Capítulo 16
2570palavras
2023-07-15 21:53
POV's Mabel Bieber.
" Nunca mais desobedeça às ordens do chefe "
Inspiro fundo, fechando os olhos e ouvindo o barulho da porta sendo trancada. Agora vão me manter em cárcere de privado também? Soco o espelho com tanta força, que meu ato impulsivo, acaba cortando a minha mão e fazendo-a sangrar. Ligo a torneira, pondo a mão debaixo da água. Sinto a ardência, por ser um corte um pouco profundo, ainda há vestígio de vidros pequenos no local.

Olho para os cantos, analisando a estrutura. Tenho que arrumar um jeito de fugir deste banheiro. Mas como? A janela que há no cômodo é minúscula, não há saída.
— Abre essa porta, Boris!— bato de com força, chamando pelo nome do infeliz, enquanto giro consecutivamente a maçaneta. — Eu fui só em Los Angeles visitar minha mãe, caralho. Desde de quando sou obrigada a dar satisfação de tudo para o gringo? É um casamento, não é uma prisão não.— revolto-me contra essa palhaçada, me dando conta que as coisas pioraram mais pro meu lado, após o falso matrimônio.
Pois por algum motivo, o "Nameless", quer ser informado de todos os meus passos e obrigatoriamente autorizar onde devo ou não ir.
— Abre essa porta, seu velho desgraçado! — irrito-me, por o cão de guarda ignorar os meus gritos e simplesmente não vir me tirar daqui. Eu não vou passar a noite inteira dormindo neste banheiro. — BORISSSSS!— uso mais uma tentativa, berrando. No entanto, não causa nenhum efeito. Apenas o silêncio, só o silêncio.
Deixo as minhas costas deslizarem e sento-me no chão, com a mão toda machucada, apertando a região para não sair mais sangue. Esses dois dias na Califórnia, foi tão bom, pude aproveitar um pouco a sensação de liberdade. Consegui ser eu mesma. Mas é uma pena que não durou tanto tempo, agora me vejo aqui, completamente solitária. Pra que tanto poder e dinheiro, se no final da noite, tudo que vou encontrar é um imenso vazio.
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Washington D.C
20:30 PM.- Sexta-feira.
POV's Annabelle Bieber.
— Tenho inveja da Mabel, ela usa aquelas roupas de grife e não dá nenhuma para nós. Olha para esses trapos, Anna.— reclama, com uma careta de insatisfação ao mostrar a blusa branca que veste. Giulia sempre anda impecável, não sei onde tirou da cabeça que suas roupas não servem mais. — Mabel tem aquelas makes incríveis, não deu nenhuma para mim. Implorei, mas ela disse que depois ia mandar, duvido muito que mande. Agora que está toda besta, nem lembra de nós. Só lembra dos nossos pais, o resto que se foda! Ela nem parece ser mãe de verdade, porque nem das filhas, ela fala. — crítica a nossa irmã, fico só ouvindo.

—Sabe o que eu acho? Talvez ela não queira que as garotas se misturem com a nossa família.— comento, mas a minha voz emite em chateação. Embora sejamos afastadas, é um clima muito estranho não ter um vínculo real com ela. Eu até tentei na viagem passar uma borracha em cima das diferenças do passado, mas não deu. É muito difícil não conseguir perdoa-lá, existe muita mágoa ainda guardada.
— Também né, nossa família nem é grande coisa. Veja nós, não temos nem onde cair mortas. — menospreza o nosso nível social.
— Você nunca cansa de reclamar da vida que tem?— a pergunto, indignada, por ser tão mal-agradecida..— Mabel é Mabel, nós somos nós, ficar comparando não fará nós enriquecer da noite pro dia.
— Você é que pensa, posso roubar as contas bancárias dela.— fala com uma naturalidade, ameaçando partir para meio ilícito. Ela é um perigo com esse celular nas mãos.
