Capítulo 21
1979palavras
2023-07-19 02:18
POV's Mabel Bieber
Acordo desorientada, sentindo alguém cutucar o meu braço.
— Tia, o que está fazendo aqui na minha casa?— a voz manhosa da criança fofa que segura um urso de pelúcia em mãos, soa interrogativo, com os seus olhinhos curiosos.

— Oi, bebê, nem eu sei.— respondo constrangida, passando a mão na cabeça.— Acabei dormindo demais no sofá da sua mãe. Annabelle vai querer me matar.
Ajeito-me para dar o fora daqui. Calço os meus saltos, vasculhando a procura do meu celular no estofado.
Droga, está sem bateria.
—Melzinha, pode me emprestar o seu carregador? A tia precisa fazer umas ligações.— peço, sem jeito, percebendo o marmanjo de cabelo castanho parado atrás nos observando, com uma caixa de pizza.
O cheiro parece delicioso. Meu estômago revira de fome.
— Papai, você sabe onde está o meu carregador?— a pronúncia me faz engolir em seco. A tal reverencia traz o rosto do meu ex-namorado em meus pensamentos.

— Não sei, pequena.
Os dois parecerem se tratarem como pai e filha, é lindo.
— Deixa pra lá.— os corto, sem querer mais atrapalhar.— Eu carrego em casa.
Falo puxando a minha bolsa. Aí noto uma coisa faltando...

— Puta que pariu!— solto um palavrão alto, mas rapidamente volto atrás quando minha sobrinha faz uma careta confusa.— Nossa, perdi o meu anel, tenho que achar. Sou muito lesada, eu vivo perdendo as coisas.
Me ajoelho, procurando debaixo do sofá.
Onde foi parar?
— Quer ajuda?— oferece-se gentilmente, deixando o jantar que comprou em cima do balcão.
— Não, Enzo, não precisa.— nego, mencionando na força do hábito o velho apelido que costumava o chamar na época que trabalhávamos juntos no FBI.
— Já nos conhecemos?— indaga, erguendo o cenho confuso.
— Você namora a minha irmã, certo? — jogo a indireta, vendo-o ficar corado ao abrir um sorriso tímido. — Ah que cabeça a minha! Nem nos apresentamos direito. Prazer, me chamo Mabel. — estendo a mão de um jeito espontâneo para cumprimentá-lo.
— Prazer é todo meu.— seu tom rouco ecoa numa dimensão, causando uma onda de arrepios.
Entre sorrisos, ocorre um choque de faísca no contato das nossas mãos. Nos afasta, envergonhados, digo que pode ser um sinal. Os olhares que trocamos há segundos atrás traz um misto de chamas que faz o meu coração disparar. Seus olhos brilham tão intensamente. Mordo o meu lábio inferior, incapaz de controlar o quanto o meu corpo está queimando.
— Já ouvi falar muito de você.
— Espero que seja de bem. Porque minhas irmãs adoram falar mal de mim. — retruco despojada, toda sorridente, nem me reconhecendo direito por soar brincalhona.
Eu não costumo ser assim humorada.
O clima descontraído de repente é interrompido.
— Tia, o cascão tá sinalizando que foi a tia Giulia que pegou.
Entreolho pro moleque para ver se está falando a verdade. Ninguém faz conta do menino, coitado. Está todo sujo de lama, parece que levou um banho no meio da rua.
— Ah, não! Sério? Eu vou matar aquela garota!
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VAN -CIA.
POV's ANNABELLE BIEBER.
— Tenho que voltar para casa antes da Mabel acordar. — em meio ao rádio de comunicação, conto para minha supervisora que se mantém na linha.— Annabelle desapareceu. Eu acabei a perdendo de vista, não consigo achá-la de jeito nenhum. Solicito que a equipe disfarçada a procure dentro do hotel.
Uso o código de segurança pedindo autorização, embora não cause muito efeito já que enfrento uma baita pressão dos dois lados.
— A partir do momento que você colocou a vida da sua irmã em risco, arriscando a missão, houve uma quebra de protocolos. Seu ato impensável poderá gerar sérias consequências.
— Eu reconheço o meu erro.
