Capítulo 15
1674palavras
2023-08-02 03:13
Theodora
Na sexta-feira levei minha mala para o trabalho e quando o expediente terminou eu fui diretamente para a Rodoviária, uma vez que não queria perder um minuto sequer das minhas tão esperadas férias. Me despedi das colegas de trabalho com animação e até abracei Enia, tamanha era minha empolgação.
Então cheguei à noite no condomínio e a casa do Toninho era em frente ao mar. Entrei na casa, encantada pela visão estrelada do céu. No lugar havia cinco quartos com suíte, uma cozinha pequena, mas muito bem equipada, havia uma sala bem aconchegante com um lindo tapete felpudo no meio e uma pequena e encantadora biblioteca ao lado. Escolhi um quarto com vista para a praia e depois me preparei para dormir.
O sábado e o domingo foram dias perfeitos. Sol durante a manhã, um pouco de chuva à tarde para refrescar o ambiente e noites de céu limpo. Aproveitei para passear pela cidade de Ubatuba, conheci o aquário municipal e me empanturrei de camarão e peixe. A maresia havia deixado meu cabelo mais volumoso que de costume e eu adorei ver a cabeleira crespa contornando meu rosto majestosamente, como uma juba de leão.
E na segunda-feira eu ainda estava com o humor lá em cima. Limpei a cozinha, fiz um almoço simples e fiquei sentada na areia da praia privativa com um livro que peguei emprestado na biblioteca, até a tarde. Peguei o celular e tirei várias fotos do mar e do céu, mas não obtive muito sucesso em capturar as nuances alaranjadas que desciam em direção ao oceano. Logo a chuva ameaçou cair e eu voltei para casa.
— Que dia lindo! — falei alto, para mim mesma. Coloquei minha calça de ginástica e uma meia no pé e achei um lugar para colocar minha caixinha de som.
A caixinha de som era pequena , porém potente e a música “2 Phút Ho´n” invadiu todo o espaço. Eu comecei a dançar com os olhos fechados, embalada por aquela batida eletrônica, balançando meu corpo de maneira insinuante. Meu cabelo balançava a cada rodopio, as pontas dos pés pareciam que iam deslizar no chão de madeira, mas eu estava inebriada. A música acabou e eu finalizei minha performance com uma inclinação de tronco.
Então vieram as palmas. Eu abri os olhos e percebi que tinha uma pessoa na porta da sala, me observando. Minha visão parecia me trair pois não era possível que eu estivesse vendo o objeto dos meus desejos ali.
— Robert?
— Nunca tive uma recepção tão incrível como essa.
Sim, era realmente ele. O homem trajava um terno bastante elegante, os cabelos estavam mais alinhados que de costume e ele trazia uma pasta de couro na mão. Ele largou a pasta em cima da poltrona e se aproximou a passos largos. O rosto dele tinha um sorriso cínico e perigoso.
— Tudo isso é para mim? O Toninho caprichou mesmo! — E me beijou.
Foi tudo tão rápido! Num instante eu estava dançando e no outro eu estava beijando Robert. Deus, como ele veio parar ali? Estávamos nos beijando! A boca dele se movia com força exagerada sobre a minha, não era gentil como nas outras ocasiões. Os dedos cravaram na pele do meu braço, era como se ele quisesse realmente levar um pedaço meu. Demorou um pouco para eu sair do transe e ter forças para me afastar.
— O que foi isso? Por que está aqui? — Foi a primeira coisa que pensei em perguntar.
— Jura mesmo que não sabia que eu viria para cá? — Ele parecia surpreso e ao mesmo tempo excitado — Nunca imaginei que o Toninho fosse capaz desse tipo de arranjo.
— Do que você está falando? Por acaso pensa que... Ah não! Eu não tinha como saber! — esbravejei.
— O Toninho me ofereceu a casa dele, então você tinha como saber sim. — Passou a mão pelo meu cabelo — Aliás, eu percebi que você ficou muito frustrada com o desfecho do nosso último encontro. Realmente não era certo naquele dia, mas hoje não é o caso...
— Você está fazendo mal juízo de mim! — Me afastei, pois se ele continuasse a acariciar meus cabelos eu não seria capaz de resistir — Em minha defesa, o Toninho não sabia que eu viria. O Kaique me emprestou a casa sem avisar ao pai.
— Achei que tinham terminado — ele disse, eu percebi que esfriou imediatamente. — Vocês são um daqueles casais que vivem terminando e voltando?
— É uma história bem mais complicada que isso — balbuciei. — Só quero deixar claro que vim aqui desfrutar das minhas férias.
— Está bem difícil de acreditar. — Ele tirou a pasta da poltrona e se sentou — Veja pela minha ótica: Chego de uma reunião estressante aqui em Ubatuba e vou descansar na casa que me foi oferecida com bastante entusiasmo pelo seu ex sogro e quando chego encontro você rebolando na sala com uma calça bem apertada bem no momento que eu entro… Parece bem planejado.