— Nem ouse, Giulia! Você viu a confusão que deu com esse negócio de hackear, até pegue pela CIA você foi.— barro suas intenções maliciosas, querendo colocar um pouco de juízo na sua cabeça.— Achou pouco, foi?
— Como é que ia adivinhar que eu tava namorando um agente secreto? Ele agiu de má-fé.— é respondona, além de atrevida, por se negar em reconhecer o erro.— Fui usada, Annabelle, o que ele cometeu é crime da pior espécie. Ele abusou de uma menor de idade, eu vou entrar num processo contra a CIA. — faz acusações, que no meu ponto de vista, vindo de quem se trata são exageradas.
— Claro, sim, vai em frente.— debocho da sua ingenuidade em achar que pode ganhar contra um órgão do governo.
— Por que está rindo, Annabelle?— se zanga, percebendo que estou levando tudo que diz na brincadeira.
— Tô rindo do quanto você é iludida, irmãzinha.
— Ah, vai pra merda, garota!— arremessa o travesseiro em direção a cozinha, onde estou.— Fui enganada por aquele filho da puta, ele não deve nem se chamar Austin. Como pode achar isso divertido? — pela maneira no qual se revolta, acredito que tenha se apaixonado de verdade e seu coração se encontra partido. Essa raiva toda é porque possivelmente os sentimentos do rapaz, foram apenas parte do disfarce.
— Eu te avisei que não era para namorar um bandido, aliás, já nem sei se devo chama-ló de bandido... E sim, de policial.— risonho, corrijo-me. Está sendo engraçado zoar com ela.— Você foi cair logo nas graças de um agente secreto, Giulia. Oh doideira!— sacaneio do quanto se meteu numa cilada, segurando o riso que vem na ponta da língua. Contenho, quando ela me olha de canto de olho, com a cara de choro. — Não fica assim, vai.— a percebo cabisbaixa. Conforto-a, pedindo que mude esse semblante — Vai aparecer outros garotos legais para você conhecer, esse não será o único. Pensa pelo lado bom, é sinal que ele não te merecia. Nada de sofrer por um término de mentirinha.
— Quem foi que te disse que estou sofrendo?— dar uma de superada, sem abaixar a pose. Mas a conheço e sei que está fazendo isso, para não demonstrar os seus sentimentos.
— Não precisa nem dizer, estou vendo nos seus olhos.
— Está vendo errado.— vira a cara, gargalho pela birra que faz em dá uma de durona — Para de insinuar coisa, Annabelle. Não sou mais criança e não preciso dos seus conselhos. Vai cuidar da tua filha que é melhor.— de braços cruzados, murmura, com ignorância. No fundo mesmo, gostaria de está chorando agora no meu ombro.
Saio da cozinha, guiando-me para o corredor.
— Como é que vai ser amanhã?— a voz insegura em querer saber o que vou fazer, paralisa os meus passos. Apreensiva, sinto o frio na barriga atingi-me.
Olho para trás.
— Eu não sei. —um suspiro frustrado escapa dos meus pulmões.— Esqueci de criar alguma coisa, amanhã é o aniversário dela e ela vai querer receber uma foto do pai, prometi isso na carta.— mordo o meu lábio inferior, assumindo a loucura que cometi.
— Ela veio a viagem inteira falando dessa foto, Anna. Já parou pra pensar como a fofinha vai sentir ao descobrir que nesses anos todos, nunca existiu um pai, mas sim uma fantasia que tu mesmo inventou. — toca bem no fundo na ferida. A mando falar baixo, porque a minha filha acabará escutando.
— Sei disso. — sussurro baixinho, olhando para a porta do banheiro.— Mas você quer que eu faça o quê, Giulia?
— Conte a verdade, ora. A verdade é o certo a se fazer. Será melhor que ela descubra por a sua boca, do que pela boca de outro alguém. Já imaginou se a Mabel resolve contar?— fecho a mão em punhos. Aquela lá não teria essa coragem toda. Contudo, não duvido de nada vindo de alguém que me propus a entrar para uma organização criminosa.
