Capítulo 22
2771palavras
2023-07-19 02:19
POV's Mabel Bieber.
Washington DC.
Me dobro em duas, falando no celular e assando ao mesmo tempo a quantidade de carnes de hambúrgueres. Nunca pensei que trabalho de pobre fosse tão puxado.
— Mais carnes.— aperta de propósito a campainha.
Sem me conter, reviro os olhos, exausta de agir como uma máquina para atender as demandas de garçonete. Não dá, sério! Tô para abandonar o serviço e ficar o dia deitada no sofá da Annabelle sem fazer nada. Nem sei o que estou fazendo aqui, eu sou um desastre! Só me prestei a esse papel ridículo pra anta da minha irmã não perder o emprego.
— Quer ajuda?— o timbre rouco ecoa na cozinha.
Por um lado, até que se fingir de pobre, é bom.
— E aí, Lorenzo.— imediatamente retiro a touca do cabelo, limpando as mãos que estão sujas de óleo.
Não quero que ele me veja assim toda desarrumada.
— Oi, Mel!— ajoelho-me para cumprimentá-la, sorridente. Toco no cabelo trançado da miúda que segura um urso de pelúcia.
— Tia, onde está a minha mãe?— pergunta, com a carinha triste. Logo suspiro, murchando os lábios— Ela prometeu que irmos ao park e nem apareceu lá. — entreolho pro homem acima, este que se mostra desconfortável. — Ela mentiu para mim.
Me abraça, dengosa e fico com o coração partido ouvindo o seu chorinho.
Annabelle também é uma burra, largar tudo e não dar nenhuma explicação.
— Sua mãe teve que resolver umas coisas para mim, meu amor, mas ela me pediu para ir no lugar dela. Eu sabia disso desde ontem, mas estou com a cabeça tão longe que acabei esquecendo— minto.
E seus olhinhos claros se erguem:
— Sério?
— Sim, vamos.
Tiro o avental, segurando na mãozinha da minha sobrinha.
— Eba!— comemora de um jeito sapeca.
— Tem certeza que pode ir?
Enzo se preocupa, com o meu desleixo em largar o horário de expediente.
— Claro que sim. Meu chefe é tranquilo.
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— Não! Não e não!
Meu patrão retruca e grita como um crocodilo. Era só o que me faltava, ter mais um desse tipo infernizando o meu juízo.
— Eu sei que é o meu primeiro dia, mas surgiu um problema. — os encaro inquieta, onde estão na porta de saída do estabelecimento me esperando. — Minha sobrinha está doente e minha irmã viajou, preciso levá-la ao médico.
—Há um adulto ali!— aponta, atrapalhado nos pedidos, porque estou enchendo seus ouvidos.
Bufo, por ser mais inteligente do que eu pensava e não esse japonês fofinho que aparenta ser.
— Ele é um inútil, nem tanto.— me conserto, quando o adjetivo soa um pouco pesado demais.— É só hoje, eu volto logo.
— Se for, está demitida.— ameaça, com o sotaque enrolado e como não é daqui, ainda parece misturar muito o seu idioma natal com o inglês.
— Por favor, não pediria isso se não fosse uma precisão. — suplico, com as mãos entrelaçadas implorando— Eu sou vou no pronto-socorro que fica na esquina, não irá arrancar pedaço. Eu volto num pé e venho em outro.— prometo, indo atrás do mesmo que vai servir uma das mesas.
Os clientes só faltam babam por mim quando eu passo. Essa minissaia está atraindo olhares. Algumas esposas até batem e chutam os seus parceiros por debaixo da mesa por eles prestarem mais atenção em mim, do que nelas.
— Tive uma ideia, faço até de graça, se me liberar. Eu posso ser a garota propaganda da lanchonete e vai chover assim de cliente.— estalo os dedos, convencida.
Aceno até para alguns caras gatos que estão sozinhos.
—Irás me dar prejuízo, mocinha. Volte já pro trabalho!
Nãoo convenço.
Que saco meu!
Me estresso.
