Capítulo 23
1998palavras
2023-08-02 03:34
POV's Mabel Bieber.

O que eu fiz?

A ficha ainda não caiu.
Sou segurada sem esperar pelos seguranças do russo, debruço, sendo impedida por esses brutamontes de me aproximar. Fico até incrédula ao ver o Nameless se mobilizando para socorrê-la. Alguém do caráter dele, mesquinho, egocêntrico, retirando o terno para colocar envolta da cabeça da pequena, é algo surpreendente. A aparência física nem se fala, achei que fosse um velho gagá e não um homem jovial de vinte e poucos anos. Quebrei muito a cara, mas o que esperar de alguém que é chamado de sem nome?
Ele presta os primeiros socorros, dando assistência como se fosse até um médico. Pede para os curiosos que estão envolta, gases e panos limpos, além de álcool e tesoura. Annabelle grita implorando para que chamem a ambulância. E assim que seus olhos lacrimejados cruzam com os meus, há uma revolta em me vê ainda aqui.
E levanta-se, me empurrando e me enchendo de tapas, jogando toda a raiva e desespero que sente em cima de mim.
— O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA FILHA, SUA LOUCA?
Choro, choro sendo hostilizada não somente por ela, mas sim, pela maioria dessas pessoas que ameaçam até de me lixar. Um dos seguranças atira pro alto, para conter o alvoroço.

— Foi um acidente, eu juro! Não foi culpa minha, a arma disparou sozinha.— alego aos prantos, ouvindo vaias.
— Nada é culpa sua, é impressionante! Você ama se fazer de inocente, mas não passa de uma cobra, Mabel.— quando menciona em alto e bom tom o meu nome, é a gota d'água. O russo ergue os olhos, até se desconcentrando por um momento. — Nunca mais quero olhar para essa sua cara. Tu só traz desgraça para minha vida. Você sempre trouxe! Você é uma praga.
Há tanto desprezo ao proferir as palavras.
Dói muito que Annabelle me odeie tanto assim, chegando acuspir nos meus pés e dando às costas. Por mais que não esteja num bom momento, não é a única que está sofrendo, eu também estou.

— É preciso estancar o sangue, porque senão poderá causar uma hemorragia.— ele informa, às pressas, abrindo também um furo na região do pescoço para que ela possa respirar direito.
Minha irmã tenta impedi-ló, mas o próprio teima dando continuidade ao procedimento.
Até um bandido como ele possui coração.
—Ela conseguirá chegar viva até um hospital.— garante, olhando preocupado para loira que se derrama em lágrimas.— Se afastem!— manda, pegando a menor.— Ela precisa de uma cirurgia urgente.—a carrega nos braços para levá-la pra um dos carros.
E é nesse momento que Lorenzo aparece, sem entender nada o que está acontecendo, com o pacote de algodão doce nas mãos.
Me corta em cheio, porque foi o último pedido da Mel pro pai.
Abaixo a cabeça, muito triste, saindo arrastada pelos seguranças. Na medida que caminho igual uma prisioneira cercada por esses cães- não tendo como fugir e nem sabendo qual será o meu destino daqui para frente- olho para trás chorosa, enxergando Enzo mal por ver outro sujeito desconhecido fazendo o seu papel de levar a sua garotinha machucada nos braços.
E a cena parte o meu coração.
É nessa hora que tomo à atitude impulsiva de me largar e correr em direção a ele pra abraço-ló.
— Me desculpa!— choramingo em meio ao abraço cheio de emoção que lhe dou. Os olhares são voltados para nós dois, até Nameless observa tudo. — Eu não queria machucá-la. Por favor, acredite em mim! Jamais feriria a minha sobrinha. Eu a amo muito, eu a tenho como se fosse a minha filha!— grito para que todos escutem.
Diante do desespero, esclareço que foi um acidente. Mas assim como Annabelle, o mesmo se esquiva, virando a cara.
Os capangas da organização voltam a me puxar, a mando do chefe. E um deles mostra a arma na cintura, avisando para qualquer ato de rebeldia vindo da minha parte novamente, ele atira.
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HOSPITAL DE WASHINGTON D.C
EMERGECY
18:30 PM

