Capítulo 21
1583palavras
2023-08-02 03:17
Robert
Quando cheguei da praia, fui para meu Flat. Eu havia ignorado as últimas mensagens de Betina, pois queria pensar bem no que responderia. Não era certo enganá-la ou mesmo insistir numa relação unilateral, eu não conseguia desejá—la porque a via com os olhos de um irmão.
E agora havia Theodora.
Ah, aquela mulher rodou meu mundo bem rápido. Eu já tinha feito sexo gostoso com várias mulheres, mas nenhum com a carga emocional que eu sentia com ela. E me pareceu que nenhuma outra conseguiria superá-la. Aliás, sentia que ela bastava.
Eu já havia desfeito as minhas malas quando bateram à minha porta. Atendi achando que era a senhora da limpeza, mas me surpreendi com a visita do meu pai.
Octávio Servantes me dirigiu um meio sorriso e entrou examinando meu Flat na qual ele visitou apenas duas vezes.
— Olá filho, parece que a viagem lhe fez bem, você está com uma cara bem melhor.
— Sim, eu me sinto muito melhor, era o descanso que eu precisava. Obrigado por ter segurado as pontas na minha ausência.
— O grupo é meu, conheço tudo de cabo-a-rabo. — E como eu não o convidei para sentar, ele mesmo se dirigiu ao sofá — Eu trouxe cerveja.
Então eu percebi o fardo de latinhas que ele carregava na sacola de mão. Abrimos o fardo sobre a mesinha de centro e bebemos cada um sua latinha com sede exagerada.
— Olha pai, eu aprecio momentos como esse, mas o senhor não veio aqui só para tomar uma cerveja com seu filho mais velho.
— É verdade — ele disse, abrindo outra latinha. — Precisamos falar do seu noivado.
— Você veio a pedido da minha mãe? — eu perguntei, mantendo a tranquilidade.
— Sua mãe queria pegar o carro e te buscar de Ubatuba naquele mesmo dia, porém eu a coloquei em seu devido lugar. Você precisava daqueles dias...e não quis atrapalhar você e a moça.
— Ela se chama Theodora.
— Isso, o que você disse no telefone me preocupou. Você falou em acabar com o noivado.
— Sim, pai. Agora vejo com clareza que não é o melhor para Betina e nem para mim. — Coloquei minha bebida sobre a mesinha — E eu quero explorar melhor esse momento com a Theodora.
— Tem alguns fatos que foram ocultados de você, pois você andava muito estressado. — Apertou os lábios finos — Foi um grande erro da minha parte ter convidado o Ferraz naquele dia...na festa do seu irmão.
— Eu confesso que não entendi porque o convidou.
— Tenho negócios com o senador. Tinha, para falar a verdade. Ele sempre me apresentou investidores ao longo dos anos. A briga de vocês acabou trincando nossa relação.
— Ele atacou a Theodora e ofendeu minha mãe! Eu não tenho sangue de barata como o senhor, pai.
— Mas as vezes tem que ter! — ele bradou e eu me calei. — Essa empresa sustenta os nossos luxos. Esse lindo Flat que você mora é fruto dos lucros da RCS.
— Eu reconheço o valor do que você construiu, pai. — Balancei a cabeça, inconformado — Mas há certos limites que não posso passar.
— Enfim, depois que você o socou e o deixou caído no chão de maneira tão vergonhosa eu fiquei lá para apagar o incêndio. Você colocou a boneca no carro e foi fazer não sei o que com ela...
— Não o que você está pensando...
— Eu fiquei lá para escutar o Ferraz dizendo que você ia se arrepender! E eu tive que me humilhar pedindo desculpas porque o senador é um cara perigoso.
— Por que não me contou isso? — Me enfureci — Ele ameaçou nossa família? Você também é forte e influente, por que teve que se desculpar?
— Porque temi por você! — A voz de meu pai soou baixa e mansa — Eu tenho uns contatos na polícia e o Ferraz nunca foi preso por nenhum dos esquemas que já se envolveu.
— O senhor não tem que se preocupar comigo. Se preocupe com você e a mãe. — Levantei, abandonando a cerveja — E não entendi o que o Ferraz tem a ver com o meu noivado.
— É o seguinte, Rob: alguns investidores abandonaram a RCS, gente envolvida diretamente com o senador. Alguns dos "amigos" dele permanecem, mas tem certas condições.
— Quais condições, pai?
— Que a parceria com o Banco Rupert seja concluída e que você deixe a presidência do grupo.
— Foi por isso que não insistiu para que eu voltasse de Ubatuba. — Comecei a perambular de um lado para o outro — Então vai me afastar da presidência?