— Tá bom, eu pago a minha saída. Quanto é?— lhe pergunto entediada, e quando diz, acha que pode me lascar com o preço para fazer eu desistir. A quantia que o japonês cobra, é o salário do mês da Annabelle — Pode ficar aí com grana, eu não preciso mesmo.— menosprezo o valor,.— Quer dizer, preciso muito.— mudo o tom, quando me encara feio de canto de olho, um pouco desconfiado.— Vou ficar sem salário no meu primeiro mês. Oh, tadinha de mim!— finjo está "chateada"— Oh meu Deus, como eu vou me virar?
Vou saindo de fininha, antes que mude de ideia e me chame de volta.
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POV's Giulia Bieber.
08:10 AM.
Nesse horário não deve ter ninguém em casa, quero tomar um banho e dormir um pouco, até achar outro lugar para me esconder.
Destranco a porta, abrindo-a vagarosamente.
Para o meu azar, a primeira pessoa que me deparo assim que coloco os meus pés na entrada do domicílio, é a mama. Porra! Tô lascada! Ela levanta a cabeça ao escutar o barulho da madeira velha se arrastando e seus olhos escuros estão avermelhados, como se tivesse chorado.
Encolho os ombros, adentrando. Não sei nem onde enfiar a cabeça, fico o tempo todo olhando para o chão, com uma vozinha dizendo dentro de mim: você vai levar uma surra.
— Que surpresa! Mama, o que faz aqui? Não era para você está no FBI?— me faço de desentendida, a colocando num pedestal.
— Tirei o dia de folga. — se põe de pé.—Precisamos conversar.— emite, num tom sério.
Eu nunca a vi assim tão abatida.
O que houve?
— Já sei. O papy aprontou alguma palhaçada contigo, é por isso que está chorando desse jeito né, mama? — jogo logo o nome dele na conversa, seja lá a raiva que sinta de mim, poderá diminuir, caso ache que eu a apoio. — Se o motivo for por causa que o papy tá abrigado aqui, eu faço a cabeça da Annabelle em dois tempos e mando ela botar ele pra fora junto com a pirralha. Eu não suporto mais o choro daquela bebezinha chata, mama. Parece até uma cabrita berrando. — reclamo, criando uma cena que a faça acreditar que sou do contra.
—Não é nada sobre o seu pai.— balança a cabeça em negação.
Daí olha-me profundamente, como se admirasse o meu semblante. Eu não sei o que esteja se passando, mais ela me olha com outros olhos.
— Então o que é?
— Filha, vem cá.
Abre os braços. Receosamente vou, pisando em falso, para qualquer coisa correr caso queira me bater. Envolvo os braços em seu corpo, sendo abraçada fortemente. É um dos poucos momentos que sinto um amor materno, é até uma sensação esquisita, já que sempre me vi sem mãe.
— Você é a minha garotinha. — sussurra baixinho, apertando-me em seus braços. — Eu te amo.— travo, escutando a tal sonhada frase que sempre desejei ouvir.
E me falta coragem para retribuir " eu também te amo, mama", mas não sou boa em expressar sentimentos. Permito somente que algumas lágrimas caíam, sem que ela perceba.
O clima muda, após notar o carrinho rosa.
— Quem é essa menina? — se desgruda, fungando o nariz.
— Aquela dali é a Laurel, irmã da minha melhor amiga.— arqueia a sobrancelha, sem acreditar a princípio.— Não queria ficar tomando conta sabe, mas fui meio que forçada. Não pude dizer um não para minha melhor amiga, ela faz tudo por mim. E será apenas por duas semanas, passa rápido. Só fiquei mesmo, porque tive pena da Emma. Fazia um tempo que ela não ia visitar os avós, porque não tem quem cuide da irmã. A mãe dela é uma viciada, e minha amiga tem que tomar conta de tudo sozinha. — explico nos mínimos detalhes a "situação", a enrolando.— Não há problema que a Laurel fique aqui, né?
— Você tem que perguntar primeiro a sua irmã.
— Mas afinal, onde está Annabelle?

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POV's Annabelle Bieber.
Dia seguinte...
09:40 AM.
" Lembre-se, se sinta segura, caso o contrário ele saberá que está nervosa." as palavras da Mabel martelam em minha mente.
Olho para frente onde o homem de terno me espera a descer do carro, com a mão erguida para que eu segure e assim faço. A sua está tão quente e a minha tão gelada.
— Está se sentindo bem, americana?— interrompe os nossos passos.
