Capítulo 25
1845palavras
2023-08-02 14:51
Seus olhos percorreram o nome do currículo abaixo da carteira de identidade e seus lábios se abriram para que ele dissesse em voz alta.
"Roxanne Harvey".
Como? Como isso poderia ser possível? Como isso pode estar acontecendo? Ele tinha lutado — e estava lutando — duro para tirar ela de sua mente, apesar da teimosia de Ziko.

E aqui estava ela de novo! Entrando em sua vida como ela considerava isso adequado? Ele não pediu para vê-la tentando estrangular Peter, no dia em que se conheceram. Ele não havia pedido para comparecer àquela festa de casamento onde se viu atraído pela própria essência dela. Ele não pediu para marcá-la da maneira mais cerimoniosa enquanto fazia o melhor s*xo da sua vida.
Talvez, apenas talvez ele tenha gostado de tudo, mas não pediu nada daquilo.
Ele também não pediu que ela aparecesse do nada na vida dele! E da maneira mais convencional — ou não convencional — das formas.
Quem ela pensava que era para desaparecer daquela forma, humilhar ele e depois reaparecer como se a vida dele fosse dela para atormentar?
'Companheira!', Ziko rosnou dentro dele.
Furioso, Lancelot fechou o laptop. A força com que ele fez isso fez Peter estremecer, temendo em ver o destino da tela do seu laptop.

Companheira, companheira, companheira! Foi só por isso que ele ouviu Ziko chorar. Essa era a única coisa que ele sabia dizer? Eles deveriam ser um só, portanto, por mais impossível que parecesse, eles tinham que tentar esquecer a americana estranha, JUNTOS.
'Ah, cala a boca!', Lancelot gritou mentalmente com Ziko, se levantando da cadeira. Quando sua força fez com que a cadeira colidisse com o chão, os olhos de Peter caíram sobre o pobre objeto de madeira. Ele próprio se afastou de Lancelot. Seu chefe claramente não estava de bom humor.
Peter não sabia como esperava que Lancelot iria reagir, mas não podia dizer que estava surpreso com a rapidez com que suas emoções... se manifestaram sobre ele.
"O que quer que seja...", Peter parou de falar quando os olhos de Lancelot caíram sobre seu pequeno corpo.

Nervoso, ele tossiu para limpar a garganta e endireitou a postura.
"O que você vai fazer agora, senhor? Em relação a situação atual das coisas", ele tentou perguntar. Ele estava ansioso para saber qual seria a próxima ação de Lancelot.
Francamente, Lancelot não sabia o que fazer. Ou o que ele queria fazer, mas ele sabia de uma coisa: ele tinha que levar Ziko para dar uma corrida já que a Dra. Flinn lhe recomendou isso.
Já era hora de ele e Ziko começarem a se comunicarem melhor um com outro em alguns assuntos.
Lancelot arregaçou as mangas da camisa e ficou em frente ao espelho.
"Eu vou correr", ele disse, severamente. Sem ao menos olhar para Peter.
"Senhor, eu estava falando sobre..."
"Eu não preciso da sua companhia, Peter. Você pode ficar aqui e terminar de analisar o resto dos outros documentos. Voltarei mais tarde".
Com isso, Lancelot estava fora de seu quarto, antes mesmo de Peter poder falar alguma coisa.
Depois de sair do seu quarto, Lancelot desceu correndo cegamente os degraus da escada de madeira. Eles estava tentando respirar fundo, precisava respirar, precisava limpar seus pensamentos.
Quando desceu a escada, encontrou Ava e sua mãe prestes a subir.
Madeline ergueu a sobrancelha para o filho e olhou para sua aparência áspera.
"E pra onde você pode está indo com tanta pressa... E por que está tão desesperado assim?"
Lancelot simplesmente deu a Madeline um beijo de cortesia em sua bochecha antes de passar por ela e Ava.
Havia assuntos mais urgentes em sua mente agora, coisas do que Madeline gostaria de saber.
