Capítulo 26
1998palavras
2023-08-29 08:59
Eu estava pensando, me questionando porque continuava deixando que ela saísse do meu quarto às escondidas, porque simplesmente não dava um basta naquilo e contava a todos que estávamos ficando. Mas eu sabia que era o medo de me envolver com uma mulher que ainda estava descobrindo o que queria da vida, uma mulher acostumada com uma vida de luxo, porque tudo isso me lembrava Gabriela.
Mas então os gritos de Magie me assustaram me deixando em completo choque. Eu ouvi os passos apressados dela para o andar de baixo e me movi pegando a arma na última gaveta da mesa de cabeceira.
Com muito sacrifício consegui me levantar da cama e fui mancando até a porta, mas quando escutei o barulho da grade se sacudindo, provavelmente com alguém pulando, coloquei o pé no chão e fui apoiando no gesso.
Que se foda qualquer coisa, eu só precisava chegar até Magie o mais rápido possível. Mas quando a encontrei na escada fiquei aliviado, ela não tinha saído, estava bem e ali na minha frente.
— Eu... John... ele é o segurança e você não deveria andar, eu tinha que chamar por ele. — era a tentativa dela de resposta, mas não era uma, não de verdade. — Eu nem sabia que você tinha uma arma.
Desviei meus olhos para a arma esquecida em cima da cama e então voltei para ela. Ainda sentindo o medo de algo ter acontecido com minha Barbie mexendo com meu corpo
— Você poderia ter sido morta. — sussurrei sem saber como colocar tudo o que estava passando em minha mente para fora. — Porque correu para a porta? E se ele tivesse uma arma? — eu tinha a leve noção de estar sacudindo seu corpo, mas não me importei e a puxei para perto querendo olhá-la nos olhos. — Tem ideia do que poderia ter te acontecido?
O silêncio reinava no quarto e pela primeira vez eu não me importei se estávamos sendo observados, só estava preocupado com ela e não sabia se ela entendia a gravidade do que tinha feito.
Não sei por que eu pensei na primeira vez que a vi, machucada, molhada e com medo. Ela podia ter sido morta naquele dia nas mãos do marido lunático, podia ter sido morta hoje também por quem quer que fosse que tentou entrar aqui. E a mera ideia de tê-la agora sangrando ou de baixo da terra me desmontava, embrulhava meu estomago e me arrancava o ar.
Porque essa merda estava acontecendo comigo?
Mas então o barulho do portão sendo aberto atraiu a nossa atenção, Carla correu até a janela e eu peguei rapidamente a arma na cama destravando pronto para atirar em quem subisse, me levantei colocando Magie atrás de mim, em segurança.
— É o John! — ela gritou e correu na direção dele, mas ele já tinha alcançado o segundo andar e marchava na nossa direção. — Ai meu Deus, o que aconteceu com você?
— Foi de raspão, nada demais. — ele disse afobado e parecendo estar mais preocupado com outra coisa do que com o corte no braço.
— Você está sangrando John! Como não foi nada demais? — minha irmã insistiu, mostrando o quanto se importava com o garoto.
— Carla, pegue o kit de primeiros socorros. — eu interrompi antes que ela continuasse com o falatório impedindo que ele nos contasse o que aconteceu lá fora.
Carla me lançou um olhar nada feliz e mesmo relutante ela saiu de lá. Minha mãe agarrou o braço dele o puxando para se sentar na cama enquanto Magie me forçava a fazer o mesmo.
— E então, o que aconteceu? Estou assumindo que não pegou o cara, ou não estaria aqui sentado.
— O desgraçado conseguiu fugir, com certeza estava vendo o lugar aqui em volta antes de tentar entrar, pois ele sabia por onde fugir.
— Ele esteve nos vigiando. — constatei o óbvio. — Mas quem? Conseguiu ao menos dar uma boa olhada no rosto dele, alguma marca, tatuagem, cicatriz? Qualquer coisa que de para identificar?
