Capítulo 7
1918palavras
2023-07-02 08:35
  POV's Selena Bieber
7 ANOS DEPOIS...
  Nos últimos anos foram os piores da minha vida, abri mão de várias coisas e ando enfrentando uma enfermidade que aos poucos está me matando. Não sou mais aquela Selena alto astral de antes, a doença me debilitou bastante. Desde que recebi o diagnóstico do câncer pulmonar, foi como se o meu mundo virasse de cabeça para baixo.

Eu sinto muita falta de ar o tempo todo, estou tendo que respirar com ajuda de oxigênio e nem mesmo assim é o suficiente. Às vezes pergunto: por que eu continuo lutando? Os médicos disseram que essa coisa é terminal e que não dão mais 6 meses de vida para mim. Os meus pulmões estão manchados de tumores, e parte de um já está tão danificado que nem funciona mais.
— Happy birthday to you...— acompanhada da minha neta, traz um bolo em mãos e acho tão fofo da sua parte a intenção de me alegrar neste dia tão difícil. Hoje completo 45 anos. A musiquinha traz um ânimo, mesmo tão cansada depois de um dia intensivo de quimioterapia, abro um sorriso fraco para demonstrar que está tudo bem. Embora não esteja, eu não quero preocupa-lá. 
Annabelle é a única que ainda vem me visitar nesse leito de hospital.
— Os anos se passam e você não envelhece, mami. Continua sempre com aquele mesmo rosto, sempre linda.— elogia-me e acho um exagero. Balanço a cabeça em negação, tendo dificuldade de respondê-la devido a tosse.
Ergo os braços para receber a menor que vem correndo. Até ontem ela era uma bebezinha e já está desse tamanho. Annabelle soube criar muito bem a Melissa, acho que se eu tivesse a criado como minha filha, ela teria tido a mesma criação problemática como as outras tiveram.
— Feliz aniversário, vovó!— de uma maneira sapeca, pula-se em cima de mim, dando um abraço tão apertado. Sem esperar o gesto de carinho, sinto uma emoção tão grande. Porque mesmo eu em um estado deplorável, ela não sente nojo e nem vergonha de mim. Inclusive, beija até a minha bochecha— Trouxe um presente para ti, espero que goste. Foi eu mesma que fiz. Tá aqui, oh.— entrega-me um pequeno embrulho com uma caixa de presente, fazendo-me avistar o quanto seus olhinhos brilham para ver a minha reação.

Emociono-me, ficando tocada com o desenho que tem escrito " fique boa logo". Minha neta desenhou eu no hospital enfrentando todo processo do câncer, mas depois eu curada saindo daqui acompanhada de todos os membros da nossa família. Há tantas cores envolvidas, o que me deixa triste. Não reflete a minha atual realidade, porque tudo no momento é sem cor.
Com lágrimas nos olhos, digo o quanto ficou lindo e abraço-a novamente, agradecendo. É nos pequenos detalhes que ainda sou valorizada e não completamente  esquecida.
Repentinamente vem a dificuldade para respirar e sou tomada pela tosse seca. Essa maldita tosse gera uma falta de ar horrível.
— Mami, não se esforce. —intervém em razão da minha atitude de tirar o receptor que filtra no meu nariz o oxigênio. É dificultoso esse negócio, me impede até de falar. — O médico recomendou que a senhora não pode deixar de usar, isso aumenta o cansaço. Não seja teimosa.— repreende preocupada, afastando a mais nova  de perto de mim, por precaução. Seu cuidado todo comigo é tão bonito. É a única que ainda se importa comigo de fato, já os meus outros dois filhos nem ao mínimo querem vir me visitar.

— Eu tô bem, Annabelle.— com a voz quase inaudível, garanto. No entanto os olhos claros analisam-me desconfiadamente a palidez que há em minha face, notando o quanto estou anêmica.  Cada vez que eu faço a quimioterapia, eu pioro. Hoje foi um dos dias que fiquei muito enjoada.— Pare de besteira, me deixe ficar pelo menos um pouco conversando com a minha neta. É só isso que peço. — brigo pelo cuidado excessivo, com uma certa dificuldade para continuar falando. Ela revira os olhos em descontentamento.