— Uhum.— murmuro com a cabeça, mordendo o meu lábio inferior em nervosismo.
A tensão só cresce, por não estarmos sozinhos. Qualquer passo errado, eu levo uma bala no meio da cabeça desses seguranças mal-encarados.
— Você parece pálida. —analisa a minha fisionomia.
— É o clima.— invento, dizendo a primeira coisa que vem pela cabeça.— Está frio.— me abanano, fazendo o contrário do que devo agir. E logo me recomponho, engolindo em seco, quando sou olhada estranhamente.
O silêncio retoma e permanecemos andando juntos de mãos dadas, até o galpão adiante.
Será que ele já descobriu a minha identidade?
E me trouxe até aqui, como um pretexto?
Pode ser uma armadilha...
Arregalo os olhos quando os portões são abertos, meu coração se acelera. Tombo o corpo para trás, recuando, mas o indivíduo intimidador ao meu lado não me permite que eu solte a sua mão e como repreensão aperta de leve, com um olhar frio dando a entender que eu continue. Me sinto na posição de refém, caminhando em passos lentos e na medida que percorro pelo imenso galpão, a parte mais difícil é ter que engolir o choro.
Olhos para os lados, alarmada, presenciando com os meus próprios olhos a cena de horror. É uma fileira de homens, acorrentados; com machucados nas costas feitos a faca, alguns sangram pelo nariz e cospem sangue pela boca. Foram torturados e espancados brutalmente. Por mais que eu queira disfarçar, meu corpo treme inteiro.
— Atire! Mate todos os 10 que confundiu você, faça as honras.
O mafioso chefão ordena, pegando o fuzil da mão de um dos seus capangas e me entregando.
Quero negar, mas vem à tona o que Mabel me disse ontem à noite:
" Não ache que será fácil, o gringo é esperto e se caso desconfie de ti, será pior. Nameless vai querer te testar para ver se é tu é leal a ele. Caso não cumpra, ele não confiará em você"
O flash da voz some e disparo o primeiro tiro, acertando na cabeça de um e o impacto dos destroços de crânio se partindo pra tudo que é lado, chega a fazer o sangue vim respingar no meu rosto. Limpo em choque, querendo tirar a macha do sangue da vítima que eu assassinei.
Sinalizo pro próximo, para executar mais um. Meu estômago se revira, tudo gira ao meu redor enquanto lágrimas solitárias escorrem. E de repente, para minha surpresa impede, abaixando a arma de alto escalão.
— Sei que você ama matar, americana.— o som da frase, me faz ficar perplexa. Mabel é uma assassina cruel desse tipo? Em que ponto a conheço? Eu não posso crer que ela compactue com isso.— Mas deixaremos o serviço pros outros.— sorri de canto, esboçando um orgulho.
Como pode sorrir assim sendo que vidas serão tiradas!
Que monstro.
— Não toque em mim.— o repúdio, traumatizada, gesticulando um pare ao querer colocar a mão envolta da minha cintura. — Preciso de um ar fresco, com licença.
Vou na frente, deixando-o para trás conversando com os compassas. Mais a distância, vejo entregar para um deles, uma maleta com vários dólares. Depois toca na mão do cara e segue vindo para cá. Finjo que não estou o espiando, me amaldiçoando mentalmente por ter o enfrentado.
— Sua voz. — é a primeira coisa que constata, assim que chega próximo a mim. — Está diferente.
" É claro que ele vai notar que o tom sonoro não é igual. E quando isso acontecer Annabelle, terá que usar um truque que o convença." É como se Mabel tivesse pensado em cada detalhe...
— Estou resfriada.— espirro em cima do seu paletó caro. — Oh, me desculpe!— assopro, toda desastrada. E meu ato, o faz retirar do bolso um lenço para limpar o canto de onde tossi.
— Eu não posso pegar um resfriado, é melhor que se afaste.— me manda, meio que com nojo da minha "gripe". E seu pedido, traz uma onda de alívio. Porque pela personalidade, demonstra ser cheio de frescura.
— Poxa...
— É melhor que volte para casa e descanse.— diz, nem permitindo que eu o acompanhe no mesmo carro.— Nos falamos mais tarde.
