Capítulo 10
1949palavras
2023-05-30 13:30
PONTO DE VISTA DA YUNIFER
Eu fiquei de queixo caído ao escutar aquelas palavras, encarando-os incrédula. O que eles estavam pensando? Pagar? Eu não sabia se eles falavam de dinheiro, afinal isso era algo que não lhes faltava, ou se planejavam outra coisa.
De repente, eu tive um mau pressentimento a respeito deste pagamento que eles estavam falando.
Achei que eles tinham cuidado do meu irmão por pena ou bondade, afinal eu não tinha lhes pedido nada.
Quem poderia dizer que eles tinham outros planos?
Não sabia mais o que esperar dos irmãos Ferrer. Eles só davam atenção àquelas pessoas que podiam dar algo em troca, ou seja, eles não ajudavam simplesmente por bondade, apenas em benefício próprio.
Achei que eu não deveria ter esperado grandes coisas dessas pessoas, quer dizer os lobisomens.
Eu levantei minhas sobrancelhas e os encarei com seriedade.
“Por acaso eu pedi para vocês fazerem isso?” Eu retorqui. Por uma fração de segundo achei que estávamos começando a nos dar bem, mas foi tudo uma ilusão.
“Se não tivéssemos feito nada, com certeza seu irmão morreria de fome.” Drake afirmou com naturalidade.
“Eu não irei!” Asher interveio, levantando-se com raiva enquanto encarava Drake.
Lawrence sorriu para mim e disse: “Que tal você nos dar, isto é, para cada um de nós, uma condição. Como se fosse um ticket, o qual poderíamos reivindicar assim que tivermos algo em mente. O que acha? Além disso, não ajudamos apenas o seu irmão, mas também a você. Até enviamos uma carta pedindo desculpas ao reitor, pedindo ele para que conversasse com o seu professor, então você não precisa se preocupar com suas notas. Tenho certeza de que a esta altura você deve ter percebido que não somos o tipo de lobos que ajudam sem querer algo em troca. Se não fosse por nós, de fato seu irmão teria morrido de fome, além de quase ter sofrido um acidente quando tentava atravessar a rua, para comprar comida.”
Ao ouvir esta última parte, eu o olhei atônita. “O quê?! Ele quase sofreu um acidente?!”
Lawrence acenou com a cabeça. “Sim. Se não fosse por nós, vocês dois teriam que passar alguns dias nos hospital. Por isso, eu proponho um tipo de débito com cada um de nós.”
Eu o fitei por um segundo, então olhei para Asher que estava focado em um livro que lia, fingindo não escutar nada da conversa.
Suspirei ao ver Asher aparentemente entretido com o livro, o qual me era desconhecido, mas se chamava ‘A melhor maneira de esconder um cadáver'. Eu não tinha a menor ideia de onde ele conseguiu tal livro.
“Espero que isso não se repita. Fico feliz que você não tenha se machucado.” Eu disse impotente enquanto esfregava sua cabeça.
Asher levantou a cabeça e me deu um sorriso radiante, concordando com a cabeça. “Eu prometo, não vou mais fazer isso. Mas, me ensine a atravessar a rua, não quero que alguém se aproveite de mim para pedir favores só por ter me ajudado.”
Deixei escapar uma risada e então voltei a olhar para os três irmãos, que pareciam esperar uma resposta minha.
“Tudo bem, vamos fazer assim, cada um de vocês pode me pedir o que quiser, como forma de retribuir o favor por terem salvado e cuidado do meu irmão, além de terem me trazido para o hospital.” Eu respondi com um tom educado, olhando para eles como se fossem um tipo de benfeitor, nada além disso. Não havia malícia ou qualquer sentimento estranhos.
De qualquer maneira, embora eu tenha me sentido atraída pelo rosto deles e sua personalidade, eu ainda não queria nenhuma relação com eles. Não havia como eu gostar de algum deles, mesmo depois dos três Alfas terem dito que eu era a companheira deles.
Até aquele momento eu não sabia se aquilo foi apenas uma piada, pois eu era humana, então como eu poderia ter um companheiro? Para ser mais exata, eu tinha três companheiros alfas!