Fora dos muros do palácio Dankworth, Lancelot estava em frente as enormes portas de mogno. Já eram 18h no horário europeu, a brisa fresca da noite invadiu sua pele, fazendo com que os pelos escuros do seu corpo se arrepiassem, uma sensação de frio que a brisa deixava ao passar por ele.
Suspirando fundo, Lancelot olhou em volta uma última vez. Quando teve certeza de que ninguém estava olhando para ele, abaixou a postura, colocou as duas mãos no joelho esquerdo, empurrando a perna direita para trás. Ele balançou a cabeça com veemência.
"Limpe sua mente", a Dra. Flinn havia dito.
Ele faria exatamente isso, agora.
Lancelot abaixou o olhar para o chão. Fazendo isso, ele contou mentalmente de um até dez. Lentamente, ele levantou a cabeça e deu uma última olhada ao redor de sua casa.
Quando piscou pela segunda vez, Lancelot acelerou os passos e disparou a toda velocidade que tinha.
Correr, correr e correr. Ele correria até que suas pernas cansassem. E mesmo que ele se cansasse, ele continuaria a correr, até ter certeza de que era corajoso o suficiente para enfrentar a verdade: a verdade dos seus verdadeiros sentimentos por ela.
Em cima do terraço e olhando para ele, Ava franziu a testa. O que quer que houvesse de errado com ele certamente estava desviando sua mente da única coisa em que deveria se concentrar.
E pela Deusa da Lua, ela jurou descobrir o que estava acontecendo com ele. Então, ela acabaria com isso, de uma vez por todas. Quando ela o viu passar correndo pelos portões, ela debochou e se virou.
Nada iria impedir ela de conseguir o que queria, absolutamente nada.
Assim como ele disse que faria, ele continuou a correr pelas árvores, gramas, estábulos e, quando pisou nos arredores da propriedade, parou para respirar.
'Você pode correr, mas não pode se esconder', Ziko disse, mentalmente.
Lancelot ficou furioso com Ziko.
Por que todo mundo ao seu redor não o deixava em paz? Ele já tinha problemas suficientes para resolver. Aqui estava ele, pensando na única coisa em que já havia pensado: seu lugar como rei alfa da sua alcateia. Falta vinte e seis dias para coroação. Ele deveria estar se preparando, tanto fisicamente, mentalmente e emocionalmente.
No entanto, ali estava ele. Correndo, correndo como se isso pudesse levar ele para longe dela. Longe dos seus pensamentos e quaisquer emoções m*lditas que ele estava sentindo agora.
Ela se infiltrou em sua vida como se fosse uma ladra. Que roubava toda sua paz e tranquilidade, ameaçando fazer ele duvidar de tudo o que já conheceu. Lancelot Dankworth sempre foi um homem que sabia o que queria e sabia exatamente como ter o que queria. Mas, pela primeira vez em sua vida, ele estava confuso.
Lancelot olhou ao redor da floresta cheia de árvores extremamente altas. Depois de ter absorvido o suficiente da paisagem, ele começou a correr novamente. Pegando velocidade enquanto corria ainda mais pela floresta.
'Por que você finge que eu sou o único que a quer?', perguntou Ziko novamente.
'Ziko, agora não. Por favor', frustrado, Lancelot tentou argumentar com seu lobo.
As falas de Ziko não estava ajudando em nada.
'Eu não me sinto atraído por ela só porque ela é minha companheira... ela é a nossa companheira'.
'Então por que mais você a quer, pelo amor de Deusa?!', Lancelot gritou mentalmente. Ziko o estava deixando esgotando. De tanto correr e gritar com ele, Lancelot mal teve tempo para respirar.
Ziko ficou em silêncio. Lancelot ficou aliviado. Mas, quando ele pensou que havia silenciado seu lobo, Ziko falou novamente.
