Capítulo 38
1586palavras
2023-08-29 09:07
Eu já tinha perdido a noção do tempo, não tinha ideia se havia passado algumas horas, um dia ou até mais. Um homem me trouxe comida e água, mas para fazer necessidades eu só tinha da merda de um balde naquela cela.
Passava a maior parte do tempo deitada remoendo tudo o que tinha acontecido, pensando em na minha vida com Ale, fantasiar era o que mais estava me mantendo lúcida naquele buraco ou eu já teria tido um ataque.
Eu me via junto com ele e com uma menininha, não sei porque mais comecei a imaginar que seria uma menina, nós três brincando em um jardim cheio de flores em um dia de verão. Ou fazendo coisas do dia a dia como brincar durante o banho, trocar fralda, dar comida.
Eu queria tudo isso com ele, uma vida normal e tranquila, sem toda essa bagunça, confusão de sentimentos, sequestros e mortes. Me encolhi ainda mais no canto e esfreguei minha mão na barriga, mesmo que não houvesse nenhum indício de gravidez ainda, eu sabia que tinha uma vida ali e isso me bastava.
— Que bom que te encontrei acordada, a mamãe ursa está quase hibernando só vive dormindo. — o desgraçado apareceu e eu me recriminei por não ter continuado de olhos fechados. — Tenho boas notícias!
— Não quero saber de nada que tenha para me contar. — me virei enterrando o rosto no colchão fino, querendo que ele fosse embora apenas isso.
— Já era de se imaginar, você sempre foi assim, mas isso você vai querer saber. — ouvi os passos mais perto e então a mão e então a mão asquerosa agarrou meus cabelos antes que eu pudesse me levantar e ele me puxou contra as grades batendo meu rosto com força na barra. — Não me obrigue a te machucar! Seu comprador não vai querer vê-la machucada.
— Eu tenho nojo de você! Nojo! — cuspi na cara dele, não me importando se ele ia me machucar ou não, ao menos as pancadas na cabeça me ajudavam a dormir.
— Mas não tem nojo de se envolver com gente de uma classe inferior a nossa, não é? Sua vagabunda barata! — os dedos se forçaram em meus cabelos, fazendo o couro cabeludo já machucado reclamar ainda mais com a brutalidade. — Nós o pegamos, conseguimos capturar o merdinha do pai do seu bebê.
Meu coração disparou e meus olhos se arregalaram enquanto eu lutava contra o aperto dele, querendo olhar em volta e buscar por Alejandro.
— Onde ele está? O que fizeram com ele?
— Ainda se importa com uma pessoa desse tipo. Qual é o seu problema? — ele rosnou parecendo mais irritado, mas ao menos me soltou. — Ele está aprendendo bons modos, não se preocupe.
— Você é um verme! — gritei me afastando da grade para que ele não tentasse me machucar de novo.
Se Alejandro estava aqui era porque não tinha dado certo seu plano, e eu não queria que ele me visse machucada ou iria causar problemas para si mesmo.
— É, eu sou um verme! Mas você me deve a sua vida, está na hora de começar a pagar! — então o som de uma porta pesada sendo aberta me chamou a atenção. — Bem na hora!
A conversa dos homens ficava mais alta conforme chegavam mais perto e eu ouvi um arrastar de pés pelo chão misturado a passos, até que eles alcançaram meu campo de visão e eu avistei Alejandro sendo arrastado como um trapo ensanguentado, deixando um rastro de sangue no chão.
Corri para a grade grudei meu rosto no ferro querendo ficar o mais perto dele. Meu peito se apertou e meu estômago se revirou com a imagem a minha frente, o homem sendo carregado não me lembrava nada o Ale que vi dias atrás.
O rosto estava completamente machucado, o deixando quase irreconhecível, os olhos estavam inchados de mais, um deles estava completamente fechado pelos golpes. Havia um corte na altura da maçã do rosto dele e as roupas estavam sujas, parecia que ele tinha sido atropelado, com arranhões e machucados por todo lugar, assim como os os pés, que estavam descalços e sangrando por algum motivo.
— Ale! Ale você... você está me ouvindo? — perguntei já não conseguindo mais segurar o choro então deixei que as lágrimas lavassem meu rosto.
Não me importei quando as lágrimas salgadas arderam contra o machucado em minha bochecha, nada se comparava a ver ele naquele estado todo machucado.
Os homens puxaram uma corrente presa a uma viga e prenderam os braços dele ali, deixando o corpo dele pendurado como se fosse um boneco sem vida e esse pensamento fez a bile subir a minha garganta.