—Agora é tarde. Saiba lidar com os problemas, sem recorrer. Uma boa agente de verdade não pede socorro, antes ela luta. Arrisquei a minha carreira para colocar você na minha equipe, mas vejo que não está preparada. — a voz repressiva do outro lado, é dura, fazendo-me encher os olhos de lágrimas.— Você passou por cima da minha ordem, agente.
— Juro que não vai mais acontecer, chefe, eu prometo.— o desespero aumenta, por haver a possibilidade de ser demitida. — Só preciso achar a minha irmã.
— Sinto muito, mas está fora do meu alcance autorizar uma busca. Estamos na jurisdição do FBI, o nosso dever é informar o departamento. A CIA não tem autorização para atuar em solo americano. Preciso comunicar que há uma civil desaparecida.
— Por favor, chefe, espere mais um pouco.— literalmente imploro, digitando ao mesmo tempo em dois computadores, tentando conseguir acesso nas câmeras de vigilância que ficam nos corredores.
— Você tem 20 minutos, agente, caso não consiga, terei que repassar o caso para o FBI.— ameaça abrir mão da investigação.
— E terá que falar o com meu pai, já que ele é novo o chefe.
Desliga na minha cara.
— Oh meu Deus, por que ela não me leva a sério? — reclamo, por ser tratada igual uma criança por Sara.
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POV's Mabel Bieber.
20:30 PM
— Pizza!— abro a tampa. — É a minha preferida. — admiro, com o estômago roncando. Faz um bom tempo que não como essas guloseimas.
Aproveito para repartir as fatias. Dou o primeiro para Melissa que está sentada ao meu lado, segundo pro meu irmão, o penúltimo pro Lorenzo e por fim coloco no meu prato.
— O pai ainda não chegou, né?— visualizo no relógio o horário, depois direciono o olhar para janela que fica para rua. Até ele pegou o meu carro.— Tenho ir embora, mas o povo dessa casa não aparece.
— Por que você não dorme aqui hoje, tia?
— Não posso, florzinha.— coloco uma mecha dos seus fios claros, atrás da orelha. — Tenho compromisso.— digo, achando até estranho a falta de notícias do russo. Ele me perturba 24 horas por dia.
Engulo o primeiro pedaço da pizza, em seguida bebendo um gole de coca-cola.
— Depois daqui você pode me contar uma história?— pede sapeca. Olho para o Lorenzo que nos encara todo bobo.
— Meu amor, eu não levo o menor jeito. Se for para contar histórias, prefiro relatar sobre crimes. Sou especialista em investigação, tipo CSI.
— Eba!— bate palmas, fazendo todos rirem.— Eu vou adorar.— comemora, tendo uma reação diferente de uma criança comum que ama escutar coisas relacionadas a Disney. Gargalho do seu jeitinho, ajudando Justin a cortar a sua pizza.
Meu irmão é todo atrapalhado, pobrezinho. A mãe ao invés de perder tempo se preocupando comigo, deveria cuidar mais do filho.
Ela nem olha o garoto direito.
— Você é uma policial?—a voz madura percorre curiosamente.
— Digamos que sim. — passo a mão no cabelo, encabulada.
— Trabalha em qual setor?
— Na liderança.
— Que incrível!— exclama, parecendo maravilhado.
— Não, não é nada incrível.— diminuo o entusiamo, ficando séria. Se lembrasse que também estava no mesmo patamar que eu, nem olharia na minha cara. — É muito complicado, tenho que lidar com vários problemas o tempo todo. Eu não tenho nem vida própria.— desabafo, expondo a infelicidade que sinto em viver uma mentira— Está aqui agora com vocês, sem dúvidas, é um dos melhores momentos da minha vida. É como um escape que estou tendo em fugir pelo menos por alguns minutos da minha realidade e ser eu mesma.— as lágrimas escorrem, ao desmoronar, por me sentir tão fraca e sozinha grande parte das vezes.—Estou podendo até rir, coisa que eu não fazia há um bom tempo. — olho fixamente para os olhos do pai da Melzinha, este que se comove.— Se eu pudesse ter a chance de escolher mudar de vida, eu com certeza escolheria essa. Annabelle tem muita sorte de ter essa família.
