Capítulo 20
1342palavras
2023-08-02 03:16
Theodora
Aqueles maravilhosos dias na praia acabaram e Robert me deu carona até minha casa. Percebi que ele ficou surpreso ao constatar a simplicidade da minha residência. Nossa casa ainda tinha marcas de lama nas paredes e eu expliquei para ele que fomos vítimas de uma enchente há pouco tempo. Priorizamos os reparos internos.
Era uma realidade diferente de Robert. A família dele morava na Vila Olímpia enquanto a minha estava na perigosa periferia de São Paulo.

Não o convidei para entrar. Aliás, provavelmente ele não aceitaria. O que existia entre nós era incerto, havia a certeza de que queríamos um ao outro o tempo todo e que o desejo era latente, mas tínhamos um relacionamento?
— Eu te ligo. Quero te ver o mais breve possível — ele disse, beijando-me com ternura.
— Já estou com saudades — eu disse.
— Eu também. Você só me faz bem, Tessy. — Ele disse, com notável sinceridade.
Depois de quase duas semanas juntos, a despedida foi difícil. Eu sabia que teria que voltar para minha realidade a qualquer momento, porém foi tudo tão intenso o que vivemos...
Horas depois eu já estava no meu quarto, a sós com a Lisa. Ela ouvia tudo com apreensão.

— Então você passou de namorada falsa do Kaique à amante do Robert?
— Ele vai terminar com a Betina.
— Foi o que ele falou para você? — Ela estava cética.
— Eu ouvi ele falando isso para a mãe dele, quando ela ligou.