— De forma alguma. — Meu pai deu a volta no sofá até chegar a mim. Pousou a mão em meu ombro para que eu me acalmasse — Você é família, não vou deixar que te prejudique. Nessas duas semanas eu consegui acalmar os ânimos dos investidores a esse respeito. Mas tem a questão do banco.
— O banco da família da Betina.
— Exatamente.
— Me casar com Betina por causa da empresa é condenar o casamento ao fracasso desde o primeiro instante.
— Filho, não vou te pedir para casar com ela se você realmente não quiser. E não precisa abrir mão da moça...Theodora. — Continuou com a mão no meu ombro enquanto eu permanecia olhando para o chão. — Mas mantenha o noivado por enquanto. Em poucas semanas iremos fechar o contrato com o Banco. É um acordo bem amarrado e vantajoso para ambos os lados. O pai de Betina é muito sensível quando se trata da família dele, pode não assinar a parceria se achar que ofendemos a filha dele.
— Quer que eu finja até a parceria ser assinada...
— Não é um grande sacrifício. E você continua vendo sua amante, se isso te faz feliz.
— Eu vou pensar.
— Porra, Robert, pensar no quê!? — Octávio Servantes abandonou a postura fraterna e voltou a sua rigidez de costume — Sua família também não é importante? Você conheceu essa mulher a pouco tempo e já está agindo como um pateta! — bufou. — Lembra a quem pertence sua lealdade. Não estou pedindo que case com a Betina, apenas que adie o término. É tanto sacrifício assim ficar noivo de uma moça tão bonita e educada como ela?
— Você está certo — eu disse, com voz baixa. Meu pai exercia um grande poder sobre mim e era difícil sentir que o desapontava. — É um pedido razoável.
— Se achar necessário converse com a moça. Dê flores, uma jóia e uma boa foda que ela vai concordar com qualquer arranjo.
Meu pai voltou para o sofá e abriu mais uma latinha de cerveja. Eu fiz o mesmo. Bebemos todo o fardo em silêncio e depois ele saiu, certo de que eu obedeceria.
Pensando bem, não era um pedido tão absurdo se eu pensasse na repercussão de tudo: o acordo do Grupo RCS com o Banco Rupert estava bem amadurecido e seria assinado em breve, dependia apenas da apreciação dos advogados da outra parte.
Eu precisava fazer minha parte para o bom andamento dos negócios. Meu pai estava se esforçando como podia para acalmar os investidores e apesar de saber que o grande vilão era o senador Ferraz, eu não conseguia deixar de sentir uma parcela de culpa por ele estar jogando contra nós.
Então no dia seguinte eu decidi buscar Theodora na saída da aula de dança. Não sei como ela receberia a história, mas acreditei que um arranjo de flores a faria feliz. Nos dias em que ficamos em Ubatuba ela comprou flores algumas vezes para enfeitar a casa e cuidava de cada uma delas com dedicação.
E agora, depois de um breve confronto com um ex dela que eu desconhecia, estávamos no meu carro em direção ao meu Flat. Em outra circunstância eu teria dado vazão ao ciúmes, mas a conversa que teríamos estava ocupando toda a minha atenção.
— Você está tão sério — ela reclamou e eu percebi que ela estava apreensiva.
Quando entramos no elevador eu a abracei com força. Estava com tanta saudade! Beijei-a com sofreguidão e minha barba por fazer castigou—lhe a pele, mas ela parecia gostar.
Seguimos para meu apartamento abraçados e voltei a sorrir depois de tê-la em meus braços. Entramos e ela se agarrou ao meu pescoço. Continuei massacrando os lábios deliciosos, provando o gosto doce de sua língua.
— Você é uma delícia, tenho vontade de devorar você todinha, Tessy!
— Você é o lobo mau...
— Ao contrário do lobo, não quero te engolir de uma só vez, quero devorá-la bem lentamente.
— Mas ainda não. Você disse que precisa conversar comigo.
— Depois...
— Melhor conversarmos agora — Ela se desvencilhou — Vim o caminho todo tentando imaginar o que me diria. Se eu me deitar com você agora para ser dispensada na sequência...
— Não! Como eu a dispensaria se estou louco por você?
Não convencida, ela foi até a cozinha e abriu o armário e agarrou um pacote de biscoitos e o levou consigo até a mesa.
— Estou com fome. Não jantei ainda. Senta aí.
— Eu vou pedir uma pizza, enquanto esperamos, podemos conversar.
— Certo.
Me acomodei na cadeira frente a ela. Theodora comia biscoito enquanto me encarava atentamente.
— Sou todos ouvidos, Rob.
— Tessy, é o seguinte, eu não rompi com a Betina.