Eu desviei o olhar deles. Não porque eu estava com medo de me apaixonar, mas por temer ficar cega depois de encará-los por tanto tempo.
Assim que ouviram minha resposta, todos abriram um sorriso, satisfeitos, exceto Drake, que bufava. Contudo, ele parecia satisfeito ao saber que eu lhe devia alguma coisa e que ele ou eles gostariam que eu fizesse.
“No entanto, vou lembrá-los de que aceitar um acordo como esses é contra a lei.” Eu falei com um tom sério, mas eles murmuram em resposta.
“Bom, já que conseguimos o que queríamos, podemos ir embora.” Drake disse impaciente, sem esperar minha resposta, ele apenas se virou e saiu do quarto junto com seus irmãos.
Enquanto eles saiam eu revirei os olhos e soltei um suspiro de alívio logo em seguida. Enfim, a temperatura do quarto tinha voltado ao normal, algo parecia estranho na atmosfera do lugar no tempo de visita dos irmãos.
Virei para o lado e observei Asher cujas sobrancelhas estavam franzidas, em uma postura catedrática, lendo cuidadosamente o estranho livro que tinha em suas mãos.
“Você não vai voltar para a escola? Ouvi dizer que você estava se isolando das outras crianças, não tem interagido com os outros. Por quê? O que aconteceu?” Eu perguntei suavemente bagunçando o seu cabelo.
Asher largou o livro e suspirou antes de me responder com uma voz sem emoção.
“Eu não estou me isolando. É que meu nível é alto demais para eles me acompanharem, eles não brincam comigo porque não me entendem. Eu não vou me disfarçar e ser como eles só para gostarem de mim. Eu não quero isso. Fingir não está no meu dicionário. Afinal, eu não sou ator para atuar.”
Ri da maneira como suas feições mudaram rapidamente, então suspirei e fiz um breve aceno com a cabeça.
“Está bem. Faça o que você quiser, mas também precisa interagir com as outras crianças, mesmo que seja apenas um cumprimento rápido ou algo do tipo.” Eu o aconselhei bagunçando ainda mais seu cabelo macio.
Eu não podia controlá-lo nem forçá-lo a fazer amigos, ele sabia cuidar de si mesmo. Mas, no fundo eu só desejava que ele tivesse uma vida normal e feliz, completamente diferente da vida que tínhamos quando morávamos com a Mãe Kilda.
Ao ouvir eu concordar, ele me abraçou com um sorriso alegre.
“Você é a melhor irmã que existe!”
...
Se passarem seis dias desde que eu dei entrada no hospital. Eu tinha me recuperado e estava pronta para retornar à universidade, principalmente porque as feridas já estavam completamente curadas e sem cicatrizes. Isso foi algo que deixou o médico do hospital atordoado com a rapidez com que meu corpo se recuperou.
No fim das contas, eles tinha me levado para um hospital humano e não para o hospital do bando dos Ferrer, embora tenham insistido. Isso tudo só foi possível graças a insistência de Asher, que queria me mandar para um hospital comum, afinal eu era humana.
Mas, eu já sabia que minhas habilidades de cura eram melhores do que as de um ser humano.
Ignorei estes pensamentos e entrei na sala de aula, torcendo para que ninguém viesse brigar comigo. Afinal, eu não podia me dar ao luxo de me machucar de novo, pois eu ainda precisava de participar do Dark Alley, já que estava curada podia voltar a lutar.
Ao entrar na sala notei que todos os olhos estavam virados para mim. Era como eles estivessem diante de uma celebridade, mas engoli esta palavra, embora todos me encarassem como se fosse uma.
Apesar disso, os olhares eram repletos de desgosto e ao mesmo tempo excitados pela curiosidade. A sensação era que minha presença ali lhes causava nojo, porém estavam entusiasmados por terem o brinquedo deles de volta.
Eles continuavam os mesmos.
Porém, eu sabia que no fundo eles tinham inveja por não alcançarem o que eu consegui.