— Está fugindo de mim?— questiono, falhando o tom, como se a minha garganta estivesse ruim mesmo.
Em alguns momentos esforço para tossir seco.
— Em hipótese alguma, minha linda esposa. — o termo referente, é um misto de adoração tragado com ironia.— Só que os americanos são bem contagiosos, prefiro me resguardar.
" Quando ele te alfinetar sobre a América, retruque."
—A Rússia que o diga, né.
— Não vai nem fazer a perguntar do tipo: quanto é que está o PIB do meu país hoje? É sua cara, desmerecer a maior potência do mundo.
—Eu falo assim?
Meio que deixo no ar a dúvida. E de imediato, volta a ficar na minha frente, ignorando até mesmo a história que inventei de está enferma da garganta. É como se ficasse interessado demais em querer prestar atenção em mim. Começa a circular os olhos, analisando-me por inteira, fazendo o meu peito subir e descer com a aproximação. As pernas ficam bambas junto com o frio na barriga que surge quando coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. A respiração vacila, com o coração quase saindo pela boca ao senti-ló erguer o meu queixo e olhar para o fundo dos meus olhos:
— Por que está tão estranha?— a maneira de como me analisa, totalmente fixado nos meus olhos, faz-me ficar mais tensa. — Tem algo de diferente que não consigo identificar ainda.... É como se você, não fosse você mesma.— sussurra mais para si, enquanto repara.
Será que já sabe que não sou Mabel?
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POV's Mabel Bieber
16:00 PM

Estou suada de tanto correr com a Mel pelo park center. Descanso no gramado, curtindo o clima ensolarado.
— Tia, por que você toma isso?— aponta sapeca para a pílula que bebo, me tirando do transe.
Enzo me fita de relance, também curioso.
— É para controlar a ansiedade.— dou de ombros, a sentando em meu colo. — Às vezes tenho crise.
— Papai, você pode ir comprar algodão doce para mim?— a loirinha pede, gesticulando com o dedo pro carrinho do vendedor que está distante.
— Claro, princesa.— levanta-se.— E você quer Mabel?— oferece e abro um sorriso tímido, por ter gravado o meu nome rápido.
— Não.— nego, sorrindo meio boba.
— Acho que meu pai gosta de você, tia.— a voz infantil alastra baixinha, assim que o moreno nos deixa a sós.
— Quê?— praticamente me engasgo com a própria saliva, corada.
— Ele não olha para minha mãe assim. Eles nem se beijam como namorados.
Reajo incrédula, por a pequena está inteirada demais nos assuntos dos adultos.
— Talvez sejam porque são reservados, meu bem.— uso como desculpa, querendo escapar dos seus olhinhos pequenos.
— Tia, você já se apaixonou de verdade?
O impacto da frase, me arrebenta em cheio ao lembrar do meu primeiro amor.
"Porque aquele homem disse que sim."
O tom que é para ser de uma criança comum e meiga se transforma, ficando mais grosso e irado. É como se o Will tivesse se apossado do corpo da minha sobrinha. A pego nos braços para protegê-la das garras do seu verdadeiro pai. Saco a minha arma da cintura, girando enlouquecida e ouvindo inúmeras vozes no meu ouvido.
— Me solta, tia! Está me machucando— a ouço implorar, mas estou tão fora de si.
— O Will, a deixe em paz! — aos gritos, exijo.
O observo rindo do escândalo que faço, e isso me deixa com mais raiva. Motivada acabar com esse pesadelo, posiciono o dedo para apertar o gatilho, mas antes que aconteça uma mão intervém, querendo retirar a força o revólver de mim. Ocorre uma disputa, um vai e vem. E em câmera lenta, ouço o barulho do disparo do tiro, chegando a doer na alma...
A menininha cai na minha frente, atingida pela bala.
— MELISSA!
Escuto o grito ensurdecedor que dói até na alma que a minha irmã solta, correndo da ribanceira e vindo como uma louca socorrer a filha.
Meus sentidos retornam ao normal, fico paralisada em estado de choque. Fito o braço tatuado, achando que seja Lorenzo que esteja me segurando, mas não é, é um rosto desconhecido.
— Já nos conhecemos?— a pessoa interroga confuso e logo reconheço o dono da voz.
É Nameless.