Capítulo 11
1945palavras
2023-05-30 13:30
PONTO DE VISTA DA YUNIFER
Por alguns instantes observei o ômega ao me lado de quem tanto estavam falando. Embora metade do seu rosto estivesse escondido pela franja, ele não conseguia esconder sua suave mandíbula e o tom pálido de sua pele. Além disso, estimei que ele tinha cerca de um metro e setenta e cinco centímetros de altura.
“Eu me chamo Yunifer. A propósito, se você não se importa, eu vou me sentar aqui do seu lado.” Eu falei com um tom calmo e sorriso caloroso.
O ômega tímido levantou a cabeça ligeiramente para me olhar, após eu me apresentar.
“E-eu me chamo Kale... v-você não se importa de sentar aqui? E-eles... podem fazer várias piadas de mau gosto.” Ele disse, franzindo os lábios enquanto suas mãos estavam inquietas.
Ao ouvir isso, olhei-o nos olhos e fiquei hipnotizada com aqueles olhos dourados que pareciam de um gato.
“Tudo bem. Você deveria se preocupar consigo mesmo, já que eu sou o motivo para eles estarem te provocando.” Eu respondi com suspiro.
Kale balançou a cabeça e disse: “I-isso não importa, eles me atormentam há muito tempo.”
Eu franzi as sobrancelhas ao escutar o que ele disse. Embora eu já suspeitasse que ele era alvo de piadas por parte dos outros colegas, em especial do grupinho de Samantha, que sempre tomavam a iniciativa para zoar alguém. Afinal, Samantha odiava pessoas estudiosas como nós.
Para mim isso era o de menos, pois só provava como ela tinha ciúmes do nosso conhecimento, independente do que acontecesse, ela nunca conseguiria nos alcançar. Mesmo se ela conseguisse, seu coração já estava podre de tanto ter pisado em cima dos outros.
Então, suspirei e estendi a mão para lhe dar um tapinha no ombro.”
“Imagino que tenha sido difícil.” Eu disse olhando-o com simpatia.
Afinal, eu mesma tive a experiência de ser humilhada por Samantha, além de ela me dar um tapa e ser chutada pelo Alfa Drake, enquanto seus irmãos assistiam a cena sem fazer nada.
Aquela experiência foi horrível e eu dificilmente a esqueceria.
Kale balançou a cabeça negativamente e respondeu: “N-não foi tão difícil, afinal, tudo o que eles podem fazer é me humilhar com palavras. Eles ficam espalhando vários comentários e informações falsas sobre mim. Houve uma época em que gostavam de me empurrar e chutar, mas isso não importa mais. Só não quero que você passe pelo o que eu passei. Ter vivido tudo aquilo, ainda mais sendo um ômega, foi terrível.”
“Eles trataram você como um escravo, só porque é um ômega!?” Eu perguntei com cautela, mas as palavras tinham peso e meu olhar era inquisitivo.
Kale suspirou e concordou. “Exatamente. Afinal, os ômegas pertencem aos escalões inferiores e somos os mais fracos, por isso somos vistos apenas como escravos.”
“Isso é horrível.”
Kale soltou uma risada amarga e continuou: “Bom, mas o que posso fazer?... Eu nasci assim, nasci como um ômega, tudo o que posso fazer é aceitar a vida que me foi concedida.”
“Mas, isso não significa que eles têm o direito de te humilhar ou abusar de você só por ser um ômega.” Eu falei com seriedade, encarando Kale com firmeza, pois parecia que ele estava conformado com seu destino.
Kale deu de ombro e respondeu com um tom suave: “Bom, não há nada que possa ser feito.”
Mais uma vez eu franzi a testa, mas não disse uma palavra. Não podia fazer nada a respeito da maneira como ele lidava com os comentários humilhantes. Se ele não conseguia ajudar a si mesmo, como eu poderia ajudá-lo? Além disso, ele permitia que os outros o fizessem de gato e sapato, sem nunca revidar.
De repente, quando ia continuar a nossa conversa sobre aqueles que o atormentavam, senti uma coisa pegajosa escorrer pela minha cabeça e ao olhar para Kale notei que ele estava coberto com a mesma substância.
