Capítulo 24
1747palavras
2023-08-02 03:34
POV's Selena.
Ando de um lado pro outro, aguardando Justin chegar do FBI. Não vejo a hora de confronta-ló sobre Sara.
— Até que enfim.— reclamo da demora, assim que adentra carregando a cadeirinha da bebê. — O que aconteceu?— pergunto, vendo que está todo suado e sujo de graxa.
— Bati o carro da Mabel.
— Aquele Rolls-Royce?— entreabro os lábios, passada.— Onde?
— A Esther estava chorando.— óbvio, tinha que ter dedo da pirralha no meio.— Me desconcentrei, aí quando dei conta o veículo bateu no poste. — dá a explicação, enquanto a coloca dormindo em cima da cama.
— Também né, você é bem lesado, nunca presta atenção em nada.— aponto do quão desatento é, e seus olhos se reviram com o comentário.— Mas já consertou?
— Tô tentando ligar pra Mabel.— fala, com o celular na orelha. E logo retira a calça, ficando só de cueca.
Justin tem essa mania, é um hábito
antigo. Como só está nós dois na casa da Annabelle, se direciona pro banheiro e o sigo. Presto atenção, observando suas inúmeras tatuagens espalhadas pelo corpo. De relance, admiro que mesmo com o tempo continua atraente.
—O mecânico cobrou 20 mil dólares no conserto.
— Eita!— fico de boquiaberta, com o preço. — Tudo isso num conserto? Esse mecânico deve ter fumado drogas! E das caras!— debocho, observando-o lavar as mãos na pia.
— Estamos falando de um carro de luxo, Selena. Sabe quanto custa um Rolls Royce?
— Mesmo assim. — rebato.— É muito caro!— acho um absurdo. — Nem que eu fosse milionária, não compraria um troço desse. Prefiro continuar andando no meu fusquinha velho, ele nunca me deixou na mão.— dou de ombros, o loiro sorri sapeca pela autodefesa que faço.
— Falando nisso, por que não conversamos sobre ontem?
É direto em sondar, fazendo-me criar um rubor envolta das minhas bochechas. Olho pro chão.
— Da nossa "quase" recaída.— abrevio transparecendo desdém, mordendo o meu lábio inferior.
— Foi insignificante para você, Selena?
Franze a testa, sério, tirando o foco do espelho, para fitar diretamente o meu olhar pensativo.
— Talvez. — deixo a dúvida no ar.— Ou não.— uma vozinha grita no fundo "trouxa". — Sinceramente, quer a verdade?— assente que sim.— Nossa história foi construída a base de mentiras. — quando vai me interromper, o impeço:— Deixa eu falar que eu ainda não terminei, Justin. Sempre houveram trapaças em nosso relacionamento, nunca conversamos como dois adultos. Sabe como acontece as nossas DR? Na base dos gritos. Se trocamos duas palavras é muito. E sabe o que mais me dói em tudo isso? É que nunca soubemos dialogar como um casal. Sempre fomos assim...— aponto pras nossas personalidades fortes.— Os anos se passam e continuamos brigando, como se fôssemos ainda dois adolescentes. Tá na hora de amadurecer, tá na hora de superar certas coisas e escolher entre juntar nossos trapos juntos, ou seguir em frente separados....
— E o que você decidiu, Selena?— há uma insegurança ao perguntar.
— Decidi que...
Quando estou prestes a revelar a minha escolha, somos interrompidos com uma chamada urgente.
**************
[...]
POV's Selena.
00:20 AM.
Hospital psiquiátrico(hospício)
Caminho pelo corredor do hospital psiquiátrico, escutando os gritos dos pacientes que vivem aqui; são gritos apavorantes. É um ambiente pesado, precário, a enfermeira indica que a minha filha está no segundo andar. Como foi permitido apenas um membro da família visitá-la, eu me pus na frente de Justin, querendo ser a primeira.
Toco na maçaneta da porta, hesitando um pouco. Estou nervosa, com medo de qual será sua reação ao me ver; do jeito que as coisas estão, a minha presença poderá acabar ocasionando um surto.
Ignoro os pensamentos, adentrando com bastante cautela.
Sou preenchida pelo pressentimento ruim. Já lidei com muitos casos hediondos, mas é esse é o um dos piores que já vi na minha vida. A primeira coisa que noto, assim que coloco os meus olhos no corpo da Mabel, é o sangramento que escorrem pelas suas pernas indicando um possível sinal de violência sexual. Há hematomas roxos em seus braços, é como se alguém tivesse os apertado com bastante força. Não é somente nessa parte que há machucados, no entorno do seu rosto, principalmente envolta dos olhos, há um roxidão em um deles.
Encosto-me no canto da parede e fico minutos em silêncio, a observando. Os olhos murchos da minha filha se erguem, destacando uma imensa dor. Pela fisionomia lenta, demonstra está controlada por remédios.

— Mãe.— ao chamar-me, vejo o quão mal está.— Me ajuda.
A maneira de como implora, aos soluços, toca-me em cheio por enxergar no fundo dos seus olhos um pedido de socorro.
Por mais que eu tente ser forte e segurar as lágrimas, não dá, é horrível ver a minha garota nesse estado irreconhecível. Choro junto, a aconchegando em meus braços.
Os minutos se passam, até que Mabel me faz um pedido inesperado...
Ela pede que eu a examine como policial.