'Porque, em algum lugar dentro de você, você sabe que eu tô certo. Posso ser apenas um lobo, mas também sou uma parte de você. Uma parte de você que está ligada aos seus desejos. Você não a quer porque eu eu a quero, eu a quero porque você a quer'.
'Isso é ridículo...', ele ainda estava correndo.
'Você é um lobo. Você a encontrou e a marcou como sua companheira, você não pode esquecer isso. Não há um mundo em que você possa deixar as memórias dela para trás, mas eu posso...', ele parou de falar para balançar a cabeça.
'Eu vou esquecê-la'.
'Você não vai Lance', Ziko agora foi tão rígido quanto Lancelot normalmente era. Era a única coisa que Lancelot e seu lobo tinham em comum: quando eles queriam algo, eles conseguiam, e não importava o quanto isso custava.
'Eu não vou deixar você', Ziko continuou.
'Você não entende a situação que eu estou passando, não é?! É só marcar quem você quiser e eu que devo arcar com as consequências dos seus atos!'
'Por que você está gritando comigo, Lance? Eu só a marquei, porque ela era minha companheira!', Ziko estava ficando com raiva dentro dele. Os dois estavam atualmente enfurecendo um ao outro.
'E sou eu quem tem que ficar diante da minha família e dizer isso a eles!'
'Ah!', Ziko parecia ligeiramente alegre por isso. Isso irritou Lancelot ainda mais.
'Então esse é o seu medo? Têm medo da sua família? E de sua mãe?'
'Não tenho medo de ninguém', Lancelot retrucou. Ele ouviu Ziko rosnar dentro dele.
'Você quase me enganou com essa mentira'.
'Por que estamos discutindo sobre isso? Não vou falar mais sobre esse assunto', Lancelot falou, e desejou poder acreditar.
Fechando os olhos, Lancelot acelerou os seus passos e correu mais para dentro da floresta. Ele ficava mais rápido, a cada segundo que se passava, até que Ziko uivou dentro dele e conquistou sua forma humana com sua forma de lobo.
Mesmo em quatro patas, seu ritmo não diminuiu, até que ele ficou sem fôlego.
Enquanto Ziko desacelerava, caindo no chão, a forma humana de Lancelot voltou, seu corpo deu de cara com a grama.
A corrida foi emocionante. Ziko o frustrou durante a maior parte do tempo, ainda assim, deitado em uma das melhores conquistas da natureza — a grama — ele não pôde deixar de rir.
A Doutora Flinn estava certa. Agora que ele havia se desgastado correndo, parecia que seus pensamentos estavam... Mais claros.
Embora Lancelot soubesse que no momento em que Ziko abrisse a boca para falar, tudo mudaria.
Mas agora, Lancelot sentia que sabia exatamente o que fazer. Após a briga com Ziko, ele entendeu que ele e o lobo tinham uma coisa em comum: eles não conseguiam ficar longe dela.
A americana maluca que conseguiu abalar seus altos muros. As paredes que ele passou quatorze anos de sua vida construindo ao seu redor.
Quando ele encontrou forças para se levantar novamente, ele deu passos lentos para voltar ao palácio, embora levasse uma longa hora para fazer isso.
Quando ele passou pelos portões e se dirigiu à porta do palácio, encontrou Peter ali, andando de um lado para o outro com uma expressão de preocupação no rosto.
Peter levantou os olhos para procurar seu chefe novamente. Quando seus olhos se encontraram, ele soltou um suspiro de alívio enquanto caminhava rapidamente em sua direção.
"Senhor..."
"Reserve o primeiro vôo que partir para Nova York amanhã".
Peter ficou visivelmente surpreso.
"Senhor?"
Os olhos de Lancelot reconheceram sua presença pela primeira vez desde que ele se aproximou dele.
"Preciso repetir?"
Peter engoliu em seco e balançou a cabeça negando.
"Não senhor, mas..."
"Muito bem então, boa noite pra você também Peter".
Com isso, Lancelot entrou no seu quarto, deixando um Peter sorridente para trás.