Me curvei colocando tudo para fora, meus sons pareciam algo sem controle enquanto meu corpo estremecia se curvando e derramando tudo o que eu tinha comido no chão.
— Barbie. — a voz dele saiu em um sussurro baixo, quase falhando a voz, mas atraiu minha atenção no mesmo instante. — Minha Barbiezinha... sinto muito por isso... sinto muito.
Me ergui limpando a boca de qualquer jeito e me agarrei as grades novamente sofrendo por ele, pois de alguma forma eu sabia que aquilo seria só o começo.
— Não é sua culpa, é minha, era a mim que eles queriam você nem deveria estar aqui. — Ale engoliu com dificuldade e aquilo doeu dentro de mim. — Seu desgraçado! Solta ele, coloca ele aqui na cela comigo e me deixa cuidar dele. Juro que faço o que você quiser! — implorei aos gritos, mas só recebi risadas.
— Magie fica calma amor... se senta e tenta se acalmar. — Ale pediu me chocando. — Não quero te ver passando mal, eu aguento qualquer coisa que eles queiram fazer comigo, só não suporto ver você sofrer.
Eu não sei o que me surpreendeu mais, ele me pedindo para não enfrentar aqueles bastardos e tentar ajudá-lo, ou se foi ele me chamando de amor e dizendo que não suporta meu sofrimento. Aquilo mexeu com meu coração, me desestabilizando completamente.
Eu recuei da grade e me sentei no colchão como ele pediu, só para receber o pequeno sorriso mais sofrido que ele já deu na vida. Aquilo não impediu que lágrimas escorressem por meu rosto, eu também não podia aguentar o sofrimento dele, preferia mil vezes continuar sozinha naquele lugar.
Então o pedaço de merda ambulante começou a bater palmas e gargalhar, como se estivesse em um show de comédia.
— Viram só, era disso que eu estava falando! Eu sabia que ele seria capaz de controlá-la! — ele gritou me fazendo revirar os olhos. — Ela não quer te ver sofrer e por isso vai nos obedecer e ele vai reforçar te pedindo para ser uma boa menina e se comportar, porque ele não aguenta ver você sofrer, como é mesmo... Barbie?
Eu sempre detestei todos os planos estúpidos de manipulação dele, mas dessa vez estava certo, nenhum de nós dois ia fazer algo que causasse mal ao outro, preferia morrer a isso.
— Porque você não se enforca com a própria língua, seu desgraçado! — gritei sentindo nojo só em olhar aquele rosto, o rosto de uma pessoa que achei conhecer a vida toda, mas que agora eu via que nunca conheci de verdade.
— Vocês me enojam. Mas é assim que vamos passar os próximos nove, você sendo uma boa menina, ele levando uma surra de vem em quando enquanto definha. — mas Ale não sabia que eu estava grávida, tinha uma falha naquele plano e eu com certeza diria a Alejandro para não acreditar nele, que eu não estava grávida coisa nenhuma.
— Se Ale souber que você quer me vender ele não vai cooperar seu desgraçado! — falei com toda a convicção.
— Hahaha! Você é tão ingênua Magie, sempre foi um tanto burrinha e inútil, acho que deve ser por isso que se apaixonou por um stripper e mecanicozinho de merda! — ele deu passos lentos até onde eu estava. — Você acha que ele não sabe que está grávida? Eu tenho todos os seus exames, um por um bem aqui e ele já viu todos querida.
— É mentira! Não tem bebê nenhum, não fiz nenhum exame. — gritei desesperada e foquei meus olhos em Ale. — Não acredita nele, não estou grávida.
Mas tudo o que eu vi foi o semblante triste dele, então Ale abriu um sorriso maior dessa vez, tentando mostrar o quanto estava feliz mas eu só conseguia enxergar os dentes cobertos de sangue.
— Minha mãe me contou, Barbie. — porra não, não podia ser! — Estou muito feliz e sei que era o que você queria me contar antes de ontem.
Meu Deus! Já tinha se passado um dia que eu havia sido pega, um dia que todos achavam que eu estava morta, um dia que ele sabia que era pai e se preocupava com isso enquanto sofria nas mãos daqueles desgraçados.
— Me desculpa. — foi tudo o que eu consegui falar.
— Não por isso meu amor, nunca se desculpe por isso! — ele tentou se mexer, mas acabou soltando um grunhindo de dor que partiu meu coração ainda mais.
— Por favor! Solta ele, coloca ele na cela amarrado como eu, prometo que vou colaborar. — me aproximei da grade e engoli todo o meu orgulho, baixei minha crista desistindo da dignidade que me restava. — Por favor, pai!