É uma corrida contra o tempo.
Melissa está inconsciente, perdeu bastante sangue e o local onde a bala atingiu, fica na região das costas. Os médicos e enfermeiros seguem rápidos a levando na maca para i centro cirúrgico. Nós quatros corremos, os seguindo. Até que em um certo ponto a entrada é restrita.
Nos se separa, Annabelle abraça Lorenzo. Afasto-me desconfortavelmente sentindo que o momento é somente dos dois. Vou pra outro canto e deslizo o meu corpo na parede, sentando no chão frio e começando a chorar.
Me vejo com a mão na cabeça, imaginando mil coisas, torcendo para que a Mel consiga sair viva. Caso aconteça o pior, eu nunca vou me perdoar.
— Quer?— estende, oferecendo o lenço. Encaro surpresa o gesto.
— Não confio em pessoas que se fazem de boazinhas.— o alfineto, por ter bancado o herói.
— E nem eu, em pessoas que mandam outras se passar por si.— analisa a minha irmã, esta que não para de andar de um lado pro outro— Sabe o que acontece com os traidores? Eles morrem.
Joga a ameaça no ar.
— Não perca o seu tempo, Nameless, não tenho medo de você. Esqueceu que está dentro do meu território? Você pode ser o líder da organização mundial, mas quem manda nos EUA sou eu. Não vou hesitar em fazer sua caveira, caso tente alguma coisa contra mim ou contra os meus.
Ri sarcástico, essa risada tira qualquer um do sério. Além de bonito, é estúpido.
— Sua adorável irmã está certa, está mesmo louca.—seus olhos azuis concluem.— Alguém que não está em perfeito estado mental, não é apta para trabalhar pra minha organização. E acredito que os outros chefes irão concordar comigo, quando eu relatar esse pequeno incidente.
— Quer saber, Nameless? Vai lá e me dedura, assina a minha sentença de morte. Não sabe o quanto isso irá me deixar feliz, porque finalmente poderei conseguir a minha tão sonhada liberdade.— o som das minhas palavras, o faz rir.— A parte que mais me agradará, estando no céu ou no inferno sem dúvidas, é que não terei que ficar casada com um homem do seu nível.
— Entendo a sua decepção.
— Não, não entende nem um pouco.
— Também me sinto decepcionado em saber que a minha linda esposa, seja rebelde e me enfrente dessa maneira como se eu fosse nada.— direciona a indireta, com o mesmo olhar irônico.
— E você não é.— cochicho.— Pode ter dinheiro, poder, prestígio, mas nunca passará de um bandido. Se um dia a organização cair, você é o primeiro.
— Faremos as honras de irmos nós dois juntos. Não vou querer ir sozinho, sem a minha adorável esposa.
— Você leva mesmo esse casamento a sério?— o pergunto, achando inacreditável de como se refere a "nós".
— Claro, você ganha todo mês uma pensão de milhões de dólares, vive uma vida de rainha às minhas custas. E o seu dever é cumprir suas obrigações como mulher do chefe.— o fito incrédula, considerando até um insulto à exigência.
— Coitado! O que eu ganho, é graças ao meu trabalho e dedicação à Organização, e não graças ao seu dinheiro.— faço questão de lhe relembrar essa parte, gesticulando com os dedos e ainda murmurando " sacou".
— Metade do meu patrimônio é seu por direito. Caso eu venha a falecer, ficará com tudo.— garante.
Porém, não lembro de ter lido essa parte no contrato pré-nupcial.
— Está blefando.
— No meu testamento tem o seu nome como única beneficiária.
— Olha que incrível, mais um motivo que tenho de torcer pros nossos inimigos te matarem.— dou de ombros, debochando.
E mudo o semblante, ficando apreensiva ao ver um dos médicos chamando a minha irmã, somente ela para outra sala.
— Quais são as chances? — indago transmitindo aflição que sinto através das minhas íris, enquanto sussurro baixinho.
— Do quê?
— Da minha sobrinha morrer.
— Por que está perguntando para mim?— parece confuso.
— Porque você é médico.
— Não sei do que está falando.