Era uma tinta vermelha com um odor desagradável. O ômega Kale apenas suspirou quando viu o estado de sua camisa branca, sua cabeça também estava coberta com a tinta. Eu não estava muito diferente, meu cabelo foi tingido pela gosma, mas pelo menos não tinha atingido o meu rosto, senão eu teria dificuldades para me limpar, principalmente por causa da pele sensível.
Eu ergui a cabeça a procura de quem tinha jogado a tinta fedorenta. Contudo, antes mesmo de verificar quem eram os autores, eu já tinham uma boa ideia de quem eram.
Sim, foi ninguém menos do que Samantha e suas seguidoras.
Todos estava rindo da nossa situação lamentável, o que parecia deixá-los de excelente humor.
Quando eu levantei a cabeça, as veias da minha testa já estavam salientes. Eu ignorei a tinta que já escorria por meus ombro e encarei Samantha, que ria de nós.
“Isso é o que você merece por nos confrontar. Quem você pensa que é? Você é apenas uma pobre coitada que estuda aqui! Como alguém como você se atreve a chamar a atenção dos Ferrer! Saiba que eles são meus!” Samantha disse explodindo de raiva, ela me olhava com olhos de um animal selvagem à espreita de sua presa.
Ao ouvir aquelas palavras, não contive o riso. E daí? Ela achava mesmo que eu queria ser o centro das atenções por causa de três idi*tas? Então, deduzi que provavelmente que Drake e seus irmãos gêmeos tinham algum interesse em Samantha, do contrário, por qual outro motivo eles iriam defendê-la?
Será que alguém já tinha pensado que Samantha era o alvo deles?
Mas, eles tiveram a coragem de se dizer que eu era sua companheira predestinada.
Portanto... já que eles me rejeitaram, significava que o motivo talvez tenha sido Samantha.
Suspirei tentando manter a calma, joguei meu cabelo todo tingido de vermelho para trás e olhei friamente para Samantha, que me encarava com aquele sorrisinho malicioso.
“É óbvio que você está apaixonada por mim, por isso está tentando chamar minha atenção. Sinto muito, embora eu aprecie seus sentimentos por mim, não posso aceitar o seu amor.” Falei tudo isso com bastante calma e olhando diretamente nos olhos dela.
A sala inteira ficou em silêncio. No mesmo instante, o rosto de Samantha ficou vermelho como um tomate, fitando-me furiosa como se quisesse me despedaçar.
“COMO VOCÊ TEM CORAGEM DE DIZER ISSO?!” Samantha gritou arfando de raiva.
Quando ela fez menção de me dar um tapa, eu segurei seu pulso com força.
Eu apertei o pulso dela até fazê-la chorar de dor, gritando de agonia enquanto tentava se libertar.
Ela era muito fraca.
Eu nem estava usando tanta força, mas ela imediatamente gritou de dor.
“Me solte! Ai! Isso dói!” Samantha continuava esperneando, mas eu fingi que não ouvi e a mantive presa.
Então, eu me levantei de onde estava sentada, encarando-a com frieza, ela logo deu um passo para trás e seus seguidores já estavam de prontidão para resgatar sua rainha.
“Ah, então você também sente dor.” Eu ponderei, observando-a ainda com um olhar gélido.
“Claro! Você acha que eu sou um robô?!” Ela rebateu furiosa, me fazendo rir com tal resposta.
“E quanto a mim? Você acha que eu sou um robô? Não consigo sentir raiva ou dor depois do que você fez comigo? Ou ainda você pensou que eu sou do tipo que perdoa facilmente?” Eu a interroguei de maneira implacável, mas sem erguer o tom de voz enquanto acariciava seu rosto.
Naquele momento, seu rosto branco como jade já estava todo coberto com a tinta vermelha odorosa, a qual ela tinha jogado em mim e Kale.
O rosto dela se contorceu de horror, quando eu pintei suas feições, gritando enquanto tentava se libertar de mim.
Notei que seus lacaios tentavam ajudá-la, empunhando o que tinha para me bater. Alguns estavam segurando seus copos térmicos, outros apontavam uma caneta para mim, como se pudessem me esfaquear com aquilo.
Apenas os observei com atenção.