Eu estava ainda mais desesperado agora a ideia de ter alguém nos vigiando há um tempo e não termos a menor noção fazia meu corpo ferver de raiva e minha mente montar um milhão de cenários diferentes.
Carla voltou de pressa e se abaixou ao lado dele, levando as mãos ao braço de John e já começando a pegar as coisas.
— A culpa é minha. — minha irmã falou enquanto limpava o ferimento. — Preciso sair daqui, só assim vocês vão estar seguros.
— Não se precipite baixinha, não temos certeza de quem ele estava atrás. Podia ser alguém enviado por Charles atrás de Magie, são muitas alternativas.
Baixinha? De onde tinha vindo aquele apelido, aquela intimidade? Ele estava trabalhando com ela por pouco tempo, não fazia nem dois meses.
— Charles está falido. Com todos os processos que levantaram contra ele, não sobrou mais nada para usar e pagar alguém para vir atrás de mim. — Magie murmurou atraindo meu olhar, ela continuava olhando para o lado de fora da janela e parecendo muito preocupada. — Além do que, ele jamais viria atrás de mim. Eu não significo nada para ele, mas Sophie expos a verdade para o mundo e Patrick matou o filho dele.
Não me passou despercebido que ela disse aquilo sem emoção alguma, minha Barbie não se importava em não significar nada para o desgraçado, na verdade ela parecia até aliviada que ele não tivesse motivos para vir atrás dela.
Mas ela estava certa sobre Sophie e Patrick, eles seriam um alvo bem mais importante para Charles, então podíamos descartar a ameaça do velho infeliz.
— Se ele veio em casa e estava de olho na oficina só pode significar que é sobre nossa família. — constatei o óbvio, mesmo a contra gosto.
— Mas nós não temos inimigos, Alejandro! — minha mãe tomou a frente. — Só pode ser o marido da Carla mesmo, que entrou aqui para assustar, querendo chegar perto dela.
Essa era a única explicação plausível, mas porque aquele verme medroso se meteria a besta tentando invadir nossa casa? Porque ele viria atrás dela aqui e não no ateliê?
— O que eu não entendo é porque ele não recuou quando viu a Magie. — John falou atraindo todos os olhares. — Ela estava gritando, ele sabia que todos na casa tinham escutado e não foi embora, Magie estava na porta e ele não recuou, nem mesmo hesitou. Só quando notou a arma em minha mão foi que ele correu, mas ele também estava armado, faria mais sentido que tivesse atirado enquanto eu pulava o muro.
— O que está tentando dizer? Que ele parecia querer só assustar mesmo?
— Ou dar um recado, dizendo que está de olho.
Minha irmã terminou de cobrir o machucado e se levantou colocando as mãos na cintura. Ela tinha um olhar decidido e aquilo na nossa família significava muito, porque quando um de nós decidia algo não voltávamos atrás.
— Eu vou sumir por um tempo. É a coisa sensata a se fazer, vou deixar Olivia cuidando do ateliê, vou pegar meu passaporte e sumir em algum país bem longe daqui! — ela afirmou não dando espaço para discussões. — Vou fazer isso hoje, sei que ele não vai atrás de mim, não vai poder chegar em um aeroporto sendo procurado pela polícia.
— Ótimo, vamos juntos! — John declarou se levantando.
— Eu não inclui você...
— Nem adianta começar, isso está fora de cogitação. Arrume suas coisas, eu vou resolver o resto! — John a cortou dando o assunto por encerrado e nem mesmo minha mãe ousou discutir com eles, sabíamos que não chegaria a lugar nenhum.
Em um segundo todos tinham sumido do quarto, deixando Magie e eu a sós, nem conseguia olhar para ela sem pensar no risco que tinha corrido, o invasor estava carregando a porra de uma arma e ela correu na direção dele.