— Sabe sim. — sôo convicta, ainda com a cena na cabeça que o vi fazer — Seja honesto comigo, quais são os riscos?
— 10%, não, 25%, vou botar no entorno de 50%, na verdade aumentar para 80%. — fala tão rápido e minha reação é arregalar os olhos, engolindo à seco.
— Assim está me assustando, nem continue.
— Tô apenas jogando os números, americana.— soa despojado, em seguida fica sério.— Numa cirurgia sempre há riscos, mas ela irá sobreviver. Digo por experiência técnica — assume nas entrelinhas a "profissão" e meu coração palpita ao senti-ló acariciar a minha mão. Fico balançada, recebendo o toque suave dos seus dedos macios.
Nós somos despertados quando Annabelle retorna, com o semblante mais aliviado. O gringo até se levanta, achando que ela vai correr para abraça-ló em agradecimento, mas a própria passa reto indo abraçar Lorenzo.
— Acho que estamos sobrando.— ele resmunga no canto do meu ouvido, presenciando o momento íntimo entre o casal.
— Ela não é como nós.— logo corto suas investidas, percebendo a maneira de como ele a olha. Há uma admiração. — Deixe Annabelle fora do seu harém.
— Não tenho harém. — enquanto andamos, discutimos. É até estranho estarmos tão a vontade um com outro.—Costumo ser um homem de uma mulher só, e por sinal, ela está do meu lado agora.— reviro os olhos levemente, pelo charme que usa em flertar comigo.
— Deixa de ser mentiroso, Nameless! Até ficar com a minha irmã, você ficou.— exponho-o, percebendo o quão bom de lábia é.
— Ciúmes?— dá ênfase. Gargalho por ser tão convencido e ter um ego elevadíssimo.— Achei que ela fosse você. — o olho torto— No fundo, desconfiava que não. Porque me apaixonei pela sua voz e saberia diferencia-lá em qualquer lugar.— faz a confissão, umedecendo os lábios e encarando a minha boca descaradamente.
— Vamos deixar uma coisa estabelecida.— o paro na saída do hospital.— Nossa parceira é só os negócios.
— Negócios esses que podem serem facilmente extrapolados.
O impeço com as mãos um "pare", quando se curva para me beijar.
Somos pegos desprevenidos e tiros são disparados. O jogo no chão, protegendo-o. Existe faísca de desejo na nossa troca de olhar, fico perdida na imensidão do brilho que realçam entre seus olhos.
— Passou no teste.
Fecho a mão em punho, bufando, assim que descubro que esse falso ataque foi a mando dele.
— Tenho que confessar que seu ato de heroísmo acabou de salvar a sua vida, americana.— seu tom percorre sarcástico.— Ou devo chamá-la de minha esposa?
— Vá pro inferno! E aproveite e fale um pouco melhor em inglês.
Tiro suas mãos do meu corpo, levantando-me puta de raiva.
—Eu amo a sua marra!— se diverte, ainda caído no chão enquanto me vê ir—Gosto de mulheres indomáveis. Essas são as que mais me atraem. — aos gritos, provoca-me.
Mostro o dedo do meio.
— Me deixa em paz, russo!
— Pra você é chefe, ou marido.
— Foda-se os dois!
Atravesso avenida, tendo uma tontura forte. Puxo da bolsa a tabela de comprimidos, bebendo três pílulas, porque foi muita pressão para um dia só.
Aceno pro táxi antes que o gringo alcance os meus passos, entrando rapidamente. O motorista pergunta se está tudo bem, apenas respondo que sim, com os sentidos distantes.
Começo a delirar.
***********
Algumas horas depois...
21:30 PM
Aos tropeços consigo chegar no local, cambaleando pros lados e pegando nas paredes. Alguns borrões passa em minha vista embaçada do meu vestido sujo de sangue. A sensação de que algo muito ruim aconteceu ao ver sangue escorrendo pelas minhas pernas, é assustadora. Sinto-me dopada. Nem sei como vim parar aqui, como cheguei. Quando dou por mim, já me encontro dentro do hospício.
— Eu quero me internar, eu não estou bem. Acho que estou enlouquecendo!
São as últimas palavras que consigo falar. Após isso desmaio, apagando totalmente.