Embora eles tivesse muito dinheiro e isso seja importante, eu também gostava de ter dinheiro. Mas, sem conhecimento e cérebro, eles eram apenas cascas vazias que estavam a serviço do dinheiro.
“Então, essa desgraç*da ainda está viva. Será que ela gostou de ser enterrada a sete palmos do chão?” Foi uma das seguidoras de Samantha que disse isso com escárnio, enquanto me olhava de cima a baixo.
Eu a encarei por um segundo, o qual foi suficiente para me cegar com os sentimentos horrendos que estavam em seu coração.
Então, resolvi lhe dar o sorriso mais doce que podia oferecer e respondi: “Foi bastante confortável. Da próxima vez vou te convidar para ir junto comigo.”
Ao ouvir minha resposta, o rosto da garota se contorceu e suas bochechas ficaram vermelhas de raiva.
Ela apontou o dedo para mim e ficou repetindo ‘você’ inúmeras vezes.
Ri e segui para a minha cadeira. Porém, antes que eu pudesse me sentar, alguém deu um tapa na mesa e chutou a cadeira para longe, impedindo-me de sentar.
Olhei para a pessoa que fizera aquilo, não era outra senão Samantha, cujos seios estavam quase à mostra, por causa de suas roupas extremamente apertadas, até parecia que ela vestia um tubo ao invés de uma camiseta comum. Pode deixar, afinal, a maneira como ela se vestia não era da minha conta.
Eu a encarei com as sobrancelhas arqueadas e indaguei: “Você quer outro soco? Se quiser posso te dar um de graça. Se continuar a me provocar vai levar dois.”
“Você se acha tão arrogante, né? Só porque pegou uma carona na influência dos Ferrer, por isso está cada vez mais cínica?” Samantha interrogou prestes a levantar a mão para me dar um tapa, porém eu consegui parar o seu pulso ainda no ar.
“Se preferir posso ser ainda mais. O que acha?” Sussurrei baixinho com um sorriso.
Depois disso, fui à procura de outra carteira para me sentar, afinal Samantha tinha me impedido da primeira vez.
Meus olhos brilharam quando encontrei um lugar e imediatamente me sentei, eu estava ao lado de alguém que não conhecia, a pessoa sempre estava cabisbaixa e a franja cobria seu rosto.
Qual era o problema dele? Será que estava sendo alvo de chacotas?
No momento em que ia cumprimentar meu colega, um silêncio repentino tomou a sala, o que me deixou intrigada. Então, todos os outros explodiram em gargalhadas.
As risadas não eram descontraídas, mas cheias de zombaria.
“Olhem só, os dois nerds estão sentados juntos!”
“Os dois são farinha do mesmo saco!”
“Até que eles formam um belo casal, não acham? Uma pobretona estudiosa e um escravo da academia! É perfeito!”
“Eu apoio! Eles ficam bem juntos. Tsk, aquele ômega nem é homem! Olha como ele é tão feminino! Mas, até que ele combina com aquela v*dia da Yunifer!”
“Como é que esses dois podem ser nossos colegas de classe? É realmente muito embaraçoso!”
“Eca, eles são muito indecentes! Uma humana e um ômega! Duas criaturas mesquinhas sentadas lado a lado!”
Escutei tudo o que eles disseram sem me importar com o volumo das vozes, era como se quisessem que escutássemos cada palavras. As veias da minha testa incharam e eu cerrei os dentes de raiva, porém ainda mantive um rosto sorridente, embora o sorriso não fosse largo o bastante.
Haha.
Queria abrir a cabeça de cada um deles para ver se alguém ainda tinha um cérebro. Eles pareciam limitados a encarar as pessoas e julgá-las por considerarem ser inferiores a eles.
“Idi*tas.” Eu murmurei e deixei que continuassem a fofocar. Quem sabe eles até se esquecessem do assunto por um instante.
“Pff...”
Uma risada contida veio da direção do meu colega de assento e eu me virei para olhá-lo.
“O quê?”
Ele balançou a cabeça suavemente e a abaixou quando percebeu que eu o ouvira.
“N-nada... E-eu acho que v-você tem razão.”