— Mami, eu só quero o seu bem. Mas ok, eu vou deixar.— suspira fundo, tendo que ceder para fazer os meus gostos, optando em respeitar a minha escolha. Solta-se a minha neta,  permitindo-a novamente se aproximar da beirada da maca. Seguro na mãozinha da pequena, podendo sentir o apoio da garotinha que me olha docemente.
Ela se parece muito com Annabelle, quando tinha essa idade.
— Aquele filho da puta do velho, nem para te visitar ele serve.— a mando parar de palavrão na frente da criança, evidenciando  um ódio em seu tom de voz em se referir ao próprio pai. Eu não entendo o porquê de tanta raiva, é como se tivesse tomado "as minhas dores", dores essas que não existem.
— Justin está muito ocupado, não o julgue.— o defendo, um pouco desconfortável em cita-ló. Porque ainda há um sentimento guardado e sinto muita falta dele. Não posso apagar os anos que vivemos juntos, mesmo com tantos altos e baixos, fomos felizes do nosso jeito.
— Ocupado?— ri, debochando do quanto posso está sendo ingênua.— Ele tá lá se divertindo com a novinha em Los Angeles,  mami, e você aí...— aponta como se fosse uma coisa injusta, o seu pai ser feliz novamente com outra pessoa e eu estar na beira da morte.— Como  consegue passar a mão na cabeça dele, depois de tudo que ele aprontou?
— Ele não aprontou nada, Annabelle, não  foi bem assim.— a corrijo, expressando o quão abalada fico em tocar no assunto. Sinto a minha voz fluir mais alto, depois que a tosse melhora.— Fui eu que terminei tudo. Se dependesse do Justin, ele ainda estaria comigo até hoje.— assumo, reconhecendo que fui fraca demais em ter desistido facilmente do meu casamento e ter o perdido. Era para eu ter lutado mais, porém estava sem forças para aguentar a pressão que estava sentindo em saber que Mabel tinha sido condenada por minha culpa.
— Olhando pro um lado até que foi bom, já que vocês dois viviam naquela cachorrada, era um verdadeiro inferno. As brigas eram insuportáveis.— admite fazendo uma careta, não poupando nem um pouco as palavras. Ela está se tornando igualzinha a mim, espero que não faça as mesmas escolhas erradas.
Se nem as garotas aguentavam... imagina eu e ele...
— Já passou. — a corto, com o nó na garganta, fazendo de tudo para não chorar, em está percebendo somente agora o quanto o meu casamento era péssimo para todos os lados— Quero saber como está sendo trabalhar no FBI?— enquanto pergunto ansiosa para saber os detalhes, minha neta encosta a cabeça no meu ombro, focada no celular assistindo vídeos.
—Tudo normal, é uma rotina comum como as outras, mami. — diz, não muito à vontade.
— Você não parece nada feliz....— constato pelo desânimo expresso, pois não existe mais aquela empolgação de quando a própria almejava entrar para o departamento.— O que aconteceu, Annabelle?
— Nada demais.— recusa-se a dizer. Até imagino do que se trata.... Richard. Ela ainda não o perdoou por ter a enganado.
Sobressaio dos meus pensamentos, ouvindo:
— Mel, se junta mais perto da sua avó e olhe para cá.— pede, inclinando o celular para tirar uma fotografia. Quero negar pela falta de autoestima, mas para não desagradar ambas, concordo, mesmo estando desconfortável. — Bora, mami, sorria.— incentiva, com um entusiamo tão grande. Sei que seu comentário é sem maldade. Mas como posso sorrir, se estou nessa condição? É impossível e minha filha percebe o quão fico sem jeito. E depois muda o tom, resolvendo tirar as fotos comigo séria.