— Caramba. — Lisa respirou fundo — Eu vi o Cristian esses dias e ele deu a entender que a mãe dele estava furiosa. Maninha, você está cheia de surpresas.
— Peraí, você e o Cristian...
— Não!!! — Ela se apressou em negar — Ele me propôs uma vaga de assistente na empresa da família dele. Mostrei meu currículo e estou usando toda a minha lábia.
— Ah, então é por isso que vocês se falam tanto?
— Sim.
— Espero que meu rolo com o Robert não atrapalhe você em conseguir esse emprego.
— É um risco, né? — Ela torceu a boca — Acho que o tal Victor é que está empatando minha contratação. Ele trabalha com o Cristian, não foi com a minha cara!
— Você é paranóica — respondi.
No dia seguinte minha rotina retornou ao normal. Trabalho durante o dia e a noite aula de dança. Kaique andava ausente. Eu sabia que ele estava de namorado novo e quando ele se apaixonava, costumava esquecer todo o restante.
Robert me enviou uma mensagem perguntando o endereço da minha escola e o horário em que a aula terminaria. Fiquei feliz em saber que ele iria me buscar.
A aula de dança foi animada, como sempre. O professor me procurou no final para falar novamente do concurso de dança:
— Tessy, você ainda está disposta a ser minha parceira? Além do prêmio em dinheiro, vão custear um curso de ritmos latinos com La Violetta...
— Sério? Sou muito fã dela! Ela é mexicana.
— Sim, por isso vamos entrar nessa para ganhar! Depois eu te mando uma mensagem para combinarmos os ensaios. Estou montando uma coreografia.
Nos despedimos.
Fiquei parada na porta da escola, esperando Robert chegar. A rua era um pouco escura, mas as luzes da escola ainda estavam acesas.
— Boa noite, princesa.
Me virei sorrindo para o homem ao lado, entretanto me decepcionei ao ver Ector.
— Não parece feliz em me ver.
— Você por aqui, novamente? — Não escondi o desgosto — Sua casa não é para o outro lado?
— Tenho ido muito num amigo que mora na rua de trás. E pensei “por que não ver a Tessy”?
— Bem, como você já viu, eu estou bem — afirmei, olhando para os dois lados da rua em busca do carro do Robert.
— Vou acompanhar você até sua casa. Dessa vez vou aceitar o café da sua mãe.
— Olha Ector, para ser sincera, estou esperando uma pessoa. Um homem, ok? Acho que é melhor você ir, por favor.
— Não precisa inventar nenhum namorado. O único homem com quem você vive para cima e para baixo é o Kaique, aliás nem com ele mais.
— Por que acha que estou sozinha? Acha que sou feia? Desinteressante? Que homem não se interessaria por mim?
— Não é nada disso, princesa. — Ele tentou pegar na minha mão e eu recuei — Você é uma tremenda gata e está ainda mais gostosa de um tempo para cá. É claro que os homens se interessam.
— Só não encosta em mim, certo? — eu disse, dando mais dois passos para trás.
— Eu acho que você não está namorando porque não me superou. E que homem teria a paciência que eu tive? Nenhum. Tem algo inacabado entre nós. E, olha, eu andei lendo bastante sobre o seu problema...
— Não tem problema nenhum comigo! — retruquei. — Eu nem sou mais...
— Vou te ajudar a se tornar mulher, te devo isso.
— Inacreditável! — eu disse, incrédula com a soberba dele. — De verdade, vai embora.
— Vamos juntos. — Ector tentou me puxar pela mão, ignorando meu protesto.
Então uma terceira figura se aproximava de nós:
— Algum problema, Tessy?
Ector parou de me puxar enquanto eu respirava aliviada ao ver Robert vindo do outro lado da rua. Ele já havia saído do carro e andou em nossa direção.
— Está tudo bem por aqui. É só uma tolice entre namorados.
— Ex namorado. E solta a minha mão! — eu disse, irritada, conseguindo me afastar dele. — Que bom que você chegou. — Abracei Robert.
Ele se inclinou e me deu um beijo rápido nos lábios. Depois se virou para o outro homem que parecia pasmo com a presença dele.
— Acho que você está incomodando a Tessy. Pode deixar que daqui da frente eu cuido dela.
— Não sei quem é você e se acha que vai me impressionar com esse carro de marajá, se enganou. Tessy e eu tivemos um relacionamento e sei que fui muito importante para ela.
— Voces namoraram? Não consigo acreditar que o namoro de vocês foi importante para a Tessy. — Ele me abraçou pela cintura, como quisesse demonstrar ao Ector a quem eu pertencia — Então porque a Tessy ainda era virgem quando transamos?
Robert falou de maneira tão casual que atingiu diretamente o ego de Ector. Ele olhou para mim como se eu fosse uma traidora. De repente era como se eu tivesse descido do altar das boas moças para desfilar entre as vagabundas.
Mas não me importei. Aliás, me senti vingada. Ele estava fazendo pouco caso de mim e agora um homem incrível havia me dado a devida atenção.
— Venha, Tessy. — Robert me conduziu até o carro, deixando o outro homem para trás.
Robert me entregou um arranjo de flores lindíssimo assim que me ajeitei no carro.
— São lindas, obrigado.
— Quem era o babaca?
— Ex-namorado. Ele acha que não o superei — disse, aborrecida.
— E superou? — Robert perguntou, sem olhar para mim.
— Mas que pergunta boba! — Não aguentei e ri — Depois de tudo que passamos juntos...
— Eu não conheço a história de vocês, então não posso ter certeza.
— Outra hora te conto tudo. — Passei a mão pelos cabelos claros dele, apreciando a maciez dos fios — Só te adianto que ele não conseguiu me excitar o suficiente para me possuir. Você conseguiu.
Nos beijamos. Minhas mãos buscaram o colarinho da camisa dele, prendendo-o naquele amasso delicioso.
— Melhor sairmos daqui — ele disse baixinho. — Parece que seu ex está observando a gente.
Era verdade. As janelas do carro estavam baixas e Ector permanecia no mesmo lugar, olhando para nós.
— E para onde vamos?
— Minha casa.
— Estou louca para estrear sua cama — eu disse marota.
— Eu também. — Deu uma palmadinha na minha perna — E temos algo para conversar também.
Fiquei subitamente apreensiva.