo até me tirarem desse hospital, pois eu vou ter um papinho com ele! — exclamei decidida a fazê-lo me ouvir antes que o fizesse pagar por todo o mal que me causou.
Ainda não conseguia entender como haviam brotado mafiosos no meio do nosso sequestro, Chris era mesmo uma caixinha de surpresas.
— Sua mãe tá aí fora, passou os dois dias indo e vindo para a sala de espera do hospital, tenho certeza que ela vai poder te dar as respostas que quer. — Alejandro disse tentando me convencer a não encarar aquele homem, enquanto acariciava meu rosto.
Ouvir que minha mãe estava indo ali mexeu comigo, nunca imaginei que ela se importasse a esse ponto, ao menos nunca percebi nenhum cuidado materno dela, ou talvez foi só o ódio que passei a nutri por eles depois do casamento forçado com Charles.
Mas isso não ia me fazer mudar de ideia, eu ia conversar com ela sim e tentar entender toda essa bagunça, cheia de segredos e crimes, que foi a minha vida. E mesmo assim iria ver meu pai.
— Com ele o assunto é outro. Ele tocou em você, te torturou, machucou nosso bebê! Não tem nenhuma chance nesse mundo que eu vá deixar que ele seja morto pelas mãos de outra pessoa sem que eu possa ao menos fazê-lo sofrer um pouco. — as sobrancelhas de Ale se ergueram em surpresa e se seus olhos não estivessem tão inchados aposto que estariam arregalados. — Se ele fosse meu pai eu desistiria, deixaria que outros fizessem o trabalho, mas ele mesmo disse que não é meu pai, me comprou de uma pessoa que pode ter me arrancado dos braços da minha família e queria fazer o mesmo com meu filho! Então eu vou colocar minhas mãos nele.
Eu entendi o espanto dele, esse era um lado meu que ele ainda não conhecia. Mas então um sorriso torto se ergueu em seus lábios apesar dos machucados, ele se curvou unindo nossas testas e conectando nossos olhos.
— Então você vai ser a mamãe urso? — ele perguntou em um tom baixo e meus olhos desviaram para os lábios dele.
Ainda estavam cortados e inchados, havia pontos na bochecha dele e o nariz parecia ter sido colocado no lugar recentemente, mas ele ainda era lindo de mais, com aqueles olhos que queimavam meu corpo, acendendo uma fogueira no ventre e me fazendo desejar pular em cima dele e beijá-lo até estarmos sem fôlego.
— Com toda certeza eu vou! Ninguém toca na minha família. — ergui minha mão e deslizei os dedos sobre a bochecha machucada, com um cuidado extremo para não machucá-lo. Ale inclinou o rosto contra minha mão, se aconchegando em meu toque.
— Droga, eu preciso te beijar... — não esperei que ele terminasse a frase antes de unir nossas bocas em um selinho prolongado.
Ele se aproximou ainda mais e eu agradeci por não precisar me mexer mais, pois meu corpo ainda doía. Eu abri minha boca sugando o lábio inferior dele e deslizando minha língua ali em uma carícia lenta.
Ale soltou um gemido baixo e segurou meu rosto com mais firmeza antes de separar os lábios e me invadir com sua língua. Eu suspirei desejando mais, queria poder tocá-lo mais, apertar seu corpo contra o meu, mas eu sabia que estávamos quebrados de mais para isso. Bastou a mão dele deslizar por meu cabelo para que eu me afastasse de pressa com a dor em meu couro cabeludo.
— Droga desculpa, eu... Melhor pararmos. — ele falou se erguendo, mas eu agarrei a camisola de hospital e o puxei para mim, não queria perder o seu calor. — Humm porra. — ele grunhiu com dor se afastando ainda mais.
— Aí meu Deus, suas costelas! Eu tinha esquecido. — tinha realmente né esquecido, ele não deveria se dobrar assim com o torso todo machucado.
— Não tem problema. — ele ergueu a camisola me deixando ver as manchas arroxeadas em volta das costelas e do peito. — Foram duas costelas quebradas, então acho que temos que deixar beijos empolgados e outras coisas para depois.
Eu estendi minha mão querendo tocar os machucados dele, mas então recuei sabendo que eu era a culpada, ele não estaria ali nesse estado se não fosse por mim.
— Já estão fazendo safadeza seus cretinos? — a voz de Luke invadiu o quarto nos tirando do transe e me arrancando um sorriso enorme.
— Ai meu Deus, você está bem! Você está vivo! — gritei olhando para ele na cadeira de rodas e querendo poder correr até ele e o abraçar.
