Capítulo 9
1461palavras
2023-07-02 08:36
Washington D.C.
Annabelle Bieber
Esfrego a minha mão querendo eliminar o sangue do bastardo. O seu sangue imundo está impregnado. Na hora que fui checar se estava morto, acabei me sujando. Estamos no meio da estrada, como fugitivos. Eu, meus irmãos e a minha filha. É escuro aqui, os guio com a lanterna. Por precaução, estou armada, trouxe a arma que assassinei Richard. Esse revólver me incrimina, se cair nas mãos do FBI, encontrarão a minha digital.
— Não aguento mais andar.— Giulia reclama, com a cara cansada. Para ela que é metida a rica, murmura o tempo todo. Esta não está acostumada a vir para essas áreas de matagal.
— Iremos parar mais lá na frente. Pare de me perturbar, falto só mais um pouco.— sem suportar suas lamúrias, aviso, continuando puxando a Mel pela mão.
Minha filha também está em um estado deplorável, ela nunca caminhou tanto na vida e fora que está com sono. Me sinto uma mãe irresponsável em ver a minha criança passando por essa situação, tendo que abandonar o seu lar, sua cama e todo o seu conforto, para sair por aí sem rumo.
— Pode me dar água, Anna, não estou mais aguentando.—minha irmã cutuca o meu ombro, minha paciência sobe num grau. Reviro os olhos pela exigência da garota. Na correria acabei pegando uma garrafa d'água para dividir com os três. Eu estou com muita sede, mas não posso beber nem um gole porque penso neles em primeiro lugar.
— É para tomar pouco, para dividir com os outros.— a entrego, tirando de dentro da mochila. Peguei alguns mantimentos, mas não é o suficiente para durar por dias.
— Acho que o cascão também quer.— comunica, e ergo o olhar pro garoto de franjinha que se comunica com o jogo dos sinais. Ele é mudo e não fala, às vezes resmunga, mas sua voz mesmo nunca chegamos a ouvir.
— Dar, pode dar. Mas não é para derramar, Giulia.— analiso o quão desastrada é. — Tu não sabe fazer nada, garota. Me dá isso, sua lesada.— interrompo os meus passos, para arrancar de suas mãos e colocar o líquido na boca do mais novo.
— Sério, Annabelle, estou passando mal. — não sei se é fingimento, mas acaba dizendo que está com calor. Embora estejamos no meio do ar livre, o clima da noite não está nada fresco. — Ah meu Deus! — se abana.
— Tia, o que você está sentindo? — minha menina checa, com os olhinhos preocupados. Até eu fico dividida se devo acreditar, porque do jeito que Giulia é dramática... analiso de canto de olho que está pálida e suando. E dou um voto de confiança, concordando parar pra descansar.
— Dores nas pernas, tá doendo muito! Meu corpo inteiro dói. Esse lugar é bastante quente!
— Bora ficar ali. —focalizo a lanterna para próximo da árvore, para nós quatro se encostar para passar a noite. — Ei, não vamos ficar muito na beirada da estrada para não chamar atenção dos carros. A gente se esconde naquele canto.— cálculo a rota, sinalizando com o dedo. Como toda criança esperta, Mel fica encarando o meu dedo, é daí que ela percebe que está sujo de sangue.
— Mamãe, você caiu?— tenta segurar. Ela não faz ideia do terrível crime que cometi. O sangue de Richard ainda está nas minhas mãos.
— Não, apenas me machuquei.— afasto, impedindo o toque da sua mão.
— Machucou como?
— Na porta.— engulo em seco, me submetendo a mentir. É horrível ter que engana-lá. Olho de relance para Giulia que pede através do olhar, para que eu conte a verdade. Essa garota é tão bizarra, como pode achar que vou dizer para Melissa que sou uma assassina e que no momento estamos fugindo da polícia.
Minha filha só tem sete anos, a cabecinha dela não vai compreender nada.
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Ando de um lado pro outro, escutando minha irmã botando soluções irreais. Giulia se mete com tanto vagabundo daquele bairro, que está virando bandida igual eles.
— Mana, posso hacker o sistema do FBI, sou craque nisso.
— Você lembra da CIA?— a questiono, pelo B.O que deu naquela época. A mami chegou até ser presa por culpa dessa pirralha.
— Eu era criança ainda.
— Por isso mesmo. Você só não foi presa por causa da idade, mas não significa que eles vão deixar passar dessa vez. Se você entrar no sistema do governo, você estará quebrando a porra dos protocolos.