“Vocês finalmente tomaram coragem para fazer alguma coisa, não me culpem por ser impiedosa.” Eu disse colocando peso em cada uma de minhas palavras, ameaçando-os com o olhar. Então, todos ficaram quietos e abaixaram os objetos que seguravam.
Ao vê-los assim, Samantha gritou furiosa.
“Covardes! Ela é apenas uma humana fraca! Não pensem que vocês não são capazes de derrubá-la?!” Samantha esbravejou com raiva para suas seguidoras.
Voltei a olhar para Samantha e me deliciei enquanto eu pintava seu ombro, seu rosto e sua barriga com a tinta vermelha, que estava por todo meu corpo. Ela não parava de gritar e todo seu corpo tremia de nojo.
Mas, quando eu ia dar continuidade a minha obra de arte, uma voz fria ecoou atrás de mim, porém, ainda apliquei um pouco de tinta no peito de Samantha. Logo em seguida, eu me virei e olhei para a pessoa, ou melhor lobo, que havia falado há pouco.
“Você veio até aqui para me chutar de novo, como fez no meu primeiro dia?” Eu indaguei no mesmo tom gélido, enquanto mantinha os olhos fixos em Drake, que olhava para nós, porém tive a sensação de que ele estava olhando só para mim.
“O que você pensa que está fazendo?” Ele perguntou inexpressivo, mas me examinando, enquanto aguardava uma resposta.
Ao vê-lo agir daquela maneira, soltei uma risada irônica, soltando o pulso de Samanta, que caiu sobre a mesa tremendo de nojo e com os olhos marejados.
Quando ela viu Drake, seus olhos brilharam como se estivesse diante de seu salvador.
“A-alfa Drake... me ajude! E-eu sou a vítima...” Samantha chorou enquanto olhava para Drake.
Eu apensa revirei os olhos para ela e zombei de Drake, o qual parecia um herói salvando sua heroína dos braços do vilão. Era claro, que neste caso eu era a vilã na visão dele.
“Vamos, salve a sua donzela em perigos. Ela está implorando por ajuda.” Eu disse com sarcasmo, lançando um olhar para o ômega Kale, então o agarrei pelo pulso e o arrastei para fora da sala comigo.
Depois de saímos da sala, levei-o até um lugar confortável. Afinal, se eu o deixasse lá sozinho, com certeza ele seria alvo de novas brincadeiras de mau gosto.
“P-por que você me trouxe para cá?” Kale perguntou com certa hesitação nos olhos.
Será que ele não sentia o cheiro ou visto o que tinha acontecido com ele?
Por um segundo eu o observo com um olhar confuso. “Nós precisamos tomar um banho, é claro. O que mais poderíamos fazer neste lugar além de tomar banho?” Estávamos fedendo tanto e nosso corpo ficou todo pegajoso por causa da tinta vermelha.
Ao ouvir o que lhe dissera, ele timidamente desviou o olhar. “Você tem roupas sobrando?”
“Não.”
“Bom... e-eu tenho algumas camisas reservas...”
“Ok, obrigada. Eu vou pegá-las, onde estão?” Eu respondi sem demora.
“Estão no meu armário. Eu pego para você.” Kale respondeu, se preparando para ir buscar as roupas, mas eu o parei antes de ir.
“Não precisa, eu posso ir buscar. Tome um banho primeiro.” Depois de dizer isso, fui até o armário dele.
Porém, quando estava no meio do caminho tive que parar ao ver Lawrence e Ishid, encostados em um armário, aparentemente eles esperavam por alguém.
Arquei as sobrancelhas ao vê-los, mas agi como se não os tivesse visto e segui para o armário de Kale.
Ao abri-lo, vi um sombra se projetar na minha frente, então soltei um suspiro pesado.
“O que vocês querem?” Eu perguntei calmamente, limpando minhas mãos na camiseta branca para poder pegar a muda de roupa do armário de Kale.
“O que aconteceu?” Eles perguntaram juntos no mesmo tom frio.
Fechei a porta do armário, sem me preocupar em responder as suas perguntas.
Mas, quando ia me virar para sair dali, eu me vi encurralada contra a parede de armários atrás de mim.