Capítulo 41
2139palavras
2023-08-29 09:08
Ter Alejandro perto de mim tinha conseguido me acalmar, por mais que eu odiasse concordar com o pedaço de merda que tinha me dado a vida, mas eu me comportei com ele pois não suportaria vê-lo machucado ainda mais.
Ficamos abraçados por um longo tempo, quando trouxeram a comida eu o forcei a comer, mesmo que ele insistisse que não tinha fome, mas comeu apenas para me agradar. Ele com toda certeza estava com muita dor que até mesmo seu apetite tinha desaparecido.
Por isso depois eu puxei o colchão para perto dele para que conseguisse se deitar. Eu fiz o mesmo, me encolhendo perto dele deixando que me envolvesse com seus braços de forma protetora.
Mas para aproveitei melhor o tempo em que ele estava adormecido para ver melhor todos os machucados dele. Não tinha sido apenas seu rosto que foi socado descobri quando ergui sua blusa e me deparei com o torso em vários tons de machucado, arroxeado, misturado com tons de vermelho e amarelo, logo tudo estaria em um tom muito escuro.
Acariciei os cabelos dele me aconchegando ainda mais perto e me corroendo de culpa, porque ele não estaria nessa situação se não me conhecesse, se eu não tivesse entrado na casa dele no meio daquela tempestade, se tivesse apenas avisado Sophie de outro jeito, ele não estaria ali agora machucado daquele jeito. A culpa toda era minha por ter me enfiado na vida dele e, pior, ter me envolvido com ele a ponto de me apaixonar.
E foi com aquilo em mente que eu adormeci naquele buraco, ao menos eu não estava mais sozinha, como ele tinha me garantido eu nunca mais estaria sozinha. Mas a minha paz durou pouco, muito pouco.
— Tirem ele de lá! — foi o grito que me acordou. — Tirem esse filho da puta dali e o tragam aqui! — meu pai apareceu batendo e um dos seus homens socou a grade me fazendo pular sentada.
— O que aconteceu? O que querem? — perguntei desesperada pois o rosto demoníaco do meu pai me dizia que ele estava prestes a fazer algo horrível.
Alejandro acordou no susto com minha voz e nem teve tempo se erguer, pois os homens o agarraram pelas pernas prontos para o arrastar para fora. Mas eu fui mais rápida e joguei meus braços em volta dele, o segurando apertado contra mim e fazendo os homens recuarem com medo de me machucar.
— Largue-o Magie! Não me obrigue a machucá-la porque eu vou, vai ter muitos meses pela frente para se recuperar de uma concussão. — ele gritou tentando me assustar, mas eu não soltei Ale. — Largue ele agora sua vadiazinha!
— Amor, por Deus, me solte antes que ele a machuque! — ele implorou e eu o ignorei apertando meus braços com toda a força em volta dele. — Está tudo bem Barbie.
Não me importei com a fala dele, não tinha nada de bem ali e eu sabia disso. Mas eu os subestimei, pois bastou um aceno de cabeça do meu pai para que os homens chegassem mais perto e o pegasse nos braços, não se importando em me levar agarrada, só para me fazer despencar de cara no chão quando a corrente chegou ao se limite me impedindo de ir adiante.
— O que vão fazer com ele? — gritei me levantando aos tropeços e correndo contra a grade que fecharam. — Porque o tirou daqui, não tínhamos um acordo?
Meu pai andou a passos lentos em minha direção, com os olhos focados no meu rosto, brilhando de forma medonha assim como o sorriso em seus lábios, enquanto os homens amarravam Alejandro em uma cadeira.
— E o que eu te pergunto querida. Não tínhamos a porra de um acordo? Eu estava sendo bonzinho aqui, dando água e comida, deixando que ficassem juntinhos abraçados com todas as lágrimas e frescuras de amor. — ele listou e eu tive que segurar minha língua para não cuspir na cara dele. — Mas então porque o seu namoradinho ali não me contou que tinha uma porra de rastreador?
— O que? — questionei espantada desviando meus olhos para Alejandro, tentando saber a verdade, pois nem para mim ele tinha dito algo.