— Eu não ligo para os protocolos, só quero tirar a gente dessa enrascada.— suspiro fundo, desviando para os seus olhos murchos que observa os dois mais novos dormirem na terra fria. Faz é pena.
— O que você sugere, então?— me ponho a ouvi-lá. Vindo de Giulia, posso esperar qualquer coisa.
— Podemos roubar os dados e vender para fora, consigo isso em 1 hora.
— Interessante... — seus olhos azuis cria expectativa, estando surpresos com o meu comentário.— Aêêêêê, vamos roubar o governo! Vamos foder com eles!— debocho da sua imaginação fértil, batendo palmas.
— Você apoia?— acredita na minha "concordância".
— Apoio, claro que apoio.— abre um sorriso contagiante ao escutar. Seu sorriso, me faz querer dar uns tapas em seu rosto para ver se cria vergonha. — É uma baita missão...— encho o seu ego, para fazê-la se sentir confiante.— É uma tremenda missão.... Como eu posso dizer, é uma missão SUICIDA. Por acaso você quer nos matar, sua perturbada?— a repreendo, vendo o rosto da adolescente esmorecer com as minhas palavras. — É claro que não apoio essa loucura!
— Poxa, Anna, ninguém ia saber.
— Sim, ninguém como a CIA, o FBI, a NSA.
— Tive uma ideia melhor, menos perigosa. Que tal a gente roubar o dinheiro da Mabel? Ela nem vai sentir falta.— rolo os olhos, ouvindo uma ideia pior que a outra.— Podemos viver na Europa, morando em Paris. Já pensou a gente tirando foto na torre Eiffel? — o delírio cresce, idealizando uma realidade paralela.
— Não é que você tem razão, Giulia!— falo de um jeito tão espontâneo que ela acredita.— Como eu não pensei nisso antes.— bato na testa, fingindo está caindo nas suas loucuras.— Vamos roubar a nossa irmãzinha.— dou o aval sarcasticamente, com vontade de esganar essa pirralha que ao invés de está pensando comigo numa solução, prefere está fantasiando as coisas.
— Mabel não vai ficar brava.
— Não, lógico que não. Eu matei o namorado dela, vou roubar a fortuna dela... e o que falta mais, hein?
— É isso, Annabelle! — solta, como se tivesse uma ideia brilhante.— Você não acha estranho, Mabel, ser rica estando presa? — insinua. Bufo bem fundo, porque não faço a menor questão de ficar por dentro da vida daquela outra.— Ela deve mexer com meios ilegais. Ela é uma bandida.— de repente me vêm as palavras daquele verme asqueroso, minutos antes de morrer: "Mabelzinha é ambiciosa"
— Sim, e daí?
— Essas pessoas precisam saber que ela matou o Richard, e que ela está solta. Essa gente da pesada vai querer ajudá-la, para querer colocá-la no FBI de novo. Eu conheço como é o sistema, o meu namorado me explicou.— faço uma careta a reprimindo, quando cita que tem um namorado. Bem que eu suspeitava! — Eles fazem de tudo pelos chefes. Acho que a Mabel é a chefe, e o Richard era um capacho.— conclui, como se tivesse experiência no assunto.
— De onde você está tirando essas insanidades, Giulia?
— Pensa comigo: As filhas de Mabel elas nem vivem aqui nos Estados Unidos, vivem no exterior. Porque acho que ela tem medo de usarem as filhas, contra ela. A Mabel que a gente conviveu, não é mais aquela mesma, ela mudou muito.
— Ok, mas isso não significa nada. — não dou a menor relevância.
— Significa sim, se você se passar como a Mabel, você tem a chance de se livrar desse problema e ainda por cima entrar pro FBI.
— Você por acaso, ENLOUQUECEU?
— É a nossa única chance, Anna. — recorre a tudo em meio ao desespero.— Eu posso invadir o sistema e transferir a nossa irmã para um presídio bem distante, longe de o Washington. Assim você terá mais tempo para reverter tudo.
— É uma maluquice! Não, eu não posso. — recuso-me a concordar. Porque estaria sendo hipócrita em roubar a identidade daquela que eu tanto odeio. — Eu prefiro me entregar.
— Como não pode? Você prefere ir presa? Coloque a cabeça para funcionar, mana. Se você assumir esse crime, você irá perder a guarda da sua filha, ela terá outra mãe e você ficará apodrecendo numa prisão. É isso que você quer, Anna? É isso que você sonhou para você?