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20:30 PM- Sexta-feira
Este pode ser o meu último aniversário, é um pouco doído pensar nessa hipótese, mas preciso ser realista.
— Vovó?
— Hum?— a olho de relance, quando sou chamada.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Claro.— ajeito-me as costas sobre a maca, disposta a ouvi-lá.
— É que eu queria saber uma coisa...— a dúvida que seu tom infantil  flui timidamente, me faz ficar atenta.—Você sabe quem é o meu pai?— engulo à seco, quase querendo cavar um buraco para me esconder dentro, de tão tensa que fico.
Oh, droga! Melissa tem curiosidade... ah, não!
— Está me ouvindo, vovó?
— Sim, sim, meu bem.— sem saber o que responder, balanço a cabeça nervosamente.
Por um lado fico aliviada em saber que Annabelle não esteja presente, já que está no banheiro e ficaria muito chateada se tivesse que presenciar esse tipo de conversa. Mas uma hora a minha filha terá que contar o que aconteceu e tem que está preparada para qualquer coisa.
Melzinha é uma criança e não merece descobrir que é fruto de um estupro. Porém, ela tem o direito de saber a verdade.
— Você chegou a conhecer ele?— insiste sendo aquela garotinha idealizadora que sonha em conhecer a figura paterna, querendo saber mais, sobre o homem que eu mesma matei. E devido a pressão toda, começo a sentir falta de ar, por não aguentar lembrar daquele miserável que acabou com a  vida das minhas duas filhas—  Vovó, está tudo bem?—  se desespera, vendo-me ter uma crise respiratória.
— Cha-ma a sua mãe, por- favor..— gaguejo, sem fôlego, apontando para porta do ambiente vizinho. Imploro para que vá logo. — Eu não tô me sentindo bem. —confesso, com a minha vista escurecendo. 
Além do câncer pulmonar, desenvolvi também ataque de pânico. Quando a Mabel foi condenada, lembro que depois que sai daquele tribunal ao ouvir o veredito, eu simplesmente surtei. Até hoje não suporto o baque de saber que a minha garota esteja apodrecendo numa prisão, pagando por delitos que eu mesma cometi.
À justiça foi covarde, e eu mais ainda.
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22:30 PM.
Aos poucos  vou abrindo as pálpebras lentamente devido a claridade da iluminação do hospital que incomoda a minha visão que está meio curva. Mais melhor, respiro sendo auxiliada com o aparelho de oxigênio.  Sinto o toque de alguém segurando na minha mão, retribuo, mesmo não identificando quem está segurando na minha mão tão forte. Pode ser que eu esteja sonhando, mas assim que o vejo em minha frente.... abro um sorriso de lado em revê-lo.
Já faz tantos meses que parece que durou uma eternidade.
— Justin?— interrompe-me impedindo para que eu não fale, para não piorar mais o meu quadro. Fico até envergonhada que o meu ex marido me veja assim tão enferma. Pela falta do cabelo, é preciso tampar a minha cabeça com um lenço. Nem me olhar de frente ao espelho eu consigo mais, porque eu me sinto feia.
Quem diria... é até engraçado que estamos conversando de boa como dois adultos civilizados; existe uma maturidade, um respeito e consideração pela história que vivemos juntos. A mulher dele até me mandou um presente de aniversário, não sei se ela é mesmo "legal" como Justin afirma, mas ele parece feliz em está vivendo uma nova fase. Uma fase onde leva a vida simples, sem luxo e sem qualquer mordomia.
Inesperadamente, recebo uma proposta que faz o meu coração disparar. Porque já estou nas últimas, apenas aguento firmo para ver a Mabel livre. Fiz um juramento para mim mesma de que sou vou morrer, quando eu ver a minha filha solta.
— Aceita morar comigo em Los Angeles, Selena? Eu posso cuidar de você. Diga apenas que aceita.
— E a sua mulher, Justin?
—Melanie não se importa de que você venha morar conosco.
É sério mesmo que ele quer que eu vá morar com ele e sua atual?