— Eu não... — a negativa de Ale ficou no ar quando o desgraça do meu pai acertou um soco nele.
— Não! — gritei, mas já era tarde, Fernando já estava cuspindo sangue no chão. — Seu grande pedaço de merda! Ele não fez nada!
Meu grito parece tê-lo enfurecido ainda mais e ele acertou outro soco do outro lado do rosto, acertando bem em cima de um corte na maçã do rosto, fazendo se abrir novamente e o sangue escorrer.
— Não? Não fez nada? Então porque eu tenho a porra de drones vasculhando a área? — meu pai gritou vindo até a cela agarrando uma das barras com os dedos sujos com o sangue de Ale, me deixando enjoada e com ainda mais ódio. — Se ele não fez nada como eu encontrei a merda de um rastreador adesivo no container onde o levamos primeiro?
A fala dele conseguiu me encher de alegria por saber que ainda estavam nos procurando e que estavam perto, aquilo renovou minhas esperanças. Mas eu não podia demonstrar isso, não agora, não quando estava perto de sermos resgatados. Só precisávamos aguentar mais um pouco, só mais um pouco daquela merda e conseguiríamos.
— Ele não sabia disso, porque iria jogar no container e não aqui? Não faz sentido! — gritei tentando enfiar alguma razão naquele verme, se Ale sabia ou não sobre o rastreador já não importava mais, só me importava ganhar tempo.
— Acha mesmo que sou tão burro assim? — ele riu com escárnio e virou a cabeça de lado me olhando como um psicopata. — Burro eu fui no dia que te comprei, que deixei que Natasha me convencesse a comprar uma criança e fingir ser nossa filha.
Aquilo me acertou como um tapa me desnorteando, me obrigando a dar passos para trás com a tontura.
— Do que... do que está falando? — perguntei tropeçando nas palavras sem conseguir entender nada do que ele disse.
— De você não ser minha filha! — foi o que ele gritou. — Nós compramos você como uma mercadoria quando ainda era um bebê! Ao menos você serviu para ser passada pra frente quando fez dezoito anos, devolvendo o investimento que fizemos ao te comprar. — eu girei no lugar me obrigando a respirar fundo e olhar para Alejandro tentando buscar alguma força, pois sentia que estava prestes a desmaiar. — E vai ser ainda mais lucrativa agora que vou despachar seu bebê e te vender pra algum outro lugar.
— Fique longe dela seu filho da puta! — Alejandro gritou atraindo a atenção dele, que se virou por um momento se esquecendo de mim e voltando a socá-lo.
Era quase como se ele estivesse aproveitando, gostando de nos fazer sofrer, acabando comigo psicologicamente e com Ale fisicamente.
— Sabe, quando fui a prisão aquele dia era exatamente para oferecer a Charles uma sociedade, não esperava que fosse vê-la lá para assinar o divórcio. — ele deu uma pausa apenas para socar meu homem na cadeira antes de olhar de novo para mim. — Mas foi uma boa coisa porque ele aceitou o acordo, com a condição de que você fosse vendida para o bordel mais barato desse mundo.
A bile subiu por minha garganta e eu me curvei quase vomitando, mas resisti firme, respirando fundo e não dando esse gostinho a ele.
— E o que você ganha com isso? Porque iria fazer negócios com uma pessoa falida como Charles? — perguntei com firmeza.
— Só precisava do nome dele em algumas assinaturas, o homem é mais burro do que pensei, estava tão preocupado em se vingar de você pelo divórcio e por ter se juntado com os outros que nem ao menos viu o que estava assinando. — ele voltou para Ale e acertou um soco fazendo seu nariz jorrar sangue me partindo o coração. — E burro ao ponto de achar que eu perderia dinheiro te vendendo para algum bordel caindo aos pedaços. Se tem uma garota que eu sei das qualidades é você e uma menina criada em berço de ouro, estudou nas melhores escolas, fala várias línguas, vai ser vendida em um leilão por um bom dinheiro.
As palavras dele não só fizeram meu estômago se revirar dessa vez, fizeram minha mente trabalhar em uma velocidade assustadora, assimilando as palavras dele sobre me comprar e me vender.