— Você está bem? — ela perguntou saindo da janela e vindo para a cama. — Está com um vinco na testa, o que nunca é boa coisa.
Eu queria gritar que estava com medo, medo de perdê-la, medo dela ser machucada, apavorado com a ideia de viver em um mundo sem ela. Mas ao invés de dizer isso eu falei outra coisa.
— Vamos ao hospital tirar esse gesso de uma vez por todas e então eu vou te levar a um lugar.
As sobrancelhas dela se ergueram em surpresa com as minhas palavras e eu ergui a mão levando ao seu rosto, contornando as bochechas com meus dedos.
Ela estava em minha cama segundos antes dessa merda acontecer e podia ter acontecido alguma coisa horrível se ela não tivesse saído daqui e ido até a janela. Mas eu só conseguia pensar no perigo que ela passou, no medo que congelou meu corpo quando ouvi seu grito e o impulso de protegê-la dentro de mim que me fez correr atrás dela.
Nós trocamos de roupa e ela pegou meu carro dirigindo até o hospital, aquela altura Carla e John já estavam no aeroporto prontos para viajar, mas só teríamos notícias deles quando aterrissassem.
Não tínhamos ideia de para onde eles estavam indo, segundo ele era mais seguro assim e eu concordava, só queria minha irmã em segurança e longe daquele safado.
— Muito bem, e como foi o repouso? — a médica falou me tirando dos meus pensamentos e me trazendo ao presente.
— Eu deixei minha esposa fazer a maior parte do trabalho. — respondi me lembrando da piada que fiz quando fui socorrido.
Naquela época eu só fantasiava em ter Magie em minha cama, mas agora as coisas eram bem diferentes.
— Isso é bom, tenho certeza que a senhora Fontes cuidou muito bem de você. — As bochechas da Barbie se tingiram de um tom vermelho e a médica sorriu, mas meus pensamentos se perderam nas palavras “Senhora Fontes”. — Dava para ver isso na preocupação dela quando chegaram aqui.
Senhora Fontes, nunca houve uma senhora Fontes, mas encarando Magie falando com a médica e parada ao meu lado observando tudo, esse desejo me invadiu. Podia finalmente eu ter encontrado a mulher que levaria meu sobrenome?
Quando saímos de lá eu insisti para dirigir, não queria saber dela atrás do volante enquanto eu a levava até a doceria. Tudo tinha ficado pronto, minha irmãs tinham terminado de decorar, arrumaram todos os equipamentos ontem e me mandaram uma foto, estava tudo perfeito e eu queria fazer essa surpresa pessoalmente.
Magie veio aqui durante a reforma e nos primeiros dias de pintura, escolheu tudo a mão, mas não tinha visto a obra completa e isso tinha sido reservado para mim.
— Feche os olhos e não discuta.
— Pra que isso Alejandro? Onde está me levando seu maluco?
— O que aconteceu com o não discuta, Barbiezinha? Faça o que eu mando uma vez na sua vida. — já estávamos perto e ela bufou, mas finalmente se rendeu e fez o que eu pedi.
Estacionei o carro e dei a volta abrindo a porta dela antes de ajudá-la a descer. Coloquei as mãos sobre seus olhos, não confiando que ela iria me obedecer por muito tempo, já que ela adorava me irritar.
Subi os primeiros degraus e abri a porta de vidro deixando que o ambiente lindo e delicado nos recebesse.
— Vai demorar muito ou agora é a hora que você me mata? — ela perguntou impaciente e eu tive que rir.
Me curvei colocando a boca sobre o lóbulo da sua orelha e assisti seu corpo todo se arrepiar antes dela curvar o pescoço me dando espaço, sempre receptiva aos meus toques.
— Com certeza vou te matar aqui, mas vai ser de prazer, porque vou querer te foder em cada canto desse lugar. — murmurei arrancando um suspiro dela e então finalmente tirei minhas mãos de seus olhos.