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POV's Annabelle Bieber
Salão de festa/ HOTEL
A tensão aumenta, com o meu coração quase saindo pela boca. Mordo o meu lábio inferior, sentindo o gosto de fel. Do outro lado da mesa, a figura masculina permanece cabisbaixo. Quero o interromper, explicar que isso é um imenso engano; mas a voz falha, o corpo paralisa, o medo de levar um tiro é constante. Uma vez e outra me pego observando esses seguranças que estão armados entorno da mesa.
— Trataremos dos negócios depois.— o sedutor e atraente homem elegante que parece até mesmo um modelo, se desprende do cardápio.— Está muito calada, americana. Cadê aquela marra toda? — o dono dos olhos penetrantes, debocha ao me ver em silêncio total.— Nas nossas ligações você era muito ousada. Impressionante de como não soltou até agora: "nada de russo, english por favor"— imita o tom, soando mais fino. — Vou começar a falar em russo, se você não abrir a boca. — ameaça, usando uma estratégia para ouvir a minha voz.
— Sabe o que estou achando estranho?— analisa-me de cima abaixo, carregado de desconfiança. Minha respiração fica mais descompensada. — Seu rosto.— diz, tirando de dentro do paletó um retrato. — Acho que os nossos incompetentes capangas, fizeram o trabalho errado e confundiram você.— amostra a fotografia da verdadeira Mabel, estudando minuciosamente a minha expressão facial.— Mandarei matar todos. — soa tão frio, esperando uma reação minha.
Travo, me faltando palavras.
— Ess-a é...— gaguejo, a um ponto de revelar a minha verdadeira identidade.
— Chefe, a música já está pronta.
Ele levanta-se do assento, agindo como um cavalheiro em erguer a mão:
— Daria a honra dessa dança?— me convida. Cogito em recusar, mas não é uma opção. Pela autoridade que possui, o mesmo parece ser bem poderoso, qualquer ato de rebeldia da minha parte pode gerar a minha sentença de morte.
Concordo a contragosto, não tendo escolha.
A música perfect de Ed sheeran começa a tocar.
{I found a love for me
Darling, just dive right in and follow my lead"}
— Não precisa ficar nervosa. — a voz sussurra próximo do meu ouvido, com o seu hálito quente batendo no meu rosto. Seus dedos estão na minha cintura, enquanto acompanhamos o ritmo lento.
{I found a girl, beautiful and sweet
I never knew you were the someone waiting for me}
{Cause we were just kids when we fell in love}
{Not knowing what it was
{I will not give you up this time}
{Darling, just kiss me slow}
{Your heart is all I own}
{And in your eyes, you're holding mine}
Sigo o movimento da dança, com os braços posicionando-os em volta dos seus ombros. Nunca dancei com alguém, é a primeira vez que acontece. Minhas pernas estão bambas, tento controlar o nervosismo, escutando as batidas dos nossos corações.
{Baby, I'm dancing in the dark
With you between my arms
Barefoot on the grass
Listening to our favorite song}
— Eu pensava que havia me casado com uma velha.—revela em meio a trilha sonora da canção.— Foi uma decepção em descobrir que a minha bela esposa parece uma pérola.
Esposa? Quê?
— Namoro com você nesses últimos meses. Flertamos todos os dias pelo telefone. Acho que estou apaixonado por ti, americana.— enxergo um sentimento envolvido em seus olhos azuis.— Sou maluco? Provavelmente. No nosso universo, paixão não é o foco. Mas quando se atrai por alguém tão bonita, vale a pena correr todos os riscos.— gira-me e num ato voluntário, cola os nossos lábios, beijando-me de surpresa. Tento relutar, mas acabo correspondendo o beijo.
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POV's Giulia Bieber
Desço da VAN, me escondendo atrás. Ferrou! Meus pais seguem vindo, discutindo como sempre, até no meio da rua é assim. Como eles conseguem? Minha chefe foi muito burra em chama-lós para cá. Ambos estão de coletes com a sigla do FBI, seguram as armas, prestes adentrar no prédio. O barulho das sirenes de viaturas cercam o local, causando um tumulto.
— FBI.— já chega mandando, amostrando o distintivo na recepção.— Ninguém sai e ninguém entra! Aqui agora se trata de uma cena de crime.