— Jamais Melissa pode sonhar que é...— vacilo, falhando a minha voz, faltando-me coragem de falar sobre uma coisa que me causou tanta dor. O desespero desse segredo vir à tona um dia, deixa-me em pânico. As recordações daquele terrível episódio, me assombra até hoje.
— Fruto de um estupro.
— Cala a boca!—lhe mando, estando apavorada. Assusta-me a possibilidade da minha garotinha descobrir tudo.
— Anna, você está romantizando um pai para Melissa que não existe. Para de ocultar os fatos e conta a verdade o quanto antes. Sua filha te ama e ela jamais vai te julgar.— incentiva-me, mas o medo é mais forte. Mel ainda é uma criança, não quero que ela perca a essência e acabe se sentindo um fardo, coisa que nunca foi. Eu a amei desde do primeiro momento que soube que ela era a minha filha.— Pensa em como ela vai se sentir em descobrir que foi enganada pela própria mãe.
Passo a mão sobre o rosto, respirando fundo. Giulia só está piorando a situação.
— Será que você não percebe? Tudo que faço é para protegê-la. Toda criança sonha em ter uma família, ter um pai, uma mãe, já fui como ela. Quando eu tinha 7 anos, Giulia, só morava eu e a mami num lugar muito pior que esse, era dentro de um lixão.— as poucas lembranças daquela fase, me invade. Por mais que não compreenda, existe um trauma. — O velho não morava conosco e eu sonhava em ter um pai. Da mesma forma que a minha filha sonha. Eu pago até um mendigo se for possível, para deixar a minha menina feliz apenas por um dia.— desabafo o porquê de querer dar a minha filha, tudo aquilo que não tive na minha infância.
— Será o suficiente?
— Eu não sei!
— Mamãe? — a voz manhosa surge na sala, causando-me um frio na minha espinha.— Por que que está chorando?— seus olhinhos preocupados, enche-me de tensão.
Será que ela ouviu alguma coisa?
— Nada, meu amor. Caiu um cisco no meu olho.— invento, limpando com o polegar a lágrima que desce. Em forma de tranquiliza-lá, abro um sorriso fraco, indo até a pequena para levá-la pra se vestir.
— Mamãe, tenho que dormir logo, porque amanhã o papai virá e não quero que ele fique esperando eu acordar.— sua voz infantil revela que está ansiosa. Como posso estragar sua felicidade? Que direito eu tenho? Giulia me repreende com olhar, mandando eu despejar a verdade e acabar com essa farsa logo. Só que novamente me acovardo, travando em meio a pressão psicológica.
— Cadê o desenho que você fez pra ele?— mantenho às aparências, fingindo está animada. Mas por dentro, quero morrer. Minha vontade é de me esconder num buraco, para não ter que olhar dentro dos seus olhos e revelar que o homem que ela tanto idolatra está morto.
— Nossa... que lindo!— elogio, sorridente, mostrando a imagem para Giulia que bufa lá do sofá, desaprovando a encenação que faço.
— Gostou mesmo mamãe?— é por causa desse sorriso doce, que eu continuo deixando essa mentira prosseguir. Uma hora terá que acabar.
— Sim, e seu pai vai adorar, neném. — afirmo, tocando em seu bracinho, havendo uma admiração em olha-lá com orgulho. Não posso deixá-la triste, quero que seu aniversário de 8 anos seja incrível. Por isso que amanhã terei que contar a mesma história, vou dizer que ele não veio porque teve uma viagem de urgência, é o que eu faço todo ano.
— Já colocou o que você quer ganhar do seu pai, filha?— assente que sim com a cabeça, apontando pro canto da folha. Leio que quer ganhar um iPhone 14. Vai custar todas as minhas economias, não conseguirei nem dar uma festinha de aniversário pra ela. — Por quê um celular?— indago surpresa, lançando um olhar meio intrigado.