— Você fala como se soubesse exatamente o que está fazendo. — murmurei com medo do que ele diria a seguir, mas sabendo que precisava descobrir.
— E sei, depois que Charles te comprou isso me deu uma ideia para um novo negócio, muito mais rentável e ainda podia usar a empresa de fachada. — ele voltou a andar na minha direção, mas eu estava longe das barras e longe dos dedos podres dele. — Mulheres são tão fáceis de enganar, nada como uma oferta de emprego, balançar um maço de dinheiro na frente delas, ou até mesmo uma droga na bebida e pronto, estão prontas para serem transportadas para fora do país.
— Você... Você está traficando mulheres? — perguntei perplexa, chocada de mais para conseguir entender.
— Às vezes homens também, alguns bebês, mas na maioria das vezes sim, mulheres. — respondeu como se não estivesse dizendo nada de mais. — Agora o segurem!
— O que? O que vai fazer com ele? — perguntei desesperada enquanto os homens seguravam a mão de Alejandro aberta.
— O que eu disse que ia fazer se tentassem qualquer coisa. — então pegou um alicate e andou determinado ate a cadeira. — Arrancar os dedos dele.
— NÃO! Não faça isso! — gritei com a ideia de ele fazer aquilo de verdade e né joguei contra as grades. — Não faz isso, eu faço o que você quiser! Faço qualquer coisa!
Mas ele nem se dignou a me responder ou me olhar, apenas se curvou agarrando o dedo mindinho o colocando entre as lâminas do alicate. Alejandro tentou resistir, se debateu enquanto eu gritava desesperada sem conseguir fazer mais naquela com aquela porra de corrente me segurando ali. Mas então ele apertou fechando as lâminas no dedo o cortando fora.
— AAAAAAAAAA! — o grito de Ale reverberou pelas paredes quebrando o resto do meu coração e me fazendo cair de joelhos no chão.
Eu nem conseguia dizer nada, só fazia chorar enquanto assistia o lugar onde deveria estar o dedo agora espirrando sangue para todos os lados, enquanto Ale me olhava tentando me acalmar, mesmo estando pálido e quase desmaiando.
— Isso é para você aprender que não faço ameaças, eu dito fatos! — o animal desgraçado falou chegando mais perto e atirando algo em meu colo.
Meus olhos estavam tão focados no meu lindo definhando naquela cadeira que demorei a ver o que ele tinha jogado em mim, mas assim que meus dedos esbarraram eu olhei para baixo vendo o dedo de Ale em meu colo, me sujando com o sangue e fazendo meu estômago se revirar.
Atirei para longe no mesmo segundo que me curvei vomitando tudo o que tinha na barriga para fora. Meu mundo desabou e eu tinha virado uma poça de sofrimento, chorando enquanto vomitava e só imaginava que esse era nosso fim. Não chegariam a tempo, não poderiam nos salvar.
— Barbie... — ouvi o sussurro dele sem forças, me obrigando a erguer o rosto só porque era ele quem me chamava. — Você... Está sangrando...
Por um instante eu achei que ele estava falando do seu próprio sangue em minhas mãos, a cabeça dele tombou para o lado quase como se estivesse pronto para morrer, mas ele estava me apontando um caminho e eu desviei o olhar para baixo vendo o sangue marcando meu vestido e minhas pernas.
— Não! Não! Não! — gritei espantada erguendo o vestido e comprovando que o sangue vinha de dentro de mim.
Minha cabeça girou e minha visão começou a escurecer enquanto eu tentava parar o sangramento com minhas mãos.
— Parece que você é mais inútil do que pensei! — ouvi o verme falar, mas eu só queria parar aquilo, não queria perder meu bebê. — E não vamos mais precisar de você.
Ele se virou erguendo uma arma para Alejandro e meu corpo tombou no chão sem mais forças para me manter firme, não tinha um fio de esperança de algo bom, não havia mais nada eu só precisava escutar o som do tiro para me entregar.
Então eu ouvi um estrondo ao longe antes que meus olhos se fechassem e eu deixasse a escuridão me dominar.