— Vivo sim, bem já é outra história. — ele resmungou e logo uma mulher apareceu atrás dele correndo.
Os longos cabelos castanhos e os olhos verdes brilhavam com doçura. Ela abriu um sorriso iluminado quando me viu, quase como se já me conhecesse, mas eu nunca a tinha visto na vida.
— Bom dia! É bom te ver finalmente acordada. — ela falou com uma voz firme e animada ao mesmo tempo.
E isso teve um efeito direto em Luke, pois vi o segundo em que ele engoliu em seco e virou a cabeça como se quisesse olhar para ela, mas acabou parando no caminho.
— Hã oi, bom dia. Eu não... Não me lembro de você. — será que estava esquecendo as coisas depois de tantas pancadas na cabeça?
— Ahh não, não nos conhecemos antes. É que Luke fala tanto sobre você que eu sinto como te conhecesse já. E sua história é tão inspiradora, está passando em todos os lugares da televisão, todos os canais, tem um monte de gente lá fora com cartazes, flores e ursinhos tudo pra você. Pra vocês na verdade, já que a história de amor também se espalhou. — ela falou em uma velocidade alarmante sem nem tomar fôlego e me fez sorrir.
— Gente desculpa pela maluquinha aqui, ela é minha sombra agora e não sabe a hora de se controlar.
— Você não me disse que estava saindo com alguém Luke, mas eu já gostei dela. — não acreditava mesmo que o cretino tinha me escondido isso, estava na cara o quanto se gostavam, só não entendia porque ele não tinha me contado.
Mas os dois ficaram paralisados por um minuto, as bochechas dela tomaram um tom vermelho no instante que os olhares se encontraram, e ela suspirou sustentando o olhar dele. Até que Luke se virou cortando a conexão dos dois.
— Não é o que está pensando! Não estou saindo com ela, puta que pariu loirinha.
— Sou a Monalisa, a enfermeira dele. — ela disse acenando enquanto eu olhava de um para o outro perplexa. Mas meu olhar fez Luke se explicar rapidinho.
— Eu perdi o movimento das pernas, duas das balas pegaram na minha coluna e eu estou preso nessa merda loirinha. — minha boca caiu aberta em descrença.
Não podia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo com ele, logo a pessoa que só fez me ajudar desde que me conheceu, quem esteve do meu lado quando descobri do bebê e que aguentou meus surtos das últimas semanas.
— Você não está preso aí, sabe disso. — Monalisa o corrigiu. — Ele só precisa de fisioterapia, muita força de vontade e não desistir!
— Não vou ser o cara otimista que fica pensando besteira, eles disseram que tenho cinquenta por cento de chance de voltar a mexer as pernas, e trinta por cento de chance de voltar a andar normalmente. — Luke falou tão desolado que acabou comigo.
Aquele não era ele, não era meu melhor amigo otimista, risonho e cheio de piadas ridículas. Ele parecia não dormir ha dias, os ombros cansados e caídos, com olheiras enormes em volta dos olhos.
— Me desculpa, eu sinto tanto por isso... Foi tudo minha culpa! — implorei com os olhos transbordando de lágrimas. — Vocês dois, todos vocês, até o Chris, eu fodi com a vida de todos! Não deveria ter ido atrás de Sophie naquele dia, se eu tivesse fugido para longe quando tive a chance nenhum de vocês estaria assim agora, nada disso estaria acontecendo!
— Claro que não! — foi Ale quem falou primeiro e voltou a tentar me abraçar mesmo sem poder se curvar.
— Nem fala uma coisa dessas loirinha! Você é a mãe do meu sobrinho, minha melhor amiga, não vem meter essa que não deveria ter aparecido nas nossas vidas! — Luke gritou da cadeira ao pé da cama, não parecendo nada feliz enquanto eu chorava.
— Isso mesmo! Você já entrar na nossa vida de um jeito ou de outro, porque era para ser, o seu destino era se casar comigo, Barbiezinha! — Ale murmurou me apertando o quanto aguentava contra seu peito, mas eu o empurrei rapidamente.
— Eu não sou casada com você! — protestei e ele desviou os olhos para o amigo logo atrás.
— Acho que você esqueceu uma coisa, cara. — ele estendeu uma caixinha preta de veludo para Ale e meu coração galopou no peito.
A máquina que monitorava meus batimentos disparou no exato segundo, me deixando ainda mais nervosa, mas antes que ele pudesse abrir a caixinha e fazer um pedido a porta foi aberta de supetão com tanta força e rapidez, que acertou a parede.
— Mãe?