— Porque eu amei o celular da minha tia e quero um igual.— menciona o desejo, sendo o típico de criança sapeca. Suspiro fundo, até onde não convém, Mabel é citada. — Será que o meu pai vai me dar, mamãe?— esperançosamente olha para mim, com o bico manhoso nos lábios, quando a Giulia fica botando pilha dizendo que não existe a menor chance.
—Claro que sim, por que não?— meio que garanto, escutando minha irmã resmungar no fundo. Porque de certa forma, isso irá afetar nossas despesas.
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POV's Mabel Bieber
Abro as gavetas do armário da pia, para achar alguma coisa que me faça sair daqui; uma chave extra, por exemplo. Vasculho, até que no meio das toalhas de mãos, deparo-me com um grampo de cabelo. Aprendi no FBI, a recorrer a meios e essa é única opção que tenho no momento. Fuço o máximo o trinco da porta, tentando abrir. Ajo rápido - para quem está do outro lado não note- depois de praticamente minutos forçando a fechadura de alto luxo, tenho a chance de fugir.
Vagarosamente saio de ponta de pé pelo corredor principal, descendo à escada sem chamar atenção. Ao chegar no último andar do degrau, presencio Boris roncando no sofá da sala. Era para está me vigiando, mas está no décimo terceiro sono. Sorrio achando hilário à cena. Adoraria ver a cara do gringo quando descobrir que o seu cão de guarda não está dando conta do trabalho. Consigo passar pela frente dele e nem mesmo assim, desperta. Meus olhos focalizam para as laterais das paredes, analisando atentamente se não há câmeras escondidas. Em todo apartamento de alto padrão, tem sistema de segurança. Para que não dispare, vou puxando quase na ponta do dedo a porta principal, abrindo-a lentamente.
Observo Boris se mexer. Meu coração dispara. Oh meu Deus! Suspiro aliviada, vendo que é alarme falso e o insuportável do velho não acordou. Essa foi por pouco! Saio em disparada deixando o imóvel, começando a correr em sentido ao elevador. Depois do que ocorreu, acho que não tenho sangue de barata pra suportar sofrer agressão física. Eu levei um tapa na cara, só porque o meu ato de rebeldia de não ter informado o russo da viagem, o deixou furioso.
Daqui para frente será mais o quê? Mais agressões? Cárcere de privado? Ou até mesmo ser morta por contrariar às ordens?
Meio intuito é sumir do mapa; trocar de nome, endereço e até de identidade. Quero ser uma completa anônima, poder finalmente ter a minha liberdade e recomeçar fora dos Estados Unidos.
— Atira!— ergo os braços, enfrentando o sujeito misterioso que esconde o rosto através de um capuz preto, este por sua vez, manuseia um revólver mirando para minha testa.— Pode atirar! —os olhos escondidos por trás, refletem familiares. É daí que de repente puxa o capuz, revelando o seu rosto.
Impactada, arregalo os olhos, engolindo em seco. A incredulidade em revê-lo de novo, é como se eu tivesse ficando maluca em ver com os meus próprios olhos um fantasma que deveria está a sete palmos do chão. Que diabos, isso é real? Ou apenas alucinação? Fecho os olhos para que a miragem desapareça. Novamente abro, mas continua lá parado. De novo pisco, para fazer sumir da minha frente. As tentativas são todas falhas e resolvo estender a mão, receosamente, para tocar no braço e checar se está vivo mesmo. A confirmação me faz ficar zonza, é inacreditável...
Tampo a boca para não soltar um grito.
Eu não estou enlouquecendo.
— Você?
— Oi, Mabel.— cumprimentar-me. Gelo na hora, captando a frieza em seu tom meticuloso. Seus olhos continuam iguais de antes. A simpatia foi o que mais me atraiu nele.
Os psicopatas são atrativos, eles encantam e chegam sorrateiramente até induzir a vítima ao erro. Eles são tão manipuladores que as pessoas ao redor facilmente se deixam levar naquilo que eles falam.