Todo caso é um caso, mas esse é pessoal. Confesso que hesito no começo, pensando que poderei ao invés de ajudar, atrapalhar. Num caso onde a sua filha está machucada fisicamente e emocionalmente, o ideal é que pessoas especializadas investiguem, e não eu. Mais a própria alega que ficará mais confortável se eu pegar e prender o demônio que a violentou.
— Me conte a sua linha do tempo.
É a primeira evidência que peço, para iniciar o quebra-cabeça.
— Eu tava no hospital.— anoto no bloco de nota. — Depois saí.
— Sozinha?— questiono interrogativa. E a minha filha se cala, ficando pensativa.
— Sim, sozinha. — responde meio aérea.
Daí noto na sua expressão facial que há um nervosismo, como se escondesse alguma coisa.
— Não percebeu que ninguém a seguia?
— Não que eu saiba. Na verdade, eu não sei o certo.
Seu depoimento se torna confuso e havendo algumas contradições.
— Depois disso você foi para onde?
— Eu estava sem carro, já que o meu pai havia pegado o meu emprestado.— se refere a Justin. Se ao menos souber o prejuízo que ele deu, batendo em seu Rolls-Royce....— Eu fui atrás de pegar um táxi.
— E o que aconteceu depois?— a olho intrigada, quando para de falar.
— Fiquei muito nervosa.
— Com o quê?
— Com tudo, foi aí que resolvi tomar os meus remédios.
— Que remédios?
Escrevo no canto da folha, um detalhe que deve ser levado em conta.
— São remédios que tomo para ansiedade.
— Posso ver?— peço e a mesma me entrega, puxando debaixo do travesseiro onde está escondido. — Vou levar para análise. — falo, guardando no saco plástico para ser considerado como evidência.
— Não posso ficar sem os meus remédios, mãe. A minha ansiedade ataca, e sem eles, eu acabo ficando mais descontrolada.— contesta, só que noto uma coisa incomum: a forma de como reage.
— Você parece até uma viciada falando desse jeito. É como se os remédios fossem tudo. — constato a dependência emocional que tem.
— E é. São através deles que me ajudam a ter o escape da realidade. — emociona-se ao falar, até cogito em devolvê-la, mas guardo dentro da bolsa.
Chega a parte mais difícil que é considerado muito constrangedor para vítimas que sofrem o estupro.
Agacho, colocando as luvas.
— Tem certeza?— pergunto mais uma vez, não querendo expor-lá mais do que já está.
— Sim, por favor.— permite, muito sensível.
Inicio o exame, deslizando a ponta do cotonete na sua parte íntima, encontrando vestígio de sêmen no local. Colho, colocando no saco plástico para levar pro laboratório do FBI para identificar o suspeito do crime.
— Mãe.— toca na minha mão.— Obrigada.
Agradece, expressando uma admiração, se sentindo mais segura em me ter presente. Lhe lanço um sorriso de conforto.
— Não precisa agradecer. Sempre estarei do seu lado, filha. Por mais que ache que não, eu prometo encontrar quem fez isso com você.— faço o juramento — Para mim será questão de honrar matar igual como eu fiz com o merda que violentou a sua irmã.
Dou um dane-se pros protocolos, ecoando friamente no finalzinho da frase.
— Ele era o meu namorado, mãe.
— Como consegue defendê-lo?— lhe encaro perplexa, surgindo uma raiva. — Os anos se passam e você continua amarrada ao passado, Mabel. Será que não vê o quanto o relacionamento foi tóxico? Ele era um psicopata! Abusou e feriu a sua irmã! Será que não sente um pingo de empatia?— tento fazê-la de uma vez por todas cair na real.
— Eu não estou o defendendo. Sabe o que queria de fato ter feito com o Will? Ter o matado! Agora sei como Annabelle se sentiu. Suja! Suja tanto por fora, como por dentro. — soa traumatizada, encarando o próprio corpo, havendo um nojo de si mesma.
Solicito que traga um balde com água, começando a banha-lá. É uma cena tão pesada que na medida que jogo a água fria, vendo-a passar a mão pelo corpo enquanto chora aos prantos, presencio o quanto está se torturando psicologicamente.
— Filha?— a chamo baixinho.— Posso te fazer uma pergunta?— sai do transe, resmungando "uhum" em concordância.— Por que está mentindo para todos? — seus olhos ficam surpresos e arregalados ao mesmo tempo.
— Do que está falando, mãe.
—De Hope — pronuncio o nome da sua filha.— Tentaram pega-lá no internato.
Informo, com muito receio de que venha ter um outro surto com o impacto da notícia.
— Nameless não faria isso.— solta meio que se querer, falando alto demais.
— Quem é Nameless?
— Ninguém.
— Escuta bem.— a pego em seu ombro molhado, tendo que ser bem dura:— Tentaram roubar a sua filha, ok que não esteja em estado mental para acusar alguém, mas preciso saber o que está por trás disso.— praticamente altero a minha voz, querendo arrancar a verdade.
— Mama!
É nesse momento que Giulia invade o quarto junto com as outras crianças, em desespero.
— Cadê o seu pai?— é a primeira coisa que pergunto, captando no ar que alguma coisa está errada, por ver marcas de socos em suas mãos. É como se tivesse lutado, assim como trocado tiros.
Giulia possui uma arma. Como? Essa garota é apenas uma adolescente!
— Sequestraram o papy.—ouço, tomando um baque.— E deixaram isso.— entrega o bilhete.
— O que tem, mãe?
Leio, ouvindo Mabel perguntar super apreensiva.
— Disseram que só vão devolvê-lo, se você trocar de lugar com ele.