— Oras! — bufei. Ele não deixava de ter certa razão em interpretar mal a situação só que eu não tinha arquitetado nada daquilo — Você acha que se eu tivesse vindo aqui para seduzir você não estaria com uma roupinha melhor que essa roupa de ginástica, ou esse cabelo desalinhado?
— Eu achei que você está muito bem assim. — Ele apontou com o dedo para mim, me observando de cima a baixo e notavelmente satisfeito — Na verdade me parece mais tentadora agora do que nas outras vezes que nos encontramos.
“Ai, que vontade de pular sobre ele! Como ele está lindo assim, todo formal...calma Tessy, volte para a realidade.”
— Certeza que não está aqui para me animar? — ele perguntou. — Então eu preciso que você vá embora.
— Não vou embora. — Me ouvi dizer.
Geralmente eu cederia para não causar confusão, mas eram as minhas férias, não ia deixar de lutar por elas — Já tinha planejado ficar aqui há muito tempo.
— Imagina a confusão que seria se descobrissem que estamos em outra cidade dividindo uma casa? É o tipo de dor de cabeça que não quero ter. Você precisa ir.
— Eu cheguei primeiro, então vá você!
— Argh, não sabia que você era teimosa. — Ele voltou a se levantar e a andar de um lado para o outro — Vai parecer uma tremenda desfeita se eu não ficar aqui. — Ele passou a mão pelos cabelos, tentando pensar — Mas não tem jeito,é melhor eu ir para um hotel.
De repente ele ficou pálido e levou a mão para a têmpora. Ele estaria doente?
— Você está bem?
— Estou com uma dor de cabeça que não passa, acho que é fome. Que horas são?
— Quatro horas, você não almoçou ainda?
— Não.
— Bem, tem um pouco do almoço que eu fiz, posso esquentar para você, é simples mas...
— Sim, eu quero.
Eu corri para a cozinha e coloquei novamente as panelas no fogão. Eu tinha arroz e feijão prontos e fritei rapidamente um bife e batatas fritas. Quando depositei o prato na frente dele, Robert devorou tudo rapidamente sem deixar nenhuma migalha. Depois de comer a cor pareceu voltar—lhe a face e o percebi mais tranquilo.
— Estava bom, obrigado.
— De nada! Com certeza você deve comer coisas bem mais elaboradas, mas como eu estava sozinha aqui não quis perder muito tempo na cozinha.
— Não sei se era a fome, mas estava muito bom. — Ele olhou para o relógio na parede da cozinha e depois para a janela onde a chuva caia forte lá fora.
Eu imaginei que seria muito cansativo para ele sair agora para procurar um hotel, ainda mais sabendo que ele estava com enxaqueca. E no fundo eu fiquei muito feliz pela chance de ter ele ali na minha frente, sem ninguém para atrapalhar.
— Olha Robert, porque não dorme aqui hoje e procura o hotel amanhã? A casa tem vários quartos e ninguém precisa saber, ok? Não acho uma boa ideia você sair agora, com essa chuva forte.
— Pensei nisso também.
— Então fique. Somos adultos e totalmente capazes de nos portar civilizadamente — eu disse, fingindo uma segurança que na verdade eu não sentia. — Eu vou ver se tenho algum remédio para dor de cabeça na minha bolsa aí você toma e vai descansar.
— Tessy, estou cansado demais para contestar. — Ele cedeu — Me mostre os quartos.
Eu sorri animada e sai na frente mostrando a casa para ele. Então entramos num quarto ao lado do meu, também com vista para o mar. Ele foi até a janela, abriu o vidro e aspirou o ar fresco e depois voltou para mim sem sorrir, mas visivelmente satisfeito.
— Esse quarto serve, agora vou tomar um banho e descansar.
— Certo.
— Não vai sair? — ele perguntou e um sorriso malicioso surgiu nos lábios dele. — Ou prefere ficar e me ajudar a tomar banho?
— Cla-Claro que não...nossa, porque você precisa ser assim? — Eu me embolei toda e comecei a andar para trás até alcançar a porta para sair — Eu já disse que foi uma coincidência estarmos aqui.
— E eu já disse que não acredito nisso, mas vou entrar no seu jogo e fingir que você não sabia. — Ele começou a tirar a camisa e eu prendi a respiração. Caramba, que corpo lindo! Ele percebeu minha admiração e riu — Eu gosto desse jogo, você fingindo inocência me excita bastante. É por isso que não posso ficar aqui, você é como uma kriptonita.
— Vou te deixar em paz — eu disse, apenas saindo. Ouvi ele rindo, como sou tonta!
Corri para o meu próprio quarto com o coração acelerado e então coloquei a mão sobre meus lábios. Lembrei do beijo repentino na sala e me belisquei para saber se não estava mesmo sonhando.
Mas o que ele queria dizer com Kriptonita?